Arquivo para Abril, 2017

Lesados da PT têm até 14 de Junho para interpor acções contra bancos

Sexta-feira, Abril 28th, 2017

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Negócios

Cerca de 90 obrigacionistas da PT Finance vão avançar com acções contra os bancos que venderam o produto financeiro, segundo a Candeias & Associados. NB, Best, Deutsche Bank, CGD e Bankinter são alguns dos visados.

Pelo menos cerca de 90 obrigacionistas da PTIF, veículo que detém a dívida da antiga PT, vão avançar com acções judiciais contra os bancos que intermediaram a venda dos produtos financeiros em causa. E os lesados da PT que queriam seguir o mesmo caminho têm até 14 de Junho para avançar com os processos, explicou ao Negócios Ricardo Marques Candeias, advogado da Candeias & Associados.

“Actualmente temos cerca de 90 clientes com instruções para avançar com acções contra bancos] que representam cerca de 6 milhões de euros”, adiantou. Mas “até ao final do prazo contamos interpor 160 acções judiciais”.

Novo Banco, Best, Deutsche Bank, CGD, Bankinter, BPI, Santander e Millennium BCP são alguns dos visados. No caso dos dois últimos bancos, o número de acções detidas são “muito poucas”, detalha o advogado da Candeias & Associados, que representa mais de uma centena de obrigacionistas da Oi/PT, com créditos de cerca de 14 milhões de euros.

Ricardo Marques Candeias explica que “por regra”, o investimento realizado pelos “lesados da PT” “resultou de informações que lhes foram prestadas pelo respectivo gestor de conta. Estes afirmavam ou que não existia risco, ou que o capital era garantido, ou que o produto era PT (quando tinha sido emitido pelo Deutsche Bank ou pela ESI) ou outras afirmações semelhantes ou todas em simultâneo”.

“Se estas informações foram essenciais ao lesado para a subscrição do produto, então o prazo para interpor a acção judicial contra o banco que o comercializou termina no dia 14 de Junho de 2017. Isto se o lesado quiser utilizar este argumento jurídico para recuperar o seu investimento”, sublinha o advogado.

No entanto, o responsável refere que “este prazo limite é genérico. Na verdade, como o pedido de recuperação judicial da Oi ocorreu no dia 20 de Junho de 2016 e, por hipótese, admitindo que com essa informação (que foi tornada pública) o lesado consideraria como possível que as suas obrigações correriam o risco de não ser reembolsadas, então seria nessa altura que tomaria conhecimento que as informações que lhe foram prestadas não seriam correctas”, ou seja, “que comprou um produto que não tinha as características de que foi informado”, refere Ricardo Marques Candeias.

E acrescenta que “naturalmente que se pode admitir uma outra data além de 20 de Junho como a do conhecimento. Tudo dependerá do caso concreto. No entanto, à cautela, deve ser usada a data de 14 de Junho como a data de referência (os 5 dias restantes são para a citação do Réu)”, detalha o advogado.

Governo leva a Bruxelas privados para discutir “banco mau”

Sexta-feira, Abril 28th, 2017

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Público

O Novo Banco, a CGD, o BCP e o Montepio têm em carteira 85% dos activos sem rentabilidade que estão a contaminar as contas do sistema.

O Governo levou recentemente a Bruxelas o consórcio privado chefiado por António Esteves, o ex-partner do Goldman Sachs, para, em conjunto, avaliarem com as autoridades uma solução privada e pública que possibilite resolver o tema do crédito malparado sem ser considerado auxilio estatal. Seguiu-se uma ronda de conversas informais com os principais grupos portugueses com balanços carregados de activos sem rentabilidade. 

