Arquivo para Agosto, 2015

O dia de todos os disparates

Segunda-feira, Agosto 31st, 2015

O dia 31 de agosto de 2015 parece ser o dia de todos os disparates.

O Jornal de Negócios diz que as ações contra o BES totalizam 290 milhões de euros. Trata-se de um disparate grosseiro.

Ninguém pode responder a essa pergunta. Mas seguramente que o valor dos pedidos será de, pelo menos 30  vezes mais.

O Novo Banco foi feito com ativos desviados (legal ou ilegalmente) do Banco Espírito Santo e todos os dias há novas noticias que perspetivam ações de valor muito elevado.

Se não houver – como parece não haver – uma escrita limpa, que permita demonstrar o que saiu de um banco para o outro, a única referência que temos para indemnizar o capital é a do valor nominal das próprias ações, que totaliza mais de 6.500 milhões de euros.

Os próprios auditores não se entendem.

Um, parece que a PwC alterou os números fornecidos pelo Banco de Portugal na data da aplicação da medida de resolução.

Ontem, dizem os jornais que a KPMG não concorda com os “ajustamentos” feitos pela PwC nas contas do BES.

O ajustamento não é de 4.400 milhões como dizem as noticias; é de quase 9.000 milhões.

O Banco de Portugal decretou a resolução porque o BES teria prejuízos da ordem dos 3.700 milhões no primeiro semestre de 2014.

Esse valor disparou para 8.947 milhões no balanço datado de 7 de agosto de 2015, por referência a 4 de agosto de 2014.

São só 5.247 milhões de diferença. E tudo por um dia: a diferença entre 3 e 4 de agosto de 2014.

Claro que tudo isto – e nomeadamente o descrédito a que é votado o Banco de Portugal, marcado por um erro de tamanha dimensão – tem que ser esclarecido.

Continua a grosseira mentira de que os prejuízos causados por esta brincadeira da resolução do BES são pagos pelo sistema financeiro.

Nada obriga o sistema financeiro a tapar os buracos do Fundo de Resolução, que é do Estado e Financiado pelo Estado.

O Fundo está tecnicamente falido, porque não tem recursos para pagar o calote que contraiu e não há lei que permita obrigar os bancos a financiá-lo, para além da contribuição que estão obrigados a pagar, do mesmo jeito que todos nós temos que pagar a taxa de audio-visual e não estamos obrigados a pagar as dividas de uma estação de televisão se ela entrar em insolvência.

À medida que faça o tempo, consolida-se a ideia de que a solução mais barata para o caso BES seria voltar com tudo atrás e devolver o que for possível aos acionistas, evitando a guerra que se vai abrir e que custará muito mais que o capital (ou seja mais de 6.500 milhões de euros).

A resolução foi mal feita e não há meios de reparar os erros grosseiros que foram cometidos.

Não há escrita fiável que permita conhecer com rigor os valores que foram transferidos para o Novo Banco.

O Novo Banco ficou com os bens e os ativos, a titulo gratuito, nada justificando a liberalidade do Estado.

Estão todos acionistas na expetativa de ver se o banco construído com os bens confiscados é vendido, para depois se ver quem paga as contas.

Hoje era também o dia de “pegar ou largar” para os emigrantes.

Foram enganados porque lhes garantiram que as “poupanças plus” eram depósitos a prazo com rendimento fixo.

Agora querem que eles assinem papeis que dizem que compraram ações em sociedades desconhecidas, sem endereço e sem administradores identificados.

Ameaçam-nos de que perdem tudo se não assinarem, como se o suicídio fosse método para solucionar problemas financeiros.

Vamos ver se os disparates continuam amanhã, dia da abertura dos tribunais.

Miguel Reis

Governo pressiona venda do Novo Banco

Segunda-feira, Agosto 31st, 2015

Expresso

Governo opõe-se ao adiamento da venda do Novo Banco

Segunda-feira, Agosto 31st, 2015

Citamos

Económico

Supervisor não deverá alargar prazo para acordo com Anbang, que termina hoje. Apollo pode ser chamada para negociações caso falhe o acordo com os chineses do Anbang.

