Arquivo para Junho, 2015

Novo Banco prepara fecho da sucursal de Nova Iorque

Sábado, Junho 27th, 2015

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Económico

Depois da venda do BESI deixou de ter actividade suficiente para manter a estrutura nos Estados Unidos.

O Novo Banco está a fechar a sua sucursal em Nova Iorque, soube o Económico.

Apesar de ter “nascido” sem o BES Miami, que ficou no banco mau na aplicação da Medida da Resolução de 3 de Agosto de 2014, o Novo Banco herdou uma sucursal em Nova Iorque.

A sucursal do Novo Banco em Nova Iorque sempre concentrou a sua actividade na banca de wholesale (banca por grosso, que tem como destinatário as empresas), maioritariamente nos EUA e Brasil.

Mas no seu relatório e contas, o banco liderado por Eduardo Stock da Cunha anunciou que “em virtude das fortes reduções de actividade neste mercado, associada à alienação do BESI, o Novo Banco tomou a decisão de encerrar esta sucursal no decurso do exercício de 2015”.

Segundo o Económico soube ainda não foi encerrada a sucursal que se situa na Park Avenue, uma das ruas mais emblemáticas de Manhattan, mas estão em já curso os procedimentos para o seu encerramento.

O Novo Banco que vai a concurso dia 30 Junho (data limite para a entrega das propostas vinculativas de compra), deverá completar o encerramento antes da conclusão da venda.

O Relatório e Contas do Novo Banco vai à praça com praticamente todas as sucursais, subsidiárias e escritórios de representação. O Novo Banco está presente em 20 países (para além de Portugal), em quatro continentes.

Até Março de 2015 o NB deteve uma Sucursal Financeira Exterior em Cabo Verde que encerrou a sua actividade nessa data, revela o relatório e contas. Estas são a duas únicas sucursais que o Novo Banco tem previsto fechar antes da venda.

O BESI que está praticamente vendido à Haitong mantém a sua sucursal em Nova Iorque que se dedica essencialmente ao project finance e outros financiamentos estruturados, capitalizando a sua presença no Brasil e na área de mercado de capitais na Península Ibérica.

Fundo de resolução da banca pode perder mais de 1000 milhões com venda do Novo Banco

Sábado, Junho 27th, 2015

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Sic com som

O fundo de resolução da banca deverá perder entre 1000 e 1500 milhões de euros com a venda do Novo Banco. Os restantes bancos do sistema podem ter de assumir perdas de 1500 milhões.

Relatório de “avaliação” de Carlos Costa aprovado, Governo já pode efectivar nomeação

Sexta-feira, Junho 26th, 2015

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Negócios

Os socialistas abstiveram-se na votação do relatório da audição da personalidade indicada pelo Governo para liderar o Banco de Portugal. O Bloco não esteve presente. O nome volta agora para o Governo, que efectivará a nomeação.

O Parlamento já aprovou a nomeação de Carlos Costa para o segundo mandato no Banco de Portugal. O relatório que foi feito da audição indicada pelo Executivo, da responsabilidade do social-democrata Carlos Silva, foi aprovado pelos partidos da maioria e pelo PCP.

 O relatório é, na prática, a transcrição da audição do ainda governador no primeiro mandato a 12 de Junho. Não são feitos quaisquer comentários nem é dada uma qualquer avaliação à sua intervenção, conforme noticiou o Negócios.

Sendo elaborado pelo social-democrata Carlos Silva, o documento tinha já aprovação garantida por parte do PSD e do CDS. O PCP também votou favoravelmente já que, para os comunistas, o documento é apenas uma transcrição da audição em que Carlos Costa foi ouvido como indigitado.

Já o Partido Socialista absteve-se. O Bloco de Esquerda não esteve presente na reunião.

A apreciação e votação do relatório da audição foi levada a discussão da comissão parlamentar de Orçamento e Finanças esta quinta-feira, 25 de Junho, depois de reunião adiada de ontem. Mesmo que houvesse uma rejeição por parte do Parlamento, o que não seria expectável, a audição tinha apenas um carácter consultivo.

