Arquivo para Junho, 2016

Defensores da “reconfiguração da banca” não querem venda apressada do Novo Banco

Quinta-feira, Junho 30th, 2016

Citamos

Negócios

No dia em que chega ao fim o prazo para a entrega de propostas de compra do Novo Banco, a comissão para a reconfiguração da banca defende que se espera para valorizar a instituição.

Sem alienação do Novo Banco à pressa. Tempo para recuperar valor. Sem intervenção da Europa nos novos donos do banco. Estes são três pontos de defesa dos promotores do manifesto que pede uma reconfiguração da banca portuguesa para a solução da instituição financeira herdeira do Banco Espírito Santo.

Uma venda apressada do Novo Banco “implicaria necessariamente um valor baixo e um prejuízo significativo para os contribuintes e sistema bancário nacional, sem que outras hipóteses de solução tivessem sido devidamente consideradas”, indica a comissão, de que o ex-ministro das Finanças João Salgueiro (na foto) é um dos principais promotores, como uma das concluídas retiradas do colóquio que se realizou na quarta-feira, 29 de Junho, em Lisboa.

Esta quinta-feira, 30, chega ao final o período para a entrega de propostas para a compra do Novo Banco na venda a investidores estratégicos. Há seis entidades na corrida: BPI, BCP, Santander, Apollo e ainda os gestores de fundos Lone Star e Centerbridge.

“Os bancos portugueses, tal como sucedeu na grande maioria dos bancos europeus, necessitam de tempo para se recapitalizar e valorizar”, indicam ainda as conclusões retiradas pela comissão promotora da “Reconfiguração da Banca em Portugal”, herdeiro do inicialmente chamado manifesto contra a espanholização da banca.

O Banco de Portugal tem um plano B para o caso de o plano inicial (que também ele já não está intacto porque a venda em bolsa ficou em suspenso – com o argumento do Brexit – ficando apenas em vigor a alienação a investidores estratégicos). Esse plano é retomar a venda em bolsa, sim, mas apenas após o Verão.

E não é apenas o Novo Banco mas também a Caixa Geral e o BCP que levantam preocupações aos promotores da reflexão sobre a composição accionista da banca: “Estes bancos, sendo essenciais ao financiamento da economia portuguesa, não podem ficar expostos à lógica pura do actual método de resolução bancária, nem as suas estruturas accionistas serem definidas pelas autoridades comunitárias”.

Sobre a Caixa Geral de Depósitos, na conferência de ontem, João Salgueiro disse que eram necessárias “linhas vermelhas” na negociação da capitalização do banco público com a Comissão Europeia. “Compete às entidades nacionais, nomeadamente ao Governo Português, a escolha do sistema accionista mais apropriado para a banca nacional.  As entidades nacionais deverão defender junto da Comissão Europeia e do BCE a necessidade de ser alcançado um sistema bancário diversificado, nomeadamente em termos das origens do capital, como forma de se acautelar, a médio e longo  prazo, o financiamento desejável às empresas portuguesas”.

No comunicado emitido esta quarta-feira, os promotores da comissão (que envolve Miguel Beleza, Bagão Félix e Rui Rio) também criticam o novo modelo de resolução bancária – tal foi tema na conferência.

No colóquio, em que intervieram também o banqueiro Mira Amaral e Manuel Sebastião (que citou Camões para falar do tema), estiveram cerca de 30 participantes, entre os quais o antigo presidente do Banif, Jorge Tomé. Aliás, uma das preocupações da comissão é que um caso como a resolução do banco fundado por Horácio Roque, “em que o banco foi perdendo valor e se penalizaram os contribuintes portugueses e restantes bancos no sistema”, não se volte a repetir.

Quatro ofertas para o Novo Banco. Santander e BCP fora da corrida

Quinta-feira, Junho 30th, 2016

Citamos

Observador

O Banco de Portugal recebeu quatro propostas vinculativas para a compra do Novo Banco. Dois dos principais bancos em Portugal, o Santander e o BCP, não apresentaram ofertas.

O Banco de Portugal recebeu quatro propostas de aquisição para o Novo Banco que vão ser analisadas “à luz dos critérios de admissibilidade e seleção estabelecidos no caderno de encargos”. Em comunicado, o supervisor esclarece que em função dessa análise, “será tomada uma decisão sobre qual das vias – Procedimento de Venda Estratégica ou Procedimento de Venda em Mercado – será seguida para concluir o processo de alienação da participação detida pelo Fundo de Resolução no Novo Banco”.

O Banco de Portugal não divulga os concorrentes por razões de confidencialidade, mas segundo o Expresso, dois dos principais bancos a operar no mercado português terão ficado de fora da corrida ao Novo Banco. O Santander e o BCP não apresentaram ofertas para a compra de uma parte ou da totalidade da instituição que resultou do Banco Espírito Santo, avança o jornal. Não foi possível confirmar se o BPI ou o seu maior acionista, o CaixaBank, entregaram proposta. Também não se sabe se as ofertas são para a totalidade do banco ou apenas para alguns ativos.

