Arquivo para Março, 2015

BES: Lesados do papel comercial saem do Novo Banco sem propostas

Sexta-feira, Março 27th, 2015

Citamos

Negócios

Os clientes lesados no papel comercial do GES reafirmaram que não receberam formalmente qualquer proposta para resolver o problema após uma reunião com a administração do Novo Banco, embora tenham o compromisso de um “início de negociação”.

O presidente da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC), Ricardo Ângelo, afirmou aos jornalistas no final da reunião desta sexta-feira, que durou uma hora e meia, que “não foi apresentada nenhuma proposta” e que o encontro foi “apenas um início de um processo” em que o Novo Banco “foi de uma abertura grande”.

Ricardo Ângelo, que foi recebido por administradores do Novo Banco num encontro no qual o presidente, Stock da Cunha, não esteve presente, disse que a recepção “foi amistosa, mais do que estava à espera”, afirmando que “há uma abertura para solucionar o problema destes clientes”.

A única exigência que a AIEPC fez na reunião foi celeridade por parte do Novo Banco em “assegurar alguma liquidez” aos clientes, porque “existem situações de dificuldades graves” que a associação quer “rapidamente que sejam resolvidas”, adiantou Ricardo Ângelo.

Questionado sobre se houve uma inversão de discurso por parte da associação, Ricardo Ângelo negou, acrescentando que a administração do Novo Banco tinha “demasiados problemas dentro do banco para serem resolvidos mas que a questão não está de todo esquecida”.

Relativamente à proposta feita por alguns clientes de transformar os créditos do papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES) em acções da futura entidade a ser constituída quando o Novo Banco for vendido, o presidente da associação de lesados disse que não era viável: “Queremos o ressarcimento das nossas poupanças no total, não queremos acções do Novo Banco. Não queremos o dinheiro dos contribuintes, queremos o nosso dinheiro”.

Ricardo Ângelo acusou também o Banco de Portugal de ser o principal entrave a uma solução por parte do Novo Banco.

Segundo o presidente da AIEPC, o Novo Banco “tem tentado por todas as formas criar uma solução favorável para os clientes, mas infelizmente essas soluções têm sido canceladas” pelo Banco de Portugal. “Parece que o Novo Banco apresenta as propostas e elas vêm para trás”, concluiu.

Salgado: activos fictícios eram “investimentos importantes”

Sexta-feira, Março 27th, 2015

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Sol

Felícia Cabrita  
 
Ex-presidente do BES negou no Parlamento o que os documentos obtidos pelo SOL comprovam: passivos escondidos às autoridades através de projectos imobiliários em Angola.  
 
Ricardo Salgado foi ao Parlamento negar qualquer intervenção em transferências fictícias de dívida e de activos da Escom, que esconderam o passivo real do Grupo Espírito Santo (GES) perante as autoridades. Apesar de novos documentos obtidos pelo SOL comprovarem operações de engenharia financeira com projectos imobiliários em Angola, com o propósito de mascarar as contas do grupo, o banqueiro não se coibiu de classificar esses projectos como «investimentos importantes».  
 
Tal como SOL revelou nas últimas duas edições, em 2013 houve um conjunto de cinco transferências ‘fictícias’ de créditos da Escom para sociedades-veículo, através do BES Angola (BESA). Uma delas envolvia uma empresa designada Enignimob e as salinas de José Paulo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates, que deveriam servir para um mega-empreendimento turístico que nunca saiu do papel.  
 
As cinco transacções atingiram 500 milhões de dólares e serviram para libertar dívida da Escom, cujas contas apareciam assim mais atractivas. O BESA emprestava o dinheiro a empresas aparentemente fora do GES.  

Antes disso, em 2010, parte da dívida da Escom já havia sido transferida para uma offshore denominada Multiples, uma empresa do grupo sediada nas Ilhas Virgens e vendida a uma sociedade desconhecida do Luxemburgo, a Overview Investments, cujos donos foram omitidos.  
 
Outro mecanismo para esconder negócios ruinosos era uma offshore denominada Legacy. O passivo de mais de 300 milhões de dólares acabou por ser transferido para uma empresa denominada Vaningo – apesar de ser o GES a pagar a dívida desta empresa ao BES, mostrando que continuava na esfera do Grupo Espírito Santo.  
 