O Banco de Portugal e o grupo chinês Anbang estão na recta final das negociações para a venda do Novo Banco. O prazo para a conclusão do negócio termina hoje à meia-noite e, à falta de acordo com os chineses, há quem defenda um cenário alternativo de adiamento da operação. Mas ao que o Diário Económico apurou, o Governo não vê com bons olhos esta possibilidade e quer que o processo fique concluído, se necessário passando para a segunda melhor proposta, da americana Apollo.

PwC desafia rivais na liga da banca

Segunda-feira, Agosto 31st, 2015

Citamos

Negócios

Em Janeiro, a PwC vai passar a auditar as contas do Santander Totta. Consultora, que até Agosto de 2014 estava fora da liga da banca portuguesa, vai rivalizar com a Deloitte em número de clientes. KPMG está reduzida a um banco.
A PricewaterhouseCoopers (PwC) vai passar a ser o auditor do Santander Totta, contrato que lhe assegura o segundo cliente entre os maiores bancos portugueses, após a conquista do Novo Banco. A empresa que em Portugal é liderada por José …

“Goldman Sachs et al” vs Novo Banco (i.e., “Banco de Portugal”)

Segunda-feira, Agosto 31st, 2015

Citamos

Público Ricardo Cabral

É difícil e arriscado, não conhecendo os detalhes, analisar o processo judicial em Londres contra o Novo Banco (NB), iniciado por investidores de um importante credor do BES — a Oak Finance –  que era, em Julho de 2014, subsidiária da Goldman Sachs.

De acordo com o ”Dinheiro Vivo”, o contrato de empréstimo determinava que, em caso de disputa, o caso seria dirimido na justiça inglesa. E assim foi. Só que a Goldman Sachs e ofundo de pensões estatal da Nova Zelândia não processam o BES (banco mau), que não tem activos para pagar essa dívida, mas sim o Novo Banco. Acresce, que o fundo de pensões estatal da Nova Zelândia (o “New Zealand Superannuation Fund”) também processa o Banco de Portugal em Londres.

O caso torna-se mais complexo porque o Banco de Portugal decidiu, a 3 de Agosto de 2014, passar essa dívida (cerca de 764 milhões de euros) do BES para o Novo Banco. Porém, posteriormente, a 22 de Dezembro de 2014, três dias antes do pagamento de juros e parte do capital dessa dívida, e após um alto representante do Banco de Portugal ter assegurado por escrito à Goldman Sachs, segundo a própria, que essa dívida iria permanecer no Novo Banco, o Banco de Portugal decide — retroactivamente a 3 de Agosto de 2014 –  passar essa dívida de volta para o BES. Se parece confuso, é porque é.

Compreende-se que o Governador do Banco de Portugal tenha estado durante muitos meses sobre enorme pressão, em resultado do descalabro que ocorria no BES. E, evidentemente, teve que lidar com uma complexa e difícil situação.

O caso da dívida à Oak Finance é apenas um dos últimos episódios num processo que suscita dúvidas sobre o desempenho do Banco de Portugal no caso BES e, em particular, sobre o papel do seu Governador.

Não se percebe, todavia, porque motivo o Governador:

– autoriza que um “alto representante do Banco de Portugal” assegure, por escrito, à Goldman Sachs que a dívida à Oak Finance permanecia no Novo Banco para, posteriormente, o Banco de Portugal se contradizer; tal decisão parece enfraquecer a posição jurídica do Novo Banco;

– segundo o Expresso, de 21 de Agosto do corrente, se o Novo Banco perder o caso na justiça portuguesa, o Banco de Portugal passará a dívida à Oak Finance novamente para o Novo Banco. A confirmar-se, é preocupante, pois nesse caso o Banco de Portugal não cumpriria com o determinado na lei portuguesa e estaria a agir contra os pareceres que possuí, para obedecer ao determinado por um tribunal estrangeiro, numa decisão que pareceria pôr em causa a soberania nacional;

