Arquivo para Fevereiro, 2015

Passos Coelho e o papel comercial

Sexta-feira, Fevereiro 27th, 2015

Citamos:

Jornal de Negócios

“Não cabe ao Estado resolver”, sublinhou o primeiro-ministro, que considera que o colapso do GES vai ter um “impacto negativo na economia portuguesa”. A responsabilidade pela supervisão e reembolso do papel comercial do GES gerou recentemente uma troca de acusações entre o Banco de Portugal e a CMVM.

O primeiro-ministro considera que cabe aos reguladores portugueses, e não ao Governo, determinar a resolução de situações relacionadas com o papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES).

 

Esta “matéria muito delicada” está a ser actualmente avaliada pelos reguladores, tanto a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) como o Banco de Portugal (BdP), lembrou Passos Coelho esta sexta-feira, 27 de Fevereiro.

 

E “o Governo não vai evidentemente interferir no trabalho que os reguladores devem fazer nessa matéria. Nessa medida, eu não vou estar a prever o que cabe aos reguladores determinar”, afirmou.

 

Lembrou que o Banco de Portugal (BdP) deu “indicações ao Novo Banco para encontrar soluções que permitam às pessoas serem ressarcidas”, mas que “nem todos tiveram já uma solução” e que, agora, está a ser encontrada uma solução para “essa situação”.

 

“Não podemos intervir em processos de grupos privados. Não cabe ao Estado resolver. O Estado só resolveria ao socializar os prejuízos privados”, afirmou Passos Coelho, reforçando a dizer que o BES não foi nacionalizado porque seriam os contribuintes a pagar a factura.

 

O primeiro-ministro considera que o colapso do Grupo Espírito Santo (GES) vai ter um impacto negativo na economia portuguesa”. Impacto esse que vai afectar pequenos e grandes aforradores, assim como empresas, que investiram em produtos financeiros do GES garantidos pelo BES.

 

Banco de Portugal e CMVM trocam acusações

 

A responsabilidade pela supervisão e reembolso do papel comercial do Grupo Espírito Santo gerou recentemente uma troca de acusações entre o Banco de Portugal e a CMVM.

 

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, começou por dizer a 19 de Fevereiro que os “títulos de dívida” do GES “constituem inequivocamente instrumentos financeiros cuja supervisão compete à CMVM”.

 

A CMVM respondeu no próprio dia, ao dizer que “não autorizou – nem podia autorizar ou proibir – qualquer das emissões de papel comercial do GES comercializadas por entidades do BES”.

 

O regulador de bolsa também apontou que tanto o Banco de Portugal como o Novo Banco criaram expectativas de reembolso aos subscritores de papel comercial. Por isso mesmo, o Novo Banco deve indemnizar os investidores que compraram dívida de curto prazo do BES.

 

Mais tarde, o presidente da CMVM voltou a abordar novamente a questão. Carlos Tavares disse então que a questão do reembolso do papel comercial do GES “é uma questão de respeito pelas pessoas que aplicaram as suas poupanças em instrumentos, muitas vezes em condições deficientes”.

Bava nunca desconfiou da saúde do BES

Quinta-feira, Fevereiro 26th, 2015

Citamos:

Jornal de Negócios

Zeinal Bava diz que mesmo com a parceria estratégica com o BES e a Caixa Geral de Depósitos a PT optava por salvaguardar os seus interesses.

Zeinal Bava, elogiando a equipa financeira da PT nomeadamente Pacheco de Melo (“meu amigo e um dos melhores na área”), assegurou aos deputados que “os melhores interesses da PT eram salvaguardados”, mesmo havendo uma parceria estratégica entre a PT, o BES e a Caixa, para que fossem fornecedores preferenciais nos serviços financeiros.

 

O ex-presidente da PT explicou que apesar dessa parceria, feita em 2000, sobre a qual disse não ter enquadramento, a PT tentava sempre os melhores negócios. “Em qualquer momento a PT teria feito qualquer investimento quer no BES quer na Caixa em detrimento dos seus próprios interesses”, afirmou Zeinal Bava na Comissão de Inquérito à Gestão do BES e do GES.