No Parlamento, há uma semana, Salgado foi confrontado com alguma das operações angolanas reveladas pelo SOL. Recusou identificar os proprietários das offshores Legacy e Vaningo, invocando o sigilo bancário angolano. E garantiu que «de forma alguma» houve recursos do BESA a financiar o GES. «Não acredito. Não é verdade», afirmou o ex-presidente do BES.  
 
Omissões na AR  

Salgado atrapalhou-se para explicar a paternidade destas sociedades referindo apenas que a Vaningo era «uma empresa angolana», mas cujos proprietários não identificou. Adiantou, contudo, que a Legacy está na génese da Vaningo, mas que esta não pertencia a ninguém no Conselho Superior do GES.  
 
Perante questões dos deputados sobre «activos fictícios» em Angola para disfarçar as perdas do grupo, o banqueiro contestou essa ideia. «Nós tínhamos activos importantes em Angola, mas há um problema de registo de propriedades no país. A maior parte dos terrenos ainda são do Estado. Nunca conseguimos que a KPMG aceitasse os títulos de propriedade que tínhamos ou que estávamos em vias de ter», argumentou, lembrando os «projectos muito grandes nos quais o grupo já tinha investido» naquele país.  
 
Ora, é precisamente nos «grandes projectos em Angola» que são feitas operações de crédito mais do que duvidosas. No relatório sobre as contas do BES A de 2013, a KPMG identifica as cinco operações problemáticas de crédito, no montante de 50 mil milhões de kwanzas (cerca de 500 milhões de dólares), com vista a financiar projectos imobiliários. Segundo a auditora, o financiamento estava a ser encaminhado para sociedades-veículo cujo nível de capitais próprios «era significativamente reduzido quando comparado com o valor total do investimento».  
 
Estas empresas compravam activos à Escom, mas eram necessárias avaliações dos imóveis. Para tal, a Escom contratou uma avaliadora, a Proprime. Foi-lhe solicitada urgência nos pedidos, sem que o propósito real dos novos estudos tivesse sido revelado – a empresa desconhecia que serviriam para obter empréstimos. Quando entregou a nova avaliação, feita com os pressupostos indicados pela Escom, o grupo de Salgado utilizou esses relatórios para validar os créditos. Com uma nuance: os créditos concedidos pelo BE- SA chegaram a ser superiores à avaliação.  
 

Em declarações ao SOL, o advogado da Proprime em Portugal, Regras bancárias ignoradas Ou seja, a prática do BESA nestes casos contrariou as regras seguidas por qualquer instituição financeira. Os bancos ‘agarram-se’ ao valor actual do imóvel e por norma só emprestam uma parte do dinheiro necessário a um projecto. Se numa situação de crise for necessário accionar a garantia, poderá assim recuperar parte do crédito. Num crédito para habitação, por exemplo, quem compra tem de entrar com 20% ou 30% do capital necessário.  
 
A decisão final do crédito destas cinco operações era sempre do próprio BESA, que nunca colocou em causa o financiamento de projectos acima do valor da avaliação. Estas operações de financiamento e os seus pressupostos acabaram por chamar a atenção da KPMG: «Não nos foi possível confirmar a capacidade financeira de geração de cash-flows dos referidos projectos, de forma a podermos concluir que a maioria dos riscos e benefícios associados a esses projectos pertencem aos detentores de capital dessas sociedades». João Cavaleiro e Silva, esclareceu: «A Escom não informou que a avaliação era para um financiamento bancário, disse-nos que era um relatório para avaliação interna. Por outro lado, a quem compete verificar se aquele relatório tem credibilidade ou não é o banco – e este nunca o pôs em causa ou quis discuti-lo com a Proprime.  
 
Nunca ouvimos falar da Enignimob ou de qualquer uma das outras. A decisão é sempre da instituição financeira».  
 
 

Luxemburgo chumba venda dos activos da Herdade da Comporta

Sexta-feira, Março 27th, 2015

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Económico

Tribunal rejeita ofertas da Cerberus e da Global Reach pela Espírito Santo Property, que rondavam 60 milhões de euros. Entre os credores da firma estão centenas de clientes do BES com papel comercial.