Governo já pode formalizar recondução

Após a aprovação no Parlamento, o relatório sobre a audição a Carlos Costa será enviado para a secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade. O Governo fica assim em condições de poder formalizar a recondução do actual governador do Banco de Portugal, intenção anunciada a 28 de Maio.

A nomeação de Carlos Costa para um segundo mandato à frente da entidade de supervisão terá ainda de ser aprovada em Conselho de Ministros. O governador, cuja primeira designação ocorreu em Junho de 2010 pela mão do executivo socialista liderado por José Sócrates, é agora reconduzido para um novo mandato de cinco anos pela maioria PSD/CDS. Uma escolha que o PS acusou de “partidarização”.

Estado ganha 92 milhões com resgate do BES

Sexta-feira, Junho 26th, 2015

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Sol

Sandra Almeida Simões  
 
Empréstimo ao Fundo de Resolução está a gerar juros crescentes a cada trimestre. Venda do Novo Banco aproxima-se. Se der prejuízo, são os bancos a pagar a diferença. Se houver lucro, reverte para o BES ou para a massa insolvente do ‘banco mau’.  
 
O empréstimo de 3,9 mil milhões de euros que o Estado fez ao fundo da banca para salvar os activos saudáveis do BES já rendeu aos cofres públicos quase 92 milhões de euros em juros, segundo o relatório anual do Fundo de Resolução. A criação do Novo Banco exigiu uma injecção de capital de 4,9 mil milhões de euros, através do Fundo de Resolução. Como a intervenção no BES ocorreu num momento em que a instituição alimentadacom contribuições dos bancos – ainda não tinha liquidez suficiente, o Estado emprestou 3,9 mil milhões de euros. O sector bancário fez uma contribuição extraordinária de 700 milhões e foram utilizados 365 milhões dos recursos próprios do Fundo.  
 
Estímulo para a venda  
 
A taxa de juro do empréstimo que o Estado fez é idêntica ao custo de financiamento do Estado no âmbito do programa da troika. Contudo, a factura aumenta a cada três meses para acelerar a venda do Novo Banco.  
 
Segundo explicou na altura do resgate a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, os juros crescentes «são um estímulo para que o reembolso seja mais rápido». A preocupação do Tesouro foi «criar as condições adequadas para que o reembolso se procedesse tão cedo quanto possível».  
 
Assim, o encaixe do Estado tem vindo a crescer a cada três meses. «Por ocasião da primeira renovação do empréstimo do Estado, em 4 de Novembro, o Fundo pagou ao Estado juros no montante de 28,8 milhões de euros. A segunda renovação do empréstimo do Estado ocorreu em Fevereiro de 2015, altura em que o Fundo pagou ao Estado juros no montante de 30,4 milhões de euros», lê-se no relatório do Fundo, publicado esta semana.  
 
Entretanto, na terceira revisão do empréstimo, já em Maio, os cofres estatais receberam quase 31 milhões de euros. Além deste valor, acrescem 1,3 milhões de euros por o Estado ter adiantado verbas que o Fundo viria a obter junto das instituições bancárias. Feitas as contas, o Estado já encaixou quase 92 milhões de euros desde o resgate do BES, em Agosto do ano passado.  

Novo Banco decide contas  
 
No contrato celebrado com o Estado ficou estabelecido que «o Fundo só poderá efectuar outros desembolsos depois de integralmente reembolsado e remunerado o empréstimo obtido junto do Estado», revela o documento da instituição – liderada por José Ramalho, vice-governador do Banco de Portugal. Ou seja, a ajuda de 700 milhões dos bancos só será liquidada após o Fundo de Resolução saldar totalmente a dívida com o Estado. A ministra frisou na altura que o empréstimo público «não tem risco».  
 
Se o Novo Banco for vendido por um montante inferior a 4,9 mil milhões de euros – valor insuficiente para reembolsar os empréstimos do Estado e da banca -, o Fundo de Resolução utilizará as suas receitas próprias para financiar a eventual insuficiência. Serão as contribuições do sector bancário a suportar a diferença.  
 
Caso a venda do Novo Banco seja feita por um valor superior, «o excedente reverterá para o BES, ou para a sua massa insolvente, se entretanto já tiver sido revogada a autorização ao BES para o exercício da actividade», refere o mesmo relatório.  
 