– tenha, no início e não oficialmente,[1] defendido que a “venda” do Novo Banco seria realizada até ao final de 2014 (estratégia que levou à demissão da administração do Novo Banco liderada por Vítor Bento); afirmado, depois, que seria preferencialmente antes do verão, mas em menos de um ano; e, ainda depois, que as ofertas vinculativas estariam disponíveis a meio do 2º trimestre (Maio de 2015);

– a definição inicial de um prazo de seis meses ou de um ano muito provavelmente tornou mais difícil realizar a venda do NB em boas condições (alegislação sobre a resolução bancária permitia uma duração máxima de dois anos, prorrogável em função do interesse público);

– tenha assumido a condução do processo de resolução do BES e “venda” do Novo Banco como se o trabalho de preparação e as decisões fossem todas tomadas por si (os protestos dos “Lesados do BES” são, sobretudo, contra o Governador e não contra o Governo);

– insista na venda do NB, apesar dos candidatos à compra não terem experiência na actividade bancária, serem fundamentalmente empresas “private equity”, com um perfil de risco elevado;

– insista, mesmo face à oposição do Banco Central Europeu

– tenha, em consequência, possibilitado que o Governo e, em particular, a Ministra das Finanças e o Primeiro-Ministro, quase passem incólumes por este processo (a coligação que suporta o Governo vai a eleições e parece até que o caso BES/Novo Banco não lhe diz respeito).

Este caso BES/Novo Banco não abona a favor da apregoada independência do Banco de Portugal.

 

No Novo Banco, a pressa pode não ser boa conselheira

Segunda-feira, Agosto 31st, 2015

Citamos

Económico

O Banco de Portugal é no papel o proprietário do processo de venda do Novo Banco, tal como foi na hora de decidir a resolução do BES – mas tanto num caso, como no outro, torna-se evidente a influência do Governo.

A pressão para vender rapidamente o Novo Banco obedece a vários critérios: do fecho o mais rápido possível de um ‘dossier’ que queima antes das legislativas à alegada vontade de minimizar custos primeiro para os contribuintes e depois para os bancos (que financiam o Fundo de Resolução), que teriam de entrar no reforço de capital de que a parte boa que sobrou do BES precisa.

Venda do Novo Banco enfrenta primeiro teste

Segunda-feira, Agosto 31st, 2015

Citamos

Negócios

Faltam pouco mais de 24 horas para se saber se o Novo Banco é ou não vendido agora. Se não for, novos desafios se colocam.

Dos dois anos definidos para vender o Novo Banco, um já passou. A validade da proposta da Anbang termina esta segunda-feira. Se o banco não for vendido, o Banco de Portugal corre riscos de perder força negocial. Ou a estratégia para vender o banco terá de mudar, o que até agora não parece ser a vontade do Governo.

Faltam pouco mais de 24 horas para se saber se o Novo Banco é vendido à seguradora chinesa Anbang, depois de o Banco de Portugal ter assumido o compromisso de concluir este processo até ao final do mês. A proposta da Anbang deixará de ser válida a partir daí.

O preço tem sido o entrave a um acordo. O Fundo de Resolução injectou no Novo Banco 4,9 mil milhões de euros e quanto mais baixo for o valor da venda maior será o efeito nos bancos do sistema financeiro português e nas contas públicas. Assim como para os contribuintes.

Têm sido avançados vários valores para a oferta que está em cima da mesa, assim como para outros contornos do acordo, mas nenhuma fonte oficial os confirmou. A situação do Novo Banco exige um aumento de capital, aspecto que está também em cima da mesa das negociações.

A venda do Novo Banco foi desenhada para ser realizada no mais curto espaço de tempo, no máximo em dois anos. Privilegiou-se a rapidez do processo para minimizar os riscos de uma estratégia do tipo “engordar o porco” para o vender. Mas, para esta via da rapidez potenciar o seu valor é necessário que o banco seja mesmo vendido rapidamente, uma vez que quanto mais tempo passar maior é a probabilidade de degradação dos activos.

Registe-se que foi essa escolha – da rapidez – por alternativa à valorização e venda em bolsa que mereceu a oposição do último presidente do BES e o primeiro do Novo Banco, Vítor Bento.