O juiz de insolvência nomeado pelo Tribunal do Luxemburgo, Paul Laplume, rejeitou as duas propostas de compra da Espírito Santo Property (ESP), sociedade que detém parte dos activos da Herdade da Comporta, o Oeiras Golf & Residence e a Quinta do Perú, entre outro património imobiliário da família Espírito Santo, apurou o Diário Económico. Segundo fontes ligadas ao processo, foram apresentadas duas propostas de compra, do fundo Cerberus e da Global Reach, de Artur Silva Fernandes, mas o juiz considerou que as ofertas – na casa dos 60 milhões de euros – são inferiores ao desejado e suspendeu o processo de venda.

GES: papel comercial vendido aos balcões como sendo do BES

Quinta-feira, Março 26th, 2015

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TVI

TVI teve acesso a vários emails trocados entre gestores de conta e clientes que afirmavam que o produto tinha capital garantido.

Os emails a que a TVI teve acesso são de finais de 2013 e mostram que o papel comercial passa a vigorar no cardápio de ofertas bancárias do Banco Espírito Santo. A taxa era atrativa quando o mercado pagava pouco mais de 2%. Os gestores de conta dizem que o produto tem capital garantido.

Vai ficar nos próximos dias com 160 mil euros disponíveis, sugiro o seguinte: 60 mil em obrigações do BES, 100 mil em títulos de papel comercial pelo prazo de 4 meses com taxa de 4,5, capital e taxa garantidos no final do prazo. Este ativo é o mesmo do espirito santo liquidez (risco semelhante).

Cliente:

Obrigada. Por favor esteja atenta aos riscos. Causa-me muita ansiedade ter que pensar em dinheiro. Prefiro ganhar pouco mas ter paz de espirito e saber que pelo menos não perco o capital.

Gestor:

Está seguro tanto o capital como a rentabilidade. Posso avançar com as subscrições que lhe propus?

Cliente:

​Sim, mas espero sempre de si que ponha os clientes à frente dos interesses do banco e das famílias por trás do banco…e que nos aconselhe o plano de salvamento se for caso disso em tempo útil.

Gestor:

Não se preocupe. Estou a recomendar o melhor para si, considerando o perfil conservador que tem e uma rentabilidade atrativa! E claro, estarei sempre atenta a situações menos agradáveis que possam surgir, mas acredito que não vão acontecer.

Noutros emails diz-se mesmo que o papel comercial é garantido pelo BES.

Boa tarde, hoje venceu o valor aplicado na sua conta. Junto envio alternativas de investimento para análise: Papel comercial: aplicação financeira, com capital e taxa garantida pelo BES com taxa de 4,25 num prazo de 4 meses.

Bom dia, como tem um vencimento de 100 mil euros durante este mês, venho por esta via fazer proposta de aplicação no BES em papel comercial, com as seguintes caraterísticas: 4 meses 4,25%, 6 meses 4,35. Capital e juro garantido na maturidade.

Nestes emails não há uma única referência ao emitente do papel comercial, que neste caso era a Espírito Santo International.

Cliente:

Bom dia, confirmo que estou interessado neste produto, a um ano, com taxa de 4,25, visto que os referidos riscos de liquidez, segundo me informa estão apenas associados à falência do BES.

Gestor:

Boa tarde, o valor da aplicação é de 100 mil euros, é o valor mínimo, valores superiores só com múltiplos de 50 mil. O restante valor do fundo liquidez será para ficar no fundo ou transfiro para a conta a ordem?

 

Como se verifica muitos destes clientes, eram investidores do Fundo Espirito Santo Liquidez. Como os reguladores proibiram o fundo de financiar a ESI, estes clientes deixam de financiar a ESI através do fundo mas passam a financiá-la através do papel comercial.

Só dois meses depois, no final de dezembro de 2013, é que o Banco de Portugal se apercebe que estes títulos estão a ser colocados nos clientes de retalho e impõe uma provisão.

TVI tentou contactar o banco de Portugal mas sem sucesso.

 

BES: grupo de lesados quer trocar créditos por ações do Novo Banco

Quinta-feira, Março 26th, 2015

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TVI

Investidores pedem também uma reunião «com caráter de urgência» para discussão acerca de uma solução definitiva da questão

Alguns dos lesados que compraram papel comercial do Grupo Espírito Santo enviaram ao Banco de Portugal e CMVM cartas a propor que o capital investido seja convertido «em ações da nova entidade» constituída com a venda do Novo Banco.

