Arquivo para Julho, 2014

Os grupos económicos portugueses e as grandes corporações transnacionais

Quinta-feira, Julho 31st, 2014

Citamos:

ECONOMIA, EDIÇÃO Nº 319 – JUL/AGO 2012

por Eugénio Rosa

 

http://www.omilitante.pcp.pt/pt/319/Economia/714/

 

O domínio da economia mundial pelas grandes corporações transnacionais, a integração dos grupos económicos «portugueses» na globalização capitalista neoliberal e a forma como eles condicionam o poder político em Portugal

Numa altura em que o Partido está empenhado no debate preparatório para o XIX Congresso será certamente útil uma reflexão/contributo sobre uma matéria importante que, a nosso ver, devia ser objecto de profundo estudo e debate interno. E essa matéria são os grupos económicos e financeiros que operam em Portugal, as suas características actuais e a forma como condicionam o poder politico, o crescimento económico e o desenvolvimento no nosso país. É cada vez mais necessário o estudo concreto e aprofundado da realidade portuguesa pois só ele é que nos permitirá compreender melhor esta realidade e actuar também melhor sobre ela. Os grupos económicos em Portugal têm concentrado a nossa atenção e estudo nos últimos quatro anos no âmbito de um trabalho de investigação realizado para a elaboração de uma tese de doutoramento sobre esta matéria, cujos resultados serão apresentados publicamente a 19 de Julho de 2012 no ISEG.

Antes de entrar na análise dos grupos económicos e financeiros «portugueses» interessa contextualizar devidamente a questão até para que as conclusões fiquem mais claras e fundamentadas.

Actualmente, o controlo da economia mundial, e, consequentemente, do crescimento económico e do desenvolvimento a nível mundial e em cada país, pelas grandes corporações transnacionais, é um facto evidente e pacífico, embora seja menos conhecido a dimensão real desse controlo. Nos últimos anos têm sido realizados vários estudos que procuram quantificar essa dimensão. Avelãs Nunes, no seu livro «A crise do Capitalismo: Capitalismo, Neoliberalismo e Globalização», refere um estudo publicado em 2011 por três investigadores suíços que concluíram que um conjunto constituído por 1318 grandes empresas transnacionais detém ou controla, em conjunto, cerca de 60% da economia mundial, apropriando-se desta forma de uma parte de leão da mais-valia produzida pelos trabalhadores de todo o mundo, e representando também um gigantesco poder condicionador da acção dos Estados e do crescimento económico e do desenvolvimento não só a nível mundial mas também de cada país.

Segundo as conclusões do estudo «The network of global control», de Stefania Vitali, James Glattfelder e Stefano Battiston, os 50 maiores grupos transnacionais (TNC segundo a definição da OCDE) controlam 39,78% da rede de participações cruzadas que permitem o domínio da economia mundial na dimensão referida anteriormente.

Muitos destes grupos transnacionais têm mais poder que muitos Estados, podendo-se falar não de uma fusão deles com os respectivos Estados, mas antes de um capitalismo com características globais que sujeita à sua acção e aos seus interesses não apenas um Estado, mas os Estados numa relação de submissão que estes se prestam de boa vontade devido à sua natureza de classe. A completa submissão dos Estados da UE, nomeadamente da Zona do Euro, aos «mercados», constituídos pelos grandes grupos financeiros, na questão da «dívida soberana», e como eles condicionam totalmente não só o poder político em cada país mas também a nível de toda a UE, dá bem uma ideia do poder gigantesco dessas corporações transnacionais e da relação de desigualdade e mesmo de submissão existente actualmente entre elas e os Estados, situação essa que caracteriza, a nosso ver, a actual etapa do capitalismo global.

Perdida a soberania monetária e transferindo tal poder para o BCE, que passou a financiar a banca mas que está proibido, pelos seus estatutos, de financiar os Estados, os países da Zona Euro, nomeadamente países com problemas estruturais e com graves dificuldades financeiras, como Portugal, encontram-se totalmente de «joelhos», em relação ao financiamento mesmo da sua dívida interna, dos «mercados», ou seja, em relação aos grandes bancos, às grandes companhias de seguros e aos fundos; em suma, estão nas mãos destes grupos financeiros, sendo presas fáceis das suas imposições e práticas predatórias, que são reforçadas pela acção de organismos internacionais (FMI/BCE/CE) dominados por estas mesmas corporações transnacionais.

É importante para compreender a situação actual, e poder actuar de uma forma eficaz sobre a realidade, ter presente na análise dos grupos económicos «portugueses» as características desta nova realidade mundial, até porque ela é fundamental para compreender os objectivos, as estratégias e a forma de funcionamento dos grupos económicos e financeiros que operam em Portugal.

Referindo-se aos grupos económicos portugueses, Joaquim Caeiro, no seu livro «Elites e Poder: Os Grupos Económicos em Portugal», escrevia o seguinte em 2004: «A sua importância na economia nacional haveria de ser amplamente reconhecida pelo Estado, o qual não dispensaria, à grande maioria deles, todo um conjunto de benesses fiscais, políticas e económicas que os guindariam para uma importância como a que viriam ter a partir de 1990. A partir desta data o crescimento da economia nacional estaria em paralelo com o crescimento dos grupos económicos. Estes adquiriram um peso muito grande na economia nacional e por via disso condicionam directamente a iniciativa político-partidária e bem assim as grandes linhas de orientação nacionais. A grandeza dos grupos económicos não pode assim deixar de ser considerada como suficiente para exercer influência e impor decisões ao poder político em cada circunstância e principalmente em questões consideradas para eles como fundamentais».

