Arquivo para Julho, 2016

Auditoria do FMI acusa Carlos Costa e governador defende-se em carta

Sábado, Julho 30th, 2016

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RTP

O Gabinete Independente de Avaliação do Fundo Monetário Internacional decidiu fazer uma auditoria independente à atuação da própria instituição durante o programa de ajustamento português. Os auditores concluíram que o exame aos bancos deveria ter sido independente do Banco de Portugal e que o programa falhou neste sector, apesar de sinais de fragilidade. Carlos Costa é alvo de duras críticas, mas o governador defendeu-se numa carta. Aponta “falta de rigor” e “graves erros factuais” à análise.

A carta do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, foi incluída num dos relatórios que analisa o sector financeiro, assinado pelo francês Nicolas Véron, investigador do grupo Bruegel, considerado um dos nomes mais influentes da finança internacional.

No relatório publicado quinta-feira pelo FMI, Véron não poupa críticas ao banco central e as críticas são diversas em relação à forma como se respondeu às fragilidades do sector bancário português.

No que diz respeito, por exemplo, ao Banco Espírito Santo (BES), o relatório refere que o Banco de Portugal deu garantias sólidas sobre aquela instituição bancária aos técnicos do FMI, quando foi confrontado com dúvidas surgidas 2011.

“Técnicos do Departamento Europeu do FMI, antigos funcionários da Comissão Europeia e do Governo português argumentaram em entrevistas que começaram a ter dúvidas sobre a saúde financeira do BES logo em 2011, mas receberam repetidas garantias do Banco de Portugal e portanto não investigaram mais o assunto”, pode ler-se nodocumento assinado por Véron.

O investigador refere ainda que, em dezembro de 2013, já havia muitas notícias na comunicação social que apontavam para uma situação problemática no BES.
FMI deveria ter insistido no caso BES
Nicolas Véron alertou ainda que a troika deu mais atenção aos problemas orçamentais do que aos problemas financeiros e que o exame aos bancos deveria ter sido independente do BdP.

De acordo com este investigador, as consequências foram graves e o custo público da resolução poderia ter sido mais baixo. “Se o FMI tivesse insistido para que o problema do BES fosse abordado de forma mais assertiva no final de 2013 ou início de 2014, o custo público da resolução seria certamente inferior e, pelo menos, algumas das controvérsias teriam sido evitadas”.

O governador do BdP argumenta numa carta datada de 14 de julho de 2016 que o relatório tem “graves erros factuais” e usa artigos de jornais como ponto de partida para fazer análises, o que considera ser “inaceitável”, por resultar de “alegações graves e tendenciosas, sem rigor e altamente especulativo”.

Produtos financeiros do ex-BESI com dívida da PT liquidados a 1 de Agosto

Sábado, Julho 30th, 2016

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Negócios

Os produtos estruturados montados pelo antigo BESI terão vencimento antecipado na próxima segunda-feira. A entidade não revela valores.

O Haitong (antigo BESI) informou o Novo Banco que 17 produtos complexos que têm como um dos activos base obrigações da antiga Portugal Telecom serão pagos antecipadamente a 1 de Agosto. Este reembolso ocorre após a Associação Internacional de Swaps e Derivados (ISDA) ter considerado que o pedido de recuperação judicial da Oi, entidade que garante as obrigações da antiga PT, constituir um evento de crédito.

A maior parte destes produtos trará perdas aos investidores, que dependerão das características de cada um desses instrumentos. No entanto o comunicado divulgado à CMVM pelo Novo Banco, a informar da notificação que recebeu do Haitong em relação a estes produtos, não menciona o valor dos reembolsos. Informa apenas que “os titulares dos produtos financeiros complexos identificados poderão contactar o Novo Banco através dos meios habituais, a fim de verificar quais as condições aplicáveis ao seu produto”.

O valor do reembolso irá variar de produto para produto. Por exemplo, os detentores de “credit linked notes” que têm apenas obrigações da antiga PT como activo subjacente perdem mais de 80%. Esse tipo de produtos pagarão um valor equivalente a 20% do valor nominal dos títulos, preço que foi definido num leilão da ISDA, em que dez bancos internacionais tentaram chegar a uma indicação do valor a recuperar com a dívida da antiga PT. A esse montante do reembolso serão ainda deduzidos os custos com a desmontagem desses instrumentos.

No entanto, existem também “credit linked notes” em que além de obrigações da antiga PT estão incluídos títulos de outras cotadas como activo base. Nesses casos, poderá haver um corte correspondente ao valor que as obrigações da ex-PT tinham nesses cabazes. No entanto, pode haver produtos em que apesar do incumprimento da Oi tenham como uma das condições não infligirem perdas após uma das entidades ter sido alvo de um evento de crédito.

A Deco Proteste já havia aconselhado aos detentores destes produtos estruturados a “verificar a documentação do produto, porque as consequências de um evento de crédito na PTIF não serão iguais para todos”.

Além do BESI, também o Deutsche Bank montou produtos deste tipo, tendo previsto reembolsar um desses instrumentos a 3 de Agosto.

São estes os produtos que serão pagos antecipadamente:

Relatório do FMI sobe a banca

Sexta-feira, Julho 29th, 2016

Citamos

FMI

 

Exame ao FMI põe Banco de Portugal em xeque por falhas na banca. Governador contesta: há erros graves

Sexta-feira, Julho 29th, 2016

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Observador

Peritos que avaliaram FMI dizem que exame a bancos deveria ter sido independente do Banco de Portugal. Programa português falhou na banca. Carlos Costa contesta relatório e denuncia “erros graves”.

A resposta do Fundo Monetário Internacional (FMI) aos problemas de Portugal desvalorizou a situação na banca, apesar de existirem já sinais da fragilidade dos bancos e da supervisão.