 

Quando a Vivo foi vendida, foi consensual na PT que metade do encaixe seria depositado no BES e a outra metade na caixa, disse Zeinal Bava.

Papel comercial: será que o papel comercial existe

Quarta-feira, Fevereiro 25th, 2015

Citamos:

Jornal de Negócios

Os reguladores e o Novo Banco têm uma proposta em cima da mesa para solucionar as perdas dos membros da ABESD, que têm papel comercial do GES. Neste momento, a associação espera uma resposta.

Os clientes investidores de papel comercial, que são associados da ABESD, querem entregar poupanças ao Novo Banco, na ordem das dezenas de milhões de euros mas, em contrapartida, querem que a instituição financeira pague o papel comercial emitido por sociedades do Grupo Espírito Santo, ainda que gradualmente. Esta é a proposta que a associação, que representa maioritariamente clientes do Banque Privée, puseram em cima da mesa da entidade sob o comando de Stock da Cunha (na foto).

 

“A proposta, embora em non-document, passa por encontrar-se um compromisso mútuo entre o Novo Banco e os clientes lesados associados da ABESD, no qual o Novo Banco beneficiaria com a captação de mais 112 clientes que realizariam um reforço das suas poupanças no banco – num total que poderia rondar a ordem das dezenas dos milhões de euros -, e em contrapartida o Novo Banco assumiria a garantia do reembolso gradual do valor investido em papel comercial do GES por estes clientes”, indicou Luís Vieira, presidente da associação, ao Negócios, esta terça-feira, 24 de Fevereiro.

 

A resposta do presidente da associação veio depois de um comunicado, publicado na segunda-feira, em que era dito que a ABESD já apresentou ao Novo Banco uma proposta de solução para os 112 associados. “Informamos que solicitámos já com caracter de urgência reuniões com a CMVM, Banco de Portugal e Novo Banco a fim de esclarecer detalhadamente essa mesma ‘proposta de solução’. Estamos ainda a aguardar a resposta aos pedidos de reunião”.

 

A proposta foi feita porque a associação acredita que a solução “passaria por um caminho de negociação e entendimento entre os lesados e as entidades”, indica o comunicado. Luís Vieira defende que, assim, os associados são “parte integrante e activa desta mesma resolução”.

 

A ABESD coloca-se do lado da CMVM que veio defender que foram criadas “expectativas” de reembolso do papel comercial aos clientes e, por isso, o Novo Banco deve “compensar”. O Banco de Portugal considera que o Novo Banco não tem obrigação de pagar. A entidade presidida por Eduardo Stock da Cunha pode, contudo, avançar com soluções de compensação caso se justifique para a relação comercial com aquele cliente.

 

Segundo ex-gestores do BES, estão por liquidar  550 milhões de euros nas mãos de 2.508 clientes do banco. Há, contudo, também clientes de outras instituições financeiras do GES, como o Banque Privée, que também querem o reembolso, dado que acreditam que os bancos actuaram de forma “ilegal” – com clientes a serem direccionados do BES para outras entidades, como a unidade suíça que pertencia ao ESFG.

BES continuou a vender papel comercial

Terça-feira, Fevereiro 24th, 2015

Citamos:

Observador

O Banco Espírito Santo (BES) ainda comercializou papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo (GES) depois de ser dada ordem para travar estas operações, que tem data de 14 de fevereiro de 2014. A comunicação desta instrução, que é um dos passos da estratégia de ring-fencing (barreira de proteção entre banco e grupo), terá demorado algum tempo a chegar à rede comercial, admite um ex-administrador do BES. Segundo Jorge Martins, “ter-se-á verificado alguma falha”, um “delay“, que terá de ser analisada em sede da auditoria forense pedida pelo Banco de Portugal ao BES. O gestor admite um “problema de comunicação interna” e diz que as operações pararam no dia 24 de fevereiro.

