Arquivo para Setembro, 2015

Bruxelas admite custos para os contribuintes no Novo Banco

Quarta-feira, Setembro 30th, 2015

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Económico

Eventuais perdas futuras do Novo Banco poderão ser suportadas pelos contribuintes portugueses. O alerta parte de duas técnicas de Bruxelas, que num relatório publicado pela Comissão Europeia não afastam esse cenário como resultado da medida de resolução que determinou o fim do BES e a criação do Novo Banco, capitalizado através do Fundo de Resolução (FR).

“É importante referir que o capital do Novo Banco, que ascende a 4,9 mil milhões, foi completamente subscrito pelo Fundo de Resolução português. A questão aqui é que o Fundo foi criado recentemente (2012) e não tinha fundos suficientes para suportar os custos da operação, pelo que a maior parte do capital [3,9 mil milhões] foi financiado com um empréstimo do Estado, através do Fundo de Resolução. Este caso poderá, assim ser classificado como um ‘bail in’, mas como parte do capital foi obtido através de um empréstimo estatal, existe a possibilidade de, no futuro, algumas perdas serem suportadas pelos contribuintes”, refere o “discussion paper” publicado este mês na página da Direcção Geral de Assuntos Económicos e Financeiros (DG Ecfin).

O documento analisa sete casos mundiais de resolução bancária, entre os quais o do BES, que teve lugar em Agosto de 2014. E conclui que “as experiências de resgate interno ocorrem geralmente após tentativas falhadas de ajudas públicas (‘bail-out’)” e, “na maior dos casos, já vieram tarde e apenas sob pressão dos parceiros europeus”. Recorde-se que a resolução do BES teve lugar após o BCE ter colocado o Banco de Portugal entre a espada e a parede, dando-lhe um fim-de-semana para encontrar uma solução para o BES, sob pena de a instituição ficar sem acesso a liquidez.

O documento é um dos vários “discussion papers” que os serviços da Comissão Europeia produzem todos os anos para “informar a discussão sobre políticas económicas e estimular o debate”. Como tal, o documento expressa as ideias das autoras e “não representa necessariamente não a posição oficial da Comissão Europeia”. O alerta sobre os possíveis custos para os contribuintes é de Ester Faia, conselheira da Comissão Europeia (CE), e Beatrice Weder di Mauro, que já foi economista do FMI. E contraria as garantias da ministra das Finanças, que tem reiterado que um “eventual encargo” resultante da venda do Novo Banco será suportado por bancos e instituições financeiras e não pelos contribuintes, como sucederia numa eventual nacionalização do BES.

Na análise aos vários casos de ‘bail in’, as autoras concluem que “as poucas experiências europeias existentes não podem servir como modelos ou como testes do futuro regime de resolução”. O Fundo de Resolução, embora seja financiado pelos bancos, é um veículo público, pertencente ao perímetro orçamental do Estado. E ao longo do último ano, a Comissão Europeia tem sido clara quanto à natureza pública do Fundo. Em Outubro do ano passado, na decisão que deu o ‘OK’ à resolução do BES e à criação do Novo Banco, a Comissão referiu que “todos os dinheiros do Fundo são atribuíveis ao Estado”, isto é, os 4,9 mil milhões injectados no Novo Banco (incluindo 3,9 mil milhões emprestados pelo Tesouro e 700 milhões emprestados pela banca) são dinheiros públicos. E, notando que o Fundo de Resolução “está completamente sobre o controlo do Estado”, acrescentou: “A Comissão, neste contexto, observa que as autoridades portuguesas não disputam de que esta medida [de resolução] constitui ajuda de Estado”.

Governo garante que serão os bancos a pagar

Em Março passado, na comissão de inquérito ao BES, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque defendeu que, apesar da injecção de fundos públicos, algum eventual prejuízo será suportado pelas contribuições de instituições financeiras, que são obrigadas a financiar o Fundo, através de contribuições anuais e do imposto especial sobre o sector. “É sobre elas que recairá um eventual encargo”, vincou a governante na altura.

