Arquivo para Dezembro, 2016

Comunicado

Quarta-feira, Dezembro 28th, 2016

 

Os últimos desenvolvimentos da situação do BES/Novo Banco justificaram a iniciativa de propor uma providência cautelar visando, no essencial, evitar a venda do Novo Banco e arrestar os ativos que para ele tenham sido transferidos do Banco Espírito Santo  pelo Banco de Portugal.

Como permanece perene na nossa memória coletiva, o Banco de Portugal constituiu o Novo Banco S.A. e transferiu para ele os ativos mais importantes do Banco Espírito Santo S.A., comprometendo-se a liquidá-los, para dar cumprimento ao princípio de que os acionistas e os credores não poderão receber menos do que receberiam se a instituição resolvida fosse liquidada.

A lei é perentória no sentido de que compete exclusivamente ao Banco de Portugal a definição do conteúdo dos estatutos dos bancos de transição.

Constatou-se agora que o próprio Novo Banco S.A. procedeu, poucos dias depois da medida de resolução, à alteração dos seus estatutos, de forma a poder furtar-se à obrigação de alienar os ativos, passivos e elementos extrapatrimoniais a outra instituição bancária que esteja no mercado e, naturalmente, à obrigação de prestar contas do património que foi posto à sua disposição.

Estamos perante uma verdadeira vigarice, no sentido que a expressão tem no “Conto do Vigário” de Fernando Pessoa.

O capital de 4.900 milhões que o Estado enterrou no Novo Banco não serviu para comprar nada nem o desonera da obrigação de prestar contas relativamente aos ativos, passivos e elementos extrapatrimoniais que recebeu.

Sendo claro que não haverá contas para ninguém se o Novo Banco for vendido, tomamos a iniciativa de propor uma providência cautelar visando evitar essa venda e arrestar os ativos ainda existentes.

A providência foi instaurada em representação dos clientes que representamos nas ações pendentes no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, visando a anulação das medidas de resolução.

Porque – ao que parece – estamos a entrar numa era de mercantilização de direitos litigiosos, parece-nos prudente que se associem a este tipo de iniciativas todas as pessoas que sejam titulares de direitos.

Quem pretender verificar qual a situação do Novo Banco S.A. pode fazê-lo consultando a certidão permanente com o acesso 3314-3280-2741.

Aí verificará que há um conjunto de ações judiciais pendentes.

Não há solução que permita a venda “limpa” do Novo Banco S.A. sem negociação com os autores dessas ações.

Não poderíamos, por isso, deixar de propor esta providência cautelar.

 

Lisboa, 28 de dezembro de 2016-12-28

Miguel Reis & Associados – Sociedade de Advogados SP,RL

Bancos pagam mais ao Fundo de Resolução em 2017

Quarta-feira, Dezembro 28th, 2016

Citamos

Negócios

Apesar de o Fundo de Resolução nacional apenas financiar as resoluções do BES e do Banif, as instituições financeiras vão sentir um aumento da taxa que serve de base para o cálculo das contribuições.

Depois do aumento verificado em 2016, os bancos também vão ter de pagar mais para o Fundo de Resolução no próximo ano, segundo determinou o Banco de Portugal.

“A taxa base a vigorar em 2017 para a determinação das contribuições periódicas para o Fundo de Resolução é de 0,0291%”, indica a Instrução n.º 21/2016 do Banco de Portugal, publicada a 26 de Dezembro.

A mesma taxa que, em 2016, serviu de base para a determinação das contribuições periódicas para o Fundo de Resolução era de 0,02%. A subida verificada na taxa para o próximo ano representa um maior agravamento do que o verificado entre 2015 e 2016 (quando passou de 0,015% para 0,02%).

As contribuições vão para o Fundo de Resolução que, neste momento, financia os custos com a resolução do BES e do Banif. Como herança tem os 3,9 mil milhões de euros a pagar ao Estado e os 700 milhões a reembolsar à banca portuguesa, os dois créditos que financiaram a capitalização do Novo Banco e que poderão ser abatidos até 2046. A extensão do prazo dos empréstimos, já acordada, não será alheia ao aumento da taxa que define as contribuições dos bancos.