Jorge Martins cita o caso de uma emissão lançada em 13 de fevereiro e que só ficou concluída dias depois e já dentro do período de proibição do Banco de Portugal. Estas operações de venda de papel comercial realizadas à revelia das instruções representaram aplicações de 23 milhões de euros.

O gestor admite que o facto de a ordem ter sido dada numa sexta-feira poderá justificar uma comunicação mais lenta. A data de 14 de fevereiro era o limite temporal da garantia de reembolso assegurada ao nível da Espírito Santo Financial Group e para a qual foi constituído um penhor sobre a Tranquilidade, avaliado em 700 milhões de euros. A ordem travava a venda de papel comercial da ESI e Rioforte.

Jorge Martins e João Freixa, dois antigos administradores executivos do BES, foram ouvidos esta terça-feira na comissão parlamentar de inquérito ao BES e aoGES. Jorge Martins assegura que sempre houve intenção da comissão executiva em cumprir as ordens de ring-fencing. Para João Freixa, o ring-fencing implementado ao nível do banco e da Espírito Santo FinancialGroup (ESFG) e a provisão constituída para o reembolso teriam sido suficientes para salvaguardar o banco das perdas no papel comercial dos seus clientes se aESFG tivesse cumprido a garantia.

Os dois gestores testemunharam só terem tido conhecimento dos problemas nas contas da Espírito Santo Internacional (ESI) numa reunião a 4 de dezembro de 2013 em que foram informados de uma discrepância de 1000 milhões de euros nas contas. Adiantam contudo que foi assegurado que o problema seria resolvido em breve com aumentos de capital da ESI que permitiriam o reembolso da dívida comprada pelos clientes do BES. A partir dessa data, acredita João Freixa, o banco terá travado a venda de papel comercial da Espírito Santo Internacional no retalho, mas prosseguiu com a colocação de dívida da Rioforte.

Papel comercial representava em média 31% do património dos clientes no BES

No final do primeiro semestre de 2014, estavam por reembolsar 550 milhões de euros relativos a 2500 clientes, o que representava cerca de 31% do total de subscritores. São estes clientes que viram o reembolso do papel comercial travado pela resolução do BES e agora pelo Novo Banco. Segundo a apresentação feita pelos dois ex-gestores, estas 2508 pessoas teriam no final de junho de 2014 recursos totais de 1800 milhões de euros no BES, pelo que a aplicação em papel comercial representaria, em média, 31% do património financeiro total que estes clientes tinham à data no banco.

Os clientes do BES chegaram a ter 1720 milhões de euros em papel comercial no final de 2013. Estes produtos foram vendidos sem tomada firme e garantia de reembolso por parte do banco. Segundo João Freixa, estes clientes terão sido informados das características do papel comercial, embora não excluam que tenham ocorrido casos de venda defeituosa. Jorge Martins admite que os casos de má venda são pontuais e representam os dedos de uma mão e que foram situações de incumprimento de instruções do banco.

No final de 2013, havia mais de seis mil clientes com papel comercial GES, em particular da ESI e segundo os ex-gestores do banco, 77% do valor foi tomado por clientes de private banking e afluentes, ou seja, clientes com património financeiro significativo. A subscrição mínima era de 50 mil euros por cliente.

O papel comercial da ESI dominava estas aplicações com 1000 milhões de euros, mas foi sendo reembolsado e substituído por títulos da Rioforte. No final de maio de 2014, a exposição dos clientes tinha caído para 615 milhões de euros, dos quais 200 milhões eram dívida da ESI e 380 milhões eram dívida daRioforte. As duas empresas estão insolventes.

O tema do papel comercial por reembolsar já colocou o Banco de Portugal e a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários em rota de colisão, depois de o supervisor bancário ter atirado a responsabilidade para a CMVM. A supervisora da bolsa reafirma que sempre defendeu o reembolso ou compensação destes clientes, lembrando que esse era o compromisso assumido pelo Novo Banco durante a gestão de Vítor Bento. Sob a liderança de Sotck da Cunha, o Novo Banco já avisou que não é responsável pelo reembolso, porque essa é uma responsabilidade do BES (banco mau). O gestor invoca diretivas do Banco de Portugal e assinala que o pagamento integral destas aplicações colocaria os rácios da instituição no limite mínimo. O Novo Banco está em processo de venda.