O prazo para a entrega de ofertas vinculativas terminou esta quinta-feira às cinco da tarde e o presidente do BCP, Nuno Amado, já tinha sinalizado esta semana que a data “não era ideal”, sobretudo depois do resultado do referendo no Reino Unido e os seus efeitos colaterais nos mercados que voltam a atingir a banca. Ainda segundo o Expresso, o BCP terá escrito uma carta a manifestar abertura para voltar a olhar para o processo em determinadas situações.

Contactados pelo Observador, Santander e BCP não comentam a informação. O concurso para a alienação do Novo Banco exige apertadas regras de confidencialidade aos concorrentes e no passado o Banco de Portugal limitou-se a divulgar o número de ofertas sem identificar quem as apresentou. No entanto, a informação acaba sempre por sair.

Entre os grupos apontados como interessados estavam também o BPI, ou seu maior acionista, o CaixaBank, e fundos de investimento, entre os quais a americana Apollo. Na primeira tentativa de venda do Novo Banco, realizada há pouco mais de um ano, Santander, BPI e Apollo apresentaram ofertas, mas só o fundo de investimento que é dono da Tranquilidade chegou à fase final de negociação com os chineses da Fosun e da Anbang.

Primeiro a bolsa chinesa, agora o Brexit

O concurso acabou por ser cancelado quando o Banco de Portugal, ainda com o anterior governo, concluiu que as ofertas financeiras não eram satisfatórias. Um dos fatores apontados para explicar um arrefecimento do interesse dos investidores chineses no negócio foi a crise que atingiu os mercados chineses de forma mais aguda no verão do ano passado. Agora a tempestade vem do oeste.

Caso falhe o processo de venda a investidores estratégicos, o cenário B para a venda do Novo Banco passa pela dispersão em bolsa de uma parte do capital, mas esta solução terá ficado fragilizada, ainda mais, pela instabilidade e incerteza que resultam do Brexit. A entrada no mercado de capitais da instituição estava já contudo em dúvida antes do resultado do referendo britânico porque a informação apresentada sobre o banco e a sua estratégia futura não foram consideradas suficientes pelo regulador da bolsa nacional.

A venda do Novo Banco tem sido contestada à esquerda e o cenário de manutenção da instituição na esfera do Estado tem sido defendido por algumas personalidades que receiam o fenómeno da espanholização da banca. O governo de António Costa tem dado prioridade à solução de venda que foi negociada com a Comissão Europeia, num plano que prevê que a operação se realize até agosto de 2017. O comunicado emitido esta quinta-feira pelo regulador não admite o cenário da não venda, ao contrário da posição assumida no ano passado quando o Banco de Portugal admitia de forma expressa esse cenário.

Formalmente o vendedor do Novo Banco é o Fundo de Resolução que é o acionista, mas na prática o processo é conduzido pelo Banco de Portugal que depois de reconhecer algumas limitações na primeira tentativa feita no ano passado,reforçou a equipa vendedora com a contratação do Deustsche Bank como assessor financeiro e de Sérgio Monteiro, o antigo secretário de Estado das Obras Públicas que protagonizou os principais processos de privatização realizados pela coligação PSD-CDS.

“Estado actual não é o mais condizente com a venda em bolsa” do Novo Banco

Quinta-feira, Junho 30th, 2016

Citamos

Público

Mário Centeno sai em defesa da recapitalização da Caixa. Sobre o governador do Banco de Portugal, nem tanto

O ministro das Finanças não deixa de apontar o dedo ao governador Carlos Costa por causa da decisão de transferir parte da dívida do Novo Banco para o BES. Diz que a operação está a ter impacto negativo nos juros da dívida pública do país

O “Brexit”, e o impacto que está a ter nos mercados, matou de vez a possibilidade de o Novo Banco ser vendido em bolsa?
Só não sei responder a essa pergunta porque não sou eu que estou a acompanhar no dia-a-dia o processo de colocação, se se chegar a essa fase, em bolsa do Novo banco. Mas é evidente que o estado actual das bolsas europeias não é o mais condizente com o lançamento de operações de venda em bolsa.

Acha que a venda vai ser adiada?
A minha expectativa é que venha a concretizar-se nos prazos estabelecidos.

Até ao final do mês?
É por aí.

No caso da Caixa Geral de Depósitos, apesar de ainda estarem a decorrer negociações, qual é o valor mínimo de capital de que o banco precisa?
Esses valores decorrem de exercícios de supervisão e de análises do balanço da Caixa, que estão a ser feitos com as autoridades, quer em Frankfurt quer em Bruxelas. O objectivo do Governo com o processo de nomeação de uma nova administração, a alteração dos critérios de governação e o plano de negócios e de recapitalização é apenas um: permitir à Caixa ser um banco que se financia a taxas de mercado, como os seus concorrentes o fazem, para que possa posteriormente dar crédito nas mesmas condições. É um banco que tem uma lógica estritamente de intervenção num mercado concorrencial, que é a forma como o banco Caixa melhor pode servir os portugueses e as empresas e famílias. Valores mínimos… dependem das análises que forem feitas junto das autoridades. Não queremos capitalizar a Caixa por capitalizar. Já expliquei que uma boa parte do que é necessário para a Caixa é um investimento. Capital é apenas a componente que tem que ver com a parte regulatória, e a Caixa nesse ponto de vista necessita também de um reforço de capital. Depois há a dimensão de capital na CGD que tem que ver com o plano de negócios e, portanto, a redefinição da sua estrutura de pessoal, e internacional. Finalmente, há também a necessidade de colocar a Caixa com índices de cobertura da sua carteira de crédito semelhantes ao que vigora no mercado.