Joaquim Caeiro devia-se referir, nesta altura, certamente aos grupos económicos que considerava ainda portugueses, ou seja, que a maioria do seu capital ainda era detida por capitalistas portugueses. No entanto, a realidade dos grupos económicos «portugueses» sofreu profundas alterações desde aquela data. O estudo concreto da realidade actual dos grupos económicos e financeiros que operam em Portugal leva à conclusão que a maioria deles, nomeadamente os mais importantes, já estão profundamente integrados na globalização capitalista neoliberal dominante, em que aqueles grupos transnacionais e os que operam em Portugal são os principais actores e beneficiários. E os objectivos e estratégias dos principais grupos económicos e financeiros «portugueses» já não têm nada a ver com os objectivos de crescimento económico e de desenvolvimento do país (estes, quando se verificam, são efeitos colaterais da sua acção); os seus objectivos ultrapassam o quadro nacional e são orientados pelos objectivos e estratégias dos grupos estrangeiros que controlam os grupos «portugueses», orientando-se pelo princípio de «criação de valor para os accionistas», que é a designação actual da maximização do lucro, utilizando para isso, muitas vezes, a especulação financeira e uma gestão de alto risco.

Esta integração dos grupos económicos a operar em Portugal na globalização capitalista neoliberal dominante tem sido feita e continua a ser realizada fundamentalmente de duas formas:

  • Através da aquisições de posições importantes no capital desses grupos por grupos estrangeiros;
  • Por meio da crescente internacionalização da sua actividade.

Como o espaço é limitado vamos apenas analisar três casos, entre os muitos que podíamos seleccionar – o do grupo EDP, o do grupo BPI, e o do grupo PT, portanto três grupos dos sectores estratégicos, respectivamente, da energia, do sector financeiro e das telecomunicações.

O grupo EDP é um grupo que tem uma posição dominante em vários segmentos de mercado do sector da energia. A EDP domina a produção, a distribuição e a comercialização de electricidade em Portugal e tem já uma posição interessante na distribuição e comercialização de gás.Contrariamente ao que muitas vezes se pensa ou diz, a maioria do capital deste grupo já não é português, pois pertence a grandes grupos estrangeiros. Com a venda de 21,35% da parte do capital que pertencia à empresa do Estado – PARPÚBLICA – a um grupo chinês, actualmente já 41,7% do capital da EDP pertence a grupos económicos e financeiros estrangeiros (21,35% à Three Gorges Corporation, um grupo chinês; 11,8% ao Liberbank e IBERDROLA dois grupos espanhóis; 3,3% à Sonatrach, um grupo argelino; 4,06% à Senfora, um grupo estatal do Abu Dhabi, e 2,27% ao Qatar Investiment Authority do Qatar).

As participações qualificadas detidas por grupos que são considerados como portugueses (BCP; José de Mello, CGD, BANCO BES, PARPÚBLICA) representam apenas 14,5% d
o capital da EDP. Um grupo económico é, na prática, controlado pelos accionistas que detêm as participações qualificadas, ou seja, que possuem, cada um deles, mais de 2% do seu capital. E as participações qualificadas do grupo EDP detidas por grupos estrangeiros representam já 74,2% das participações qualificadas totais, o que significa que os grupos económicos estrangeiros já controlam efectivamente este importante grupo do sector da energia em Portugal. Dizer, como afirmou António Mexias numa entrevista dada a um órgão de informação, que a EDP era uma empresa portuguesa ou é ingenuidade, o que não é provável, ou só poderá ter como objectivo enganar os portugueses. Os objectivos e a estratégia actual do grupo EDP já nada têm a ver com os objectivos de crescimento económico e desenvolvimento do país, mas, como é evidente, integram-se nos objectivos e nas estratégias dos grupos estrangeiros que controlam a EDP visando a «criação de valor para os accionistas». A provar isso estão os preços cobrados aos consumidores domésticos e industriais em Portugal que, em muitos casos, são superiores aos que o grupo pratica em mercados estrangeiros; são as rendas excessivas que obtém do Estado utilizando para isso o poder de domínio que tem sobre o poder político; é ainda o facto da maior parte dos investimentos serem já realizados no estrangeiro e não em Portugal; é a nova estratégia do grupo reforçada pela entrada do accionista chinês; etc.

A outra via de integração dos grupos económicos que operam em Portugal na globalização capitalista neoliberal actualmente dominante referida anteriormente, é a da crescente internacionalização da sua actividade. No caso concreto do grupo EDP, em 2011, cerca de 37% do volume de negócios já tinha como origem a actividade internacional, o que significa que ela é cada vez mais importante na definição dos seus objectivos e estratégias, determinando a sua gestão operacional e estratégica.

O segundo caso é o do grupo BPI e as conclusões que se tiram ainda são mais claras. O grupo BPI pertence ao conjunto dos cinco maiores grupos financeiros a operar em Portugal. Neste grupo, todas as participações qualificadas, ou seja, superiores a 2% do capital, são detidas por grupos financeiros estrangeiros (La Caixa, um grupo espanhol, detém 30,1% do capital do BPI; Itaú, um grupo brasileiro, 18,9%; Santorro, um grupo dominado por Isabel José dos Santos, 9,99%; Allianz, um grupo alemão pertencente à lista dos 50 maiores grupos transnacionais referida no início, detém 8,8%; e finalmente o grupo HVF detém 2,9% do capital do BPI). Estes cinco grupos detêm 70,7% do capital total do BPI e, exceptuando a HVF, SGPS, os restantes grupos que representam 58,9% do capital do BPI, e 95,3% das participações qualificadas, são grupos estrangeiros.É evidente que este importante grupo financeiro que opera em Portugal – o BPI – é muito mais estrangeiro do que português, embora muita gente continue a pensar ou a dizer o contrário. Segundo o relatório e contas de 2011, 10,4% (5994 milhões €) do volume de negócios e 14,6% do valor do seu activo já têm origem ou estão no estrangeiro.