Quem ficou com os ganhos da recompra de obrigações? Ainda não se apurou

“Ficámos todos atónitos com a descoberta”, foi assim que Jorge Martins descreveu a reação à descoberta do esquema que foi revelado na recompra de obrigações do próprio Banco Espírito Santo. O provisionamento total da perdas com estes títulos, no valor de 1250 milhões de euros, foi feito por imposição do auditor nas contas do primeiro semestre. O BES teve de registar menos-valias para ajustar o valor de balanço destas obrigações ao preço do mercado e assumir nas contas o impacto do seu reembolso antecipado. Mas essas perdas, realçam, não foram causadas pela recompra, mas pela forma como estas obrigações foram concebidas e transacionadas. E quem ficou com os ganhos? Segundo João Freixa ainda não foi possível apurar quem se apropriou das mais-valias, que resultaram da diferença entre o preço e remuneração destas obrigações, entre o momento da colocação, revenda a terceiros e recompra pelo banco.

A auditoria a estas obrigações já permitiu concluir que terão sido usadas para substituir títulos de dívida do GES que estavam colocados em quatro veículos cujas ações preferenciais foram alienadas aos clientes finais. Neste caso, terão servido para contornar o ring-fencing que impedia o BES de financiar o GES que se terá apropriado das mais-valias. Só quem estava por dentro da montagem das obrigações saberia o impacto que teriam no balanço do BES, esclarece o ex-administrador, a propósito da decisão do banco em recomprar estes títulos.

As recompras foram feitas sob enorme pressão dos clientes, quando estes deixaram de conseguir colocá-las em mercado secundário, para proteger o franchising e o nome do banco. A Eurofin atuou como intermediário, mas os dois antigos gestores não conseguem precisar mais. João Freixa e Jorge Martins saíram da administração do Novo Banco em setembro, na sequência da saída de Vítor Bento, e a seu pedido.

Carlos Tavares e o “papel comercial”

Segunda-feira, Fevereiro 23rd, 2015

Citamos:

Jornal de Negócios

O presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) considera que “mais do que discutir as posições de uns e de outros, o importante é encontrar soluções.

Questionado pelos jornalistas, o presidente do regulador sublinhou que a posição da CMVM sobre o reembolso do papel comercial de sociedades do Grupo Espírito Santo (GES) já é conhecida. ” A única coisa que gostaria de dizer, e já que estivemos aqui a falar de valores e de ética, é que esta é uma questão jurídica naturalmente, mas é também uma questão de respeito pelas pessoas que aplicaram as suas poupanças em instrumentos, muitas vezes em condições deficientes”, disse Carlos Tavares, à margem de um almoço organizado pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), esta segunda-feira.

 

Carlos Tavares lembrou que alguns destes aforradores precisam mesmo “do dinheiro que aplicaram das suas poupanças para viver, por isso é que é também uma questão de palavra, uma questão de cumprimento de compromissos para com essas pessoas”.

 

A CMVM divulgou, na sexta-feira, um comunicado onde sublinha que considera que o Novo Banco e o Banco de Portugal criaram “expectativas” nos clientes de que o investimento em papel comercial seria restituído, mesmo que sem juros.

 

“Nesta altura, mais do que discutir as posições de uns e de outros, o importante é encontrar uma solução e encontrá-la rapidamente para as pessoas que já estão à espera da solução há muito, muito tempo”, concluiu Carlos Tavares.

Papel comercial: Carlos Tavares exige pagamento

Domingo, Fevereiro 22nd, 2015

Citamos:

Público

O presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Carlos Tavares, defendeu que a compensação dos investidores que compraram papel comercial GES é “uma questão de respeito”, considerando que tem que ser encontrada “uma solução rapidamente”.