É possível o cenário em que a capitalização da Caixa passe nas autoridades de concorrência mas o Eurostat obrigue a que tenha um impacto no défice?
O trabalho que está a ser feito junto da Comissão Europeia é precisamente para que essa situação não aconteça. Uma das condições necessárias, mas não suficientes — não é claro ainda neste momento porque tem de ser feita uma consulta às autoridades sobre essa matéria —, é que a recapitalização seja vista como ocorrendo em condições de mercado.

Ainda não consultaram o Eurostat?
Não, ainda não consultámos as autoridades estatísticas, porque estamos neste momento a trabalhar na Comissão Europeia, junto da Direcção-Geral da Concorrência.

Se obrigarem que a ajuda à Caixa vá ao défice, como fizeram no passado, o que vai fazer?
A questão de ir ou não ao défice é muito relevante: há uma interpretação clara do que estamos a fazer no processo de recapitalização da Caixa e que tem uma dimensão de investimento que tem de ser valorizada. Se não é vista dessa maneira, temos de saber porque não o é. Usar dinheiros públicos para a recapitalização da Caixa tem de ter critérios, e estes, neste caso, são claros para o Governo.

Isso leva tempo, e a Caixa vai entretanto ter de pagar os Cocos [empréstimo contingente] a médio prazo.
Não é possível ter este debate durante muito tempo. É uma coisa que tem de ser vista rapidamente.

Houve muitas críticas à decisão de passar algumas obrigações do Novo Banco para o BES. Estão a fazer alguma coisa para mediar esse conflito?
Não, a única coisa que dissemos foi que nos preocupava bastante. Essa operação, aliás, teve impacto e ainda está a ter. Impacto, por exemplo, nas taxas a que o país se financia no mercado de dívida, impacto que existe sobre o sistema financeiro português. O que dissemos é que sinalizámos essas nossas preocupações, mas na dimensão legal deste processo, o Governo não está envolvido.

Numa das várias deslocações ao Parlamento por causa do Banif, afirmou esperar que a comissão parlamentar apure se houve “falhas graves de condução política e de supervisão” por parte do anterior Governo e do Banco de Portugal. Se for essa a conclusão, pede a Carlos Costa para sair do cargo de governador?
Temos de ver à luz do enquadramento institucional o que é que isso significa, de que tipo de falhas estamos a falar, e avaliar. É difícil avaliar assim as tomadas de consequências. Aliás, disse na tomada de posse dos dois novos administradores [do Banco de Portugal], e que tomo para mim próprio, que é que quando somos nomeados para cargos que têm uma dimensão pública, a execução desses cargos deve ser sempre avaliada pelo interesse público. Está a pôr-me perante um cenário hipotético, também tenho de responder do ponto de vista hipotético. É para isso que se fazem as comissões parlamentares, para averiguar o que é que correu mal. Está dentro do espectro do que correu mal poder ter havido esse tipo de falhas. Esperemos tranquilamente.

Uma última pergunta, também ela hipotética. No cenário da saída do governador, até por uma eventual vontade própria, veria com bons olhos Elisa Ferreira como governadora do Banco de Portugal?
[Risos.] Agora entrámos de facto nos cenários hipotéticos [risos]. Como disse na altura da apresentação dos novos administradores, o currículo da professora Elisa Ferreira é conhecido de toda a gente, o seu activismo enquanto deputada europeia nesta área financeira e da regulação e supervisão é conhecido de todos. Estamos num cenário de hipóteses e continuaria nesse cenário a valorizar o currículo da professora Elisa Ferreira e, enfim, isso não alteraria em nada as qualificações da professora Elisa Ferreira.

Fundos Centerbridge e Lone Star avaliam Novo Banco

Quarta-feira, Junho 29th, 2016

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Público

Dois fundos de capital de risco juntam-se à Apollo, BCP, BPI e Santander no grupo que pediu acesso a informação sobre o banco. Brexit pode reflectir-se no desfecho do concurso de venda

Os dois fundos de capital risco norte-americanos Centerbridge Partners e Lone Star Funds integram o grupo de investidores que pediu acesso a informação financeira confidencial sobre o Novo Banco. Os restantes interessados já eram conhecidos: o Santander, o BCP e o BPI e a Apollo, outro private equity anglo-saxónico.

O Banco de Portugal (BdP) fixou a próxima quinta-feira, 30 de Junho, como data limite para os seis grupos que foram levantar o caderno de encargos de venda do Novo Banco confirmarem que avançam para a fase seguinte do concurso público, que passa pela entrega junto do Fundo de Resolução de uma oferta de compra vinculativa.