Já no início de Setembro, após o Banco de Portugal ter dado conta que não chegou a acordo com os chineses da Anbang para venda do Novo Banco Maria Luís Albuquerque reiterou que “os contribuintes não serão chamados a cobrir qualquer prejuízo com este processo. Isso cabe ao Fundo de Resolução”. Instada a comentar o impacto decorrente da participação do banco público no FR, a governante não escondeu que a CGD ” é um banco igual aos outros em termos de direitos e obrigações para esta matéria”, concluindo que “em todas as outras questões, os contribuintes não serão chamados. E no caso da CGD é uma via indirecta, que decorre do facto de o banco ser público”.

A 15 de Setembro, com o anúncio do adiamento da venda do Novo Banco para depois das eleições legislativas, o BdP justificou a interrupção do processo devido à ausência de ofertas “satisfatórias” [da Anbang, Fosun, e Apollo] com o “superior interesse público de salvaguarda da estabilidade financeira”. Até ao fecho, não foi possível obter esclarecimentos de fonte oficial da Comissão Europeia.

 

Gestão do Novo Banco sofre corte de salário de 20%

Terça-feira, Setembro 29th, 2015

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Negócios

Imposição de Bruxelas e atraso na venda da instituição ditaram corte da remuneração da equipa de Stock da Cunha. Poupança total deve rondar 400 mil euros. Isto quando banco prepara plano de redução de custos.
A equipa de gestão do Novo Banco sofreu um corte salarial de cerca de 20% devido aos compromissos assumidos perante Bruxelas, no quadro da medida de resolução aplicada ao Banco Espírito Santo. Uma redução que …

Daniel Bessa. “O regime mudou no dia do ‘não’ a Salgado”

Terça-feira, Setembro 29th, 2015

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Rádio Renascença

“A nega redonda de Passos e Maria Luís é acto fundador da nova ordem”, diz ex-ministro da Economia. O futuro do Novo Banco agrava tensão do sistema financeiro.

“Portugal mudou nesse dia. O regime económico caiu aí”, afirma Daniel Bessa referindo-se à “nega redonda” do governo a Ricardo Salgado para a Caixa Geral de Depósitos salvar o Grupo Espírito Santo.

O futuro do Novo Banco projecta mais dúvidas que certezas para o sistema financeiro português, mas o antigo ministro da economia de um executivo PS – como independente integrou um governo Guterres – sinaliza o episódio como o “momento zero” da nova ordem económica.

“Não tenho nenhuma dúvida de que o acto fundador – para o melhor e para o pior com todas as consequências que aí estão – partiu de Passos Coelho e Maria Luís que disseram ‘não’ ao Dr. Ricardo Salgado”, afirma Daniel Bessa no Conversas Cruzadas.

“Um ‘não” proferido quando o Dr. Ricardo Salgado lá foi e não foi sozinho. Até conheço quem o acompanhou nessa diligência, mas não vou dizer. Até não foram só dois, mas saíram de lá com uma ‘nega’ redonda. O regime caiu aí”, sustenta o economista.

Álvaro Santos Almeida concorda com Daniel Bessa, mas vai mais longe. “Se não fosse por mais nada este governo teria valido a pena só por esta decisão”, nota o professor de economia da Universidade do Porto.

O governo, a CGD e o GES foram também temas da entrevista de António Nogueira Leite ao Edição da Noite. “Uma entrevista interessante”, na opinião de Manuel Carvalho da Silva. Nogueira Leite, gestor, antigo consultor do PSD e conselheiro de Passos Coelho na campanha de 2011 é particularmente crítico da condução política no caso Novo Banco.

“O único aspecto em que o governo este bem, em que nenhum governo anterior teria estado tão bem, foi quando não ordenou à CGD que salvasse o GES”, reconhece, nessa entrevista, Nogueira Leite, um ex-administrador da Caixa.