As cartas enviadas aos supervisores da banca e do mercado de capitais por parte de um grupo de pequenos investidores, que no total representam 2,0 milhões de euros investidos em papel comercial do GES, referem que a solução até à data de hoje – que prevê «que os investidores consigam reaver menos de metade do capital investido numa aplicação a dez anos, mas com um corte entre 60% e 70%» – não é a melhor.

Nuno Vieira, advogado da Vieira & Amilcar Associados e representante destes investidores, refere à agência Lusa que o modelo que este este grupo propõe agora «seria uma solução em que todos sairiam a ganhar», uma vez que «não compromete a liquidez do Novo Banco, não põe em causa a hierarquia dos credores e pode representar perdas muito menores para os investidores».

Nas cartas que a sociedade de advogados enviou aos supervisores é referido que os clientes «estão dispostos a converter todos os seus créditos em papel comercial subscrito às entidades do GES em ações da nova entidade que venha a ser constituída com a venda do Novo Banco».

Os investidores pedem também uma reunião «com caráter de urgência» para discussão acerca de uma solução definitiva da questão, uma vez que «esta é uma proposta geral, que não dispensa aprofundamento do tema», mas que assumem «como preferencial».

«Os nossos clientes pretendem ser ressarcidos dos valores que julgam ter direito, estando já a ser preparada uma ação judicial com recurso prejudicial para o Tribunal de Justiça da União Europeia», disse.

Esta proposta nada tem a ver com as conversações entre a AIEPC (Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial) e o Novo Banco, que deverão reunir na sexta-feira para encontrar novas soluções para a questão.
Na terça-feira, os clientes lesados no papel comercial do GES, comprado aos balcões do BES, disseram que não receberam formalmente qualquer proposta para resolver o seu problema, mas realçaram que as notícias divulgadas apontam apenas para um «início de negociação».

«A proposta que ontem [segunda-feira] saiu para a imprensa não nos foi formalizada, é apenas um abrir de portas e um início de negociação para uma solução. Não levamos a sério sequer o conteúdo que lá vem», declarou Nuno Lopes Pereira, da AIEPC.

O responsável falava aos jornalistas no parlamento, onde se encontrou com o presidente da comissão de inquérito à gestão do BES e do GES, Fernando Negrão, e fez, através do deputado do PSD, chegar uma missiva ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que estava a ser ouvido pelos parlamentares.

Uma suposta proposta que visa o pagamento apenas parcial das verbas aplicadas pelos clientes de retalho do BES em papel comercial, aliada à obrigação de os mesmos investirem mais 10 ou 20 mil euros no banco, foi noticiada pela imprensa na segunda-feira.

Nuno Lopes Pereira sublinhou esta quinta-feira que os clientes lesados nunca aceitarão menos que 100% do seu capital de volta.

BES. Nem só Ricardo Salgado é culpado

Quinta-feira, Março 26th, 2015

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Observador

Os culpados para a oposição: administradores, reguladores, supervisores, Governo, troika e até sistema capitalista. Para o PSD, começou a “chicana política”.

Para a oposição, nem só Ricardo Salgado é culpado pela queda do BES. A pirâmide das falhas que levaram ao colapso do BES (e do grupo) tem como base a administração do banco, mas nos patamares acima estão ainda o regulador do mercado (CMVM), o supervisor Banco de Portugal, os auditores internos e externos e até o Governo e a troika. A inclusão do Governo no rol de culpados será o ponto quente do relatório da comissão. O PSD e o CDS acusaram o toque e se até admitiram avaliar a responsabilidade do Executivo em todo o processo, mas foi exatamente depois de ouvir a oposição referir que a equipa de Passos Coelho tem de estar no leque de culpados, que a maioria ficou crispada, acusando os três partidos, em especial do PS de “chicana política”.