A venda do Novo Banco está na recta final. Há cinco candidatos na corrida – Fosun, Anbang, Santander, Apollo Asset Management e Cerberus Asset Management queterão de apresentar propostas vinculativas até ao final deste mês. Na fase de propostas nãovinculativas, os chineses da Fosun e da Anbang terão feito as ofertas mais generosas, superiores a quatro mil milhões de euros. O mercado acredita que os asiáticos apresentem de novo as melhores propostas, na fase final.  

Reservas do auditor  
 
O relatório de 2014 do Fundo de Resolução apresenta duas reservas do auditor externo, a Ernst & Young. A receita com a venda do Novo Banco é precisamente uma das questões que suscitam dúvidas. «O Fundo de Resolução não dispõe de informação que leve a concluir que o justo valor da participação no Novo Banco é diferente do valor do seu reconhecimento inicial [4,9 mil milhões de euros], pelo que foi mantido aquele valor. O valor da realização desta participação está dependente do desfecho do processo de alienação em curso», lê-se na primeira ênfase.  
 
A segunda reserva da Ernst & Young prende-se com a litigância associada à resolução do BES, já que o Fundo «foi citado como contra-interessado em quatro acções judiciais relacionadas com a medida de resolução aplicada pelo Banco de Portugal ao BES, não sendo possível a esta avaliar se delas poderão resultar encargos materiais para o Fundo».  
 
PREJUÍZO  
 
55,7 milhões  
 
O Fundo de Resolução registou um prejuízo de 55,7 milhões de euros em 2014, fruto dos juros pagos ao Estado. Sem o efeito BES, teria um lucro de 327 mil euros. Em 2013, tinha registado um lucro muito residual, de apenas 323 euros.  
 
CONTRIBUIÇÕES  
 
70 instituições  
 
Os recursos próprios do Fundo totalizavam 321,9 milhões de euros no final de 2014. O fundo da banca é alimentado com as contribuições financeiros do sector. No final do ano, o Fundo contava com 70 participantes, menos 10 face a 2013.  
 

CRÍTICAS  
 
Estudo da SAER  
 
A SAER apresentou um estudo sobre a queda do GES, encomendado por Ricardo Salgado. O estudo subscreve a narrativa do ex-banqueiro: o colapso foi provocado pela crise e falhas na actuação dos supervisores e decisores públicos.  
 

PS não desiste de conhecer auditoria interna do BdP sobre o BES

Sexta-feira, Junho 26th, 2015

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Económico

Socialistas vão recorrer para a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos.

O PS não aceita a justificação do Banco de Portugal (BdP) para recusar ao Parlamento uma cópia integral do relatório de auditoria interna que a instituição realizou à sua actuação no caso BES e vai fazer o pedido ao abrigo da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA).

Uma diligência que visa forçar o governador Carlos Costa a enviar o documento que, diz o PS, “contém informação crítica” sobre a actuação do banco no BES. “É relevante para a avaliação que fazemos do trabalho do governador”, assume ao Diário Económico o deputado do PS Pedro Nuno Santos.

Porém, o BdP não deverá facilitar a vida ao PS, pois em casos semelhantes tem ignorado os pareceres (não-vinculativos) da CADA, alegando que todos os documentos estão abrangidos pelo dever de sigilo. No ano passado, o Diário Económico entregou uma queixa junto da CADA, após o BdP ter recusado o acesso a documentos administrativos relativos ao caso BES, ainda que expurgados de dados nominativos ou de segredos comerciais, como previsto na lei. E, num parecer emitido em Dezembro, a CADA deu razão ao Diário Económico, concluindo que “o dever de sigilo não é absoluto” e que o BdP deveria possibilitar o acesso parcial, omitindo os dados sigilosos. Mas, até hoje, o BdP não permitiu a consulta desses documentos, apesar do parecer emitido pela CADA.