Carvalho da Silva: “Privatizar a CGD será erro colossal”

Manuel Carvalho da Silva minimiza a dimensão política do “acto fundador” e causa última da queda do Grupo Espírito Santo. “Há um momento em que estas coisas têm mesmo de acontecer. Pode é ser com mais desgraça ou menos desgraça, mas algum dia estas coisas têm de acontecer”, diz o sociólogo.

Álvaro Santos Almeida contrapõe: “Podia era acontecer mais tarde e com mais desgraça. Felizmente não aconteceu”, nota o ex-quadro superior do FMI em Washington.

Daniel Bessa insiste na transcendência da recusa do governo em salvar o GES, via CGD. “ Eu não sei qual vai ser o resultado disto tudo. Agora há uma coisa que mudou em Portugal com esta crise: é a elite económica”, diz o director geral da Cotec.

“A elite económica portuguesa mudou. Não me parece que a família Espírito Santo apareça aí de novo na próxima onda de reprivatizações. Até porque já nada há para reprivatizar”, reconhece Daniel Bessa. “O regime económico caiu aí nesse sentido”, remata.

Carvalho da Silva contradita o ex-ministro. “Para reprivatizar? Há a Caixa Geral de Depósitos quando não for necessária como instrumento para passar dívidas privadas para dívidas públicas. Nessa altura também vão querer privatizar”, sugere.

“Acho que será um erro colossal privatizar a Caixa, será uma desgraça, mas uma das razões do arrefecimento da ‘vontade privatizadora’ foi a utilização da Caixa Geral de Depósitos para cobrir buracos do sector privado”, afirma o antigo líder da CGTP.

Álvaro Santos Almeida: “Não há melhor solução que esta”

“Quanto à elite, mudou a estrutura económica e financeira e mudaram as elites. Quanto à estrutura económica e financeira ainda vamos ver. A banca portuguesa – infelizmente – não está saudável. Não está restruturada e a economia sofre com isso”, afirma Manuel Carvalho da Silva.

No ‘dossier Novo Banco’, com o adiamento da venda, qual será a dimensão da factura colectiva? Álvaro Santos Almeida não esconde os previsíveis efeitos em cadeia. A opção foi pelo mal menor.

“Na lógica dos contribuintes haverá certamente algo que se terá de pagar. Desde logo pela via das perdas para a Caixa Geral de Depósitos. Também vamos pagar, não como contribuintes, mas como clientes do sistema financeiro que todos somos”, faz notar.

“Haverá ainda o efeito de menores receitas fiscais da banca. Mas a questão central aqui é – e qualquer outra discussão é demagógica – é saber se a solução encontrada foi a melhor, ou a menos má, ou havia outras soluções melhores”, observa Álvaro Santos Almeida.

“Claramente a nacionalização não era uma solução melhor que a encontrada, porque iria transferir directamente para os contribuintes um custo muito maior”, faz notar.

“Enquanto não me apresentarem uma solução melhor esta foi a solução que implicava menores custos”

Sobre um apelo para a retirada do dinheiro depositado em Portugal

Segunda-feira, Setembro 28th, 2015

O Movimento dos Emigrantes Lesados (MEL) lançou um apelo aos emigrantes de todo o Mundo para que levantem as suas poupanças, depositadas em bancos portugueses.

Há quem reduza este apelo a uma forma de pressão sobre as autoridades portuguesas, no sentido de resolver problemas concretos desse grupo social.

Parece-me, porém, que ele tem que ser interpretado num sentido mais amplo e mais profundo.

Atendi, nos últimos meses, algumas centenas de emigrantes portugueses, lesados pelo Banco Espírito Santo, com a conivência do Governo de Passos Coelho e do Banco de Portugal.

As conclusões a que cheguei podem resumir-se em meia dúzia de linhas:

  1. A generalidade dos emigrantes em causa foi enganada por funcionários bancários sem escrúpulos, que os informaram de que os seus fundos seriam aplicados em depósitos a prazo sem qualquer risco;
  2. O dinheiro entrou no BES e nada nos indica que terá saído para outro banco, mas foi aplicado, depois do engano, em sociedades de off-shore cujas identidades não são conhecidas e cujas contas nunca foram publicadas, todas com denominações que induziam no engano de que estaríamos perante depósitos de poupança;
  • Em nenhum dos casos que analisei foi celebrado contrato de intermediação financeira.