Finalmente, o grupo Portugal Telecom tem uma posição dominante em vários segmentos de mercado do sector estratégico de telecomunicações no nosso país. Os accionistas com participações qualificadas representam 71,17% do capital da PT, e já 55,5% das participações qualificadas pertencem a grupos económicos e financeiros estrangeiros (a Telemar Norte Leste, um grupo brasileiro, detém 10% do capital da PT; o Norges Bank, um grupo estatal da Noruega, 4,96%; CRM, um fundo americano, 4,79%; USB AG, um grupo suíço, detém 4,69%; o Brandes Investiments Partners, um grupo americano que faz parte da lista dos 50 maiores grupos transnacionais, detém 3,86% do capital da PT; o Morgan Stanley, outro grupo americano pertencente à mesma lista, possui 3,47%; o Barclays, um grupo inglês que ocupa o 1.º lugar da mesma lista, detém 2,81%; o Europacific Growth Found, um fundo também americano, detém 2,57%; e o Black Roque, outro fundo americano, detém 2,35% do capital da PT). É evidente que os objectivos e a estratégia da Portugal Telecom são determinados pelos objectivos e estratégias dos grupos estrangeiros que possuem a maioria das participações qualificadas da empresa e que, por esse facto, controlam efectivamente a gestão operacional e estratégica do grupo. Após a venda da «VIVO» ao grupo espanhol «Telefónica», a componente internacional da actividade da PT diminuiu significativamente, sendo agora um objectivo estratégico do grupo a sua rápida reconstituição (com esse objectivo adquiriu uma participação importante no grupo «OI»).

Em resumo, Portugal serve a estes grupos fundamentalmente como base de apoio e de apropriação de elevados lucros, devido ao poder de mercado que têm, que depois são utilizados na concretização dos seus objectivos e estratégias que ultrapassam o quadro do nosso país.

O condicionamento da economia e do desenvolvimento, e mesmo do poder político em Portugal, por parte destes três grupos (eles são apenas três exemplos entre muitos mais que podiam ser apresentados) e, consequentemente, pelos grupos estrangeiros que os controlam é muito maior que a simples análise dos dados anteriores permite concluir. E isto porque alguns dos grupos económicos estrangeiros que os controlam possuem imenso poder económico e também político.

Efectivamente, se analisarmos a lista das 50 maiores empresas transnacionais que controlam 39,78% da rede de participações cruzadas referida no início, encontramos grupos transnacionais (TNC segundo a definição da OCDE) bem conhecidos dos portugueses, pois operam também em Portugal, detendo alguns deles participações importantes mesmo nos grupos económicos «portugueses» que acabamos de analisar. São os casos do Barclays, da Allianze, da Brandes Investiments Partners, do Morgan Stanley que integram a referida lista. Para além destes, ainda existe o grupo Three Gorges, um grupo pertencente ao Estado chinês; os grupos Norges Bank, Qatar e Senfora também grupos estatais, portanto o poder destes grupos é ainda reforçado pelo poder dos Estados que os detêm. Para além de tudo isto, uma análise mais fina da estrutura dos grupos EDP, BPI e PT leva à conclusão de que eles são constituídos por um número muito elevado de empresas, muitas delas localizadas no estrangeiro tendo no seu capital participações locais. Só a EDP apresentava, no final de 2011, uma lista de 387 empresas subsidiárias. O número de empresas subsidiárias e associadas atingia 158 no grupo PT e no grupo BPI eram 28; portanto, só estes três grupos controlam ou participam em 573 empresas, o que aumenta ainda mais o poder e a acção condicionadora destes grupos

Assim, a economia e o desenvolvimento de um país e, consequentemente, também o poder político num país não são apenas condicionados pelos grupos económicos que operam nesse país, mas também, e cada vez mais, pelos grupos económicos transnacionais, com os quais os grupos «nacionais» têm inúmeros cruzamentos (pelo menos, os mais importantes), e também pela lógica de funcionamento actual da economia mundial a que não conseguem escapar, sob pena de não aguentarem a concorrência a que estão também submetidos.

E o papel dos organismos internacionais como o FMI, a OMC, o BM, o BCE, a Comissão Europeia, dominados pelos mesmos grupos transnacionais, tem sido e continua a ser o de contribuir quer para a formação, quer para o funcionamento, quer para o desenvolvimento, quer ainda para a consolidação e reforço desta ordem económica mundial neoliberal.

Por esta razão quando se analisa o domínio do poder político pelo poder económico em cada país, e também no caso particular de Portugal, é fundamental analisar as ligações que esse poder económico já tem com o poder económico a nível mundial, pois o que enfrentamos no nosso país não é apenas o poder dos grupos económicos e financeiros que operam em Portugal, mesmo com nomes portugueses (EDP, GALP, CIMPOR, etc.) mas sim o poder de grupos económicos e financeiros de muita maior dimensão em que muitos dos grupos «portugueses» são apenas já uma parte, e muitas vezes uma parte pequena, desses grupos transnacionais, sendo um instrumento das suas estratégias e objectivos globais, que ultrapassam o quadro nacional.