Além das responsabilidades com o banco que herdou os activos do BES, o Fundo de Resolução também tem por pagar 353 milhões de euros dos 489 milhões usados na resolução do Banif.

A taxa que define as contribuições é aplicada sobre o valor médio dos saldos mensais do passivo dos bancos (sem integrar aqui os capitais próprios e os depósitos garantidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos).

A taxa foi determinada pelo Banco de Portugal depois de ouvir a comissão directiva do Fundo de Resolução (que integra o vice-governador José Berberan Ramalho – na foto – e dois representantes do Ministério das Finanças) e a Associação Portuguesa de Bancos (APB).

Além das contribuições periódicas, agora definidas por instrução do regulador da banca, este fundo também conta com as receitas da contribuição especial sobre o sector bancário, que entram no Orçamento do Estado e são transferidas para aquele mecanismo.

Contudo, os bancos nacionais também têm de contribuir para o Fundo Único de Resolução, constituído no início deste ano e cujos recursos resultam também de pagamentos feitos pelas instituições de outros países da Zona Euro.

Minsheng já era, Apollo nunca foi, sobra o Lone Star

Terça-feira, Dezembro 27th, 2016

Citamos

Eco

O Novo Banco está à venda, e será mesmo vendido? Na última semana do ano, o fundo Lone Star passou a ser o principal candidato, mas exige uma garantia pública para comprar o Novo Banco.

O fim do ano está aí à porta e a venda do Novo Banco ainda não está fechada. Já ninguém acredita na capacidade do China Minsheng de apresentar uma prova de fundos financeiros, o Apollo ainda não assinou sequer um acordo de compra e, agora, sobra o fundo americano Lone Star, a última oportunidade para a venda do banco. Só que, nas condições apresentadas, o negócio tem implícita uma garantia bancária pública, leia-se, um risco para os contribuintes. Outra vez.

A decisão final será de António Costa, por proposta do Banco de Portugal, e terá em conta as implicações financeiras e, claro, as políticas. Quando o primeiro-ministro decidiu, há um ano, a intervenção do Estado no Banif e a ‘venda’ ao Santander, comunicou ao país que seria a última vez a recorrer a dinheiro dos contribuintes.

Pois, agora, salvo alguma alteração de última hora, a oferta da Lone Star pelo Novo Banco, incluindo o chamado ‘side bank’ que valerá cerca de oito mil milhões de euros, é a melhor. Garante receita imediata ao Fundo de Resolução e um aumento de capital. E garantirá, até, que os dividendos que vierem a ser gerados pelo Novo Banco sejam, em primeiro lugar, para o Fundo de Resolução. Porquê tanta generosidade? Porque o fundo Lone Star quer uma garantia do Fundo de Resolução para o ‘side bank’ e uma contra-garantia do Estado.

O Novo Banco, recorde-se, é um banco de transição, que resultou da resolução do BES e, à data da sua criação, recebeu 4,9 mil milhões de euros de capital do Fundo de Resolução que, por sua vez, pediu 3,9 mil milhões emprestados ao Estado para o fazer.

O China Minsheng admitia realizar um aumento de capital em duas fases, a primeira de 600 milhões de euros e a segunda de 150 milhões. Mas uns dias depois da assinatura do acordo de compra, precisamente há um mês, a China levantou restrições à saida de dinheiro e o China Minsheng, com sede em Hong-Kong, terá ficado sem capacidade para assegurar a prova dos fundos necessários à operação. Pediu mais tempo, mas não terá conseguido desbloquear a situação.

O fundo Lone Star, por seu lado, está disponível para pagar ao Fundo de Resolução e realizar um aumento de capital. Que, segundo informações divulgadas pelo JdN e não confirmadas, ascendem a duas operações autónomas de 750 milhões de euros cada.