O que fará o Banco de Portugal se não conseguir chegar à acordo com a Anbang esta segunda-feira? Poderá tentar vender o banco à Apollo – que comprou a Tranquilidade. Mas mesmo isso terá de ser feito rapidamente.
Quanto mais tempo passar e mais próximo se estiver do prazo limite dos dois anos – Agosto de 2016 – mais reduzida será a margem negocial do Banco de Portugal. O potencial comprador usará a seu favor a luta contra o tempo em que estrará o Banco de Portugal.


A alternativa é um  “Plano B”
que corresponde a recuperar de alguma forma a estratégia defendida pela equipa de Vítor Bento é outra das possibilidades. Mas que não parece ser vista com bons olhos pelo Governo. No sábado dia 29 de Agosto, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho afirmou que o resultado da venda será “o melhor que o Banco de Portugal conseguir alcançar”.

Reservas do auditor reforçam dúvidas da CMVM sobre o BES “mau”

Segunda-feira, Agosto 31st, 2015

Citamos

Económico

As reservas que a auditora KPMG colocou nas contas do BES, não se pronunciando sobre os ajustamentos de 4,4 mil milhões causados pela avaliação ordenada pelo Banco de Portugal (BdP), contribuíram para a decisão de manter a suspensão da negociação dos títulos do banco “mau”, apurou o Económico. O supervisor do mercado de capitais continua a considerar que existem dúvidas sobre a situação do BES S.A., o banco “mau” que herdou os activos problemáticos do antigo Banco Espírito Santo.

Segundo o balanço do BES divulgado a 7 de Agosto (mas referente a 4 de Agosto de 2014), a instituição tem capitais próprios negativos de 2,4 mil milhões. Mas este ‘buraco’ – para o qual contribuíram os ajustamentos causados pela avaliação realizada pela PwC a pedido do BdP – tem sido posto em causa por accionistas e credores do antigo BES, que com a resolução ficaram retidos no chamado banco “mau”.

Tal como o Diário Económico noticiou, a KPMG, auditora do BES, absteve-se de emitir opinião sobre os ajustamentos decorrentes da avaliação que a PwC realizou aos activos, passivos, elementos extra-patrimoniais e activos sob gestão que foram transferidos do BES para o Novo Banco, por decisão do BdP, após a resolução. Estes ajustamentos tiveram um impacto de 4,4 mil milhões nos capitais próprios do BES.

A KPMG justificou as reservas com o facto de a transferência dos activos e a avaliação sido decidida por entidades externas (BdP e PwC), não tendo ela própria tido acesso aos suportes que estiveram na base da avaliação da PwC. A lei obriga o auditor a expressar uma opinião “profissional e independentemente”, baseada no exame das demonstrações financeiras. E o auditor apenas pode tirar conclusões sobre assuntos para os quais lhes tenha sido disponibilizada informação de suporte completa. A KPMG concluiu que, neste caso, isto não acontecia, pelo que informou a CMVM de que não se iria pronunciar sobre os 4,4 mil milhões de euros.

Recorde-se que a CMVM suspendeu a negociação das acções e dos instrumentos de dívida do BES na sexta-feira, 1 de Agosto de 2014, dois dias antes de o governador Carlos Costa anunciar a resolução. Desde então, a CMVM tem prorrogado sucessivamente a suspensão, justificando-se com a falta de informação sobre a situação do banco. Esperava-se que a suspensão pudesse ser levantada após a divulgação do balanço do BES. Mas a CMVM decidiu mantê-la, considerando que persistem dúvidas, tendo as reservas do auditor contribuído para a decisão.

Além disso, o BdP ainda não divulgou os resultados da avaliação que, segundo a lei, deve ser feita à situação do BES, para confirmar que os investidores do banco não serão mais prejudicados pela resolução do que seriam se o Carlos Costa tivesse optado pela liquidação da instituição. “Entende-se que, não obstante a informação privilegiada divulgada pelo BES no passado dia 7 de Agosto, subsistem fundamentos para a prorrogação da suspensão da negociação das acções e dos instrumentos de dívida do BES”, refere a CMVM num comunicado divulgado a 13 de Agosto, após a divulgação do balanço do BES.