Depois de, no início de 2016, o primeiro-ministro António Costa ter avançado com o final de Dezembro daquele ano como a data expectável para anunciar um pacote legislativo para resolver o problema do crédito malparado que está a contaminar o sistema, o processo continua a marcar passo. E é crítico para um sector que tem em carteira em torno de 30 mil milhões de euros de activos tóxicos, cerca de metade já provisionados. Mas aproximadamente 15 mil milhões são empréstimos em moratória, ou seja, cujo reembolso ou pagamento de juros decorre fora dos prazos, estando em dívida a mais de 90 dias – são os designados non performing loans  (NPL, na sigla em inglês). Tem sido referido que a CGD, o BCP, o Novo Banco e o Montepio contabilizam 85% dos 15 mil milhões de euros destacados como NPL.

E foi neste contexto de pressão e de constrangimentos que decorreu, a meio do primeiro trimestre de 2017, o encontro em Bruxelas, que juntou na Direcção-Geral da Concorrência da União Europeia (DGComp) representantes do Governo e do grupo privado encabeçado por António Esteves, que integra fundos de private equity anglo-saxónicos (como, por exemplo, o TPG).

O PÚBLICO apurou junto de fonte governamental não oficial que o Ministério das Finanças se fez representar por técnicos, um deles Rodrigo Castro e Nunes, que o ministro Mário Centeno nomeou adjunto do seu gabinete, por despacho de 13 de Março, com efeitos a partir um de Fevereiro de 2017. Castro Nunes era desde 2009 o director adjunto do Departamento de Tesouraria e Financeiro do BES (agora Novo Banco), para onde entrou em 2000.

Por seu turno, viajaram com António Esteves, Jorge Marrão, da consultora Deloitte, Miguel Mendes Pereira e Paula Gomes Freire, os dois últimos advogados na sociedade Vieira de Almeida (VdA), e que apoiam o consórcio internacional. Na reunião, participaram ainda dois técnicos da Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia (REPER), o braço do MNE na UE.

 A 25 de Janeiro deste ano, em entrevista ao PÚBLICO, António Esteves garantia que tinha 15 mil milhões de euros disponíveis para “limpar” o sistema financeiro de activos que não oferecem qualquer tipo de remuneração e impõem aos bancos uma estrutura pesada e onerosa para gerir. Verba que seria ainda para investir em contingências ligadas ao que é considerado risco país (obrigações com garantia estatal). O ex-banqueiro do Goldman Sachs assegurou então que o seu projecto era “totalmente” privado e não era susceptível de colocar problemas na DGComp por não configurar um auxílio do Estado.

Fontes da banca confirmaram ao PÚBLICO que, na sequência da ida a Bruxelas, as autoridades promoveram conversas com as instituição financeiras mais importantes, e as mesmas fontes admitem que o Novo Banco, a CGD, o BCP e o Montepio terão revelado interesse em aderir a uma solução que, pela sua complexidade, poderá ter duas componentes, uma privada e outra pública. Ainda assim, sublinharam que só depois de conhecerem os detalhes é que se pronunciarão. E resta saber “se existe vontade politica”, reforçaram.

Os valores conhecidos, referentes ao início do ano, indicavam que, em NPL, em números aproximados, as contas do Novo Banco contabilizavam 4250 milhões, as da CGD quatro mil milhões, as do BCP 3250 milhões e as do Montepio dois mil milhões. Mas a compra do crédito malparado com forte desvalorização, como é a prática de entidades de private equity, acaba a carregar os prejuízos das instituições vendedoras e a acentuar o buraco que terá de ser tapado com mais capital. Ainda assim, à medida que o tempo passa, e a situação económica do país melhora, as dificuldades tendem a aliviar.

O PÚBLICO soube ainda que o BPI e o Santander terão dado sinais de que não pretendem levantar obstáculos a um mecanismo político que possa beneficiar os concorrentes, mas não é previsível que o seu envolvimento seja grande, desde logo por, ao contrário do BCP, da CGD, do Novo Banco e do Montepio, não terem uma questão urgente para resolver.

Depois da recapitalização da CGD, da venda do Novo Banco só faltará ao Governo fechar o tema dos NPL.

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Já há cinco processos contra venda do Novo Banco

Quarta-feira, Abril 26th, 2017

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Negócios

Uma seguradora com sede em Espanha, entidades ligadas às Ilhas Caimão e fundos da BlackRock estão entre os autores de processos cautelares contra o Banco de Portugal e o Fundo de Resolução.