Neste contexto, o Estado, nomeadamente o Estado nacional, continua a ser questão central ganhando neste momento uma importância fundamental. Face à crescente «financeirização» da economia e da actividade especulativa; perante o domínio crescente da globalização capitalista neoliberal impulsionada fundamentalmente pelo capital financeiro gerador de crises financeiras e de sobreprodução cada vez mais globais e destrutivas (em Portugal, apesar da destruição da capacidade produtiva traduzida na falência de centenas de empresas devido à crise, em Abril de 2012, a reduzida capacidade de produção industrial existente estava a ser utilizada apenas em 80% segundo dados divulgados pelo INE); perante recessões económicas cada vez mais prolongadas e profundas, e face o agravamento das desigualdades e da insegurança; em suma, perante este panorama gerado por aquilo que podemos designar por um «supercapitalismo global», um conceito que pode ter o mérito de chamar a atenção para as novas características da actual etapa do capitalismo global e de estimular o aprofundamento do estudo e do debate, só os Estados nacionais é que poderão garantir aos povos de cada nação um mínimo de segurança e garantia de bem-estar através das suas funções sociais e por meio de uma forte intervenção na economia que permita contrabalançar o crescimento e o desenvolvimento desigual resultante da própria lógica de funcionamento dos grupos económicos e financeiros cada vez mais integrados na globalização neoliberal capitalista. Isso não é possível através de uma entidade supranacional, como a experiência da UE está a mostrar, já que os desequilíbrios e desigualdades são muito grandes, por isso é bom para uns, é mau para outros, e a tendência é os países mais poderosos imporem as políticas que lhes interessam. No entanto, o fortalecimento de Estados nacionais não é incompatível com a existência da cooperação internacional entre os Estados e, eventualmente, de entidades internacionais para fazer frente ao poder crescente dos grupos transnacionais, desde que essas entidades não sejam aproveitadas pelos países mais poderosos para impor as políticas e decisões que lhes interessam, como está a suceder na UE, e também desde que não leve à destruição do poder e das funções dos Estados nacionais como igualmente está a acontecer.

No entanto, o que se tem assistido, particularmente em Portugal, é uma acção deliberada visando enfraquecer o Estado reduzindo ao «Estado mínimo neoliberal» através da redução das funções sociais e da venda a saldo das participações públicas em empresas estratégicas e das empresas públicas mais importantes que ainda restavam. E isto quando assistimos também em Portugal à acção de grupos económicos e financeiros estatais estrangeiros, criados pelos respectivos governos (China, Noruega, Qatar, Abu Dhabi), os quais são instrumentos importantes de intervenção desses governos na economia global. Em Portugal, assiste-se, pelo contrário, à destruição dos poucos instrumentos importantes que estavam ainda na posse do Estado para este defender a economia nacional e promover o desenvolvimento do país

A questão que inevitavelmente se coloca é inverter todo este processo, fortalecendo as funções sociais do Estado, e recuperar posições estratégicas na economia pois só assim é que o Estado poderá garantir um mínimo de segurança e bem-estar aos portugueses, e também o crescimento económico e o desenvolvimento nacional. Mas a recuperação, por parte do Estado, de posições estratégicas na economia terá de ter em conta a nova realidade dos grupos económicos «portugueses», muito diferente da que existia na véspera do 25 de Abril, que procuramos tornar mais clara neste contributo. Esta recuperação enfrentará certamente uma oposição muito mais variada, ampla e forte, e com efeitos muito maiores que os registados aquando das grandes nacionalizações em Portugal. Continuar a estudar esta realidade, a aprofundá-la e a debatê-la é certamente um imperativo até pela importância que ela tem para o crescimento sustentado da economia portuguesa, para o desenvolvimento equilibrado de Portugal e para o bem-estar dos portugueses. Enquanto o Estado não possuir instrumentos de intervenção directa na economia certamente tudo isto será muito difícil para não dizer mesmo impossível, nomeadamente num mundo cada vez mais globalizado, e ainda por cima uma globalização capitalista dominada pela ideologia neoliberal.

Eugénio Rosa

 

BES USA

Quinta-feira, Julho 31st, 2014

http://http://www.nytimes.com/2014/08/01/business/international/in-portugal-central-bank-moves-to-clean-up-banco-espirito-santo.html?_r=0Citacao :

In Portugal, Central Bank Moves to Clean Up Banco Espírito Santo

 

MADRID — Portugal’s central bank stepped up efforts to clean up the troubled lender Banco Espírito Santo and end its family control after the bank reported a stunning first-half loss of $4.8 billion that will force it to raise more capital.

After the bank’s earnings report, the central bank issued a statement ordering Banco Espírito Santo to raise more funds and announced the suspension of three members of the Espírito Santo family, which has controlled the bank for generations.

The central bank removed the three members’ voting rights as directors and said that it would push for legal action against any director involved in fraudulent activities.