Até ao fecho, não foi possível obter esclarecimentos da CMVM.

Funcionários do Novo Banco. Resistir às ameaças atrás do balcão

Domingo, Agosto 30th, 2015

Citamos

Sol

Enquanto lesados e arguidos do caso BES estão sob os holofotes, os funcionários do Novo Banco tentam trabalhar normalmente. Dão a cara pelo banco e sofrem ameaças e insultos. Muitos perderam também as suas economias.

O toque de telemóvel vem da fila. Atrás do balcão, António sabe como vai começar aquela conversa: «Tou?! Agora estou no BES…».

«É sempre assim, para os clientes continuamos a ser o Banco Espírito Santo», desabafa. E é simples perceber o porquê. O banco até pode ser novo, mas o dia-a-dia do Novo Banco vive e continuará a viver sob a sombra de um passado que só agora foi descoberto.

«Tem havido uma grande preocupação em que a marca BES desapareça dos balcões para que os clientes percebam que vieram ao Novo Banco», explica António, de 45 anos, que desde cedo começou a trabalhar em agências do BES na região Norte.

O marketing, porém, nem muda os costumes nem canaliza o ódio dos clientes para outros locais.

As ameaças por parte dos lesados têm sido cada vez mais recorrentes nas instalações do ‘banco bom’ e os ânimos parecem não querer acalmar. O medo que se sente nas agências, de Norte a Sul, é uma rotina para quem dá a cara pela instituição. Vários funcionários têm solicitado baixa médica e as consultas psiquiátricas dispararam. «Uma bola de neve», explica António. «Há clientes a ameaçar-nos, dizem que se não resolvermos o seu problema incendeiam o balcão ou vêm até aqui com uma pistola para fazerem justiça pelas próprias mãos».

Um funcionário do Novo Banco, membro da comissão de trabalhadores e que preferiu não se identificar, revela que há clientes que ameaçam mesmo voltar mais tarde com «uma pistola ou uma faca».

‘Vou à escola do teu filho e ajusto contas com ele’

João tem 60 anos, 37 deles dedicados ao banco, e também teme pela segurança. Trabalhou até há poucos meses numa agência do Porto, onde as ameaças têm tido outras proporções. «Um colega ligou-me há dias a contar que o ameaçaram de morte. Não tem sido nada fácil para quem ficou», desabafa ao SOL.

Rui Riso, do Sindicato dos Bancários Sul e Ilhas, lembra que em alguns casos as armas chegaram mesmo a entrar nas dependências e que já houve até necessidade de deslocar funcionários para prevenir que sejam agredidos. Nos meios pequenos, as ameaças, lembra Riso, estendem-se às famílias: «Chegam a dizer coisas como ‘vou à escola do teu filho e ajusto contas com ele’».

‘Confiei na instituição quando incentivei os clientes’

Para a maioria dos clientes lesados, os principais culpados da sua situação são os funcionários que ficaram no ‘banco bom’. Dizem que foram estes que os incentivaram a comprar acções do Grupo Espírito Santo (GES), numa altura em que o banco estava prestes a falir.

António até entende a reacção dos que se sentem enganados: «Tenho clientes que me dizem: ‘Estou aí nesse balcão por sua causa. Se não fosse você, eu não estava nesta situação’».

Mas a cadeias de culpa e o sentimento de injustiça não se esgotam na relação dos clientes com os bancários. Estes também se sentem traídos pelos seus superiores. «Confiei na instituição quando incentivei os clientes a investir. Vesti muitos anos a camisola da empresa e acabei por ser enganado», continua o mesmo funcionário.

António diz mesmo que só se apercebeu da dimensão de tudo quando a bomba explodiu, a 3 de Agosto de 2014, quando o Banco de Portugal anunciou a resolução que dividiu o BES em ‘banco bom’ e ‘banco mau’.