A justificação oficiosa para o Lone Star exgir uma garantia pública é a de que, desde forma, as necessidades de capital do Novo Banco serão menos pesadas, e portanto, a exigirem um aumento de capital mais limitado. Na terminologia financeira, esta garantia é conhecida por Asset Protection Scheme e, na realidade, é uma garantia que permite transferir o risco dos privados para os contribuintes, sob determinadas circunstâncias.

Há, claro, um problema político ‘enorme’ nas mãos de Costa: como é que vai explicar que vende o Novo Banco e, ao mesmo tempo, tem de dar uma garantia pública sob um ativo que, se vier a ser executada, terá reflexos no défice público e no dinheiro dos contribuintes, outra vez?

O Banco de Portugal e a equipa de Sérgio Monteiro ainda mantêm a intenção de fechar o dossiê do Novo Banco esta semana, em 2016, e formularem uma proposta formal ao governo no calendário definido. A decisão final, essa, deverá resvalar para 2017, e ninguém dá uma opção por fechada. Até a não-venda.

É certo que o Lone Star estará disposto a distribuir os dividendos futuros do Novo Banco pelo Fundo de Resolução, para ‘abater’ à garantia que vier a ser prestada. Se houver lugar a lucros, claro. Mesmo assim, com a necessidade de uma contra-garantia do Estado (leia-se dinheiro dos contribuintes), mesmo um potencial negócio positivo terá, primeiro, de passar o crivo político. Em primeiro lugar, junto da Geringonça, isto é, do PCP e BE. Depois da tensão política por causa do acordo de concertação, o tema é no mínimo sensível.

A questão é sempre a alternativa: o que o Banco de Portugal e a equipa de Sérgio Monteiro vão esforçar-se por explicar ao governo é que, se o China Minsheng falhar mesmo a prova de fundos, coisa que já é dada por quase certa, este negócio com o Lone Star é melhor do que aquele que falhou em 2015 quando houve a primeira tentativa de venda do Novo Banco.

E há outra razão: qual é a alternativa a esta venda? Bruxelas já decidiu que em agosto de 2017, o Novo Banco terá de ser vendido, sob pena de ser intervencionado, leia-se através de uma liquidação, e posterior venda dos melhores ativos pelos bancos do sistema. Esta data foi, aliás, assumida publicamente por Mário Centeno. A nacionalização, se permitida por Bruxelas, também tem custos para o contribuinte. Ainda não identificados.

António Costa tem, neste contexto, um calendário de decisão apertado. Além disso, comprometeu-se a fechar em 2016 os problemas do setor financeiro, coisa que não vai suceder. O plano de recapitalização da CGD está negociado com Bruxelas, mas ainda à espera de aprovação final, o banco público ainda não tem uma administração em funções, a venda do Novo Banco está em risco e o ‘famoso’ veículo para o crédito mal-parado parece ter caído… pelo menos na urgência que se previa no discurso público do primeiro-ministro.

Marcelo admite que solução para lesados do BES tenha “pequeno custo” para os contribuintes

Sábado, Dezembro 24th, 2016

Citamos

Diário de Notícias

Presidente considerou que a solução encontrada não é ideal, mas elogiou ser “um compromisso do Governo que é cumprido”

O Presidente da República afirmou esta sexta-feira que a solução para os lesados do Banco Espírito Santo (BES), embora seja “um veículo privado”, fora da esfera do Estado, pode implicar, a prazo, “algum pequeno custo” para os contribuintes.

Em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a solução apresentada não é “a solução ideal”, mas “diminui a situação de sofrimento e de penosidade” dos lesados do BES, e representa “um compromisso do Governo que é cumprido”.

Quanto a um eventual impacto no défice, o chefe de Estado disse que, “para já, sendo um veículo privado, não se coloca o problema de ir ao défice deste ano ou do próximo ano”.

Mais a prazo, “se houver custo para os contribuintes”, no seu entender, “como é uma realidade extraordinária, pode não ser considerada pela Comissão Europeia para efeitos de défice excessivo”.

“É um compromisso do Governo que é cumprido. Por outro lado, não sendo uma solução ideal, e deixando às pessoas a hipótese de ir para tribunal, se quiserem, é para muitos uma forma de não esperar por processos que não se sabe quando terminarão”.