Na maioria dos casos, foram usadas as agências do Banco Espírito Santo em Portugal e os agentes das burlas foram funcionários que eram empregados do Banco Espírito Santo e que, atualmente, são empregados do Novo Banco, o clone criado pelo Banco de Portugal para administrar os ativos desviados do BES.

Na maioria dos casos que analisei, as pessoas lesadas “perderam” tudo; ou seja, aplicaram tudo no mesmo banco, o Banco Espírito Santo.

Os valores dos casos que me forma revelados, variam entre os 25.000,00 € e os 4,5 milhões de euros.

Não há qualquer perspetiva de recuperação desses recursos, exceto se os tribunais proferirem sentenças condenatórias, que forcem o conglomerado BES/Novo Banco ou o Estado a pagar.

Ao longo dos últimos meses, tive a oportunidade de constatar que outros bancos têm práticas idênticas às adotadas pelo Banco Espírito Santo, pelo que, em tese, pode acontecer aos “depositantes” que não o são o mesmo .

que aconteceu aos  “depositantes” do BES.

Durante mais de um ano os funcionários do BES/Novo Banco procuraram manter os emigrantes sob engano.

Só recentemente foi revelado, ainda assim de forma pouco clara e muito menos inequívoca, que os dinheiros entregues ao banco tinham sido aplicados em sociedades de offshore e em veículos cujo recorte rigoroso se não conhece.

Se o Banco Espírito Santo burlou os emigrantes, o Novo Banco procurou  consolidar a burla, tentando convencer os emigrantes a  confessar que tinham aplicado as suas poupanças, de forma voluntária e consciente, em ações das tais sociedades em offshore, cuja identidade, cujas contas e cujos órgãos sociais ninguém conhece.

O MEL (Movimento dos Emigrantes Lesados) lançou um apelo aos emigrantes no sentido de que retirem dos bancos portugueses os recursos aí depositados.

Mais do que uma retaliação, perante a brutal injustiça de que foi vitima este importante grupo social, estamos perante uma medida de prudência.

O que aconteceu ao Bando Espírito Santo é suficientemente demonstrativo de que é muito arriscado ter valores depositados em bancos portugueses, não porque os banco sejam maus, mas porque falta uma supervisão que mereça crédito.

Para além dos “segredos” do BES  ninguém sabe que outros segredos existem. E como gato escaldado de água fria tem medo, o melhor é mesmo levantar os fundos depositados nos bancos portugueses.

Por isso apoiamos o apelo do MEL, nesse sentido.

 

Pelo CDIBES

Absolvidos no BPP. Haverá contágio ao caso BES?

Segunda-feira, Setembro 28th, 2015

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Observador

O julgamento do caso BPP, com a absolvição de João Rendeiro, mostra algumas das dificuldades que o Ministério Público terá com o processo da queda do BES. Há pelo menos 3 obstáculos que ficam claros.

A absolvição de João Rendeiro no caso da Privado Financeira revela a dificuldade de prova que costuma existir em casos de criminalidade económica complexaquando a mesma envolve os responsáveis máximos das instituições financeiras. E antecipa de certo modo os obstáculos que se colocarão nos processos do caso GES/BES – com a agravante dos casos relativos ao “Universo Espírito Santo”, de acordo com a classificação dada ao caso pela Procuradoria-Geral da República, suplantarem largamente em número e complexidade as investigações do caso BPP.

Tomando apenas como exemplo o caso do papel comercial das empresas do GES que foram vendidos aos balcões do BES no último ano antes da derrocada do grupo financeiro da família Espírito Santo, conseguimos fazer um paralelismo com o caso da Privado Financeira e perceber as dificuldades que existirão para eventuais condenações.