O pedido do PS é o novo capítulo numa novela que já obrigou o Conselho de Ministros a adiar a renomeação de Carlos Costa e que promete ainda próximos episódios. Ontem, a Comissão de Orçamento e Finanças foi novamente polémica. A votação estava, mais uma vez, o relatório sobre a audição prévia de Carlos Costa, na Assembleia a 12 de Junho, e que é obrigatório para que o Governo possa oficializar a nomeação do governador. Mas não houve unanimidade. O PS queria que o relatório fosse “mais do que uma mera transcrição da comissão, porque para isso bastava uma acta”, diz Pedro Nuno Santos. Já o relator, Carlos Silva do PSD, garante que o documento “cumpre a lei e segue o mesmo modelo usado para a vice-presidente da CMVM, ERC e ERSAR”, explica ao Diário Económico, acrescentando que “contém um balanço dos cinco anos de mandato, a missão e as perspectivas de médio e longo prazo”. “Não há qualquer subjectividade”, diz o deputado social-democrata. Mas Pedro Nuno Santos, para quem o relatório devia servir como “instrumento de trabalho do Governo para a indigitação do governador, mesmo que este já esteja escolhido”, considera que o documento devia destacar as questões e respostas que foram mais relevantes na audição prévia de Carlos Costa.
O PS conseguiu, no entanto, que Carlos Silva incluísse no relatório o parecer do Banco de Portugal a fundamentar a recusa de envio da auditoria interna. E só por isso os socialistas desistiram do voto contra e abstiveram-se.

Ainda assim, o presidente da Cofap, Eduardo Cabrita, enviou ontem uma carta à Presidente da Assembleia da República, anexa ao relatório da audição, onde manifesta “preocupação” em relação ao parecer do Banco de Portugal sobre o dever de segredo perante o Parlamento. Cabrita quer pedir o parecer da Comissão de Assuntos Constitucionais sobre as considerações que são feitas nesse documento, onde se lê, por exemplo, que as audições parlamentares têm um “papel restrito”.

 

A segurança da ignorância

Sexta-feira, Junho 26th, 2015

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Público Ricardo Cabral

s alemães recorrem com frequência a um provérbio para caracterizar alguns dos seus líderes (e não só):“Sicheres Auftreten bei totaler Ahnungslosigkeit”

A tradução quase literal, mas insatisfatória, é “presença segura embora na mais completa ignorância”.

Este provérbio popular tem fundamento. Não nos podemos esquecer dos dois gigantescos desastres históricos que se abateram sobre o povo alemão e sobre os povos da Europa e do resto do Mundo no século XX, em consequência de líderes que “irradiavam confiança” mas que, além da mais completa ignorância, eram irresponsáveis, patológicos e, um deles um criminoso de guerra que se suicidou antes de ser capturado e condenado.

Este problema da “segurança da ignorância” não é exclusivo da Alemanha. Em Portugal, Salazar, que também irradiava segurança, conduziu um povo à miséria, ao subdesenvolvimento e a uma guerra sem sentido durante 13 anos, em defesa de um império que desconhecia.

Portanto, também entre nós, existe tal “segurança ignorante” mas agravada por duas tradições da cultura portuguesa: uma cultura de deferência e menos directa, que nos leva a dizer sim, quando quereríamos dizer não e que nos leva a dizer sempre que sim às missões atribuídas; uma cultura em que hierarquia é quase sinónimo de conhecimento e de competência, ainda que com alguma razão histórica de ser: afigura-se plausível que, num passado não tão distante, a hierarquia de um povo (em larga medida analfabeto) tivesse, com frequência, mais conhecimento e competência.

Ou seja, os portugueses questionam, menos que os alemães, aqueles que se aparentam “seguros na sua ignorância”.

Nos últimos anos, o governo Português tem tomado decisões céleres. Aparenta segurança total na sua tomada de decisões, nomeadamente em relação a privatizações que, sobretudo nestes últimos meses, ocorrem a uma velocidade estonteante.

Essa aparente segurança e rapidez, que pode ser confundida com eficiência, poderá ser explicada por ignorância quase total dos detalhes e pela ausência da avisada prudência. E, aliás já teve e irá ter graves consequências nos próximos anos.

Este texto surge na sequência do post de quarta-feira sobre a futura “política de investimentos” da Fidelidade, agora controlada pela Fosun e de um comentário de um leitor a esse propósito.