31 de julho

Quinta-feira, Julho 31st, 2014

Citamos

31 de Julho 2014

O Banco de Portugal tomou uma posição mais firme em relação à anterior liderança do Banco Espírito Santo BES. No comunicado, de 31 de Julho, do supervisor, após o anúncio do prejuízo histórico de 3,5 mil milhões de euros do BES, devido a imparidades de 4,3 mil milhões, o Banco de Portugal faz um comunicado onde dizia:

– As perdas resultantes da exposição ao Grupo Espírito Santo mantiveram-se dentro dos limites antecipados e em conformidade com a provisão de dois mil milhões que o Banco de Portugal determinou. Só que depois de 30 de Junho foram detectados factos que levaram a adicional perda de 1,5 mil milhões de euros, “pondo em causa o cumprimento dos rácios mínimos de solvabilidade vigentes”, o que “indiciam a prática de actos de gestão gravemente prejudiciais para os interesses do BES e um claro incumprimento das determinações emitidas pelo Banco de Portugal”.

Por isso, suspende mais três administradores, António Souto, Joaquim Goes e Rui Silveira e a comissão de auditoria. Inibe os direitos de votos da Espírito Santo Financial Group no banco e designou uma comissão de fiscalização que vem da PriceWaterhouseCoopers.

Quanto ao aumento de capital, nesse comunicado de 31 de Julho, o Banco de Portugal diz: “a realização de um aumento de capital por parte do BES, incumbindo a sua administração de apresentar um plano de capitalização cuja execução permita, a curto prazo, o reforço dos fundos próprios para níveis adequados de solvabilidade”. Nesse mesmo comunicado, o Banco de Portugal diz considerar “desejável que o reforço de capital seja realizado com base em soluções de mercado e reafirma que a solidez da instituição está salvaguardada pelo facto de continuar disponível a linha de capitalização pública criada no âmbito do programa de assistência económica e financeira para suportar eventuais necessidades de capital do sistema bancário”.

E volta a reafirmar que “estão reunidas as condições necessárias à continuidade da actividade desenvolvida pela instituição e à plena protecção dos interesses dos depositantes”.

28 de Julho 2014

Depois de notícias do Expresso de que o Banco Espírito Santo iria ter um prejuízo superior a três mil milhões de euros, o Banco de Portugal emitiu um comunicado em que dizia que havia interesse de privados no BES.

– “O interesse demonstrado por diversas entidades em assumirem uma posição de referência no BES indicia que é realizável uma solução privada para reforçar o capital. No limite, se necessário, está disponível a linha de recapitalização pública criada no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira,  que poderá ser utilizada para suportar qualquer necessidade de capital de um banco português, no enquadramento legal relevante e em aplicação das regras de ajuda estatal. Em todo o caso, a solvência do BES e a segurança dos fundos confiados ao banco estão asseguradas”.

25 de Julho 2014

Neste dia, o Banco de Portugal faz uma extensão “compilação de esclarecimentos” sobre o BES. São 24 perguntas às quais o Banco de Portugal responde.

Nesses esclarecimentos explica-se a actuação do Banco de Portugal e a sua supervisão prudencial. E é nessas respostas que o Banco de Portugal assegura que não tem competência sobre filiais no estrangeiro e como a partir de 30 de Junho de 2012 “a supervisão em base consolidada passou a ser exercida ao nível do BES”. Até essa data a supervisão em base consolidada era ao nível do Espírito Santo Financial Group ESFG.

E é também nesse esclarecimento que o Banco de Portugal não tem dúvidas em dizer que “quem detectou os problemas na ESI (Espírito Santo International) foi o Banco de Portugal”. E diz que a 11 de Setembro de 2013 o “Banco de Portugal decidiu aprofundar a avaliação de um conjunto de grupos económicos cuja recuperabilidade da dívida e inerente análise de imparidade é efectuada por via da geração de fluxos financeiros do negócio”.

Também em 2013, diz o Banco de Portugal, o supervisor diz ter decidido “desenvolver uma auditoria, com um âmbito de que não se conhece paralelo, para aprofundar a avaliação dos planos de negócio de doze grupos económicos cujo pagamento da dívida contraída perante o sistema bancário se encontrava fortemente dependente da materialização dos pressupostos inerentes a esses planos de negócio”.

No final de 2013, “logo que foram detectadas evidências que punham em causa a veracidade das demonstrações financeiras da ESI, foram adoptadas várias medidas de supervisão para confirmar tal situação, bem como proteger o BES dos riscos daí decorrentes”.

O Banco de Portugal diz, ainda, nesse esclarecimento que foi por imposição sua que o ESFG emitiu uma garantia incondicional e irrevogável de 700 milhões de euros a favor do BES.

No esclarecimento ainda se diz que “a situação de solvabilidade do BES foi significativamente reforçada com o recente aumento de capital, o que deverá absorver eventuais impactos negativos que resultem da materialização de riscos no ramo não financeiro do Grupo Espírito Santo”.

E diz ainda que “atendendo ao plano apresentado pelo BES, considera-se que este banco possui mecanismos adequados para fazer a um evento extremo, o que permitirá dar cumprimento aos níveis de solvabilidade exigidos, sem pôr em causa a continuidade da sua actividade e o seu papel de agente financiador da economia”.

Quanto ao BESA (BES Angola), o Banco de Portugal dizia que “não antecipa um impacto relevante na posição de capital do BES resultante da situação financeira da subsidiária BESA”. O Banco de Portugal “espera que a situação desta filial seja clarificada no curto prazo e sem impacto material no BES”.