Desde que a Lone Star foi anunciada como vencedora do processo de venda do Novo Banco, deram entrada no Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa cinco processos que visam contestar a transacção, feita a custo zero.

 

A BlackRock é um dos nomes conhecidos e tem feito comunicados relativamente ao processo que é intentado não só contra o Banco de Portugal como contra o Fundo de Resolução, accionista único do Novo Banco. A 3 de Abril, quatro dias depois de o Governo e Banco de Portugal terem revelado a intenção de vender o banco herdeiro do BES ao fundo americano, a gestora de activos americana classificou a venda como “discriminatória” e considerou que o processo viola a legislação nacional e comunitária.

 

A BlackRock, que foi impedida de participar no processo por ter acções judiciais contra o Banco de Portugal devido à troca de obrigações de 2 mil milhões de euros do Novo Banco para o BES em Dezembro de 2015, assume-se como “parceira financeira, no longo prazo” de Portugal e argumenta que o Estado português deveria chegar a um acordo com estes investidores “lesados” pela decisão do Banco de Portugal.

 

Dos processos que entraram no Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa constam como autores, em dois deles e entre outros, a BlackRock Limited Duration Income Trust e a BlackRock Global Long/Short Credit Fund, dois fundos da gestora com sede em Nova Iorque. A BlackRock sempre disse estar a representar um grupo de outros investidores.

 

Os dois processos contra o regulador liderado por Carlos Costa (na foto) têm a Lone Star como contra-interessada. Não são casos únicos, como se percebe por uma consulta no portal Citius. O mesmo acontece com a acção cautelar colocada pelo Biwa Fund Limited e pelo CQS Directional Opportunities Master Fund Limited, com ligações às Ilhas Caimão. A River Birch também surge com outro processo visando o Banco de Portugal e o Fundo de Resolução.

 

Da mesma forma, é autor de uma outra acção judicial a Mutuactivos, entidade que gere os activos da Mutua Madrileña, uma associação mutualista no sector segurador.

 

Quem também já anunciou que está a estudar contestação a esta alienação foi a Aethel Partners, sociedade britânica liderada por Ricardo Santos Silva e por Aba Schubert, que avançou com uma proposta pelo Novo Banco e que defende que o Banco de Portugal alimentou as suas expectativas ainda quando não tinha seleccionado a Lone Star.

 

No final de Março, o Banco de Portugal e o Governo anunciaram a escolha da Lone Star para ficar com o Novo Banco, num acordo a custo zero e que prevê a capitalização da instituição financeira por mil milhões de euros por parte dos americanos, que assim ficarão com 75% do capital, face aos 25% que permanecerão nas mãos do Fundo e Resolução Além disso, haverá uma troca de obrigações que, sendo aceite pelos titulares, vai libertar o banco de responsabilidades de 500 milhões. A acrescentar, o Fundo de Resolução está sujeito a um mecanismo de capitalização contingente que o pode obrigar a reforços de capital de até 3,8 mil milhões de euros.

Os processos judiciais contra o regulador e o Fundo de Resolução não são novos – foram já visados em acções que contestam, precisamente, a troca de obrigações que estavam no Novo Banco e que foram para o BES “mau” a 29 de Dezembro de 2015 ou noutros processos que contestam a própria resolução aplicada ao banco a 3 de Agosto de 2014.

Banqueiros ficaram “preocupadíssimos” com solução para o Novo Banco

Domingo, Abril 23rd, 2017

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Diário de Notícias

Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, é o convidado desta semana da grande entrevista DN TSF

Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, mostra-se confiante de que o setor vai conseguir ultrapassar a crise que garante não ter sido provocada pelos bancos. Considerando que a solução encontrada para o Novo Banco foi a possível, confessa que os banqueiros ficaram “preocupadíssimos” com o negócio. Nada preocupado está com a “espanholização da banca” mas mostra-se convencido que era bom ter um banco privado com capital maioritariamente português. Sobre o veículo para o crédito mal parado de que falou, há mais de um ano, o primeiro-ministro português, Faria de Oliveira diz não acreditar que ele venha a existir, a não ser que seja Paneuropeu.