Os peritos que avaliaram a atuação do FMI no programa de ajuda a Portugal concluem que a principal falha do Fundo foi não ter insistido na necessidade de uma avaliação externa e independente feita por um organismo que não o Banco de Portugal à situação dos bancos portugueses. A reestruturação da banca ficou por fazer e isso resultou nos problemas que o setor agora vive, e contribuiu para os colapsos do Banco Espírito Santo e do Banif, já depois de concluído o programa da troika. No caso do BES, o relatório assinado por Nicolas Véron, do grupo de investigação Bruegel, diz mesmo que o Banco de Portugal deu garantias de solidez da instituição aos técnicos do FMI quando confrontado com as dúvidas suscitadas desde 2011.

O painel independente, que conduziu várias entrevistas a técnicos do FMI e responsáveis portugueses, admite até que o impacto das resoluções do BES e do Banif poderia ter sido mitigado ou mesmo evitado, com uma intervenção mais dura do Fundo junto das autoridades portuguesas, em particular do Banco de Portugal, que se terá oposto de forma expressa a uma avaliação independente aos balanços dos bancos nacionais. Em contrapartida, a limpeza na banca portuguesa poderia ter aumentado as necessidades de financiamento a Portugal ou mesmo conduzido a um segundo programa.

“Falta de rigor e erros graves”. A contestação dura de Carlos Costa

Esta avaliação, que ataca a eficácia das medidas adotadas pelo Banco de Portugal para fiscalizar e dar solidez à banca, é fortemente contestada pelo governador, em carta de 14 de julho, publicada junto do relatório sobre o setor financeiro que analisa a atuação do FMI nos programas de ajuda na zona euro. Carlos Costa denuncia o que considera ser “falta de rigor” e um avaliação “altamente especulativa” que não é compatível com um exame independente. O governador assinala que a opinião do Banco de Portugal não foi considerada nas conclusões deste suplemento, que contém “graves erros factuais” que foram devidamente assinalados e denuncia a utilização de artigos de jornal usados como background, o que qualifica de “inaceitável”.

Carlos Costa contesta ainda a tese de que o modelo de inspeções à qualidade dos ativos da banca tenha sido imposto pelo Banco de Portugal, acrescenta que foi objeto de acordo com a troika, e considera que este programa foi um sucesso que permitiu o reconhecimento das perdas que estavam nos balanços das instituições bancárias.

O governador contraria também a afirmação feita por pessoas ouvidas pelos autores do relatório independente, de que terá dado garantias sobre a solidez do Banco Espírito Santo a quem levantou dúvidas sobre o banco desde 2011, qualificando estas alegações de uma “acusação grave” à ação de supervisão que é feita “sem sustentação”.

As conclusões sobre a execução do programa de ajuda a Portugal no setor bancárionão constam da avaliação independente ao sucesso e erros do programa português, mas sim de um anexo, o X, sobre os aspetos financeiros que pode consultar aqui. A carta de resposta do governador está na página 54 do relatório.

Na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, o governador voltou a responder a esta avaliação independente que “critica o FMI por se ter deixado convencer pelo Banco de Portugal e critica o Banco de Portugal por ter convencido o FMI” a não recorrer a uma avaliação independente à situação dos bancos nacionais no início do programa de assistência em 2011.

“A história mostrará que a nossa posição era correta”. A posição do autor do estudo de fazer um exercício à irlandesa implicaria, segundo Carlos Costa, um montante adicional do empréstimo e uma dívida pública mais elevada. “Não era possível, porque os 78 mil milhões foram sacados a ferros. Com um programa desta natureza, a restrição financeira pública seria mais dura e duvido que houvesse condições politicas para desenvolver o programa, o que nos levaria para o terreno de outro pais” (a Grécia) em que houve uma reestruturação da dívida.

Carlos Costa argumenta distinguiu a situação da banca irlandesa, que já tinha caído, da banca portuguesa, onde foi possível registar gradualmente imparidades de 38 mil milhões com pouco capital. “Se tivéssemos feito este exercício de intrusão, tínhamos transferido toda a banca para o setor público” e a dívida seria muito mais alta. E acrescentou que “fica para a história” a conclusão de que o Banco de Portugal convenceu o FMI.

As fragilidades dos bancos, os acionistas e os empréstimos

A avaliação assinala que quando o programa português foi negociado em 2011 já existiam sinais de fragilidade ao nível da banca e da supervisão bancária, recordando os colapsos de pequenas instituições como o Banco Português de Negócios (BPN) e o Banco Privado Português (BPP) no final de 2008.

Destaca ainda o elevadíssimo nível de dependência dos bancos portugueses do financiamento do Banco Central Europeu, que chegou a 48 mil milhões de euros em abril de 2011, quando Portugal pediu ajuda, e que correspondia a 9% dos ativos da banca nacional.

O capítulo dedicado ao papel do FMI nos aspetos financeiros da crise na zona euro descreve o perfil de alguns dos principais bancos portugueses como tendo uma estrutura de propriedade que criou incentivos para concessão de crédito aos acionistas, casos do BCP e do BES. Ressalta ainda que as instituições se destacavam na Europa pelos acionistas fora do setor financeiro, o Grupo Espírito Santo no caso do BES e Angola (a Sonangol) no caso do BCP. O BPI também dependia muito de Angola, em termos acionistas, mas sobretudo ao nível dos lucros.

Os peritos elencam as várias medidas que o programa de assistência previa para o setor bancário, com destaque para maior exigência ao nível dos rácios e um envelope financeiro de 12.000 milhões de euros. No entanto, o programa foi insuficiente para uma abordagem sustentada ao setor financeiro. E a principal falha, segundo os avaliadores independentes, foi a não inclusão de uma avaliação externa e independente do Banco de Portugal à qualidade dos ativos dos bancos, ao contrário do que foi feito na Irlanda, onde a banca era vista como o grande problema.