A privatização da Fidelidade, oficializada em Maio de 2014 , que antes fazia parte do grupo estatal Caixa Geral de Depósitos, é uma das bandeiras de cartaz deste governo. A Fosun é um dos principais candidatos à compra do Novo Banco, numa lista de potenciais compradores que suscita muitas dúvidas.

Ora esse leitor do meu último post indicou, citando um artigo no Observador, que no ano passado a Fidelidade “investiu” mil milhões de euros, ou seja, cerca de 1/13 avos dos seus activos, em dívida de um veículo de financiamento do seu novo accionista, Fosun, veículo esse situado num paraíso fiscal. A que acrescem diversos investimentos da Fidelidade em empresas adquiridas pela Fosun.

A ser verdade o que afirma o Observador, a Fosun, na prática, não pagou 1100 milhões de euros pela Fidelidade. Ao invés, a Fosun aparenta ter utilizado os activos da Fidelidade para financiar a totalidade da compra da própria Fidelidade e poderá inclusive já ter retirado mais meios financeiros da companhia do que pagou por ela.

Pelo “andar da carruagem”, quem sabe se este “sucesso seguro” na privatização da Fidelidade não se torna em mais uma “ignorante” injecção de dinheiros públicos ainda antes das eleições legislativas de Setembro/Outubro…

Anbang e Santander foram mais curiosos sobre Novo Banco

Sexta-feira, Junho 26th, 2015

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Negócios

Concluída a recolha de dados sobre o banco de transição, os candidatos estão a ultimar ofertas a entregar dia 30. Cada um dos 5 finalistas colocou centenas de perguntas sobre a instituição. Anbang e Santander foram os mais curiosos.

O processo de avaliação do Novo Banco por parte dos cinco finalistas à compra da instituição que herdou os activos saudáveis do BES está concluído. Os candidatos estão a ultimar as suas …

BES. Contas suspeitas desde 2000

Sexta-feira, Junho 26th, 2015

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Sol

Pierre André Butty. É este o nome do homem que passou mais ou menos despercebido na análise da derrocada do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), apesar de ter sido o que mais estragos causou a Ricardo Salgado. O funcionário suíço da sucursal de Lausanne da Espírito Santo Services (ES Services) já esteve em Portugal a entregar documentos e a prestar declarações no Banco de Portugal (BdP). Se o seu nome não entrasse nesta história, Salgado nunca teria deixado provas escritas de que ordenou durante anos a falsificação das contas da Espírito Santo International (ESI), a holding que acumulou  uma dívida de 1.300 milhões de euros e que fez colapsar o GES.

Na acusação do BdP a 15 gestores do BES, a que o SOL teve acesso, o supervisor bancário acusa Salgado de manipulação das contas da empresa a partir de 2008, por uma questão processual. Mas um pedido de Pierre Butty junto ao processo levanta a suspeita de que as ilegalidades são mais antigas: exigiu documentos atestando que tudo o que fez desde o ano 2000 tinha sido por ordem do então presidente do BES. Foi o suficiente para se transformar numa testemunha-chave do caso.

Carta de responsabilização  
 
Butty era o homem que trabalhava na sombra de Francisco Machado da Cruz, o commissaire aux comptes da ESI, que denunciou na comissão parlamentar de inquérito os esquemas montados para esconder a verdadeira situação da holding. O suíço era um dos cinco funcionários da ES Services, sociedade anónima luxemburguesa que integrava o GES e prestava serviços administrativos e de contabilidade a diversas empresas do grupo, como a ESI ou a Espírito Santo Control.  
 
Segundo a acusação do BdP, a rotina instalou-se ao longo dos anos: em Janeiro, Butty entregava a Machado da Cruz as contas verdadeiras do ano anterior e recebia de volta, em Março, anotações de Salgado sobre o que deveria alterar na contabilidade da empresa.  
 
Em 2011, Butty começou a bater o pé, mas Machado da Cruz ter-lhe-á dito que tinha de continuar a seguir as ordens, que eram dadas por Salgado ou por José Castella, o director da ESI. Em Novembro de 2013, depois de o BdP ter começado a pedir informações sobre a ESI, Butty resolveu tomar cautelas maiores: recusou continuar «a falsear os registos contabilísticos da ESI com base em meras instruções orais» e pediu a Salgado uma declaração escrita que comprovasse que todos os actos da ES Services tinham sido executados em resposta às suas ordens. O pedido obrigava a que a declaração tivesse efeitos retroactivos a Janeiro de 2000.  
 