Nesse esclarecimento continua a tranquilizar os depositantes, mas já fala das consequências da entrada do Estado no banco. “De acordo com o princípio orientador deste regime, deverá assegurar-se que os accionistas e os credores da instituição de crédito assumem prioritariamente os prejuízos da instituição em causa, de acordo com a respectiva hierarquia e em condições de igualdade dentro de cada classe de credores”. Os depósitos até 100 mil euros “não sofrerão perdas em nenhuma circunstância. Quanto aos restantes credores, o risco a que estão expostos depende da dimensão da ‘almofada’ que os precede na hierarquia da subordinação, isto é, do valor dos capitais próprios e dos passivos com maior nível de subordinação existentes no balanço de cada instituição”.

 31 de julho

Situação de 30 de julho de 2014, segundo o BDB

Quarta-feira, Julho 30th, 2014

Do comunicado do BdP de 7 de agosto de 2014:

No dia 30 de julho de 2014, o Banco Espírito Santo, divulgou os resultados relativos ao 1º semestre de 2014, apresentando um prejuízo que ultrapassou largamente os valores previsíveis à luz da informação anterior. O prejuízo ascendeu a 3577 milhões de euros. A quase totalidade deste prejuízo (3488 milhões de euros) dizia respeito ao 2.º trimestre de 2014.
O agravamento dos resultados em relação aos que poderiam ser estimados duas semanas antes é resultado da prática de um conjunto de atos de gestão gravemente prejudiciais ao interesse do Banco Espírito Santo e em clara violação das determinações emitidas pelo Banco de Portugal que proibiam o aumento da exposição a outras entidades do GES. Estes atos tiveram lugar durante o mandato da anterior administração, mas num momento em que a sua substituição estava já anunciada.
Efetivamente, na segunda metade de julho, foram identificadas pelo auditor externo as seguintes operações (…)

Intervenção do Governador do BdP

 

30 de Julho de 2014: Reunião no Ministério das Finanças

Quarta-feira, Julho 30th, 2014

Soube-se a 1 de novembro de 2014

 

A 30 de julho, dia em que foram conhecidos os prejuízos recorde do BES e a escassos dias da medida de resolução imposta ao banco, Maria Luís Albuquerque recebeu Vítor Bento, José Honório e João Moreira Rato para uma reunião. A ministra das Finanças viria a garantir, a 8 de outubro, no Parlamento, que “não houve uma proposta de modelo nem uma rejeição de modelo” durante esse encontro. Maria Luís Albuquerque negou, gerando ceticismo entre os deputados da oposição presentes nessa audição parlamentar, que os três administradores tenham ido ao Ministério pedir um empréstimo estatal para responder aos prejuízos encontrados e que o Governo tenha dito que não. Nessa reunião, foi dada “apenas uma clarificação das novas regras europeias (de capitalização de bancos pelos Estados), porque por vezes as regras europeias mudam e as pessoas podem não ter conhecimento”. Depois do anúncio dos prejuízos veio o êxodo dos investidores interessados dos quais falara o Banco de Portugal nos dias anteriores e, a 3 de agosto, era anunciada a resolução do BES. Era a única opção ou podia ter sido diferente?

Na reunião entre Albuquerque, Bento, Honório e Moreira Rato “ficou claro que não haveria envolvimento do dinheiro dos contribuintes” neste processo, disse a ministra das Finanças no Parlamento. Com reestruturação ou resolução, teria de haver perdas para os acionistas e para os detentores de dívida subordinada. Depois de já terem sido apresentados os prejuízos históricos, justificados, em parte,pelos negócios do banco com o Grupo Espírito Santo, Vítor Bento terá proposto à ministra das Finanças um esquema misto que era uma última tentativa de evitar uma resolução do BES e uma separação entre ativos considerados saudáveis e tóxicos. Essa solução mista para injetar três mil milhões de euros no BES, segundo o Diário Económico, passava por uma recapitalização através de algum investimento privado mas também – e, presume-se, sobretudo – um empréstimo estatal.

Com a desistência de grandes investidores depois de os prejuízos se terem revelado maiores do que se temia, aquele que era o “plano A” de todos, incluindo do Banco de Portugal, caiu por terraAs autoridades terão afastado, de imediato, um cenário de liquidação. Nacarta que enviou à Direção Geral da Concorrência europeia a pedir autorização para a medida aplicada ao BES, o governo indicou que o Banco de Portugal acreditava que “uma liquidação desordenada iria destabilizar os mercados financeiros em Portugal e desencadear uma crise geral de confiança”, uma consideração com que Bruxelas concordou. O custo de uma bancarrota ou liquidação do BES, tendo em conta a dimensão da instituição, a quota de mercado e as interligações externas e internas, poderia ascender a um intervalo entre 16 e 28 mil milhões de euros. Isto além de um desembolso entre nove e 18 mil milhões de euros por parte do Fundo de Garantia de Depósitos nacional para cobrir depósitos. Por estas razões e outras, a Comissão concordou que que esta não era uma opção sobre a mesa.Reunião de 30 de julho de 2014

Deliberação do Banco de Portugal

Quarta-feira, Julho 30th, 2014

Deliberação de 30 de julho de 2014

Afinal parece que se “sabia de tudo” a 30 de julho

Quarta-feira, Julho 30th, 2014

Citamos:

Noticia relativa a 30 de julho de 2014

O governador do Banco de Portugal rejeita ter de explicar o que quer que seja em relação à notícia que revela que o processo de resolução do BES chegou a Bruxelas dois dias antes da suspensão da negociação das acções. Se há alguém que tem de explicar alguma coisa é a DGComp.