Medidas para a banca ficaram sob controlo das autoridades portuguesas

Em vez disso, o FMI aceitou trabalhar com o Banco de Portugal para desenhar o programa de inspeções aos balanços e de testes de stress aos bancos que foi revisto numa base trimestral. Os peritos revelam que a possibilidade de recorrer a um mandato de avaliação externa à banca suscitou a oposição “resoluta e eficaz” do Banco de Portugal que sugeriu antes a abordagem dos programas de inspeções dentro dos bancos. Este programa permaneceu sob o “controlo firme” das autoridades portuguesas. É certo que envolveu algumas avaliações externas, as principais auditoras estiveram envolvidas nos exames aos balanços de cada banco, mas estes consultores distintos só tiveram acesso a partes dos balanços dos portefólios dos bancos e sob uma série de constrangimentos impostos pelo Banco de Portugal.

O resultado foi que o programa de inspeções à qualidade dos ativos ficou muito aquém de uma avaliação independente e abrangente. O documento cita entrevistas com responsáveis do FMI do departamento de mercados e setor financeiro, o MCM, e conclui que a avaliação externa e independente foi abandonada com base no argumento de que o “Banco de Portugal era um supervisor de confiança e que antagonizá-lo nesta matéria iria retirar o controlo do programa às autoridades nacionais”. A informação recolhida sugere que a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu não questionaram a escolha feita pelo FMI, ainda que a questão da avaliação externa tenha sido debatida dentro da troika. Os peritos assinalam ainda que os requisitos de capital impostos eram inferiores aos da Irlanda.

A falta de uma abordagem assertiva por parte do FMI ao setor financeiro português pode ter resultado de uma combinação de fatores ideológicos, práticos e políticos. Em primeiro lugar, a equipa do FMI parece ter incorporado o preconceito na perceção de que a crise portuguesa era sobretudo orçamental e não ligada à fragilidade da banca. Este preconceito apresentava o setor privado, e os bancos, como “uma vítima e não o problema”. Esta perceção terá contribuído para a relutância em considerar opções que poderiam resultar na nacionalização total ou parcial da banca, não obstante os incentivos aos bancos para emprestarem dinheiro aos seus acionistas (partes relacionadas), as complexas estruturas de governação e a sua elevada alavancagem.

Do lado português, notam os peritos, o FMI estava muito focado na privatização dos bancos do Estado, o BPN e o redimensionamento da Caixa, uma política que era considerada excessiva do lado português. Esta posição acabou por ser invertida quando se realizou a intervenção que nacionalizou o Banif.

Bancos frágeis, mas banqueiros tinham estatuto social

O exame assinala ainda uma “perceção inquestionável de que evitar um conflito com o BdP seria positivo para o controlo do programa por parte das autoridades nacionais”, que de facto aconteceu e facilitou a sua implementação, bem como o consenso com as instâncias europeias. Alguns técnicos do FMI salientaram o reconhecimento de que os banqueiros privados gozavam de um elevado estatuto social em Portugal — as entrevistas televisivas dadas pelos presidentes dos principais bancos portugueses foram vistas como um dos detonadores para o pedido de ajuda — e que se o FMI questionasse a solidez das suas instituições não iria atrair o apoio doméstico.

Até personalidades portuguesas independentes, que o FMI considerou confiáveis, descreveram uma situação desses bancos que os peritos consideram agora demasiado otimista.

Outro fator assinalado passa pelos crescentes problemas financeiros de Portugal em 2011, com risco de falhar pagamento de salários e pensões, que pressionaram no sentido de negociações rápidas para fechar o programa de assistência e minimizaram as necessidades de financiamento do país que poderiam ter sido ampliadas com a revelação de perdas latentes no sistema bancário.

A avaliação conclui por isso que a reestruturação do setor bancário foi limitada e que várias das maiores vulnerabilidades não foram atacadas. A venda do BPN, alienação dos ativos da Caixa e recapitalização pública do Banif, foram as principais medidas adotadas. É ainda criticada a opção de utilizar obrigações convertíveis em capital para recapitalizar os bancos privados, mas mantendo a estrutrura acionista, com o argumento de que a manutenção da gestão iria contribuir para a estabilidade.

Por outro lado, a manutenção dos limites ao controlo e direitos de voto, bem como a estrutura de gestão, desincentivaram investimentos privados de partes terceiras no capital dos bancos. O programa para resolver as perdas nos ativos também foi insuficiente e a práticas duvidosas de contabilidade e consolidação de alguns bancos não foram alteradas e os riscos das operações em Angola não foram analisados e avaliados.

Mais uma vez, os peritos consideram que o FMI estava relutante em enfrentar as autoridades sobre questões do setor financeiro. A única exceção foi o Banif, que levou à suspensão do fecho de uma avaliação. E a margem de manobra do Fundo “evaporou-se” em 2014 quando o programa terminou. A nível prático, concluem os técnicos, terá ficado a ideia no FMI de que uma “abordagem mais rigorosa do ponto de vista prudencial poderia ter exposto falhas de financiamento que iriam para além dos recursos do programa”, o que potencialmente exigiria um segundo programa de resgate a Portugal com as consequências a nível da partilha de custos.

Avisos sobre o BES começaram em 2011, Banco de Portugal deu garantias

Quando Portugal teve a sua “saída limpa”, o setor bancário continuava frágil. Os peritos analisam o colapso do Banco Espírito Santo, três meses depois, e apesar de muitas questões terem ficado por esclarecer, revelam que responsáveis da Comissão Europeia e do governo português realçaram em entrevistas que começaram a ter duvidas sobre a saúde financeira do BES em 2011, mas que receberam repetidas garantias do Banco de Portugal e não insistiram no tema.

Os peritos lembram as notícias do final de 2013 que qualificam de alerta vermelho e referem que o conhecimento sobre a fraqueza do BES era alargado na comunidade financeira portuguesa muito antes dessa data. Um dos portugueses entrevistados revela que contactou o FMI no final de 2013 a alertar para a situação do BES.

Se o FMI tivesse insistido de forma mais decisiva na adoção de medidas para o problema do BES no final de 2013 ou início de 2014, ou até antes, os “custos de uma resolução teriam provavelmente sido mais baixos, ou pelo menos alguma da polémica poderia ter sido evitada”, admitem os peritos que examinaram a atuação do Fundo.