A banca portuguesa entrou na união bancária com condições mais penalizantes

Vou ler-lhe vários títulos que encontrei ontem na preparação desta entrevista em sites de informação: “Bancos ainda têm pessoal e balcões a mais” (TSF); “FMI quer bancos nacionais a dar créditos só com critérios comerciais (Jornal de Negócios); “Bancos foram dos que menos reduziram rácios de crédito malparado” (Diário de Notícias); e, finalmente, “FMI diz que banca portuguesa e italiana são o elo mais fraco da zona euro” (Expresso). Depois de nos últimos anos termos resolvido, com custos de milhares de milhões de euros, vários problemas na banca, estes subsistem. Como saímos daqui?

Tem sido um período particularmente longo e difícil para todo o sistema bancário. Tudo começou com a crise financeira internacional em 2008, muito agravada com a crise da dívida soberana em 2011. É muito importante procurar entender qual foi a realidade que se viveu. O sistema bancário português foi muito fortemente afetado pela recessão económica derivada destas crises, essa recessão económica foi entretanto acompanhada por mudanças de política económica e pelo modelo de crescimento económico que o país viveu durante muitos anos. Em que é que isto se traduziu? Isto significou que muitas empresas – designadamente aquelas dos setores dos bens não transacionáveis, a construção civil, o imobiliário, que eram muito apoiadas pelo sistema bancário em termos de concessão de crédito -, viram os seus mercados fecharem-se, na medida em que a obra pública praticamente parou; o imobiliário também teve uma redução fortíssima e, com isso, essas empresas, que já estavam endividadas, ficaram sem capacidade de cumprir as suas obrigações perante a banca.

Mas houve aí uma má análise de risco…

Eu creio que a análise de risco é sempre objeto das circunstâncias em que as decisões são tomadas. E a verdade é que durante muitos anos a análise de risco se baseava fundamentalmente nos critérios correspondentes aos modelos de análise de risco de então que acompanhavam as políticas económicas do governo e as circunstâncias, outras, em que as decisões eram tomadas. A posteriori é fácil dizer que, na realidade, houve excesso de concessão de crédito por eventual condescendência na análise de risco, mas os factos provam que as taxas de incumprimento que vigoraram ao longo de muitos anos, até 2011, foram sempre extremamente reduzidas, o que, pura e simplesmente, é a demonstração cabal que os critérios então praticados correspondiam às circunstâncias do funcionamento da economia do país, e da Europa, pois o problema não é naturalmente um problema exclusivo da banca portuguesa.

Eu creio que existe, infelizmente, uma tendência significativa para, na análise das causas da situação do sistema bancário, não se ir ao fundo das questões. No método científico há dois princípios que têm de ser seguidos e que são os seus princípios fundamentais: a compreensão da realidade e a objetivação. Ora, muitas vezes, nesta matéria confundiu-se objetivação com objetivos. Na realidade, a opinião pública foi muito conduzida no sentido de atribuir a má gestão – designadamente por parte das instituições -, a um elevadíssimo peso das imparidades na gestão do sistema bancário. Na realidade, a atividade bancária tem o risco como inerente; se o risco existe em todas as atividades económicas, no sistema bancário tem um peso incomparavelmente superior, é específico do sistema bancário. E, portanto, seguramente que há sempre erros na concessão de créditos porque muitas das decisões depois não correm bem. Os erros também são inerentes, agora, atribuir a principal razão da situação da banca a erros de gestão parece-me sinceramente um exagero. Como digo, é fácil provar que a esmagadora maioria das imparidades registadas resultam das consequências da recessão económica.

Em janeiro, na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, o senhor disse que foi a crise das dívidas soberanas – um pouco no seguimento do que nos dizia antes – que, com as suas consequências, acabou por afetar os bancos e não estes a causarem essa crise. Isto implica que na resolução dos problemas do setor há uma responsabilidade acrescida para os Estados que terão estado na origem desta situação?