“Há algo que tem que ser explicado mas não tem que ser por mim”, afirmou o governador do Banco de Portugal sobre a notícia do Económico que revela que o documento que formaliza junto de Bruxelas a intervenção pública no BES tem data de 30 de Julho, quarta-feira. A suspensão das acções só foi determinada na sexta-feira seguinte, após uma queda abrupta dos títulos. O resgate do BES foi anunciado a 3 de Agosto.

“A notícia resulta da consulta das pastas da DGComp e só pode ser explicada pela DGComp. O Banco de Portugal não se corresponde com a DGComp”, sublinhou Carlos Costa no Parlamento, onde se encontra para prestar esclarecimento sobre o processo que levou à demissão de Vítor Bento da presidência do Novo Banco. A DGComp é a Direcção Geral da Concorrência da Comissão Europeia.

Sem o referir, o governador remeteu responsabilidades para o Governo, o interlocutor institucional da DGComp.

Entretanto o governador esclareceu :”Não há nenhuma comunicação do lado português” naquela data. “Do Banco de Portugal não houve, mas tenho quase a certeza que não houve do lado português”, salientou.

Depois da intervenção da troika em Portugal “a Comissão Europeia, tal como o FMI e outras entidades, continuaram a acompanhar a situação portuguesa. É natural que o funcionário registe os acontecimentos à medida que vão acontecendo”, acrescentou.

Recorde-se que 30 de Julho foi o dia de apresentação de resultados do BES, com o banco a apresentar um prejuízo recorde de 3,6 mil milhões de euros.

 

(Notícia actualizada às 12h05 com mais declarações de Carlos Costa sobre o resgate do BES)

Dúvidas de Teixeira dos Santos sobre o caso BES

Quarta-feira, Julho 30th, 2014

Citamos, a 10 de outubro de 2014

Em declarações ao Económico, Teixeira dos Santos, antecessor de Carlos Tavares na CMVM, considera que as dúvidas sobre a intervenção no BES podem ferir a confiança do mercado nos supervisores portugueses.

Um documento da Comissão Europeia indica que Bruxelas terá sido notificada sobre a intervenção no BES a 30 de Julho, dois dias antes de as acções terem sido suspensas. Uma incongruência face às declarações do governador do Banco de Portugal e do Governo. Carlos Costa repetiu esta semana que a resolução do BES só foi decidida a 1 de Agosto e hoje, no debate quinzenal, Passos Coelho afirmou que “nada” foi enviado para Bruxelas antes de 3 de Agosto.

“Se há dúvidas sobre aspectos de tramitação do processo a nível europeu, todos temos a ganhar com o esclarecimento cabal”, declarou Teixeira dos Santos, que liderava a CMVM antes de ser nomeado ministro das Finanças. “Todos temos a ganhar com esse esclarecimento para podermos confiar nos supervisores do mercado”, acrescentou.

Para Teixeira dos Santos “a autoridade que deve olhar para isso é a CMVM, que deverá, junto de todas as partes envolvidas, obter a informação necessária para dissipar qualquer dúvida sobre como o processo foi conduzido”. É que entre 30 de Julho e 1 de Agosto as acções do BES tombaram 65%.

Dúvidas de Teixeira dos Santos

Monitoramento do BES pela Comissão Europeia

Quarta-feira, Julho 30th, 2014

Citamos:

Jornal de Negócios

A Comissão Europeia diz que foi sua a iniciativa para iniciar um processo de observação sobre o BES a 30 de Julho, ainda antes de o Banco de Portugal ter decidido aplicar uma medida de resolução àquele banco.

Pergunta: “A iniciativa para começar a monitorizar o BES foi vossa – dados os resultados do banco – ou foi iniciada por solicitação de Portugal?”

 

Resposta: “Nossa”.

 

Esta foi a resposta à pergunta do Negócios ao gabinete de imprensa da Comissão Europeia sobre o arranque do processo em torno do Banco Espírito Santo iniciado a 30 de Julho e hoje noticiado pelo Diário Económico.

 

A resposta é daquele gabinete. E veio acompanhada de um link para o comunicado do Banco de Portugal de 30 de Julho – emitido depois de apresentados os prejuízos semestrais superiores a 3,5 mil milhões de euros por parte do banco, após as 23h00 de dia 30 de Julho em Lisboa.

 

Nesse comunicado, o regulador liderado por Carlos Costa alertava que “factos” identificados e inesperados, apenas na segunda quinzena do mês, deram um contributo negativo na ordem dos 1,5 mil milhões de euros para as contas – factos que representavam “um claro incumprimento das determinações emitidas pelo Banco de Portugal”. Daí que a autoridade tenha suspendido quem ocupava cargos na administração com os pelouros de auditoria, compliance e gestão de riscos. Sabia-se que teria de haver uma solução para a capitalização do banco, que garantisse a sua solidez – mas esta estava “salvaguardada pelo facto de continuar disponível a linha de recapitalização pública criada no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira para suportar eventuais necessidades de capital do sistema bancário”.

 

É nesse dia que a Comissão Europeia começa a monitorizar a situação no BES, após a apresentação de resultados negativos pelo banco. Fonte oficial da Direcção-geral da Concorrência nega que tenha recebido uma notificação das autoridades portuguesas para intervenção nessa data. Aliás, isso mesmo também é dito por Carlos Costa e Maria Luís Albuquerque.