À semelhança do BCP, do Santander e do BPI, os três fundos de investimento norte-americanos terão de dispor de uma licença para operar no sector financeiro (banca ou seguros), um requisito da operação. Em Janeiro de 2015, a Apollo adquiriu a seguradora Tranquilidade ao Novo Banco, que tinha um penhor sobre a companhia do ex-Grupo Espírito Santo (GES). E, nesse mesmo ano, assumiu 80% do banco esloveno Nova Kreditna Banka Maribor. A Apollo já se tinha posicionado para ficar com o Novo Banco (na primeira tentativa de venda) e o Banif, mas acabou afastada.

Por sua vez, o Lone Star Funds detém uma participação (em conjunto com o Crédit Suisse) no Royal Park Investments criado para gerir os activos tóxicos do Fortis, o falido banco belga (um investimento de 6700 de euros). Em Portugal, o Lone Star herdou os centros comerciais Dolce Vita, depois de os adquirir ao grupo espanhol Chamartín Imobiliária. O Centerbridge Partners ganhou em 2015 o controlo do italiano Banca Farmafactoring. Mas na qualidade de investidor de dívida do ESFG (a dona do ex-GES),  esteve envolvido na disputa judicial pelo domínio da Tranquilidade, tendo desistido da contestação do penhor financeiro da seguradora a favor do Novo Banco.

Hoje, no BdP e no Novo Banco a mensagem que passa é de confiança e dá-se como provável que o BCP, o Santander, o BPI, a Apollo, o Lone Star e o Centerbridge possam ir mesmo a jogo. Mas só a análise de cada uma das propostas permitirá perceber qual é o verdadeiro propósito de quem as carimbou. É que os grupos podem proteger-se condicionando as suas intenções ao cumprimento de certas condições difíceis de garantir e, assim, na prática uma oferta pode acabar numa não oferta.

Por exemplo, no BPI detectam-se curiosidades. Depois do seu presidente executivo, Fernando Ulrich, ter dado sinal de vontade de estudar a operação, o BPI levantou o caderno de encargos do Novo Banco. Isto passa-se em Lisboa. Porque em Barcelona, sede do CaixaBank, o maior accionista do BPI, o administrador-delegado, Gonzalo Gortázar, afastou o interesse (antes do Brexit) na instituição. Dado o “bom” entendimento que parece existir entre Ulrich e Gortázar as declarações foram interpretadas como uma manobra de diversão ou uma habilidade dos dois banqueiros.

São muitas as interrogações sobre o futuro de uma instituição de transição, sem marca e limitada na sua estratégia. Depois de terem sido injectados 4900 milhões, dos quais 3900 milhões metidos pelo Estado, o banco liderado por Eduardo Stock da Cunha pode ainda necessitar de um reforço adicional de capital à volta dos mil milhões fruto de imparidades por contabilizar. Ou seja: para limpar o balanço ou o comprador se compromete a reforçar o capital naquele montante ou o Fundo de Resolução avança com a verba. Mas o governo já declarou que não o fará.

Entre 2011 e 2015, o Novo Banco/BES inscreveu nas suas contas 9500 milhões de perdas, sendo que 5700 milhões resultam de créditos que não foram (ou dificilmente serão) pagos e 3800 milhões de investimentos tóxicos. O que tem outra tradução: o ex-BES apresentava-se com uma quota de mercado de 18%, mas afinal era bem mais pequeno.

Em 2015 o BdP justificou o insucesso na venda do Novo Banco pelo impacto da crise dos mercados de Xangai, que naquele Verão, levaram a bolsa chinesa a cair 30% em três semanas e a acumular perdas de três biliões de dólares. O timing tinha sido errado.

Mas as críticas à forma como o processo foi conduzido não se fizeram esperar: as contas do banco não estavam totalmente claras; a instituição não tinha sido reestruturada; os critérios do concurso eram rígidos (o banco teria de ser alienado a um só investidor); não havia previsão de disseminação do capital em bolsa; e apenas três fundos foram à final.  E houve força política para o BdP passar o banco para a esfera privada antes das eleições legislativas.

O modelo escolhido para voltar a colocar a instituição no mercado é agora mais flexível. Pode haver alienação na totalidade ou em parte e pode ser por via directa ou em bolsa. A um dossier já de si difícil e complexo junta-se outro dado: o Brexit. Ao fixar a data de entrega de ofertas para esta quinta-feira, com apenas uma semana de diferença do referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia, o BdP não antecipou o desfecho que abriu um quadro de grande incerteza face ao futuro.

O ministro das Finanças, George Osborne (que se opôs à saída da UE) já quebrou o silêncio para lembrar que a economia britânica é sólida. Nos últimos dias, o presidente executivo do Deutsche Bank (que tem uma grande operação na Grã-Bretanha), o britânico John Cryan, que divide seu tempo entre Frankfurt e Londres, já veio dizer “que o centro financeiro [de Londres] não vai morrer, mas vai ficar mais fraco”. E menos de 24h00 depois de se conhecer o resultado do referendo   evaporaram-se 62,4 mil milhões de euros da London Stock Exchange.

Mas a volatilidade nos mercados continuou e os analistas não antecipam o fim o que dificulta uma eventual dispersão do capital em bolsa. E sem uma clarificação do que vai acontecer na UE os investidores tendem a adiar as suas decisões.