“Portanto, não sendo a solução ideal, é uma solução que diminui a situação de sofrimento e de penosidade em que se encontram”, reforçou.

Quanto “à grande preocupação, legítima, que é a de saber se poderá sair do bolso dos contribuintes”, Marcelo Rebelo de Sousa disse que “a solução encontrada é um veículo privado, portanto, que não entra na esfera do Estado, e que vai tentar gerir aquela realidade patrimonial”.

“No fim dessa gestão, que está prevista para três anos, salvo erro, se verá se há uma diferença negativa, sim ou não. Se houver uma diferença negativa, isso pode significar algum pequeno custo – esperemos que pequeno – em termos de contribuintes. Se não houver diferença negativa, não haverá custo para os contribuintes”, prosseguiu.

“Veremos como é que a gestão vai ocorrer”, concluiu.

Nestas declarações no Palácio de Belém, antes de responder a questões dos jornalistas, o Presidente da República voltou a desejar um bom Natal “a todos os portugueses, àqueles que vivem cá dentro, aos que vivem lá fora, àqueles que estão em missão militar”, e também um bom ano de 2017.

Contente com acordo para salário mínimo

O Presidente da República manifestou-se ainda contente pelo acordo alcançado para o aumento do salário mínimo nacional, defendendo que tinha de haver uma compensação aos empresários, com a descida da TSU, consubstanciando um “sinal de paz social”.

“Não penso que isso vá ter consequências em termos de paz social. Pelo contrário, um acordo destes é um sinal de paz social. A paz social faz-se com os trabalhadores, faz-se também com os empresários”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, no Palácio de Belém.

Para o Chefe de Estado, o acordo atingido em concertação social “é positivo porque, por um lado, há um aumento do salário mínimo para aquilo que o Governo tinha prometido, por outro lado, há uma compensação aos empregadores”.

“Temos de pensar nos milhares e milhares de pequenos e médios empregadores, empresários por esse país fora, que teriam com a subida do salário mínimo problemas complicados em termos da gestão das suas empresas”, declarou.

O Presidente disse ter ficado “contente com o facto de ter havido o acordo de ontem [quinta-feira]”, sublinhando ter apelado “várias vezes para um acordo”.

O Governo e os parceiros sociais chegaram na quinta-feira a um acordo de princípio de médio prazo, em sede de Concertação Social, sem a CGTP, e que contempla, no imediato, a atualização do salário mínimo nacional (SMN) para os 557 euros, a partir de 01 de janeiro, a par da redução da TSU em 1,25 pontos percentuais para os empregadores.

Atualmente, o salário mínimo nacional é de 530 euros, devendo chegar aos 557 euros, em 2017, e aos 580 euros, em 2018, antes de chegar aos 600 euros, em 2019, conforme o compromisso assumido pelo Governo. 

Caso BES: Luís Rosa, director do i, fala da cedência do Banco de Portugal a Ricardo Salgado

Sábado, Dezembro 24th, 2016

Citamos RTP

Lesados BES. Quase 90% dos clientes investiram até 300 mil euros

Sexta-feira, Dezembro 23rd, 2016

Citamos

Sol

Solução acordada foi a pensar na grande maioria dos lesados que apesar de perderem parte do investimento são menos penalizados. Mas dentro deste grupo há quem tenha investido seis milhões

lesados do BES com investimentos até 500 mil euros – e que de acordo com a solução acordada com o grupo de trabalho poderão recuperar 75% do investimento com um teto máximo de 250 mil euros por aplicação – representam 95,1% do total dos 2100 investidores abrangidos por esta solução, apurou o i.

No entanto, a grande fasquia dos investidores aplicou até 300 mil euros, concentrando 87,7% do total e foi a pensar neste grupo que foi sugerido este acordo, uma vez que, as perdas serão menores, já que conseguem recuperar 75% do montante investido e não ultrapassam o limite máximo de 250 mil euros.