Em ambos casos o Ministério Público (MP) entende que existem suspeitas do crime de burla qualificada por parte das respetivas administrações. Isto é, o titular da ação penal entende que foi montado um ardil para enganar os investidores.

No caso da Privado Financeira, o MP acusou a administração de João Rendeiro de ter criado uma operação de aumento de capital social do veículo Privado Financeira para pagar dívidas da mesma sociedade – em vez de comprar exclusivamente ações do BCP, como foi assegurado aos investidores.

Já no caso do papel comercial das empresas do GES, existem diferentes indícios:

  • Os investidores terão sido convencidos a investir nesses produtos quando sociedades como a RioForte ou Espirito Santo International já não eram solventes – ou seja, já não tinham capacidade para devolver o capital e a respetiva remuneração contratualizada;
  • Clientes que pensavam que estavam a investir em papel comercial do próprio BES e não em empresas do GES;
  • Desvio do capital angariado com a venda do papel comercial para outros fins que não aqueles que foram contratualizados com os clientes.

    A primeira dificuldade está relacionada com o próprio crime de burla qualificada. Este crime exige prova do dolo. Isto é, tem de ser provado que os administradores tiveram conhecimento das irregularidades e que tiveram a intenção de enganar e prejudicar os clientes/investidores.

    Tem de ser provado que os administradores tiveram conhecimento das irregularidades e que tiveram a intenção de enganar e prejudicar os clientes/investidores

    No caso da Privado Financeira, por exemplo, o tribunal entendeu que os arguidos João Rendeiro, Paulo Guichard e Fezas Vital não tinham cometido dolo porque a perda do capital investido na Privado Financeira deveu-se essencialmente à crise financeira mundial iniciada com a falência do Lehman Brothers (e que os arguidos não conseguiram prever) – e não à ação da administração do BPP. Independentemente do aumento do capital social da Privado Financeira ter ocorrido antes da derrocada daquele banco de investimento norte-americano.

    Em todos os processos do caso GES/BES certamente que os arguidos jogarão mão do papel que a crise financeira mundial iniciada em 2008 teve na brutal desvalorização dos ativos mobiliários e imobiliários. Basta recordar as entrevistas que Ricardo Salgado deu desde 2013 ou as conversas do Conselho Superior do GES reveladas pelo jornal i, Sábado e TVI para percebermos que esse será um argumento forte da defesa dos arguidos do Universo Espírito Santo.

    Basta recordar a defesa que Joaquim Goes, ex-administrador executivo do BES, entregou no Banco de Portugal no âmbito de um processo de contra-ordenação do caso BES para percebermos como será difícil a prova. “Quando, ao mais alto nível, a intenção de ocultar informação e se, para mais, houver articulação entre mais do que um elemento da administração (in casu CEO e CFO), é muito difícil que os restantes membros da comissão executiva se possam aperceber do sucedido ou que qualquer sistema de controlo interno o detete”, afirma Joaquim Goes na sua defesa revelada pela revista Visão e que está relacionada com os riscos da emissão de papel comercial da Espírito Santo International. O CEO e o CFO referidos por Goes são, respetivamente, Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires.

    Juízes não especializados

    O segundo grande obstáculo prende-se com a ausência de especialização dos tribunais comuns. Ao contrário do Tribunal Central de Instrução Criminal (que trata dos processos do Departamento Central de Investigação e Ação Penal e de alguns mais complexos do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa), do Tribunal de Supervisão (que analisa, por exemplo, dos recursos que os arguidos entendam interpor das condenações de processos contra-ordenacionais do Banco de Portugal ou da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários) ou do Tribunal do Comércio (onde o caso BPP foi concluído em 2014 com uma condenação por insolvência dolosa), os tribunais comuns não apostam na especialização dos juízes.

    Ao contrário do Tribunal Central de Instrução Criminal, os tribunais comuns não apostam na especialização dos juízes.

    Isto é, os coletivos que julgaram casos como o BPN, BCP ou BPP analisaram antes ou depois processos de delitos comuns como homicídios, assaltos ou burlas simples.