Salgado e José Manuel Espírito Santo assinaram então, em representação da ESI, um documento a reconhecer que os trabalhadores da ES Services agiram apenas no cumprimento de instruções da empresa, «nunca tendo comprometido aquela sociedade, por acção ou omissão, para além das instruções recebidas e das disposições do contrato».  
 
Em Novembro de 2013, enquanto o BdP insistia em perceber «o inusitado acréscimo» do passivo da holding, Salgado dava indicações para que tal fosse compensado com a inscrição de dois activos, localizados em Angola. Não havia «qualquer documentação» que atestasse a «existência, titularidade e valorização» daqueles activos. Ainda assim, Salgado deu ordens a Castella e a Machado da Cruz para que Butty os registasse.  

Como nem havia comprovativos de que aqueles activos existiam, Butty fez uma nova exigência: a ordem tinha de lhe ser dada por escrito. E Salgado voltou a cumprir a instrução.  
 
Contabilista avisou  
 
O documento do BdP – que acusa 15 gestores do BES de gestão ruinosa ou de prestação de falsas informações, com dolo – deixa expresso que Machado da Cruz teve várias conversas com Manuel Fernando Espírito Santo, a partir do primeiro semestre de 2012, sobre a sua preocupação com a manipulação das contas da ESI e o nível de endividamento de algumas holdings do GES. O chairman da Rioforte, porém, nada fez. Por outro lado, em Abril de 2013, Machado da Cruz transmitiu a mesma preocupação, «em diferentes momentos», a José Manuel e a Ricardo Abecassis Espírito Santo. Ambos sugeriram que o commissaire aux comptes deveria explicá-la no Conselho Superior – o órgão que reunia os cinco principais ramos da família. Segundo o BdP, nada fizeram, pelo menos até ser conhecida a ocultação da dívida da holding. Apesar de os Espírito Santo terem repetido que ninguém da família tinha ficado com um cêntimo do grupo, a acusação não deixa margem para dúvidas: no ano de 2011, Salgado pediu alterações nas contas da ESI que permitiram gerar os resultados necessários para atribuir dividendos extraordinários à família de cerca de 18 milhões. Em Dezembro de 2013, a verdadeira situação da ESI era esta: dívida de 1.300 milhões e capitais próprios negativos de mais de três mil milhões de euros. Ou seja, mesmo que a holding pagasse toda a sua dívida e vendesse todos os seus activos, já estaria falida. Isso não impediu que o BES desenvolvesse estratégias para comercializar dívida da ESI junto dos seus clientes. O rating da sociedade só começou a ser feito a pedido da KPMG suíça, devido à crescente exposição dos clientes do Banque Privée, e mesmo esse ter-se-á baseado em informações financeiras que não reflectiam a verdade contabilística. Além de gestão ruinosa e de prestação de falsas informações ao supervisor, Salgado e José Manuel Espírito Santo são ainda acusados de violarem as regras sobre conflito de interesses: não poderiam tomar decisões sobre comercialização de dívida da ESI porque eram accionistas indirectos daquela holding. Ricardo Abecassis e Manuel Fernando enfrentam uma acusação por actos dolosos de gestão ruinosa por, na qualidade de administradores do BES, terem permitido a comercialização de dívida de uma empresa falida. José Maria Ricciardi também não escapa, mas por algo menor: ter permitido que não existisse qualquer sistema de controlo interno ou de avaliação de risco no BES.  
 
Salgado ainda não é arguido  

Ricardo Salgado ainda não é arguido nos processos-crime do chamado ‘Universo Espírito Santo’, confirmou o SOL A dúvida agudizou-se com o segundo arresto preventivo, que levou a Justiça a apreender os bens móveis (carros, mobílias ou obras de arte) de Salgado, José Manuel Espírito Santo e Amílcar Morais Pires. Mais ninguém foi visado na operação. Há especialistas que defendem que o arresto preventivo é uma medida de garantia patrimonial e, como tal, à semelhança das medidas de coacção, exige prévia constituição de arguido. Mas os investigadores do caso BES/GES têm outro entendimento. Sobre a acusação do BdP, os arguidos têm 30 dias para apresentar defesa. S.C.