 

A explicação de Bruxelas resulta do facto de, no sítio da Comissão, o registo do processo de intervenção no BES datar de 30 de Julho, quarta-feira. No entanto, garante a mesma fonte ao Negócios, essa trata-se de uma “data de registo administrativo”. E para Bruxelas, a data da notificação pelas autoridades portuguesas nem sequer é a sexta-feira, dia 1 de Agosto, dia em que, segundo o Banco de Portugal, a intervenção foi decidida, mas somente o dia 3 de Agosto, domingo, quando o modelo de resolução já estava desenhado – após um fim-de-semana de trabalho entre o Banco de Portugal e os técnicos de Bruxelas e do BCE.

 

Notificação só ocorreu a 3 de Agosto

 

“A data de 30 de Julho que aparece no nosso sítio é uma data de registo administrativo: de facto, no dia 30 de Julho, a Comissão começou a monitorizar a situação no BES, após o banco ter anunciado perdas nesse dia”, escreveu por e-mail fonte oficial da Direcção-geral da Concorrência, acrescentando que “a notificação de ajuda de Estado e a comunicação do plano de resolução pelas autoridades portuguesas à Comissão aconteceu a 3 de Agosto“.

 

Isso mesmo foi dito pela ministra das Finanças no Parlamento: “Não houve nenhuma notificação, troca de informação, contacto de qualquer forma por parte do Ministério das Finanças antes do dia 2 de Agosto”. “Os nossos contactos iniciaram-se a 2 de Agosto e a notificação foi feita no dia 3 de Agosto“, acrescentou a governante.  Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, também reiterou que a decisão de intervenção só foi tomada na sexta-feira, 1 de Agosto.

 

Os títulos do BES desvalorizaram 66% em bolsa entre a quarta-feira e sexta-feira, dia 1 de Agosto, a data de suspensão da transacção dos títulos em bolsa e em que, segundo Carlos Costa, a intervenção no banco foi decidida, após uma reunião do BCE que excluiu o BES do acesso ao financiamento de Frankfurt.

 

O facto de Bruxelas ter começado a monitorizar a situação no BES na quarta-feira, e de na quinta-feira o Governo ter alterado em Conselho de Ministros diplomas legais necessários para uma intervenção no banco, criou o risco de existência de informação privilegiada que possa ter sido usada por alguns investidores. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários está a investigar essa possibilidade.

A comunicação que foi escondida dos investidores

Quarta-feira, Julho 30th, 2014

Citamos: Foi publicado apenas a 8 de outubro

A notificação à Comissão Europeia

O documento que formaliza junto de Bruxelas a intervenção pública no BES tem data de 30 de Julho, quarta-feira. Acções só foram suspensas dois dias depois.
No sítio da Comissão Europeia que regista as intervenção públicas em empresas que podem comprometer as leis da concorrência na União Europeia, o processo que culminou na resolução do BES data de 30 de Julho, quarta-feira, escreve hoje o Diário Económico. A data é anterior à suspensão da trasacção das acções do BES em bolsa, que ocorreu apenas na sexta-feira à tarde, depois dos títulos terem perdido 66% do seu valor.   De acordo com o site da Comissão Europeia, o registo da notificação de intervenção pública no BES junto da Direcção-geral da Concorrência data de 30 de Julho (ver imagem), e é justicada tendo como base legal o artigo 107º, nº 3, alínea b), do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia.   Este artigo atribuiu a Bruxelas o poder de decidir se ajudas de Estado são compatíveis com o funcionamento do mercado interno, isto no caso em que se destinam a “sanar uma perturbação grave da economia de um Estado-Membro”. Como segunda base legal, é referida a “Banking Comunicattion”, ou seja, as regras de intervenção em instituições financeiras que vieram a enquadrar a resolução do BES, nomeadamente a criação de um banco bom e de um banco mau, com perdas para accionistas e detentores de dívida júnior.   Uma notificação a Bruxelas nesta data desafia as afirmações de Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, que garante que a decisão de intervenção no Banco só foi tomada sexta-feira à tarde, após uma reunião do BCE, em que ficou decido que o banco perderia acesso ao financiamento do Eurosistema.   As acções do banco foram suspensas nessa tarde, após terem caído 66% nas sessões de quinta e sexta-feira, o que leva a admitir que foram influenciadas por informação privilegiada de uma intervenção no BES que só veio a ser confirmada na sexta. A contribuir para esse cenário está o facto de o Governo ter também alterado na quinta-feira em Conselho de Ministros, sem qualquer informação pública, os diplomas legais que regulam a intervenção em instituições financeiras. Alterações que foram promulgadas no mesmo dia pelo Presidente da República.   Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, garante que Carlos Tavares, o regulador dos mercado de capitais, esteve sempre informado, mas este já afirmou que só soube da decisão de intervenção na mesma sexta-feira em que decidiu a suspensão das acções.  No Parlamento, o governador já foi questionado sobre o significado das alterações legais um dia antes da suspensão das acções, afirmando que se tratou apenas de trabalho preventivo.

Em comunicado emitido na manhã de quarta-feira,o Banco de Portugal “reitera que o processo de resolução do BES foi desencadeado sexta-feira, 1 de Agosto, à tarde depois de se ter tornado evidente que era única opção que permitia ultrapassar os efeitos altamente negativos da perda eminente pelo BES do estatuto de contraparte junto do BCE”. “O processo de resolução foi concluído e anunciado no domingo 3 de Agosto”, reafirmou fonte oficial da insituição.

O regulador da banca está hoje no Parlamento para ser questionado sobre o caso BES. O Negócios questionou já hoje a Comissão Europeia sobre quem fez o pedido de intervenção, em que data, mas não recebeu resposta de imediato.