Enfrentar emigrantes de ânimos exaltados

Rapidamente, o escândalo que deixou o país preso às notícias saltou as fronteiras. Os emigrantes em França, na Suíça, no Luxemburgo e noutros países começaram a juntar-se aos movimentos de lesados do BES que iam surgindo. Hoje são dois – O Movimento dos Emigrantes Lesados e a Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial – e representam perto de 10 mil lesados. Criaram acções de protesto no Facebook para mover mundos e fundos.

Mundos ainda movem – nas manifestações de rua, de cartazes ao peito e altifalantes em que gritando palavras de ordem. A questão dos fundos é que já é mais delicada. No caso dos emigrantes, são cerca de sete mil e reclamam perto de 700 milhões de euros. Já os lesados do papel comercial do GES são 2.500 e investiram 500 milhões de euros.

Os funcionários entendem as manifestações, mas questionam os objectivos de algumas. «Há movimentos que fazem crer que são muitos mais do que aquilo que realmente são. Há muita coisa estranha nas manifestações», refere Luísa, que com 37 anos trabalha há mais de 15 em balcões do BES em Lisboa.

Uma posição que é partilhada por António, que se manifesta  contra a forma como têm sido geridos estes movimentos: «Não ganham nada com isto, só se exaltam e se prejudicam mais. As pessoas têm direito a manifestarem-se, mas com limites».

Ainda não se sabe que rumo vai tomar o Novo Banco, quem o vai comprar ou sequer se o nome vai manter-se. Até agora, tudo parece correr de feição à empresa chinesa Anbang, uma vez que foi a escolhida para uma primeira fase de negociações – os 4 mil milhões que ofereceram foi a oferta mais elevada entre os vários concorrentes. Os funcionários dizem ao SOL só ter conhecimento do que se tem passado através da comunicação social, mas aprovam a opção: «Provavelmente para nós essa será a melhor solução, ainda que possa trazer alguns problemas à imagem da instituição. Tudo vai da percepção que o público tem dos produtos made in China», refere António em tom de brincadeira.

Funcionários e lesados  

Há lesados atrás dos balcões. Segundo o SOL apurou são muitos os casos de funcionários que também investiram nos produtos de holdings do GES. «Há muitos clientes que chegam à agência e me acusam de saber da situação do BES. Quando isso acontece, só preciso de dar o meu exemplo: eu também investi em acções. E não sou caso único, tenho colegas que investiram dezenas de milhar de euros, um deles chegou aos 100 mil», frisa António, acrescentando que,  além do dinheiro, o BES roubou-lhe a confiança.

Segundo relatam os funcionários – que aceitaram falar com o SOL sob a condição de manterem o anonimato -, quando os gestores de conta incentivaram os clientes, estavam confiantes de que ainda havia uma solução para o grupo. «O grande erro foram as mensagens do Banco de Portugal (BdP) e do Presidente da República, pouco tempo antes de o banco falir, que tranquilizaram todos e acabaram por incentivar grandes investimentos. Tanto o BdP como o Presidente da República afirmaram que o BES era uma coisa e o GES outra, completamente diferente», recorda João.

Casos de depressão

Gerir os problemas que agora surgem aos balcões do Novo Banco tem levado a que alguns funcionários tenham entrado em depressão. A instituição bancária disponibilizou, desde que foi criada, apoio psicológico e jurídico e o Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas também. No que diz respeito ao Novo Banco, um membro da comissão de trabalhadores esclarece que «não têm sido muitos os que recorrem a estes serviços». Por outro lado, fonte do sindicato esclareceu ao SOL haver um aumento dos pedidos de ajuda por parte dos funcionários e até dos seus familiares.

«Acredito que só mesmo no topo se soubesse da verdadeira situação. Mas na administração de certeza que havia uns quantos a saber, não podia ser só Ricardo Salgado. Ou muito me engano ou ainda há podres da instituição que o BdP não descobriu», atira António.

Quando há um ano o regulador tentou separar o trigo do joio e nasceu o Novo Banco, houve quem tivesse de continuar a trabalhar na parte ‘tóxica’ da instituição, o BES. Aqui, em instalações mais discretas, ninguém é interrompido por manifestações ou protestos. «As pessoas deviam manifestar-se lá! Já foram emitidos vários comunicados a chamar a atenção para isso, para que vão para a porta do ‘banco mau’, em Lisboa, e não para os balcões do Novo Banco. Lá ou à porta do Ricardo Salgado».