“A única coisa que gostaria de dizer, já que estivemos aqui a falar de valores e de ética, é que esta é uma questão jurídica, naturalmente, mas é também uma questão de respeito pelas pessoas que aplicaram as suas poupanças em instrumentos, muitas vezes em condições deficientes”, afirmou Carlos Tavares.

Em breves declarações aos jornalistas, à margem do debate “Governo das Sociedades e Responsabilidade Social das Empresas”, uma iniciativa no âmbito do ciclo de conferências da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), o presidente da CMVM disse que “mais do que discutir posições de uns e de outros importa encontrar uma solução rapidamente para estas pessoas que esperam uma solução há muito tempo”.

Depois de uma intervenção sobre boas e más pessoas e bons e maus códigos de governo das sociedades, em que recordou tempos em que “a palavra dada era sagrada”, Carlos Tavares lembrou que muitos dos investidores que compraram papel comercial do GES aos balcões do BES “precisam do dinheiro que aplicaram para viver”.

“É uma questão de palavra, de cumprimento de compromissos”, acrescentou, lembrando a posição da CMVM, assumida várias vezes, de que o Novo Banco deve compensar os investidores.

Na quinta-feira, o governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, remeteu para a CMVM as queixas que tem recebido de clientes do Grupo Espírito Santo (GES) lesados no papel comercial que foi vendido nas agências do Banco Espírito Santo (BES) a investidores de retalho.

“A CMVM entende – e já o transmitiu nos fora [fóruns] e pelos meios próprios – que deverá haver lugar à adopção pelo Novo Banco de soluções de compensação dos investidores não qualificados vítimas das más praticas de comercialização de papel comercial GES vendido aos balcões do Banco Espírito Santo”, lê-se no documento enviado na sexta-feira pelo supervisor do mercado aos investidores em papel comercial do GES.

A entidade liderada por Carlos Tavares reitera que, “face ao teor da informação divulgada [em meados de agosto pelo Novo Banco], entende que foram criadas expectativas jurídicas aos subscritores destes produtos, quanto à restituição do capital investido, susceptíveis de determinar ou de interferir com decisões quanto à manutenção ou não dos investimentos”.

Na intervenção no debate, Carlos Tavares propôs à ACEGE a criação de um índice de ética e responsabilidade social das empresas, explicando que era “algo que gostaria de deixar como legado na fase final do mandato” na CMVM.

 

Segundo o Bdp… será que o BES era um banco?

Sexta-feira, Fevereiro 20th, 2015

Citamos:

Expresso

“Não estando em causa um produto bancário, mas sim a aplicação de fundos de clientes num certo tipo de instrumentos financeiros”, o Banco de Portugal (BdP) remete para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a responsabilidade pelo papel comercial da Rioforte e da Espírito Santo Internacional que foi vendido a clientes do BES. É o que está escrito, preto no branco, numa carta enviada esta quinta-feira pelo governador do BdP, Carlos Costa, ao presidente da CMVM, Carlos Tavares.

É mais um episódio na guerra fria entre os dois supervisores, que têm por várias vezes apontado responsabilidades um ao outro naquilo que correu mal no processo de intervenção no BES. Agora, Costa lança para cima de Tavares a batata quente dos clientes do BES que foram lesados ao comprar aos balcões do BES papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo (GES). Títulos que, reafirma Carlos Costa, não serão pagos pelo Novo Banco – ou seja, provavelmente nunca serão pagos.

Responsabilidade é da CMVM
“Não estando em causa um produto bancário, mas sim a aplicação de fundos de clientes num certo tipo de instrumentos financeiros, e cabendo nas atribuições da CMVM a supervisão da atuação das instituições de crédito, enquanto intermediários financeiros, no respeitante à prestação de serviços atividades de investimento em instrumentos financeiros, consideramos dever continuar a encaminhar para V. Exas., como aliás tem sido prática até ao momento, futuras reclamações que venham a ser apresentadas por detentores de papel comercial emitido por entidades não financeiras do GES” – é com este parágrafo, e com “os melhores cumprimentos”, que o governador termina a carta de duas páginas, a que o Expresso teve acesso, enviada esta quinta-feira.