    No caso específico da burla, é muito diferente julgar um caso de um burlão comum em vez de um caso que envolve uma administração de uma sociedade cotada em bolsa e engenharias financeiras complexas assentes em sociedades internacionais ou sedeadas em paraísos fiscais e conhecimentos muito técnicos sobre instrumentos financeiros altamente complexos.

    A ausência de especialização faz com que o know-how sobre matérias financeiras complexas seja limitado, quando a “experiência comum”(sobre os temas em causa no processo) é um conceito jurídico fundamental para apreciação da prova durante um julgamento.

    Os tribunais portugueses, ao contrário de outros sistemas judiciais europeus, também não têm capacidade orgânica (e financeira) para acolher assessores especializados no tema em julgamento que possam ajudar os juízes.

    Os tribunais portugueses, ao contrário de outros sistemas judiciais europeus, também não têm capacidade orgânica (e financeira) para acolher assessores especializados

    Já o Ministério Público, por seu lado, tem feito uma aposta forte desde o final dos anos 90 na especialização dos seus magistrados Começou com a criação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal para, entre outros objectivos, combater a criminalidade económico-financeira mais complexa e trans-distrital. E desenvolveu-se com a 9.ª Secção do DIAP de Lisboa que tem o mesmo objetivo que o DCIAP mas circunscrito ao distrito da capital do país onde estão as sedes das instituições públicas e das principais empresas nacionais.

    Maior dificuldade de prova

    A maior dificuldade de prova nasce precisamente dessa ausência de especialização dos tribunais e está relacionada com a análise de prova documental que este tipo de processos acarreta. No caso da Privado Financeira, por exemplo, existia abundante e diversa prova documental (como actas, emails, pareceres, relatórios, etc.) e testemunhal que, no entender do MP, fundamentava a acusação. Verificou-se, contudo, que a documentação foi desvalorizada, assim como os testemunhos das vítimas, de acionistas ou de funcionários do BPP ou de técnicos da CMVM não foram tidos em conta pelo tribunal – ao contrário dos testemunhos da defesa. E a prova testemunhal, de acordo com processo penal português, acaba por ser aquela que é encarada como a prova rainha durante o julgamento.

    O problema é o processo penal português também não favorecer a confissão dos crimes por parte dos arguidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, é possível um mecanismo de negociação que permite uma diminuição da pena em troca da confissão. Foi assim que Bernardo Maddof, entre muitos outros casos, foi condenado em 2009 a 120 anos de cadeia por onze crimes, entre os quais, fraude, lavagem de dinheiro e perjúrio por ser o autor de uma fraude que envolveu uma soma total de 65 mil milhões de euros.

A insolvência das três poderosas do Grupo Espírito Santo

Segunda-feira, Setembro 28th, 2015

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Negócios

O relatório dos curadores das insolvências da ESI, Rioforte e Espírito Santo Control – as três empresas que dominavam o poder no Grupo Espírito Santo – aponta para os depósitos bancários existentes e as dívidas já reclamadas no Luxemburgo.

Espírito Santo Control Era a sociedade ao mais alto nível do GES, sem qualquer actividade própria. A Espírito Santo Control detinha a Espírito Santo International, actualmente em insolvência …

Luxemburgo detecta movimentos “suspeitos” de dinheiro no GES

Segunda-feira, Setembro 28th, 2015

Citamos

Negócios

A reestruturação do GES no final de 2013, os fluxos de fundos entre as empresas do grupo e o pagamento de despesas sem contrapartida são operações que levantaram alarme nos responsáveis pelas insolvências da ESI, Rioforte e ES Control.
“Movimentos de dinheiro suspeitos e pagamentos de despesas por sociedades em insolvência ao GES ou a terceiros, sem contrapartida económica aparente.” Esta é uma das operações incluídas no capítulo de “investigações” ..