O i sabe que serão estes dois grupos a aceitar mais facilmente o acordo, principalmente quando está em cima da mesa a hipótese os lesados poderem vir a deduzir em sede de imposto as perdas que irão sofrer.  “A presente solução poderá ainda eventualmente ser complementada por propostas comerciais a obter junto dos bancos, bem como pela possibilidade, que se encontra em análise, da dedução fiscal das perdas sofridas até ao montante do capital investido”, diz o acordo.

E se isso acontecer, o acordo facilmente será aprovado, uma vez que precisa de ser aceite por 50% dos lesados. No entanto, para isso renunciam “expressamente a todos os direitos, reclamações e processos contra o Novo Banco, o BEST, o Banco Espírito Santo dos Açores, o Banco de Portugal, a CMVM, o Fundo de Resolução, os futuros acionistas do Novo Banco, o Estado e quaisquer organismos públicos”, salienta o acordo.

Minoria

Neste grupo existe um investidor que aplicou seis milhões de euros e, neste caso, a solução mais provável é não aceitar a solução que foi proposta e avançar pela via judicial. Além da hipótese de vir a recuperar o seu investimento na totalidade ainda poderá recuperar os juros que vão sendo vencidos enquanto o processo se arrasta nas barras do tribunal. Caso contrário, ao aceitar a solução proposta teria de  abdicar de 50% do seu investimento e, como tal, só iria receber três milhões de euros.

Mas este não é um caso isolado. É possível encontrar neste grupo lesados investidores que aplicaram dois, três, quatro e quase cinco milhões nestes produtos financeiros. O que é certo é que representam uma minoria. Ou seja, são oito no total de 2100 clientes.

Se por um lado, quem aceitar a solução poderá receber a primeira tranche – referente a 30% do total investido – a partir de maio do próximo ano, quem rejeitar o acordo terá de esperar por uma resposta da justiça.

Feitas as contas, se todos aderirem à solução, o fundo a criar que irá recorrer à banca com garantia do Estado, tal como foi avançado ontem pelo i, precisaria de 286 milhões de euros para fazer os reembolsos. Ainda assim, um valor bem inferior ao total de créditos de 485 milhões de euros. Ou seja, este “perdão” por parte dos lesados permite poupar 199 milhões de euros.

Emigrantes falam em abandono

Mas enquanto os lesados do papel comercial do GES do continente e Açores ainda estão a analisar o acordo, a associação dos emigrantes lesados pelo BES diz que estes se sentem “abandonados”, esperando que também se encontre uma resolução para o seu caso. “Tem havido reuniões que nos levam a crer que há vontade de encontrar uma solução, sobretudo da parte do governo”, disse a vice-presidente da Associação Movimento Emigrantes Lesados Portugueses (AMEL), Helena Batista, referindo que os encontros têm acontecido com o advogado Diogo Lacerda Machado, mediador pelo lado do governo, e também com representantes do Banco de Portugal e da Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM). Já o Novo Banco continua a recusar-se a participar nos encontros, disse.

Helena Batista espera que saia das negociações uma solução viável, que seja favorável aos emigrantes tal como a dos lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), mas afirmou que para já não há qualquer indicação de que surja em breve um mecanismo que permita compensar as cerca de 2.000 famílias que não aceitaram a solução comercial proposta pelo Novo Banco ou que não receberam qualquer solução (devido à natureza dos produtos em que investiram).

“Faço um apelo ao governo e ao Presidente da República para que se lembrem dos emigrantes”, pediu a vice-presidente da AMELP, acrescentando que estão já a pensar em novas ações de luta, sendo que continuam a distribuir panfletos para que os portugueses que estão no estrangeiro não mandem mais remessas para os bancos em Portugal.

Recorde-se que, após a resolução do BES, cerca de oito mil clientes emigrantes do banco reclamaram um total de 728 milhões de euros, acusando a instituição financeira de ter aplicado o dinheiro em produtos arriscados sem o seu consentimento.

Para tentar minimizar as perdas, o Novo Banco propôs a este grupo uma solução comercial, que teve a aceitação de cerca de seis mil clientes (80% do total) que tinham 500 milhões de euros em produtos de poupança.