Em resumo, o FMI não prestou atenção suficiente à necessidade de restaurar a solidez da banca que não foi reestruturada de forma adequada. “Se a equipa tivesse insistido numa reavaliação externa dos balanços dos bancos portugueses, e tivesse colocado mais ênfase nos problemas bancários na execução do programa,os colapsos tardios do BES e do Banif poderiam ter sido mitigados ou talvez até evitados”. E poderiam ter evitado que a economia de Portugal sofresse o impacto da fragilidade prolongada no setor bancário.

Atualizado com link para o relatório onde consta a carta de resposta do governador do Banco de Portugal.

 

BES? “Não houve sinal de incumprimento até à derrocada”

Quinta-feira, Julho 28th, 2016

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Notícias ao Minuto

O presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) admitiu que o banco público teve prejuízos devido à exposição que tinha ao Grupo Espírito Santo (GES), mas realçou que não havia sinais de alarme até ao colapso daquela entidade.

“É verdade que tivemos perdas com esse grupo privado mas não vou dizer o número”, afirmou José de Matos em resposta a uma questão colocada por Moisés Ferreira, deputado do Bloco de Esquerda, na comissão parlamentar de inquérito ao banco público.

José de Matos assinalou, contudo, que “não houve um sinal de incumprimento até ao incumprimento. Até à derrocada [do GES]”, em maio de 2014.

E realçou: “Não podíamos desconfiar de uma coisa quando o crédito era pago regularmente”.

A 03 de agosto de 2014, o Banco de Portugal tomou o controlo do Banco Espírito Santo (BES) – braço financeiro do GES – depois de o banco privado ter apresentado prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades distintas.

No chamado banco mau (‘bad bank’), um veículo que mantém o nome BES, ficaram concentrados os ativos e passivos tóxicos do BES, assim como os acionistas.

No ‘banco bom’, o banco de transição que foi chamado de Novo Banco, ficaram os ativos e passivos considerados não problemáticos.

MRA apresenta plataforma para reclamação de créditos

Quinta-feira, Julho 28th, 2016

A MRA – MIGUEL REIS & ASSOCIADOS – SOCIEDADE DE ADVOGADOS SP,RL publicou ontem uma plataforma para a recolha de dados visando a reclamação de créditos no processo de  liquidação do Banco Espírito Santo.

A sociedade publicou, também, as condições em que presta o serviço de elaboração e apresentação da reclamação de créditos nas situações em que os clientes forneçam informação objetiva sobre os créditos.

O prazo acaba em 22 de agosto.

Decisão sobre Novo Banco atrasa e só será conhecida em setembro

Quarta-feira, Julho 27th, 2016

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Observador

Complexidade na escolha entre as quatro propostas que estão em cima da mesa atirou para depois do verão a decisão sobre a aquisição do banco que era para ter desfecho até ao início de agosto.

A decisão sobre a venda do Novo Banco só ficará concluída em setembro, avançaesta quarta-feira o Diário de Notícias que justifica o atraso — face ao que estava previsto pelo Governo — com a complexidade que está a envolver a escolha entre as quatro propostas tão diferentes que estão neste momento a ser analisadas (da Apollo/Centerbridge, da Lone Star, do BPI e do BCP).

A existência destas quatro propostas de aquisição do banco criado em 2015 para salvar os ativos bons do Banco Espírito Santo (entretanto falido) foi conhecida no final do mês de junho e as negociações deveriam ter ficado fechadas até ao início de agosto, mas o processo atrasou. As propostas estão a ser analisadas “à luz dos critérios de admissibilidade e seleção estabelecidos no caderno de encargos, divulgado no passado mês de abril”, definiu então o Banco de Portugal que está a conduzir este processo em coordenação com o Governo e o Fundo de Resolução.

O processo de venda está a ser liderado pelo secretário de Estado dos Transportes do anterior executivo Sérgio Monteiro que, de acordo com o jornal, tem estado a manter contactos semanais desde a entrega das quatro ofertas sobre o novo Banco, na tentativa de conseguir avançar com o processo rapidamente, evitando a perda de capacidade negocial com o aproximar da data-limite (agosto do próximo ano) para a totalidade do capital do Novo Banco estar vendido. Nesta fase será decidido qual das duas vias vai ser seguida na venda da participação que foi adquirida pelo Fundo de Resolução (no valor de 4,9 milhões de euros, 3,9 injetados pelo estado e os outros mil milhões pela participação do restante sistema financeiro): a venda a investidores estratégicos ou a dispersão de capital em mercado.

Decisão sobre Novo Banco adiada para setembro

Quarta-feira, Julho 27th, 2016

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Diário de Notícias

A ideia original era ter tudo encaminhado no fim de julho ou no início de agosto. Quatro propostas sobre a mesa tornam escolha complexa

A venda do Novo Banco a um interessado ou a negociação de apenas parte do capital a um ou mais compradores será apenas decidida durante o mês de setembro e não antes, como estava previsto. Inicialmente, o compromisso assumido pelo governo, em coordenação com o Banco de Portugal e o Fundo de Resolução, era fechar as negociações em julho ou o mais tardar no início de agosto, mas o processo não avançou com a velocidade desejada.

Segundo apurou o DN, o facto de as quatro ofertas que estão sobre a mesa terem naturezas muito diferentes entre si tornou a escolha mais complexa e levou a que as negociações tivessem de ser prolongadas. Neste momento existem quatro interessados: Apollo/Centerbridge, Lone Star, BPI e BCP, sendo que a proposta do banco liderado por Nuno Amado é não quantitativa.

Em março, o Banco de Portugal adiantou que o procedimento seguiria, numa primeira fase, duas vias paralelas. Por um lado, um procedimento de venda estratégica para alienação direta e competitiva do Novo Banco a investidores estratégicos como instituições de crédito, empresas de seguros ou que já detenham diretamente ou sob gestão participações acionistas qualificadas em instituições de crédito ou em empresas de seguros.