Contactado pelo SOL, o Novo Banco remeteu todos os esclarecimentos para o comunicado de 18 de Junho. No documento pode ler-se que o banco repudia as acções «fora da lei» levadas a cabo pelos lesados, como os insultos e as agressões físicas. Reiteram que os colaboradores «contam com o apoio do Conselho de Administração, que os defenderá sempre que necessário».

Fazer o melhor que se pode

Os funcionários que ficaram nas instalações do actual BES não são vistos como traidores, mas que «há um banco bom e um mau e que eles estão no mau disso não tenho dúvidas», defende Luísa, acrescentando: «Se se acabasse com o ‘banco mau’ o que seria dos clientes? Quem ficava com a responsabilidade legal de restituir o dinheiro aos lesados do papel comercial do GES? O Novo Banco não pode ser».

Até agora, porém, só existe solução para o caso dos emigrantes e veio do ‘banco bom’. Segundo o Banco de Portugal, o Novo Banco pôde propor uma solução dado os não residentes terem investido em dívida sénior do BES, que transitou para o Novo Banco. Uma situação diferente da de quem investiu em papel comercial da Rio Forte ou da Espírito Santo International (neste caso, a responsabilidade é do banco mau).

O Novo Banco apresentou aos emigrantes a hipótese de reaverem parte do dinheiro perdido. Em causa está a recuperação de 60% dos montantes investidos, numa fase inicial, e outros 30% nos seis anos seguintes. «A solução não é óptima, mas é a melhor que temos», desabafa um dos funcionários. Até dia 31 de Agosto, segundo fonte oficial da instituição, já 3.500 emigrantes lesados – num total de sete mil – tinham aceitado a proposta.

‘Vamos continuar sob a lupa de toda a gente’

É dos escombros que o Novo Banco  está a tentar reerguer-se. Na banca, a desconfiança é geral e existe agora uma maior preocupação por parte da população em ler os documentos e em controlar todas as entrelinhas. «Nós estamos e vamos continuar sob a lupa de toda a gente», defendem.

Num processo tão complexo e com tantas versões, há uma  coisa em que todos estão de acordo: a dissolução do BES é um caso de estudo único, sobretudo na Europa. E os holofotes continuarão todos voltados para o banco. Por quanto tempo é que ninguém arrisca fazer uma previsão.

*com I.M.

Os acionistas do BES têm direitos

Sábado, Agosto 29th, 2015

O  Diário de Notícias publicou uma noticia em que afirma que a venda do Novo Banco deixa de fora os pequenos acionistas.

Não é verdade.

Os pequenos acionistas são os responsáveis pelo primeiro registo, no registo comercial do Novo Banco, de uma ação em que se pede a declaração de nulidade da medida de resolução e a devolução de todos os bens e valores ao Banco Espírito Santo.

Esse registo, como outros, acompanhará o Novo Banco até ser resolvido definitivamente o problema.

Para além disso está pendente uma ação de inquérito judicial; e deverá entrar outra em juizo, porque o Banco Espírito Santo, que nunca falhou a apresentação de contas antes da intervenção do Banco de Portugal, não apresentou contas relativas ao exercício de 2014 e, tanto ele como o Novo Banco, alteraram, de forma inexplicável os valores estabelecidos pelo Banco de Portugal.

Os pequenos acionistas têm, nesta matéria, os mesmos direitos que os grandes acionistas.

Nã são credores subordinados: são acionistas.

E têm o direito de receber pelo menos o que receberiam se o Banco Espírito Santo fosse liquidado, antes de ser despojado  do que quer que fosse.

O Banco de Portugal deveria ter adotado as providências necessárias para que no próprio dia da medida de resolução, cada acionista soubesse o que iria receber.

Não o tendo feito corre-se o risco de o único valor de referência ser o valor nominal das próprias ações.

Não têm que ser os acionitas do BES a pagar as aventuras do Banco de Portugal.