 

 

 

Trabalhadores do Novo Banco recusam reunião pedida por lesados do papel comercial

Quinta-feira, Junho 25th, 2015

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Negócios

Para já, com a continuação dos protestos e sem pedido de desculpas, a comissão de trabalhadores do Novo Banco rejeita a tentativa de aproximação que tinha sido lançada pela AIEPC.
A comissão de trabalhadores do Novo Banco vê como impossível uma reunião com a Associação de Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC). “Não vemos como exequível o vosso propósito”, responde o órgão que representa funcionários do herdeiro do BES, depois de a associação que representa investidores com papel comercial do GES vendidos no BES ter convidado para um encontro.”Temos uma total impossibilidade de reunir com quem invade as instalações do Novo Banco; com quem mantém um ‘cerco’ permanente à sede do Novo Banco; com quem agrediu física e psiquicamente os trabalhadores”, indica a resposta dada pela comissão de trabalhadores da instituição.

Tem havido alguma tensão entre os funcionários e os lesados do papel comercial, já que os últimos têm acusado os primeiros de terem sido responsáveis por enganá-los na comercialização daquele produto.

“Os trabalhadores do Novo Banco actuaram sempre no cumprimento escrupuloso dos seus deveres, enquanto profissionais, e éticos, enquanto cidadãos”, responde a comissão, acrescentando que “são as principais vítimas e não são os algozes”.

A resposta negativa a um encontro com a AIEPC, uma decisão saída da comissão de trabalhadores que se reuniu esta quinta-feira, acontece porque a comissão não recebeu “um ‘mea culpa’ e um pedido de desculpas”. Além disso, defendem os trabalhadores, “as tentativas de coacção continuam”.

Há cerca de 2.500 investidores com papel comercial da ESI, Rioforte e ES Property, num total de 550 milhões de euros, que ainda não foram reembolsados e que não sabem ainda se irão receber alguma devolução.

“Provavelmente Ricardo Salgado não poderá deixar de usar este relatório na sua defesa”

Quinta-feira, Junho 25th, 2015

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Diário de Notícias

Poças Esteves, coautor do relatório Caso BES – A Realidade dos Números, quer que a discussão sobre o colapso daquele grupo se transfira do lado criminal para o da preservação de “centros de racionalidade” económica.

Quais foram as principais conclusões deste estudo?

A primeira grande conclusão é que de facto a crise teve um impacto significativo no grupo GES/BES, mas não foi isso que lhe explicou o colapso. A segunda é o que o grupo era um conglomerado misto, tinha atividades financeiras e não financeiras, com características que não foram suficientemente entendidas, quer do lado da gestão quer do lado do Banco de Portugal e do governo. O lado financeiro era sustentável e bem gerido, podemos dizer, mas do lado não financeiro havia um elevado endividamento e uma pressão de liquidez muito grande. Quando não se entendeu isso, as medidas tomadas só prejudicaram em vez de ajudar. Ao ser instituído o ringfencing [blindagem] entre as duas partes criaram-se enormes dificuldades ao lado não financeiro – porque tinha ativos de longo prazo e passivos de muito curto prazo.

Em julho de 2014 o BES perdeu 80% do seu valor bolsista e fugiram seis mil milhões de euros dos depósitos. Qual foi a contribuição para isso dos poderes públicos?

Grande parte disto resulta de problemas endógenos: elevada dívida e elevada pressão para pagamento a curto prazo. Significou falta de confiança e uma redução significativa dos ativos e um efeito de bola de neve que nunca mais parou. Na altura a atualidade era dominada pelas notícias do ringfencing , por notícias de problemas na família, instabilidade na gestão, tudo isso provocou uma situação que fez toda a gente a fugir.

Qual foi o principal erro na família?

Negligenciar a gestão do lado não financeiro. O grande problema foi terem acordado tarde para a necessidade de uma melhor governance do lado não financeiro.