Apollo/Centerbridge, Lone Star, BPI e BCP são os interessados na compra do Novo Banco

O outro caminho alternativo – para salvaguardar o possível fracasso da primeira abordagem ou fazer subir o preço – implicaria um “procedimento de venda em mercado”, que resultaria na colocação de ações junto de investidores institucionais. Não seria uma Operação Pública de Venda (OPV) feita no mercado de capitais, mas sim a negociação direta com investidores disponíveis para controlar parte do capital.

Das quatro propostas enviadas, resultou que pelo menos uma delas manifestou interesse na totalidade do banco, embora não em todos os ativos que constam do balanço, o que inevitavelmente significa a vontade de conseguir a compra, mas desembolsando um preço mais baixo. Recorde-se que o Estado injetou 3,9 mil milhões de euros no Fundo de Resolução, além dos mil milhões que esta linha de emergência tinha através dos pagamentos feitos pela globalidade do sistema financeiro que opera em Portugal.

Tudo o que representar uma venda abaixo deste valor (4,9 mil milhões de euros) implicará o reconhecimento de um prejuízo para o Fundo de Resolução, que pode ter de ser recapitalizado outra vez com dinheiro emprestado pelo Estado, o que, aliás, já foi sinalizado numa carta enviada por Mário Centeno, ministro das Finanças, à Comissão Europeia. O objetivo desta carta era, segundo fonte próxima do processo, deixar claro que o governo afasta a hipótese de nacionalizar o Novo Banco, admitindo apenas um empréstimo, a preços de mercado, para ajudar a manter o Fundo de Resolução operacional, se surgir essa necessidade.

O compromisso assumido com as autoridades internacionais impõe duas obrigações: até agosto tinha de ficar demonstrado “um dever de esforço” na alienação do Novo Banco, isto é, que fossem desenvolvidos os contactos e lançados os procedimentos formais tendo em vista a negociação da instituição financeira que herdou parte do balanço do antigo Banco Espírito Santo. Neste sentido, as autoridades internacionais acompanharam os detalhes da dupla operação que foi montada por Sérgio Monteiro – é ele o responsável direto pela gestão deste processo -, tendo havido contactos quinzenais que agora, com a entrega das quatro ofertas, passaram a decorrer numa base semanal.

Em setembro, o assunto deve ficar resolvido para um lado (venda do banco a um investidor) ou para o outro (distribuição de parte do capital por vários), embora não exista essa obrigação formal. O que existe é uma pressão crescente para não deixar passar demasiado tempo. A totalidade do capital do Novo Banco tem mesmo de estar vendida até agosto de 2017. Quanto mais próxima estiver essa data, menos capacidade negocial terá o Fundo de Resolução junto dos interessados, que poderão tentar explorar esta fragilidade para fazer baixar ainda mais o preço.

Não está, no entanto, excluída a possibilidade de ser negociada e aceite uma prorrogação da data limite, invocando razões de mercado – a turbulência financeira italiana, os problemas no Deutsche Bank, as próprias dívidas sobre a banca portuguesa. Até agora este caminho não foi abordado e, a sê-lo, seria apenas numa circunstância limite, já que parece reduzida a probabilidade de Bruxelas aceitar o adiamento.

BAIL-IN OU BAIL-OUT; O MESMO BAILE, OUTRA MÚSICA

Segunda-feira, Julho 25th, 2016

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Grazia-tanta.blogspot

No bail-in, as perdas dos bancos são colmatadas à custa dos seus acionistas, obrigacionistas e grandes depositantes. No bail-out são os estados que se chegam à frente avançando com fundos públicos. Afinal, pretende-se apenas manter vivo e operante um sistema financeiro sobredimensionado e politicamente asfixiante.

Para sanear as contas dos bancos, na UE tem havido muita criatividade. Primeiro, foram os bail-out, depois a diluição das perdas com bancos falidos nas contas dos bancos sobrantes, intercaladas com práticas debail-in, práticas lesivas de poderosos interesses financeiros e finalmente, para agradar a todos, os juízes do Tribunal Europeu de Justiça na sequência de uma ação colocada na sequência de resgates a cinco bancos eslovenos vem colocar em plano de igualdade as duas formas de resgatar bancos[1]. Apesar desta decisão igualitária, está bem de ver que a preferida pelas classes políticas será sempre a que poupar a carteira do grande capital.

1 – Numa primeira fase (2008/11), na sequência da crise do subprime, procedeu-se na UE a nacionalizações cruas (mas não nuas) pois em muitos casos definia-se que a nacionalização seria temporária[2]. Na prática, feita a limpeza com fundos públicos, conseguidos a partir da aumentos de carga fiscal e cortes, logo os bancos foram devolvidos às burlas privadas que caraterizam o sistema financeiro. Aliás, no historial das nacionalizações, as empresas nacionalizadas serviram sempre os interesses do capital privado, entregues aos cuidados da classe política[3].

Em Portugal o governo nacionalizou o célebre BPN – a fonte que financiava oligarcas do PSD – para evitar o risco … sistémico! O BPN representava 2% do sistema bancário português… Foi apenas um género de anjo anunciador, se tivermos na memória as falências seguintes (BES e Banif), o malparado, as imparidades, as criativas formas de martelar os balanços (CGD), o lixo que se encontra em decantação na Parvaloren ou ainda, a falência de uma “banqueta” (como tal designado nos meios financeiros) – o BPP – que nunca foi mais do que um fundo de investimentos para gente rica.

A nacionalização do BPN pelo governo PS de Sócrates, foi um bail-outpuro e duro; isto é, o magnânimo Estado assumiu a massa falida, com todos os direitos e obrigações. Mais tarde, o governo Passos empurrou parte da mesma massa falida para o “veículo” Parvaloren, com o banco público CGD a financiar (€3500 M), colocando os espoliados fiscais como pagadores de última instância mas, com o direito de ver o gang PSD beneficiário a passear-se por aí, com as poupanças em bom recato. Isabel dos Santos e o seu sócio na Galp, Américo Amorim, viriam a comprar a infraestrutura do BPN por € 40 M[4].

