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Conselho Superior a 7 Nov 2013
Ou a família estava coesa ou a família perdia o banco. Ou havia solidariedade ou o grupo ia ao fundo. Ou todos se uniam ou iam todos ao charco. Ou confiavam no timoneiro ou todos naufragavam. Desde pelo menos Novembro de 2013 que Ricardo Salgado insistia em teorias premonitórias quando falava com os outros ramos da família Espírito Santo. O então líder do BES tinha mais informações do que revelava ou usava os presságios para manter o controlo, evitar fugas de informação ou conflitos familiares na praça pública? A verdade é que Ricardo Salgado não se cansou de alertar para a provável queda do império: “Se a família se desagregar, irá seguir a evolução de muitas outras que se tornaram irrelevantes.”
Estes alertas tornaram-se mais frequentes quando Salgado sentiu que a sua liderança estava ameaçada. Logo a 7 de Novembro de 2013, na reunião do Conselho Superior do GES, o então presidente da comissão executiva do BES usou-os para frisar ser essencial “evitar atitudes públicas” e “intervenções desajustadas nocivas” para a imagem do grupo. Por esta altura, todos sabiam que a sua intervenção tinha um alvo directo: José Maria Ricciardi, presidente do Bes Investimento (BESI) que viria a abandonar essa reunião a meio revoltado por não poder participar da votação que viria a dar uma moção de confiança a Salgado. “Uma fractura na família implica automaticamente a quebra de confiança do aliado estratégico e poderá levar à perda de controlo do BES, principalmente se formos obrigados a permitir a saída do Crédit Agricole e da Bespar, hipótese mais próxima do que remota”, avisava Salgado.
As facções, acrescentava, iriam “inevitavelmente” destruir o banco e a família. Para perceber isso, explicava, bastava olhar para o passado do BCP. “A história recente do BCP é um triste exemplo de que a divisão da gestão gerou a divisão dos accionistas e que ambas construiram à maior destruição de valor de toda a história económica portuguesa.”
Por mais do que uma vez, nessa e em reuniões seguintes com os principais representantes dos Espírito Santo, Salgado usou a imagem de um “mar turbulento” para descrever a situação do grupo e a imagem de um comandante para demonstrar que era preciso confiar em quem guiava o BES.