Nos sete parágrafos anteriores, Costa explica as razões pelas quais o BdP entende que este é um assunto que não lhe diz respeito, nem diz respeito ao Novo Banco, mas ao banco mau – uma péssima noticia para os lesados, que esta quinta-feira de tarde são ouvidos na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES.

Carlos Costa lembra os termos em que foi anunciada a intervenção no BES, a 3 de agosto de 2014, segundo os quais ficariam no banco mau “quaisquer obrigações, garantias, responsabilidades ou contingências” relativas a instrumentos de dívida emitidos por entidades do GES.

Ou seja, “apenas seriam transferidos para o Novo Banco eventuais créditos não subordinados (…) relativamente aos quais o BES, enquanto intermediário financeiro, tivesse dado uma garantia de reembolso de capital, ou do capital e de uma certa rendibilidade”. Ora, diz o governador, não é o que se passa com o papel comercial em causa.

Pelo contrário: “Os títulos de dívida emitidos por entidades do ramo não financeiro do GES, nomeadamente na modalidade de papel comercial, colocados junto de clientes do BES ou de instituições de crédito o grupo BES, não beneficiavam de qualquer garantia daquele tipo.”

Mais: Carlos Costa afirma que estes títulos de dívida “constituem inequivocamente instrumentos financeiros cuja supervisão compete à CMVM”. Assim, deve ser a entidade dirigida por Carlos Tavares a responder aos milhares de investidores que se veem com papel comercial que nunca lhes será reembolsado. A saga continua…

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/banco-de-portugal-diz-que-responsabilidade-pelo-papel-comercial-do-ges-e-da-cmvm=f911559#ixzz3SErIdFya

Dúvidas sobre papel comercial

Quinta-feira, Fevereiro 19th, 2015

Citamos:

Dúvidas sobre o papel comercial

Nem Banco de Portugal nem CMVM assumem responsabilidade sobre papel comercial do GES comprado no BES. O Novo Banco pode pagar se for “no interesse simultâneo de ambas as partes”. Mas pode não fazê-lo. Os partidos pedem solução.

Era para ser um dia em que as associações de papel comercial iam falar à comissão de inquérito para pedirem o reembolso daquele investimento em dívida de sociedades do Grupo Espírito Santo, vendida aos balcões do BES ou de outros bancos do grupo, que não foi pago. Efectivamente, o papel comercial foi o tema, mas porque se abriu um novo conflito entre Banco de Portugal e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários: nenhum dos reguladores assume responsabilidades perante o papel comercial da ESI e da Rioforte. Os investidores estão numa incógnita.
Antes do arranque dos trabalhos, a comissão de inquérito recebeu uma carta que o governador Carlos Costa havia enviado ao presidente do regulador do mercado de capitais Carlos Tavares. “A regulamentação dos deveres das sociedades emitentes de papel comercial, bem como a fiscalização posterior do cumprimento desses deveres e, em geral, a ‘supervisão dos mercados onde seja negociado papel comercial’ competem à CMVM”, indicou o Banco de Portugal. E repetiu: “estes títulos de dívida […] constituem inequivocamente instrumentos financeiros cuja supervisão compete à CMVM”.

 

Ninguém saiu de casa a pensar: ‘hoje vou ali ao balcão do BES e vou ali comprar papel comercial da ESI’.
Luís Vieira
ABESD – Associação de Defesa
de Clientes Bancários

Carlos Tavares, através de fonte oficial do regulador, defendeu-se, dizendo que “a CMVM não autorizou – nem podia autorizar ou proibir – qualquer das emissões de papel comercial do GES comercializadas por entidades do grupo BES”. Ao Negócios, a mesma fonte oficial assegurou que a distribuição do papel comercial feita pelo GES “assumiu a forma de emissões particulares – dirigidas a menos de 150 clientes e tendo os títulos valor unitário superior a 50 mil euros”. Nestes casos, acrescentou, “a lei (em conformidade com as directivas comunitárias) não exige prospecto, nem qualquer espécie de autorização”, esclarece fonte oficial da CMVM”.