No entanto, houve dois mil clientes que não aceitaram a solução por considerarem que não era justa e não se adequava ao seu perfil, sendo que o Novo Banco também não fez qualquer proposta aos clientes dos produtos EG Premium e Euro Aforro10, argumentando que não era possível devido ao tipo de instrumentos financeiros abrangidos por estes produtos, sendo assim a única alternativa a reclamação do dinheiro em tribunal.

CMVM está a calcular quanto receberá cada lesado

Sexta-feira, Dezembro 23rd, 2016

Citamos

Público

“Paternidade” da solução começa a ser discutida a 5 de Janeiro.

Na próxima semana, possivelmente na terça ou na quarta-feira, será divulgada informação sobre o que cada cliente receberá nas diferentes fases de pagamento acordadas no grupo de trabalho,  que integra o Governo, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o Banco de Portugal (BdP), a associação dos lesados e o “BES mau”. Essa informação, elaborada pela CMVM, será divulgada no site da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC). Possivelmente também será divulgado o estudo da Universidade Católica sobre o impacto da solução encontrado no défice público.

Maioria dos emigrantes lesados já começou a recuperar dinheiro aplicado no BES

Sexta-feira, Dezembro 23rd, 2016

Citamos

Público

Clientes que investiram no Euro Aforro 10 e o EG Premium ainda não têm garantias de recuperação do capital.

O BES, através das sucursais no estrangeiro, comercializou cinco produtos financeiros, como sendo de capital garantido, junto de milhares de emigrantes portugueses. Três desses produtos, o Poupança Plus, o Top Renda e o Euro Aforro, geridos sob a forma de veículos de investimento autónomos, aplicaram o dinheiro dos clientes em dívida sénior (obrigações) do BES.

Apesar dos apelos da associação criada, o Movimento dos Emigrantes Lesados, que defendia o recurso aos tribunais para garantir o pagamento imediato da totalidade dos montantes, a proposta foi aceite por 80% dos emigrantes. A forte adesão permitiu ao Novo Banco avançar com a liquidação dos três veículos e, no início do corrente, já foi disponibilizada a primeira tranche acordada.

Entretanto, os perto de dois mil emigrantes que não aceitaram a proposta têm realizado vários apelos ao Governo e até ao Presidente da República, quando esteve em Paris, nas comemorações do 10 de Junho, para que “forcem” o Novo Banco a negociar uma nova proposta. O representante do Governo no grupo de trabalho dos lesados do papel comercial do BES, Diogo Lacerda Machado, também tem este dossier em mãos, mas ainda não existe a garantia de uma solução.

Para os restantes dois produtos – o Euro Aforro 10 e o EG Premium – subscritos por algumas centenas de clientes, num montante que ascende a 80 milhões de euros, o banco agora liderada por António Ramalho ainda se encontra a analisar uma eventual solução. Um dos veículos terá investido o dinheiro dos clientes em dívida do Grupo Espírito Santo (GES), o que levanta dúvidas sobre o seu pagamento por parte do Novo Banco. O outro veículo terá investido em dívida do GES e em dívida sénior do BES (como acontece com os outros três produtos incluídos no acordo conseguido), estando aberta a possibilidade de ser parcialmente assumido pelo Novo Banco.

Governo aconselhado a assumir conta dos lesados do BES no défice

Sexta-feira, Dezembro 23rd, 2016

Citamos

Público

Responsável pelo estudo pedido pelo Governo diz que são poucas as hipóteses de a solução não contar para as contas do Estado. Riscos aumentam se o veículo a criar não ficar na dependência da CMVM ou do BdP.

Se o veículo a criar não ficar na dependência da CMVM ou do BdP, aumentam riscos para o Estado. Apesar das garantias de António Costa, directa ou indirectamente a factura dos lesados do BES chegará aos contribuintes. O estudo da Universidade Católica sobre o impacto da medida conclui que muito dificilmente a solução encontrada não vai ao défice e, ainda, que seria mais “prudente” o Governo assumir esse impacto à partida.