Como todos sabemos, a origem de tudo esteve na crise do subprime nos Estados Unidos, no comportamento de instituições bancárias que tiveram muito más práticas e comportamentos éticos absolutamente inaceitáveis, numa proliferação de produtos complexos no sistema bancário que geraram, depois, problemas de uma enorme dimensão. Essa é a principal origem.

E essas são também responsabilidades do setor bancário?

Seguramente, e extremamente graves, e que tiveram consequências depois, por efeitos de arrastamento, em todo o sistema bancário europeu que, como se recordarão, conduziram à necessidade de os Estados – designadamente o G20 e, dentro da Europa, o Conselho Europeu -, definirem programas específicos para tentar evitar que as consequências dessas situações causadas no sistema bancário se refletissem na economia. Daí, as garantias de Estado e os aumentos de capital que atingiram uma dimensão astronómica, que foi necessário aplicar para salvar vários bancos e, nomeadamente, bancos de grande dimensão. Não nos esqueçamos do que se passou em Inglaterra, nos países nórdicos, na Bélgica, na Holanda, etc. e, na Irlanda, em particular. O conjunto de medidas de apoio do estado, por exemplo à banca irlandesa, chegou a ultrapassar os 200% do PIB.

Em Portugal, o total das ajudas do Estado ao sistema bancário português foi de treze mil milhões de euros, (13 bis, que é uma expressão mais simples). Desses 13 bis, cinco estão recuperados, foram pagos pelo sistema. Portanto, na realidade, as perdas, aquilo que se pode designar por custos para o Estado e, portanto, para os contribuintes, são 8 bis, cerca de 5% do produto interno bruto. Portugal tem um peso, em qualquer circunstância, elevado, sem dúvida nenhuma que o é, mas que tem de ser visto no contexto da enorme crise que o sistema bancário sofreu, e que não está eliminada, não nos podemos esquecer que o sistema bancário europeu ainda tem, como anteontem disse Danièle Nouy, novecentos e trinta e um mil milhões de euros de imparidades, de NPLs [non-performing loans], nas carteiras dos bancos. Isto tem, portanto, uma dimensão que excede largamente a dimensão nacional, é um problema manifestamente europeu.

Mas o FMI salienta que a situação da banca portuguesa e italiana é a mais complicada da zona euro.

Sem dúvida. Em relação à banca portuguesa creio que há algumas razões que o podem explicar. Devo dizer que ao procurar explicar cabalmente a situação não estou a dizer que o sistema bancário português não devesse estar mais bem preparado para enfrentar crises, como a que infelizmente aconteceu. O que quero enfatizar é que a situação que o sistema bancário atravessou, para além daqueles fatores que referi, foi agravada porque, ao mesmo tempo, exatamente quando estávamos a negociar o programa de ajustamento económico e financeiro, e a aplicá-lo, surgiram os novos requisitos, o novo quadro regulatório do sistema bancário europeu; com novos requisitos gravíssimos e que implicaram necessidades de aumento de capital de grande dimensão, bem como o mínimo de cumprimento de rácios de liquidez, de rácios de leverage [alavancagem financeira], etc.

Depois ocorreu um segundo facto. No momento em que estávamos no auge da recessão surge também a união bancária com outros novos requisitos. Portanto, a banca portuguesa teve condições de entrada na união bancária mais penalizantes do que aqueles que teve a grande maioria dos outros Estados-membros da União Europeia. Isto também é uma realidade inquestionável. Isso conduziu a que o sistema bancário português começasse a apresentar rentabilidades negativas. Os resultados dos bancos, praticamente desde 2012, passaram a ser resultados negativos. E, naturalmente também, conciliar necessidades de aumento de capital com rentabilidades negativas é algo extremamente complicado, porque os investidores olham, naturalmente, para as rentabilidades esperadas. E não esqueçamos também a destruição de capital colossal que derivou da crise do mercado de capitais e, designadamente, do valor das ações da banca. Não esqueçamos que em relação à capitalização bolsista em 2007-2008 chegou a haver uma perda de cerca de 90%, que depois foi parcialmente recuperada. Tudo isto afasta investidores e, portanto, torna mais complicado, quando há necessidade de realizar os aumentos de capital, atrair capital.