2 – A intervenção da troika trouxe outra ideia criativa. O Estado português, para se compatibilizar com os mercados, assumia € 78000 M de dívida perante as instituições da troika, incluindo € 12000 M para ajuda aos bancos; oferecendo em troca austeridade, cortes de salários e pensões, desemprego e emigração. Essa ajuda, por intermediação estatal – empréstimos com o sugestivo nome de co-co (contingente convertible bonds) – veio a ser aproveitada por vários bancos – BPI, CGD, BCP e Banif – num total de € 5800 M, pagando juros elevados (€ 1115 M até 2015). O primeiro daqueles bancos, no seio de luta intestina entre o catalão CaixaBank e a angolana Isabel dos Santos livrou-se, higienicamente, do seu co-co. Os segundos ainda não os liquidaram pois a provisão de chá de sene não tem sido suficiente para alijarem os seus co-co’s. Finalmente, o Banif morreu com obstipação sem pagar, entre outros males, que o herdeiro – o banco Santander recusou assumir, naturalmente.

O BES, que nunca recorreu aos empréstimos co-co, caiu diretamente na falência, num contexto de práticas de gestão danosa que arrastou a PT, uma das empresas do regime, sem que alguém tenha sido responsabilizado, para além dos incómodos de mais uma inconsequente comissão parlamentar de inquérito.

 

3 – O caso do BES inaugurou uma brilhante criação das instâncias da UE, o mecanismo do fundo de reposição, que serviria para uma partilha das perdas entre os bancos nacionais, um bail-in bancário. No caso concreto português, como os outros bancos não tinham vida financeira confortável, quem se acudiu, uma vez mais, foi o erário público[5], numa decisão anunciada por um gaguejante Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, evidenciando que o mecanismo inaugurado não estava clarificado na sua cabeça. Assim, o Estado emprestou € 3900 M ao Fundo de Reposição… para salvar os ativos saudáveis do ex-BES, no seio do Banco Bom, cognominado Novo Banco[6].

Aquelas instâncias na sua enorme habilidade consideram natural que, sendo os bancos instituições inseridas num sistema planetário, sejam estados nacionais a arcar com custos da sua falência; esse saneamento, com toda a lógica, deveria caber a instituições globais ou, no mínimo, comunitárias, mormente ligadas ao BCE. Inversamente, o BCE não consulta os estados nacionais quando procede ao financiamento dos bancos, através do quantitative easing, nem os bancos pedem autorização aos estados nacionais para as suas operações. Considera-se que os estados e os contribuintes são pais ricos e benevolentes, sempre prontos a pagar os desvarios de filhos e enteados no casino, com um sorriso na cara.

4 – Em 2015 mais um caso de falência bancária, o Banif, especializado na captação de poupanças dos emigrantes, sobretudo madeirenses e açorianos, num caso em que a ministra Maria Luís se encheu de triste glória. O BCE decidiu vender os salvados do Banif ao Santander, apontando este como o grande banco de referência em Portugal, na escala europeia[7]; negócio arrematado por € 150 M. De permeio, o Estado português assumiu responsabilidades no valor de € 2255 M, dos quais € 489 para cobrir divida do Banif ao Fundo de Resolução[8].

5 – Nos casos do BES e do Banif revelaram-se as situações dos respetivos lesados, grandes depositantes particulares que confiaram nas condições de remuneração oferecidas para as suas poupanças, num contexto de acelerada degradação dos bancos. À precariedade da rendabilidade acenada para essas aplicações, dependentes de cascatas de títulos titularizados, juntou-se a habilidade dos próprios bancos em aliciarem com taxas de juro irrealistas clientes pouco destros em entenderem ou darem-se conta da frágil bolha em que se baseia todo o sistema financeiro. Há sempre quem acredite que é possível comprar galinha gorda por pouco dinheiro e que os bancos são instituições de beneficência que oferecem juros chorudos sem riscos elevados.

Em 2012, na intervenção da troika em Chipre praticou-se o bail-in; isto é, procedeu-se ao confisco da parte acima dos € 100000 em todas as contas bancárias sediadas no país. Em Chipre, o procedimento teve maior extensão, foi mais “democrático” do que em Portugal onde só foram afetados depositantes de dois bancos; em Chipre, a irracionalidade decretada pela troika conduziu ao confisco dos depósitos da companhia de eletricidade acima daquele valor, que nada tinham de especulativo ou de poupança mas, fazendo parte do fundo de maneio de uma empresa, fornecedora de um serviço público a centenas de milhar de clientes.

6 – Recordamos o momento em que Carlos Costa, governador do BdP, na sua tomada de posse em junho de 2010, referia que “o sistema financeiro português está sólido”[9] . Um ano e meio antes, evidenciámos a fragilidade dos bancos portugueses, com dados que governo e Banco de Portugal conheceriam muito bem[10]. Os bancos, para manterem em crescimento a bolha imobiliária, depois de esgotarem as poupanças dos portugueses, ficaram dependentes do refinanciamento bancário no exterior, multiplicando-o internamente sob a forma de dívida, pública e privada. Com a crise grega, inserida nas réplicas do subprime, os bancos europeus pararam esse financiamento ao Estado e aos bancos portugueses a partir do final de 2010; e não havendo quem subscrevesse títulos de divida pública portuguesa, os bancos portugueses deixavam de ter garantias para entregar em troca de liquidez; e sem esta, como alimentar a bolha imobiliária e o resto da economia, tradicionalmente com parcos capitais próprios? Ou, como cumprir os reembolsos dos capitais já tomados no exterior de empréstimo, apenas com as prestações pagas por famílias e empresas atingidas pela recessão?

