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Processo está definido e em curso, assente em vários eixos, com a venda de activos à cabeça.
As linhas definidoras da reorganização do Grupo Espírito Santo (GES) estão traçadas, com um objectivo acima de todos os outros: manter o controlo accionista do banco mesmo que tal obrigue a sacrificar outras unidades e investimentos.
Os problemas na Espírito Santo International (ESI), recentemente revelados, mostram uma situação financeira difícil e que terá de ser tratada em várias frentes. A fragilidade central não está no BES, que tem em curso um aumento de capital de 1,045 mil milhões de euros, com garantia total de subscrição; o problema está sim acima, na ‘holding’ ESI que controla 45% do Espirito Santo Financial Group, que por sua vez controla o BES.
O relatório da auditoria à ESI, noticiado recentemente pelo Expresso, revelou que a ‘holding’ não havia registado, nas contas de 2012, 1,2 mil milhões de dívida, o que resultou na situação actual, em que a entidade se encontra com capitais próprios negativos no valor de 2,5 mil milhões de euros.
O universo GES é muito extenso e igualmente complexo. Tem interesses em inúmeras áreas, genericamente arrumadas debaixo de dois “chapéus”: a Rioforte para a área não financeira e o ESFG para a área financeira. No banco, o objectivo do grupo é não ficar com menos de 20%, mantendo-se como principal accionista e assegurando – em circunstâncias normais – o controlo de voto na instituição. Se o ESFG não subscrever qualquer acção no aumento de capital do BES, a sua posição ficaria ligeiramente abaixo dos 20%, mas permitiria algum encaixe com a venda dos direitos. No ESFG compromete-se a, no fim da operação, não ter menos acções do BES que actualmente e a utilizar todo o dinheiro da eventual venda de acções e direitos na compra de novos títulos do BES. Sem se comprometer com uma participação percentual, que deverá ser diluída.
O que é certo é que o grupo tem de se fortalecer financeiramente. E para isso há muitos activos à venda: desde a seguradora Tranquilidade (ver página seguinte) aos hotéis Tivoli (que estão na Rioforte), que são os exemplos mais óbvios e já conhecidos. Mas há muito mais caminhos, como a posição detida na Espírito Santo Saúde, por exemplo, que depois do IPO está actualmente avaliada em 175 milhões de euros. Ao que o Diário Económico apurou, praticamente tudo está em cima da mesa, dependendo naturalmente das propostas que cheguem à secretária de Ricardo Salgado. Outro dos trunfos de emergência poderia ser a participação na Portugal Telecom, que vale menos de 300 milhões de euros, mas que sempre foi considerada estratégica e absolutamente fundamental para o GES. Para além disso, a posição é do BES, de entidades relacionadas e de fundos, ou seja, não é líquido que um encaixe desse tipo fosse facilmente canalizável para onde a família Espírito Santo quisesse.
O problema com esta estratégia de venda de activos é que, devido à complexidade das ligações no GES, a venda de activos do ESFG ou do BES não significa necessariamente que o dinheiro possa ser usado para reforçar a ESI. Aquelas são entidades cotadas, ou seja, o dinheiro conseguido pertence a todos os accionistas e não apenas os ligados à família Espírito Santo; e ESFG e BES não são accionistas da ESI, mas sim o contrário, não podendo o dinheiro ser disposto livremente para reforçar um dos seus accionistas.
Outro dos eixos da estratégia do GES é alongar os prazos de pagamento de dívida. Vencendo-se o papel comercial da ESI e não só, o refinanciamento será feito preferencialmente a prazos mais longos, dando mais tempo para reequilibrar o grupo.
Por último, o grupo confia numa recuperação do valor dos seus activos – nomeadamente da área financeira – o que permitirá, em termos contabilísticos, equilibrar o balanço das ‘holdings’, no médio e longo prazo.
Todos estes planos entroncam, necessariamente, na reestruturação societária do grupo. Tal passa, num primeiro momento, numa retirada do ESFG de bolsa; seguido de um aumento de capital da Rioforte (que passa a ser a ‘holding’ de topo do grupo) para entrada de novos investidores; e acabando com um IPO da própria Rioforte.