Até agora, dinheiro da Rioforte paga 4% da dívida

Segunda-feira, Setembro 28th, 2015

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Até 31 de Agosto, a Rioforte recebeu reclamações de credores no valor de 2,8 mil milhões de euros. Só dispõe de 111 milhões. A ESI tem uma situação mais difícil. A venda de activos pode dar mais dinheiro, mas o arresto da justiça nacional dificulta.
O dinheiro que a Rioforte tem depositado só serve para pagar até 4% das dívidas que já foram reclamadas junto da sua massa insolvente. O valor a recuperar pelos credores junto da sociedade do Grupo Espírito Santo poderá …

Agir quer referendo revogatório para “demitir políticos corruptos”

Segunda-feira, Setembro 28th, 2015

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RTP

A cabeça de lista por Lisboa da coligação Agir, Joana Amaral Dias, anunciou hoje, durante um protesto em frente à casa de Ricardo Salgado, que vai propor no parlamento o referendo revogatório, para permitir a demissão de “políticos corruptos”.

Nós temos de garantir que políticos corruptos, políticos que não fazem uma gestão correta, rigorosa e séria da coisa pública, possam ser demitidos”, afirmou a candidata aos jornalistas à porta da casa do ex-presidente do BES, atualmente em prisão domiciliária em Cascais, Lisboa.

“Uma das primeiras medidas que o Agir vai propor na Assembleia da República é o referendo revogatório, é a possibilidade do povo demitir, correr com todos esses políticos que não protegem os nossos interesses, que não protegem os interesses da maioria”, declarou Joana Amaral Dias.

Cerca de três dezenas de apoiantes do Agir (PTP-MAS) participaram na iniciativa com tambores e faixas onde se lia “paguem aos lesados do BES”, “confiscado”, “confisquem o Espírito Santo”, “Ricardo Salgado que pague o défice”. Os dois últimos cartazes foram inclusivamente colados no muro da casa do banqueiro.

Com bandeiras da coligação Agir e de um dos partidos que a compõe, o Movimento Alternativa Socialista (MAS), os participantes cantavam e gritavam palavras de ordem como “ladrão”, “quem deve aqui dinheiro é o banqueiro”, “Salgado ladrão, o teu lugar é na prisão” ou “Salgado dá ao povo o dinheiro roubado”.

“Se há dinheiro para Ricardo Salgado, se houve dinheiro para o BES, tem de haver dinheiro para os lesados do BES”, vincou Joana Amaral Dias, acrescentando que, para a coligação Agir, a solução para os lesados do BES passa pelo arresto de bens dos banqueiros envolvidos e um consequente “seguimento do rasto do dinheiro”, nomeadamente nos `offshores`.

“O objetivo é mostrar que, se há dinheiro para a banca e se há dinheiro para o sistema financeiro, nós não podemos mais aceitar essa desculpa, essa justificação chamada desculpa de mau pagador, que depois não há dinheiro para honrar pensões e salários, não há dinheiro para honrar um sem número de compromissos que o Estado português também tinha e também tem”, salientou a dirigente.

Para a candidata, o “sistema financeiro fez uma gestão danosa, corrupta e errada”, tendo deixado um “enorme buraco nas contas públicas portuguesas”.

Na opinião de Joana Amaral Dias, a “austeridade não deu para controlar a dívida e o défice”, que continua “descontrolado”, mas sim para transferir dívida privada para dívida pública.

“Não podemos consentir mais esta política de dois pesos e duas medidas que só serviu (…), não para controlar o défice e a dívida, mas sim para dar com o chicote no lombo dos portugueses”, considerou.

Além dos dois agentes da PSP que estão em permanência a vigiar a casa de Ricardo Salgado, estiveram presentes no local mais quatro agentes de segurança.

Reuniões que aprovaram venda do papel comercial do GES sob investigação

Segunda-feira, Setembro 28th, 2015

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Económico

Goes esteve nas reuniões, mas queixa-se de falta de informação. Salgado, Morais Pires e Ricciardi estiveram ausentes.