No dia seguinte ao fim dos trabalhos, os três partidos da oposição, PS, PCP e BE apresentaram as conclusões gerais da comissão de inquérito. E os três concordam que a culpa não pode morrer apenas com Ricardo Salgado. “Desde logo, em primeiro lugar, o presidente da comissão executiva do BES, toda a sua equipa e restantes administradores, auditor externo, supervisores, Banco de Portugal, CMVM, Instituto de Seguros de Portugal, troika e Governo”, são estes os culpados para o PS, sintetizados pelo deputado Pedro Nuno Santos em conferência de imprensa. Para o deputado, se já havia consenso entre todas as bancadas da responsabilidade de Ricardo Salgado, administradores e auditores, com a audição de Maria Luís Albuquerque, a maioria juntou-se na atribuição de responsabilidades aos supervisores, “ao governo só faltou acrescentar as suas próprias responsabilidades neste caso”, disse.

Para os socialistas, o Governo tem responsabilidades em duas etapas do processo, a começar pela não deteção do problema. Depois pela decisão de dividir o BES em dois (medida de resolução anunciada pelo BdP). “Ninguém acredita que uma decisão desta dimensão não é uma co-decisão – desde logo porque os decretos-lei aprovados provam que o Governo está mais do que envolvido, mais do que comprometido com a decisão de resolução”, acusa o deputado que diz ainda que o Executivo de Passos Coelho é também responsável porque é hoje claro que com esta decisão, serão os contribuintes a pagar por dois aspetos: a injeção de 3,9 mil milhões de euros de dinheiro do Estado no fundo de resolução, que, tendo em conta a dificuldade da banca em assegurar os rácios se vai transformar num “empréstimo a longo prazo” à banca; e os processos em tribunal que vão decorrer durante anos e “vai caber ao Estado” indemnizações por cauda da “derrocada do BES”.

A esta leitura junta-se o BE e o PCP. Para a deputada Mariana Mortágua, “a responsabilidade do que aconteceu pertence aos administradores do banco”, mas também “houve falhas ao nível da supervisão”. Até porque, acrescenta a deputada, a comissão de inquérito não pode “cair no engano de achar que o problema do BES reside no caráter do Ricardo Salgado”.

Já o PCP aponta baterias a todo o sistema capitalista. O deputado comunista Miguel Tiago, que não retira responsabilidades aos responsáveis políticos e aos reguladores e supervisores, manteve durante toda a comissão de inquérito uma postura de questionar o sistema capitalista. E foi a essa conclusão que chegou dizendo que “o PCP tentou fazer uma abordagem não sobre a pessoa, mas sobre todo o sistema financeiro funciona. A forma como os reguladores estão capturados pelo sistema financeiro”, disse também em conferência de imprensa. Mas, Miguel Tiago não descarta responsabilidades e culpa a este e a outros governos: “O Governo teve responsabilidades, os sucessivos governos também, na permissividade com este grupo económico. Este [governo] especifico teve responsabilidade pela inação – sabia que estava um grupo a colapsar, que estava intimamente ligado a um banco e as medidas que tomou foi deixar as coisas irem até à ultima. Até tomar uma medida de resolução. Não acreditamos que o BdP a tenha tomado sozinho”, acrescenta.

Depois do fim das audições, segue-se a elaboração do relatório da comissão que será feito por um deputado do PSD, Pedro Saraiva. Pelas reações dos partidos da maioria haverá dois pontos nevrálgicos e ambos têm a ver com a ação do Governo: um pela responsabilidade do Governo em todo o processo, sobretudo no que diz respeito à medida de resolução; e outro sobre o facto de a decisão ter custos para o contribuinte.

Depois de a oposição ter falado e ter pedido responsabilidades ao Executivo, o PSD e o CDS marcaram conferências de imprensa que não estavam previstas para responder. E ambos acusaram a oposição, em especial o PS de “chicana política”. Nem Carlos Abreu Amorim nem Cecília Meireles admitiram que a acusação se devia ao facto de PS, PCP e BE terem colocado o Governo no rol de culpados, os dois deputados da maioria insistiram que apenas achavam precipitado o retirar de conclusões. Carlos Abreu Amorim até admitiu rever a responsabilidade do Governo, mas de forma geral: “O PSD admite que no relatório todos os atores desta peça possam vir a ser avaliados. Não pomos nada de parte nem pusemos no início”, disse. Mas depois, acusou a oposição de ter feito um “intervalo lúcido” de quatro meses (tempo em que decorreu a comissão de inquérito) e de agora  “termos voltado à chicana política” e de neste processo, sobretudo o PS “estar a apontar culpados e estar a condicionar a realização do relatório”.