Outra consequência do Brexit foi o acentuar das tensões em torno do sistema financeiro europeu o que amplia a desconfiança. As notícias dão conta que o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, já reclamou junto de Bruxelas uma interrupção nas restritivas regras europeias de auxílio do Estado às empresas. Isto, para que possa recapitalizar em 40.000 milhões de euros a banca italiana, infectada com 360 mil milhões de euros de crédito mal parado.

Com os receios a avolumarem-se sobre o futuro da relação entre Bruxelas e Londres e a crescerem as incógnitas sobre o estatuto que será dado à citylondrina (responsável por 10% do PIB da Grã-Bretanha) a propensão do capital para olhar para o sistema financeiro diminui.

Um cenário de turbulência que já infectou o sector bancário espanhol de onde têm partido grandes investimentos para o Reino Unido. O Santander é um dos bancos com maior exposição ao Brexit. Nos últimos 12 anos, o grupo da família Botín investiu directamente no sector financeiro britânico cerca de 20.000 milhões de euros. Em 2004, comprou o banco Abbey National por 13.400 milhões e, quatro anos depois, pagou 772 milhões pelas filiais e os depósitos do Bradford & Bingley, entretanto nacionalizado. Antes do final da década fechou acordo com a Alliance & Leicester (A&L) para ficar com a totalidade do capital por 1571 milhões de euros. E em 2010 comprou mais 300 sucursais do Royal Bank of Scotland e sete escritórios NatWest por cerca de 2000 milhões. Investimentos que não contam com activos e passivos em libras dos bancos.

A operação do Reino Unido é responsável por quase um terço dos lucros do grupo Santander, que a 24 de Junho deu uma queda em bolsa cerca de 20%. Tanto quanto o Sabadell, o accionista de referência do BCP, onde possui 5%. O banco catalão fez a sua entrada na Grã-Bretanha em 2015 adquirindo por 2350 milhões de euros o Trustee Savings Bank. Um investimento que foi destacado como elevado, dada a dimensão do Sabadell.

Mas o Brexit não trouxe apenas riscos financeiros, trouxe ainda problemas de natureza política. Na Escócia o voto foi pela continuidade na UE o que abriu espaço a um pedido de consulta popular à permanência na Grã-Bretanhao. Uma decisão que levanta a discussão em torno da independência da Catalunha, com mais instabilidade. E o principal accionista do BPI, o CaixaBank pode ser tentado também a rever detalhes da sua estratégia para Portugal. É que nem o CaixaBank escapou à onda vermelha da passada sexta-feira com uma desvalorização em bolsa de 18,1%.

 

 

António Ramalho na calha para liderar o Novo Banco

Quarta-feira, Junho 29th, 2016

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Observador

O antigo vice-presidente do BCP foi proposto ao Governo pelo Banco de Portugal e não terá gerado oposição. As ofertas para a compra do Novo Banco devem ser apresentadas até dia 30 de junho.

O Banco de Portugal propôs António Ramalho para a liderança do Novo Banco. Ramalho parece ser um nome consensual dentro do Governo e deve suceder a Eduardo Stock da Cunha na presidência da instituição.

O Governo não é obrigado a pronunciar-se sobre o caso, já que a escolha do presidente do Novo Banco cabe a Carlos Costa, governador do Banco de Portugal.

Carlos Costa deve mesmo escolher António Ramalho, atual líder da Infraestruturas de Portugal e antigo vice-presidente do BCP, como sucessor para Stock da Cunha, que assumiu a liderança do Novo Banco em setembro de 2014, depois de Vítor Bento.

A escolha de Ramalho como presidente do Novo Banco surge durante “a fase decisiva de entrega das propostas” para a compra do banco, informa o Jornal de Negócios que acrescenta que a venda é “ensombrada pelos danos colaterais do Brexit”.

As ofertas pela instituição devem ser apresentadas até ao final desta quinta-feira, dia 30 de junho.

 

Novo Banco conclui processo de solução comercial para emigrantes Leia mais: Novo Banco conclui processo de solução comercial para emigrantes

Quarta-feira, Junho 29th, 2016

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Jornal de Notícias

O Novo Banco disse, esta terça-feira, em comunicado ao mercado, que concluiu a execução da solução comercial que foi aceite por seis mil clientes emigrantes, que tinham investido cerca de 500 milhões de euros em produtos de poupança do ex-BES.

Estes emigrantes tinham aplicado poupanças em produtos comercializados pelo Banco Espírito Santo (BES) – Poupança Plus , Top Renda e EuroAforro8 – que ficaram em risco aquando da queda do banco liderado por Ricardo Salgado, no verão de 2014.

Para tentar minimizar as perdas, o Novo Banco – o banco de transição que ficou com os ativos menos problemáticos do BES – criou soluções comerciais que propôs aos clientes daqueles produtos, emigrantes, as quais foram aceites por cerca de 80%.

Segundo a informação enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), “no dia 19 de abril, foi efetuada a liquidação em espécie das ações preferenciais do veículo EuroAforro 8 e, posteriormente, a entrega das obrigações seniores do Novo Banco e constituição dos depósitos a prazo aplicáveis no âmbito da solução comercial, tendo ficado a solução comercial totalmente implementada relativamente a este veículo”.