O processo de aprovação da venda de papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES) a clientes do BES está a ser passado a pente fino pelo Banco de Portugal (BdP) e pela CMVM, apurou o Económico. Os procedimentos em questão incluem as duas reuniões em que foi dado o ‘OK’ à venda destes títulos, com a presença de vários altos responsáveis do grupo BES. Os supervisores procuram apurar quem tomou as decisões, se as regras foram cumpridas e se todos os intervenientes sabiam o que estava em causa.

Em causa estão uma reunião do Comité de Activos e Passivos (ALCO), de 4 de Setembro de 2013; e outra da comissão executiva do BES, de 3 de Outubro de 2013, na qual foi aprovada a acta do ALCO, sancionando assim a comercialização do novo produto financeiro, que viria a lesar cerca de 2.500 clientes do banco. Os quais ainda hoje tentam recuperar os seus investimentos.

As actas das reuniões, a que o Económico teve acesso, demonstram que as colocações foram discutidas no ALCO e na comissão executiva, embora os documentos não refiram o montante total. “Na proposta de oferta para Setembro [de 2013] é de destacar a nova oferta de curto prazo do BES Ordens, aos prazos de seis meses e de seis meses a um ano, extensível a todos os segmentos”, refere a acta do ALCO, que um mês depois foi votada na comissão executiva. Porém, o administrador com os pelouros do risco e do marketing, Joaquim Goes, garantiu ao BdP que não conhecia o montante das colocações nem a real situação das empresas do GES que emitiam o papel comercial. Segundo a “Visão”, Goes, que esteve presente nas duas reuniões, acusa o antigo presidente-executivo (CEO) Ricardo Salgado e o administrador financeiro (CFO) Amílcar Morais Pires de terem ocultado “deliberadamente” os riscos destas colocações.

Neste contexto, o BdP e a CMVM estão a investigar o teor e a qualidade da informação que foi prestada nas duas reuniões, tendo já recolhido depoimentos de funcionários do BES. As investigações dos supervisores partem de ângulos distintos, mas complementares: para o BdP, estão em causa as regras da boa gestão bancária, enquanto a CMVM analisa o problema do ponto de vista dos direitos dos investidores. Os resultados das investigações poderão servir para novos processos de contra-ordenação e serão comunicados ao Ministério Público.

Segundo as actas, na primeira reunião, estiveram presentes os membros da comissão executiva do banco, directores de departamento e administradores de subsidiárias como a ES Ventures, o BESI e o BEST. Na segunda, estiveram os membros da comissão executiva, incluindo Joaquim Goes, mas houve três ausências de peso: Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires e José Maria Ricciardi. O paradeiro dos dois primeiros, nessa data, é do conhecimento público, já que se encontravam em Angola para pedirem ao presidente José Eduardo dos Santos a concessão de uma garantia soberana para a dívida que o BESA tinha a pagar ao BES.

Na reunião do ALCO, o Departamento de Gestão de Poupança (DGP), que reportava a Morais Pires, apresentou uma nova oferta comercial através do “BES Ordens”, com aplicações em dívida de “grandes empresas nacionais e empresas GES”, com maturidades de três meses, seis meses e um ano. A aposta no novo produto era justificada com o interesse demonstrado pelos clientes nas aplicações de tesouraria de empresas do GES, após os supervisores terem forçado o banco a reduzir a perigosa exposição ao fundo ES Liquidez, que investia sobretudo em empresas do GES.

O novo produto era apresentado como “financeiro não complexo” e, no enquadramento apresentado no ALCO pela DGP, é referido que a informação prestada aos clientes incluiria as “características do programa, as contas e demonstrações de resultados certificadas, a informação sobre a actividade da empresa e o tipo de riscos associados ao investimento”. Adiantava que se pretendia “utilizar a Plataforma BES Ordens para a comercialização destas emissões”. Desta forma, a colocação do papel comercial foi discutida e aprovada pelo ALCO, embora as emissões não tenham sido aprovadas individualmente. Até ao fecho da edição, não foi possível obter esclarecimentos de fontes oficiais do BdP e da CMVM.