 

Clientes sem saber futuro
Enquanto os reguladores vão trocando responsabilidades, os clientes que investiram no papel comercial continuam sem receber, já que as sociedades em que colocaram os seus dinheiros estão em insolvência. Havia uma provisão de 700 milhões do BES que, na resolução, se esperava que tivesse transitado para o Novo Banco. Não aconteceu, e ficou no banco “mau”. Na passada sexta-feira, o regulador deixou claro que, sobre o banco liderado por Stock da Cunha, não há obrigações. O que pode fazer é “desenvolver práticas comerciais dirigidas aos detentores daqueles títulos, no interesse simultâneo de ambas as partes, sempre sob condição de que tal não prejudique o equilíbrio financeiro”.

 

Admira-me como é que o doutor Ricardo Salgado consegue dormir e como é que o senhor governador consegue dormir. A culpa não é nossa.
Ricardo Ângelo
Responsável da Associação Os Indignados do Papel Comercial

Os investidores nesta dívida de curto prazo defenderam que tinham perfil muito conservador e que não sabiam no que estavam a colocar o seu dinheiro. “Ninguém saiu de casa a pensar: ‘hoje vou ali ao balcão do BES e vou ali comprar papel comercial da ESI’”, frisou Luís Vieira, da ABESD. Ricardo Ângelo, representante da outra associação de lesados do papel comercial, diz que este foi “apresentado como do BES e não como do GES”.
Os partidos, apesar de diferentes posições, querem esclarecer o que correu mal na regulação. Fernando Negrão, o presidente da comissão de inquérito, pediu uma “solução” para este “problema grave que preocupa todos”.

Um aviso de 2009

Terça-feira, Fevereiro 17th, 2015

Citamos:

Jornal de Negócios

O ex-director do Banco Espírito Santo (BES) Carlos Calvário reconheceu esta terça-feira, no Parlamento, que em 2009 a exposição do banco ao BES Angola (BESA) fez “soar as campainhas”.

A “exposição ao risco soberano da República de Angola apareceu de repente”, frisou o responsável, ouvido na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES).

 

A questão em torno do crédito ao BES ao BESA é um dos temas fulcrais ao longo dos trabalhos da comissão, já que a perda de largos montantes de capital, em local indefinido, contribuiu decisivamente para os problemas no GES e no BES.

 

Carlos Calvário está a ser ouvido na comissão de inquérito desde cerca das 15:00 e apresentou na sua intervenção inicial um resumo do seu trajecto profissional desde que ingresso no BES até aos dias de hoje. Actualmente, está no Novo Banco e é director coordenador do Departamento Técnico de Imobiliário.

 

A comissão de inquérito teve a primeira audição a 17 de Novembro passado e tinha inicialmente um prazo total de 120 dias, que expirou a 19 de Fevereiro. Os trabalhos foram entretanto prolongados por mais 60 dias, aprovaram os partidos por unanimidade.

 

Os trabalhos dos parlamentares têm por objectivo “apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos e as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo do GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades”.