Já no mês de junho “foi finalizado o processo de implementação da solução comercial dos restantes veículos acima referidos, tendo os clientes que aderiram à solução comercial recebido as obrigações seniores do Novo Banco e sido constituídos os respetivos depósitos a prazo”.

O Novo Banco diz que está assim concluída a “implementação da solução comercial” que, segundo fonte oficial, abrangeu “aplicações no valor de 500 milhões de euros e prevê recuperar até 90% do capital investido”.

Quanto aos clientes que não aceitaram a proposta comercial, estes ainda poderão exercer a opção de liquidação em espécie das ações preferenciais “nos anos seguintes”, refere a instituição.

De acordo com a explicação do Novo Banco, a solução comercial prevê, num primeiro momento, a constituição de depósito a prazo não mobilizável durante dois anos com uma Taxa Anual Nominal Bruta (TANB) de 1,5% e a transferência das obrigações no valor global de 60% do capital investido, assim como a constituição de um outro depósito que garante a recuperação em seis anos de 90% do capital investido.

Como referido acima, apesar da solução comercial proposta pelo Novo Banco, nem todos os clientes emigrantes aceitaram. Aliás, a Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP) recomendou que os seus associados não subscrevessem a proposta por considerar que não era justa e não se adequava ao perfil desses clientes, uma vez que implicava a subscrição de obrigações de longa duração do Novo Banco e em que os depósitos a prazo estarão condicionados ao valor dessas obrigações.

A AMELP criticou ainda que às cerca de 400 pessoas que subscreveram os produtos EG Premium e Euro Aforro10 não tenha sido oferecida qualquer solução, sendo a única alternativa a reclamação do dinheiro em tribunal. Já o Novo Banco argumenta que não era possível oferecer uma solução neste caso devido ao tipo de instrumentos financeiros abrangidos por estes produtos.

Leia mais: Novo Banco conclui processo de solução comercial para emigrantes http://www.jn.pt/economia/interior/novo-banco-anuncia-solucao-comercial-para-emigrantes-5254838.html#ixzz4CxVUdo5l
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Solução comercial para emigrantes foi concluída, diz Novo Banco

Quarta-feira, Junho 29th, 2016

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Observador

A execução da solução comercial do Novo Banco foi concluída depois de ter sido aceite por 6.000 clientes emigrantes, que tinham investido cerca de 500 milhões de euros em produtos de poupança.

O Novo Banco disse esta terça-feira, em comunicado ao mercado, que concluiu a execução da solução comercial que foi aceite por 6.000 clientes emigrantes, que tinham investido cerca de 500 milhões de euros em produtos de poupança do ex-BES.

Estes emigrantes tinham aplicado poupanças em produtos comercializados pelo Banco Espírito Santo (BES) – Poupança Plus, Top Renda e EuroAforro8 — que ficaram em risco aquando da queda do banco liderado por Ricardo Salgado, no verão de 2014.

Para tentar minimizar as perdas, o Novo Banco — o banco de transição que ficou com os ativos menos problemáticos do BES — criou soluções comerciais que propôs aos clientes daqueles produtos, emigrantes, as quais foram aceites por cerca de 80%.

Segundo a informação enviada esta terça-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), “no dia 19 de abril, foi efetuada a liquidação em espécie das ações preferenciais do veículo EuroAforro 8 e, posteriormente, a entrega das obrigações seniores do Novo Banco e constituição dos depósitos a prazo aplicáveis no âmbito da solução comercial, tendo ficado a solução comercial totalmente implementada relativamente a este veículo”.

Já no mês de junho “foi finalizado o processo de implementação da solução comercial dos restantes veículos acima referidos, tendo os clientes que aderiram à solução comercial recebido as obrigações seniores do Novo Banco e sido constituídos os respetivos depósitos a prazo”.

O Novo Banco diz que está assim concluída a “implementação da solução comercial” que, segundo fonte oficial, abrangeu “aplicações no valor de 500 milhões de euros e prevê recuperar até 90% do capital investido”.

Quanto aos clientes que não aceitaram a proposta comercial, estes ainda poderão exercer a opção de liquidação em espécie das ações preferenciais “nos anos seguintes”, refere a instituição.

De acordo com a explicação do Novo Banco, a solução comercial prevê, num primeiro momento, a constituição de depósito a prazo não mobilizável durante dois anos com uma Taxa Anual Nominal Bruta (TANB) de 1,5% e a transferência das obrigações no valor global de 60% do capital investido, assim como a constituição de um outro depósito que garante a recuperação em seis anos de 90% do capital investido.

Como referido acima, apesar da solução comercial proposta pelo Novo Banco, nem todos os clientes emigrantes aceitaram. Aliás, a Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP) recomendou que os seus associados não subscrevessem a proposta por considerar que não era justa e não se adequava ao perfil desses clientes, uma vez que implicava a subscrição de obrigações de longa duração do Novo Banco e em que os depósitos a prazo estarão condicionados ao valor dessas obrigações.