Mesmo assim, assinala uma vantagem neste modelo encontrado pelo grupo de trabalho: “Se a alternativa fosse deixar correr os processos em tribunal, “todos os valores que o Estado viesse a ser obrigado a pagar iam ao défice”, refere o coordenador do estudo.

Ricardo Reis explica que o estudo realizado teve como pressuposto a criação de um veículo, que assumirá os créditos dos lesados, contraindo uma dívida bancária para pagar aos clientes, “com uma garantia do Estado (de que a dívida seria paga) e essa garantia teria uma contragarantia do Fundo de Resolução [seria o último responsável pela dívida de 286 milhões de pagar aos clientes], que protegeria os contribuintes”. E a conclusão foi a de que, “se o veículo estiver no perímetro de consolidação do Estado (e definimos um conjunto de condições para estar), então logo que contrai a dívida ficará no défice. Se o veículo estiver fora do perímetro de consolidação do Estado então a garantia podia ficar fora do défice”. Mas ainda assim, salienta o responsável da Católica, “se o Eurostat entender que a garantia tem uma grande probabilidade de ser accionada, então pode discricionariamente determinar que se trata mais uma promessa de pagamento do que uma garantia e determinar a sua entrada em défice”. E há um precedente nesta matéria, em que o Eurostat obrigou à inclusão no défice (em 2011) do risco assumido pelo Estado em relação às auto-estradas sem portagens, conhecidas por Scuts.

Risco acrescido se não for a défice

Na prática, a solução só anularia o impacto no défice se o veículo a criar conseguisse recuperar mais do que os empréstimos à banca para pagar aos lesados, e as despesas de funcionamento, o que está longe de estar garantido, dada a quantidade e complexidade dos processos em curso nos tribunais, avançados por clientes particulares e por grandes investidores institucionais.

Ao contrário do pessimismo que está subjacente à solução encontrada ­– se existissem fundadas garantidas de cobrança dos créditos não seria necessário antecipar o valor e envolver o Estado – António Costa continua a defender que não serão os cofres públicos a pagar o que que não vier a ser recuperado. “A probabilidade de ser accionada a garantia é uma probabilidade diminuta e, por isso, o risco diminuto de que alguma vez isso possa vir a ser suportado pelos cofres públicos”, afirmou o primeiro-ministro na Assembleia esta quinta-feira, considerando que essa responsabilidade será do Fundo de Resolução, ou seja, dos bancos.

O Fundo de Resolução está na esfera do Estado e está a ser financiado através de um “imposto” cobrado aos bancos, incluindo à pública Caixa Geral de Depósitos. E as perdas a suportar pelo Fundo do Fundo podem ser elevadas, uma vez que a venda do Novo Banco pode não cobrir o montante injectado na resolução do BES, a que acrescerão outras responsabilidades decorrentes dos processos judiciais em curso, e não se sabe quem pagará essa factura. Os bancos foram arrastados à força para o Fundo de Resolução e o próprio Banco Central Europeu pode ter uma palavra a dizer sobre mais esse encargo (a contragarantia).

O impacto apenas em défice (e não à dívida) não implica custos directos para os contribuintes, mas vai condicionar a gestão das contas públicas, o que não deixa de prejudicar os contribuintes.

O risco de tentar encontrar soluções que “escondam” o impacto no défice e na dívida por incorporar mais risco. Ou seja, se o veículo a criar não ficar na dependência da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) ou do Banco de Portugal (BdP), como tudo indica que ficará, o Estado perde o controlo sobre a recuperação dos créditos dos clientes e o risco em que incorre é maior. Por outro lado, se o Estado prestar uma garantia a uma entidade privada é imediatamente considerada ajuda de Estado e o Eurostat não deixará passar. O PÚBLICO apurou que o veículo ou fundo será criado na esfera de uma das duas entidades que estão na esfera do Estado e que está excluída a possibilidade de ficar na dependência do Fundo de Resolução.