Goldman Sachs contra BdP

Terça-feira, Fevereiro 17th, 2015

Citamos: Jornal de Negócios

O Goldman Sachs alega nunca ter sido accionista de referência do BES e acusa o Banco de Portugal de se basear em “erros factuais”, quando decide excluir o financiamento da Oak Finance das responsabilidades do Novo Banco.
O Banco de Portugal reiterou esta terça-feira a decisão, já tomada em Dezembro, de excluir do Novo Banco a responsabilidade do empréstimo concedido pela Oak Finance Luxembourg ao BES. O regulador considera que se trata de um veículo que o Goldman Sachs criou para financiar o BES e que, uma vez que a legislação determina que os empréstimos concedidos por accionistas não passam para o Novo Banco, este financiamento está excluído.   O Goldman Sachs discorda, tal como já tinha feito no passado, e vai “accionar de imediato todos os mecanismos legais”, de acordo com uma nota enviada às redacções.   “A decisão do Banco de Portugal de não restituir as obrigações da Oak Finance ao Novo Banco é baseada em erros factuais e viola os princípios básicos do Estado de Direito e de equidade. Concretamente, importa salientar que a Goldman Sachs nunca deteve mais de 1,6% dos direitos de voto relacionados com as acções do BES, não atingindo os 2% legalmente exigidos para ser considerada accionista de referência”, afirma o Goldman na nota.   Desta forma, “tencionamos accionar de imediato todos os mecanismos legais à nossa disposição.”   O Banco de Portugal determinou, em Dezembro, que o empréstimo concedido através da Oak Finance ao BES seria excluído das responsabilidades do Novo Banco. Em causa estava o facto de “haver razões sérias e fundadas para considerar que a Oak Finance actuara, na concessão do empréstimo, por conta da Goldman Sachs International, e que esta entidade detivera uma participação superior a 2% do capital do BES.”   O Goldman Sachs contestou a decisão, o que levou a que o regulador liderado por Carlos Costa tivesse reavaliado a situação, tendo inclusivamente recorrido a um consultor externo independente.   Em comunicado, emitido esta terça-feira, 17 de Fevereiro, o Banco de Portugal revela ter mantido a decisão.   A legislação em vigor determina que os empréstimos concedidos por accionistas do BES não passem para o Novo Banco. O Banco de Portugal exclui assim esta responsabilidade por considerar que o Goldman Sachs foi accionista qualificado do BES e que a Oak foi criada pelo Goldman para financiar o BES. Esta última questão tem sido contestada pelo Goldman, que se tem defendido afirmando que apenas foi intermediário na criação do veículo financeiro Oak.   “Os elementos apresentados pela Goldman Sachs International não permitiram afastar as razões de dúvida, de facto e de direito, que fundamentaram a decisão de 22 de Dezembro”, salienta o Banco de Portugal no comunicado emitido esta terça-feira.   “A reclamação da Goldman Sachs International não permitiu demonstrar, nomeadamente que tenha havido um erro na comunicação oficial ao mercado realizada pela Goldman Sachs em Julho de 2014, que aliás não foi na altura própria corrigido”, referindo-se, desta forma à participação qualificada no capital do BES. É que, um dos argumentos que a Goldman Sachs apresentou a alguns órgãos de comunicação era de que as acções que tinha em sua posse eram de clientes e não directamente suas.   “Por outro lado, também não demonstrou que a Oak Finance não estivesse a actuar por conta da Goldman Sachs International, na concessão do empréstimo que a própria Goldman Sachs International organizou, estruturou e financiou, mediante a tomada firme dos títulos emitidos pela Oak Finance para o efeito”, acrescenta o Banco de Portugal.   “Assim, o Banco de Portugal deliberou confirmar e manter a sua decisão de 22 de Dezembro de 2014. Quaisquer dúvidas remanescentes só poderão ser esclarecidas em tribunal, pois o Banco de Portugal não pode, em caso de dúvida, permitir uma transferência, que se tornaria na prática irreversível, com risco grave de causar um dano irreparável para o interesse público”, conclui o regulador no comunicado emitido hoje.   Em causa está um empréstimo ao BES de 835 milhões de dólares (cerca de 680 milhões de euros). No mesmo dia em que o empréstimo foi pedido pelo banco português, o Oak Finance emitiu 785 milhões de dólares em dívida – que o banco norte-americano emitiu, esperando vendê-la posteriormente a investidores.   O veículo tinha como missão financiar a construção de uma refinaria chinesa na Venezuela, em Julho de 2014, da petrolífera estatal PDVSA, uma das maiores credoras do ramo não financeiro do GES. O BES assegurou o compromisso de reembolsar a dívida de sociedades venezuelanas através de cartas de conforto que causaram perdas de 267 milhões de euros.   O Novo Banco evita assim assumir perdas de 548,3 milhões de euros, de acordo com a informação disponibilizada pelo Banco de Portugal.