A AMELP criticou ainda que às cerca de 400 pessoas que subscreveram os produtos EG Premium e Euro Aforro10 não tenha sido oferecida qualquer solução, sendo a única alternativa a reclamação do dinheiro em tribunal. Já o Novo Banco argumenta que não era possível oferecer uma solução neste caso devido ao tipo de instrumentos financeiros abrangidos por estes produtos.

Prioridade é vender Novo Banco sem injectar mais dinheiro

Segunda-feira, Junho 27th, 2016

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Negócios

Brexit deixou a alienação do Novo Banco reduzida à venda directa. Em ambiente de pressão sobre o sector, prioridade do Banco de Portugal é encontrar um comprador que assuma as futuras necessidades de capital e evitar gastar mais dinheiro com o NB, como no Banif.

Evitar que a venda do Novo Banco traga mais custos para o sector financeiro e para o Estado é, neste momento, a principal preocupação do Banco de Portugal. A entidade de supervisão pretende assegurar que as futuras necessidades …

Lesados do BES manifestam-se com “10% de esperança”

Sábado, Junho 25th, 2016

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Diário de Notícias

Cartazes diziam “retirem o dinheiro dos bancos portugueses” ou “quem comprar o Novo Banco terá que nos pagar”.

Cerca de 150 emigrantes lesados do ex-BES/Novo Banco voltaram a manifestar-se hoje, em Paris, apesar de apenas sobrar “10 por cento de esperança” em reaver as “poupanças de uma vida”, disse à Lusa Maria Yulug, uma das manifestantes.

“Venho aqui para arranjar moral porque em casa sozinha é difícil. Quando estou ao pé de pessoas que têm o mesmo problema que eu sinto-me reconfortada. É a esperança. O pouco de esperança que há. Dez por cento de esperança”, descreveu a portuguesa de 58 anos, que trocou Cascais por Paris com 19 anos.

Maria Yulug diz que perdeu “40 anos de trabalho” e que hoje continua a trabalhar “de costas partidas e com morfina”, tendo deixado “de acreditar em Portugal” e tendo “vontade de mudar de nacionalidade”, porque tem “vergonha de ser portuguesa” e “Portugal está abaixo de zero”.

Os lesados concentraram-se no 9.º bairro, perto da Ópera de Paris, onde estão sediados alguns bancos portugueses, gritando “justiça” e empunhando cartazes a indicar “retirem o dinheiro dos bancos portugueses” ou “quem comprar o Novo Banco terá que nos pagar”.

Aníbal Costa copiou para o seu cartaz uma frase de José Saramago: “Portugal não tem partidos de direita, de esquerda, de nada. Tem um bando de salafrários que se reúnem para roubar juntos”.

Para o emigrante de 65 anos, que foi em 1968 para Paris, “os salafrários são os políticos, são sempre os mesmos ladrões”.

“Cavaco e o primeiro-ministro antigo disseram que não havia dificuldade nos bancos e viu-se no que deu”, disse, rindo-se quando questionado sobre se acredita poder reaver os 120 mil euros que tinha no ex-BES: “Eu gostava, mas para dizer francamente, acho que vai ser muito difícil!”

A manifestação foi convocada pela Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP), alegando que a situação [dos lesados] “continua num impasse”, “mesmo depois das declarações que foram feitas no 10 de junho e sobretudo no 11 de junho em Champigny pelo senhor primeiro-ministro e pelo senhor Presidente da República” disse à Lusa Helena Batista, vice-presidente da AMELP.

“Como não há solução à vista para estas duas mil pessoas que não aceitaram a solução que lhes foi apresentada no mês de agosto passado, nós temos que continuar a nossa luta e continuar a fazer pressão para reavermos as nossas economias. Por outro lado, como o banco está numa fase de pré-venda, também queremos alertar os interessados e os futuros compradores que têm um problema por resolver com os clientes do ex-BES”, declarou Helena Batista.

A porta-voz dos emigrantes lesados adiantou ainda que “o boicote” ao envio de remessas para Portugal continua e explicou que vai ser feita “uma grande manifestação nacional em Lisboa”, em agosto, convidando “todos os que sentem lesados pelo sistema bancário” a aderirem ao protesto e “a pedir a demissão do senhor governador de Portugal”, sublinhando que “é inadmissível aquilo que se tem passado nos últimos anos nos bancos portugueses”.

Ana Fernandes também participou em todas as manifestações dos lesados do BES em Paris e escreveu uma carta ao jogador da selecção portuguesa Cristiano Ronaldo, em nome da AMELP, a pedir a sua intervenção, uma vez que o Novo Banco é patrocinador da seleção nacional de futebol.

“Ele fez publicidade para o BES. Cristiano Ronaldo é um herói para os portugueses em geral e para os emigrantes muito mais. O que eu pensei foi dizer-lhe para ele, hoje, tomar uma posição, para interceder”, indicou a escritora de 55 anos, argumentando que a seleção poderia recusar o patrocínio [do Novo Banco] porque “devem dinheiro a pessoas que estão com problemas graves, na miséria”.

Maria Rosa Carrilho descreveu que o BES lhe “roubou mais de oitenta anos de trabalho”, somando os 44 anos de trabalho do marido e os seus 42 anos do trabalho.