Cecília Meireles foi mais cuidadosa nas críticas. A deputada do CDS acusou a oposição de fazer “chicana política”. “Desde o primeiro dia que o PS e a oposição tentam responsabilizar o governo, mas não sabemos o que teriam feito. Continuo a aguardar que o PS explique o que teria feito”, acrescenta.

Ainda falta a troika

Se no que diz respeito à responsabilidade do Governo, há divisões, todos concordam que a troika – BCE, CE e FMI – tinham o dever de ter detetado os problemas no banco uma vez que durante o programa de ajustamento tinham como responsabilidade perceber a estabilidade do sistema bancário.

Mas até esta quinta-feira, os responsáveis da troika não tinham ainda respondido às perguntas por escrito da comissão de inquérito. E é o próprio CDS que admite mais diligências para obter respostas dos responsáveis da troika. “Era importante que a troika preenchesse esse vazio”, disse a deputada Cecília Meireles aos jornalistas.

CMVM prolonga por mais 10 dias suspensão das ações e dos instrumentos de dívida

Quinta-feira, Março 26th, 2015

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Lusa

O Conselho de Administração da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) voltou hoje a prolongar a suspensão da negociação das ações e dos instrumentos de dívida do Banco Espírito Santo (BES) por mais dez dias úteis.

“O Conselho de Administração da CMVM deliberou a prorrogação da suspensão da negociação das ações e dos instrumentos de dívida do Banco Espírito Santo (BES) por 10 dias úteis”, lê-se num comunicado publicado hoje na página oficial do regulador.

A suspensão da negociação do BES Perpetual Serie USD, BES Obrigações CX Subordinadas 2011 e BES Perpetual mantém-se até “à divulgação de informação relevante e segura sobre o emitente”, adianta a CMVM.

As obrigações perpétuas não têm um momento previsto para o reembolso, podendo vencer juros eternamente, enquanto as subordinadas só são reembolsadas após os restantes credores de dívida não subordinada em caso de falência do emitente, segundo a página de Internet da Bolsa de Lisboa.

A 11 de agosto o BES saiu do principal índice da bolsa de Lisboa, PSI-20.

O regulador do mercado decidiu suspender a negociação das ações e vários instrumentos financeiros do BES, à espera de informação relevante a 04 de agosto, tendo prorrogado sucessivamente o prazo por dez dias úteis.

Auditoria KPMG

Quinta-feira, Março 26th, 2015

relatorio KPMG

“Supervisão se calhar também devia ter visto mais cedo”

Quinta-feira, Março 26th, 2015

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Sábado

Ministra admite a existência de eventuais falhas do regulador.

A ministra das Finanças admitiu pela primeira vez que poderá ter existido falhas por parte do Banco de Portugal na supervisão ao BES.

“Há evidência de ter havido, no mínimo, erros de gestão muito graves. Houve falhas ao longo do processo de governance, houve responsabilidade da auditora e a supervisão se calhar também deveria ter visto mais cedo [as falhas]”, disse Maria Luís Albuquerque numa resposta ao deputado do PSD Duarte Marques.

No entender da titular da pasta das Finanças, “é manifesto que terá havido falhas ao longo do processo”. 

A ministra das Finanças reconheceu também que Carlos Tavares, presidente da CMVM, e Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, terão estado pouco articulados na gestão da supervisão ao antigo banco de Ricardo Salgado.

“É preciso ver que falhas entre supervisores poderá ter havido”, disse Maria Luís Albuquerque, alertando, contudo, que a discussão do tema deverá ser feita “com serenidade” e “num momento menos crispado”.

Reguladores e partidos querem alterar legislação após caso BES

Quinta-feira, Março 26th, 2015

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Económico

Reguladores e partidos estão a preparar um conjunto de alterações legislativas para que a história não se repita.

É caso para se dizer “casa arrombada, trancas à porta”. O terramoto provocado pela queda do GES e do BES, que acabou por arrastar também a participada Portugal Telecom, culminou na exposição de um rol de fragilidades relativas à supervisão, ao governo das sociedades, mas também às normas que regulam os conglomerados mistos e as transacções com partes relacionadas, além da defesa dos clientes bancários.