O papel comercial foi emitido pelas empresas do Grupo Espírito Santo (ESI e Rioforte) e vendido pelo BES. No âmbito do acordo alcançado os cerca de dois mil clientes recuperarão 75% do capital investido com um máximo de 250.000 euros para as aplicações até 500.000 euros e de 50% para as aplicações acima deste valor. Depois de dois anos de negociações,  dos perto de 500 milhões de euros serão pagos 286 milhões.

 

Minsheng propõe aplicar dinheiro no Novo Banco em duas tranches

Sexta-feira, Dezembro 23rd, 2016

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Público

Responsáveis do China Minsheng estiveram esta semana no Banco de Portugal para encontrar uma solução com o apoio da Haitong e que ajude a ultrapassar os obstáculos à saida de fundos da China para pagar o Novo Banco

Os dirigentes do China Minsheng têm estado em Lisboa a negociar com as autoridades nacionais a apresentação em duas tranches da garantia bancária exigida pelo Banco de Portugal e que é uma condição de aquisição do controlo do Novo Banco. Esta garantia serve como prova de que o grupo asiático dispõe de fundos para pagar o investimento associado à operação.

Foi neste contexto que, nos últimos dias, o China Minsheng manteve conversações com o Haitong Bank (ex-BESI) no sentido do banco de investimento poder avançar com um empréstimo ponte. Uma informação que o Haitong Bank não quis comentar ao PÚBLICO por estar em causa uma relação com um cliente. Mas fontes do sector financeiro explicaram que a instituição, liderada desde este mês por Hiroki Miyazato, solicitou tempo para responder ao pedido de apoio do China Minsheng, podendo a resposta chegar ainda este mês.

Uma das condições do “concurso” de venda do Novo Banco é a de que o futuro dono apresente junto do BdP, a autoridade de resolução, uma declaração legal de que tem os meios financeiros para financiar a sua proposta (que envolve uma injecção de 750 milhões de euros de capital no Novo Banco, que dará o controlo de 50% das acções). Uma vez que a China está a impor restrições às saídas de capital do país, o China Minsheng não tem conseguido cumprir o requisito. E para ganhar fôlego pediu para poder “pagar” ao Fundo de Resolução em duas fases, o que depende da disponibilidade do Haitong Bank em facultar a primeira tranche.

Foi neste contexto que esta semana aceleraram as movimentações que trouxeram a Portugal  dirigentes do Minsheng que em Lisboa mantiveram contactos ao mais alto nível. O Novo Banco pertence ao Fundo de Resolução, que em Agosto de 2014 injectou 4.900 milhões na instituição, 3.900 milhões com empréstimo estatal. E cabe ao Governo a última palavra, mediante consulta ao BCE.

Após ter falhado a primeira tentativa de alienação, por ausência de ofertas firmes, o BdP delegou em Sérgio Monteiro a tarefa de colocar no mercado pela segunda vez a instituição liderada por António Ramalho.

O ex-secretário de Estado de Pedro Passos Coelho tem pela frente duas propostas vinculativas: a da China Minsheng e a do fundo norte-americano Lone Star. As duas que o Fundo de Resolução, onde o Governo se faz representar, considerou serem as mais interessantes. Note-se que a oferta da Apollo foi considerada quase inaceitável e o BCP e o BPI não avançaram.

americano lida com obstáculos, apesar do seu envelope financeiro ser o mais convidativo, na medida em que o valor inscrito é mais elevado e a verba é paga à cabeça. Mas só o é aparentemente. Para reduzir a incerteza de um eventual “buraco” a cobrir futuramente, o Lone Star exige uma protecção: uma contragarantia pública sobre cerca de 2.000 a 2.500 milhões de euros da carteira de 8.000 milhões que está destinada a ser vendida. Ou seja: se esta condição for aceite, e a confirmar-se uma desvalorização, os contribuintes teriam de devolver o diferencial ao fundo norte-americano.

O Banco de Portugal tem vindo a ajustar a agenda da operação de venda do Novo Banco em função das necessidades dos concorrentes e das barreiras que vão enfrentando. Dificuldades que podem atrasar ou, mesmo dificultar, o fecho do dossier que as autconcluído na próxima semana.