“Vim para França na desgraça e vou para Portugal ainda mais desgraçada do que vim. Vivo mal e com muita tristeza. Nem durmo. Fui roubada de todas as minhas economias e do meu marido”, indicou a portuguesa de 66 anos, natural da Guarda, que está em França desde os 19 anos.

Aos 58 anos, Prazeres Felgueiras suspira de alívio por não ter investido todas as poupanças no ex-BES, mas, ainda assim – afirma -, “uma boa parte das economias estão lá” e pensa vender alguns bens em Portugal e levar para França as economias que lhe sobraram.

“Conto com a justiça. Fizemos muito por Portugal e não há razão que não o façam pela gente”, concluiu a portuguesa de Monção, de 58 anos, a viver há 38 em França.

Após a resolução do BES, a 04 de agosto de 2014, os emigrantes lesados ascendiam a 8.000, num total de 728 milhões de euros de dinheiro investido.

No verão do ano passado o Novo Banco propôs uma solução comercial aos emigrantes detentores de vários produtos comercializados pelo BES (Poupança Plus, Top Renda e Euro Aforro) que permitia a recuperação faseada da quase totalidade das aplicações. A solução teve acolhimento por parte de 80% desses clientes, mas por resolver ficou o caso dos emigrantes que não aceitaram a proposta, cerca de 2.000.

Solução tem já apoio de 50% dos lesados do BES mas é preciso 80% para avançar

Sábado, Junho 25th, 2016

Citamos

Diário de Notícias

É preciso que mais lesados acionem ações judiciais e se juntem para que o processo vá em frente

A solução negociada para compensar os clientes do papel comercial do GES já tem o apoio de 50% dos lesados, mas é preciso a aceitação de 80% para que seja criado o fundo de indemnização que irá reembolsar parcialmente o dinheiro investido.

Segundo um dos escritórios de advogados ligados à Associação dos Lesados e Indignados do Papel Comercial, na semana passada havia já ações judiciais referentes a 300 aplicações de clientes (cada lesado pode ter mais de uma), passo necessário para acederem à solução negociada com Banco de Portugal e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, com a mediação do Governo, e esta semana o número já mais do que triplicou e vai em quase 1.000.

Ainda assim, segundo a proposta de solução financeira que já está no Ministério das Finanças para ser validada, é necessária a aceitação da solução por 80% dos mais de 2.000 clientes, pelo que é preciso que mais lesados acionem ações judiciais e se juntem para que este processo vá em frente.

A solução que foi encontrada para que os lesados em papel comercial possam receber parcialmente o dinheiro investido implica que esses clientes acionem um exercício processual jurídico – quer seja processo judicial ou uma notificação judicial avulsa – até 03 de agosto, uma vez que nessa data passam dois anos desde a resolução do Banco Espírito Santo (BES) e há muitos direitos que caducam.

A necessidade de os clientes acionarem processos judiciais relaciona-se com o facto de esta solução passar pela criação de um fundo de indemnizações.

Será esse fundo que irá indemnizar os lesados (parcialmente, nunca receberão o valor total investido), ficando esse veículo em troca com os direitos das ações judiciais. Esse fundo dará então continuidade à litigância e será ele que, no futuro, irá receber dinheiro se os tribunais assim o decidirem.

“A solução passa por uma cedência, antecipação de direitos, por um lado, e renúncia de direitos, por outro lado, pelo que é preciso um exercício processual jurídico, quer seja processo judicial ou uma notificação judicial avulsa” para que os lesados do BES possam ter direito a indemnização, já tinha explicado na segunda-feira à Lusa uma das fontes envolvidas na negociação da solução.

Nas ações judiciais a serem colocadas, os clientes têm de ter cuidado quanto às entidades e pessoas sobre as quais as dirigem.

Atualmente, a Associação dos Indignados e Lesados do Papel Comercial está a fornecer a quem a contacta toda a informação respeitante ao que deve ser feito em termos judiciais, nomeadamente que a colocação de processos deve ser dirigida a mais de sessenta entidades.

Essas entidades são as empresas emitentes do papel comercial (Rio Forte e Espírito Santo International), o oferente e intermediário financeiro (o BES, uma vez que aqueles títulos foram vendidos aos balcões do banco), os administradores das entidades em causa e as seguradoras dos administradores. É normal os gestores de grandes empresas terem seguros (os D&O) que visam cobrir eventuais responsabilidades que lhes venham a ser imputadas pelas suas funções.

O objetivo da solução que foi negociada é compensar os mais de 2.000 clientes do retalho que dizem ter sido lesados pelo BES, que lhes vendeu papel comercial de empresas que vieram a falir. Estes investidores reclamam 432 milhões de euros.

Esse dinheiro foi dado como praticamente perdido aquando da queda do grupo da família Espírito Santo, em 2014.

Para a solução que foi negociada importa ainda conhecer os resultados da auditoria pedida pelo Banco de Portugal à Deloitte para avaliar que perdas sofreriam os credores do BES se em vez da resolução o banco tivesse sido liquidado. Se tivessem tido menos perdas numa liquidação, esses credores têm dinheiro a receber do Fundo de Resolução bancário.