 

Só em 4 Abril de 2011 e perante os banqueiros que lhe vieram dizer não conseguirem refinanciamento no exterior, Carlos Costa exarou a sua fatwa, que desembocou na intervenção da troika; “O risco é afundarem-se os bancos, a parte sã, e a República que é a parte que criou o problema”. No plano de resgate, porém, é o Estado que assume o financiamento direto da “parte sã”, os bancos portugueses sem capacidade autónoma de financiamento, até um total de € 12000 M; e como é bem conhecido é a debilitada República, sustentada por trabalhadores, desempregados e reformados que vão trazendo ao colo os pouco saudáveis bancos.

 

Os casos do BPN, do BES e do Banif, vieram revelar a realidade da assunção de responsabilidades públicas perante falências bancárias, o que não acontece com empresas de setores não financeiros ou com indivíduos/famílias, em situação de incumprimento; aos quais nem o Estado, nem os bancos acodem que não na criação de despojos para a predação. Torna-se claro que o evidente caráter global do sistema financeiro torna-o uma verdadeira coqueluche, merecendo todos os cuidados e prioridades por parte de estados e burocracias pluriestatais. E as medidas tomadas não vão no sentido da sua orientação para a aplicação cuidadosa das poupanças nele colocadas mas, de o deixarem em rédea solta, com envolvimento nas pirâmides de Ponzi, na especulação, na criação de um endividamento dos estados, empresas e pessoas que vai muito para além das suas capacidades de solvência.

7 – Recentemente, as prodigiosas instituições da UE mostravam-se mais viradas para os bail-ins, mais ou menos mesclados, como se tem visto em Portugal, nos casos BES e Banif, entre perdas para acionistas e grandes depositantes, com a comparticipação nada entusiástica dos bancos existentes, solidários pela força das decisões de Bruxelas, tendo o erário público como participante de última instância.

Nestas circunstâncias e perante as incertezas da conjuntura ou a volatilidade dos mercados financeiros, essa probabilidade de intervenção não seduz capitais para o reforço do capital e dos meios disponíveis para o funcionamento dos bancos. Por outro lado, a crise que se vive nos últimos anos deixou nas contas dos bancos um lastro pesado de créditos malparados, incobráveis e imparidades (em regra contendo eventuais e desagradáveis surpresas); ou, dito de outro modo, ativos sobrevalorizados que, quando avaliados aos níveis atuais, muito mais baixos do que anos atrás, obrigarão a registar perdas.

Segundo a escolástica neoliberal, anos atrás, o Estado deve reduzir a sua presença na economia e não competir com os privados na captação de poupanças e rendimentos. Porém, quando esses capitais não se apresentam prontos para o investimento, os neoliberais esquecem-se do catecismo e mobilizam fundos públicos para a salvação de bancos, com custos elevados para as populações, em termos de rendimentos e de emprego. Mesmo com esse apoio, os ditos investidores e as grandes poupanças mostram-se cépticos e não acorrem aos bancos, fornecendo-lhes solidez financeira.

Daí resulta que as classes políticas – nacionais e comunitárias – se encontrem com um grande dilema;

·        Prosseguir o apoio público aos bancos em dificuldade significa aumentar os deficits públicos, incorrer em acréscimos de dívida e no olhar carrancudo da Comissão Europeia, do BCE, do Eurogrupo e em notas fracas atribuídas pelas empresas de rating.

·        Prosseguir ou agravar as medidas de austeridade agravando a recessão económica e o mal-estar social penaliza os gangs no poder em eleições próximas;

·        Os programas de privatização já foram quase cumpridos na íntegra e como fonte de receitas futuras não permitem grande coisa, excepto no capítulo da segurança social (constitui o grande alvo proposto pelo FMI e foi o objeto do derradeiro despacho de Vítor Gaspar antes de sair do governo[11]);

·        Penalizar os acionistas e detentores de dívida sobre os bancos desagrada a capitalistas e especuladores que procurarão outras paragens, prejudicando as contas externas, deteriorando os ratings e elevando as taxas de juro.

Esse dilema é o que também se observa hoje, em Itália mas numa escala bem superior. Os créditos de cobrança problemática são ali de uns € 360000 M, dos quais € 210000 M de difícil recuperação. Vários dos bancos em grandes apuros têm um caráter local, financiaram PME regionais entretanto em dificuldades, com o recurso a pequenas poupanças da população, cujos detentores sofreram já um primeiro momento de espoliação em finais de 2015. O governo italiano não quer incorrer nos custos económicos, sociais e políticos de um bail-in e pretende a intervenção do Estado para diluir para já, perdas bancárias da ordem dos € 70000 M, com o evidente impacto no deficit público.

 

Por seu turno, também o Deutsche Bank mantém uma situação que pode provocar um verdadeiro tsunami a nível global. Porém, Merkel não intervém porque não quer prejudicar os detentores de ações e obrigações do DB nem absorver o produto da limpeza do balanço do banco, através de um bail-out; dá tempo ao tempo e ninguém acredita que os sargentos de Bruxelas ou Frankfurt incomodem a generala, com o cumprimento das regras. Veja-se em seguida a dimensão dos ativos de risco do DB.

            Alemanha  PIB                       Zona euro  PIB                  Exposição a derivados DB

Em Espanha, em 2012, a limpeza e reestruturação do sistema bancário deu origem à constituição de um depósito de salvados, o SAREB que terá de comercializar até 2027 imobiliário e crédito malparado gerado pelo setor imobiliário e que em finais de 2015 estavam avaliados em € 42900 M. Empurra-se o problema para o futuro dentro da máxima de Keynes de que a longo prazo estamos todos mortos; ou da frase bem portuguesa “quem vier atrás que feche a porta”. Em Portugal, existe uma instituição semelhante – a Parvaloren – já referida atrás e que, provavelmente em breve, fará a CGD registar como incobrável o crédito concedido.

Recentemente, o primeiro-ministro António Costa defendeu o modelo SAREB uma vez que seria “útil para o país encontrar um veículo de resolução do crédito malparado, de forma a libertar o sistema financeiro de um ónus que dificulta uma participação mais ativa nas necessidades de financiamento das empresas portuguesas”[12]. Em sintonia com Costa, o outro Costa, governador do BdP, também defende a constituição de um “veículo de titularização de crédito hipotecário” que a troika não perfilhou ao contrário do que aconteceu em Espanha[13].

Costa, nesta matéria e no caso do Novo Banco coloca-se atrás de Mateo Renzi que tem um problema de toxicidade bancária muito maior e um peso político muito superior no seio dos burocratas de Bruxelas. Cremos que no âmbito do autoritarismo vigente nas instituições comunitárias, das desigualdades que separam Centro e periferias, Norte e Sul, pequenos e grandes estados, não será de estranhar que haja soluções da brilhante Comissão Europeia diferentes para Portugal e Itália.

 

Este e outros documentos em:

 

http://grazia-tanta.blogspot.com/

http://www.slideshare.net/durgarrai/documents 

https://pt.scribd.com/uploads

 

[1]  http://www.rtp.pt/noticias/pais/acordao-do-tribunal-europeu-de-justica-sobre-resgate-a-bancos_a934724

[2]  http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/alemanha_desenha_lei_que_permite_a_nacionalizaccedilatildeo_temporaacuteria_dos_bancos.html

http://expresso.sapo.pt/economia/alan-greenspan-defende-a-nacionalizacao-temporaria-dos-bancos=f498441

http://ionline.sapo.pt/427265

http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1041945-9356,00-KRUGMAN+BANCOS+SAO+ZUMBIS+NACIONALIZACAO+TEMPORARIA+E+NECESSARIA.html

http://www.publico.pt/economia/jornal/governo-britanico-nacionaliza-banco-northern-rock-249669

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/10/comissao-europeia-autoriza-nacionalizacao-de-dexia-pela-belgica.html

http://www.noticiasaominuto.com/economia/585104/associacao-portuguesa-de-bancos-quer-novo-banco-nacionalizado?utm_source=gekko&utm_medium=email&utm_campaign=economia

[3]  http://www.slideshare.net/durgarrai/nacionalizao-da-banca-piada-ou-mistificao

[4]  http://www.dn.pt/economia/interior/novos-rostos-do-bpn-americo-amorim-e-isabel-santos-2391738.html

[5]  http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/07/hecatombe-bes.html

[6] https://www.bportugal.pt/pt-PT/OBancoeoEurosistema/ComunicadoseNotasdeInformacao/Documents/ANEXO1-Delibera%C3%A7%C3%A3o%2011-o8-2014%20-%20Clarifica%C3%A7%C3%A3o%20do%20per%C3%ADmetro.pdf

[7] http://expresso.sapo.pt/economia/2016-01-22-Bruxelas-ordenou-venda-do-Banif-ao-Santander

[8] https://www.bportugal.pt/pt-PT/OBancoeoEurosistema/ComunicadoseNotasdeInformacao/Paginas/combp20151220.aspx

[9]  http://economico.sapo.pt/noticias/a-banca-portuguesa-esta-solida-mas-e-preciso-reforcar-a-supervisao_91563.html

[10]  http://www.slideshare.net/durgarrai/o-sistema-bancrio-portugus-bancos-com-pernas-de-barro

[11]  http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/07/seguranca-social-compra-titulos-da.html

[12] https://www.noticiasaominuto.com/mundo/570040/banco-mau-de-espanha-eliminou-15-da-carteira-imobiliaria-toxica

[13]  https://www.noticiasaominuto.com/economia/627076/sistema-bancario-portugues-tem-problema-de-rentabilidade

Publicada por grazia tanta à(s) 08:31

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BES já tem comissão liquidatária e credores têm 30 dias para reclamar

Domingo, Julho 24th, 2016

Citamos

Notícias ao Minuto

O Banco Espírito Santo (BES) já tem comissão liquidatária, composta por três elementos, dois dos quais já estavam no banco, e os credores têm agora 30 dias para reclamarem as suas dívidas.

A comissão liquidatária do BES conta com três administradores, dois dos quais já estavam no banco (César Brito e Miguel Alçada), a que se junta também Joana Martins, segundo os processos apresentados pelo Banco de Portugal ao portal da justiça, o Citius, e hoje publicados.

“O prazo para a reclamação de créditos foi fixado em 30 dias”, sendo que este prazo começa a contar a partir de hoje (o dia da publicação) e é contínuo e não suspenso durante as férias judiciais, o que significa que deverá terminar a 22 de agosto, a uma segunda-feira.

Os requerimentos de reclamação devem indicar, nomeadamente, a proveniência do crédito, a data de vencimento, o montante de capital e de juros, mas também a sua natureza comum, subordinada, privilegiada ou garantida e a existência de eventuais garantias pessoais.

Além disso, os credores “devem comunicar de imediato ao administrador da insolvência a existência de quaisquer garantias reais de que beneficiem”.

O processo de liquidação do BES inicia-se agora que o Banco de Portugal o requereu em tribunal. Neste processo, será feita a lista de credores pelos quais serão depois distribuídos os bens do banco, em função da hierarquia dos referidos credores.

O Banco de Portugal informou na semana passada que a licença bancária do BES foi revogada pelo BCE, entrando agora em liquidação.

Já se esperava que a revogação da licença para a atividade bancária do BES, a entidade que ficou com os chamados ‘ativos tóxicos’ do banco da família Espírito Santo, acontecesse até 03 de agosto, quando passam dois anos desde a resolução do banco.

Apesar de até agora o BES ainda ter licença, este já não podia realizar as atividades tradicionais de um banco, nomeadamente receber depósitos e conceder crédito.

O chamado ‘banco mau’ – o BES – fechou o ano de 2015 com prejuízos de 2,6 mil milhões de euros, sendo que a maior parte desses se deveu à decisão de dezembro passado do banco central de passar do Novo Banco para o BES cinco emissões de dívida não subordinada (sénior) no total de 2,2 mil milhões de euros.