Seria útil um banco privado com capital maioritário português

Vamos olhar exatamente para esse ponto, para como está a banca hoje: a banca portuguesa passou tempos a resolver problemas – chegou-se a falar do perigo da espanholização da banca -, mas depois os espanhóis do La Caixa ficaram com o BPI, os chineses da Fosun entraram no BCP, os norte-americanos da Lone Star podem vir a entrar no Novo Banco, se o negócio se vier a confirmar, o Estado reforçou capitais na Caixa, chegou até a existir uma pequena polémica quanto à origem do investimento que obrigou o engenheiro Faria de Oliveira a vir explicar o que tinha dito. Esta diversidade deixou-o satisfeito?

Eu ceio que sim. Nós estamos no âmbito do projeto europeu, de acordo com os objetivos definidos pelo próprio BCE, a caminhar para um sistema de bancos pan-europeus. Há uma manifesta intenção de promover uma maior consolidação do sistema bancário europeu, mas, entretanto, a realidade também demonstra que os próprios Estados-membros continuam a manter um número significativo de instituições nacionais dentro do sistema bancário. No sistema bancário português, devido ao facto de o capital ser um bem escasso e, neste momento, ter havido uma grande destruição de capital em termos nacionais, naturalmente as necessidades de capital têm de ser supridas através da entrada de investimento estrangeiro.

Mas, em sua opinião, faria falta um banco privado com maioria de capital português?

Eu penso que seria seguramente útil e penso que isso ainda venha a ser, eventualmente, possível no futuro, quando houver uma recuperação das condições dos investidores nacionais. O país precisa manifestamente de aumentar o investimento e de aumentar a poupança, e só depois de se conseguir aumentar a poupança se criarão condições para que o investimento possa aumentar significativamente. Nós, neste momento, como sabe, temos taxas de poupança que são extremamente baixas, das mais baixas no contexto europeu.

Mas, neste contexto, o facto de haver um conjunto de bancos internacionais com origens de capital diversificadas pode ser positivo. Gostava que a banca portuguesa fosse particularmente apetente em termos de investimento para algumas instituições europeias de relevo e, infelizmente, neste momento, até porque muitas delas também têm problemas ainda a enfrentar até atingirem a total normalidade, isso não tem vindo a acontecer. E acho que os bancos espanhóis, que são dois bancos que eu conheço bem, extremamente sólidos, extremamente bem geridos, (o La Caixa e o Santander), oferecem todas as garantias de poderem, de facto, dar um contributo para que a banca nacional – porque os bancos, em qualquer caso, o BPI e o SantanderTotta, são bancos nacionais, com capital maioritariamente estrangeiro, mas são bancos nacionais -, cumpra aquelas que são as duas grandes missões do sistema bancário, e que são indispensáveis: o financiamento da economia e dos cidadãos por um lado e a garantia do sistema de pagamentos eficaz e seguro. Estas são duas missões insubstituíveis do sistema bancário.

Nunca o incomodou a ideia de que podia haver uma espanholização da banca portuguesa?

Como sabe eu estive três anos em Espanha, onde dirigi o então banco da Caixa Geral em Espanha, e conheço bem as instituições bancárias espanholas e bastante bem a maneira de pensar estrategicamente das instituições. Os próprios dirigentes políticos e bancários espanhóis serão os primeiros a ter muito bom senso no que diz respeito à sua maneira de atuar.

Há ainda um elefante, é um elefante bebé, mas é um elefante no meio da sala. Há razões para estarmos atentos com o que se passa com a Caixa Económica Montepio, que é um banco, ou o problema não é bancário, é do acionista e dos mutualistas que fazem parte desta instituição?

Bom, eu aqui tenho uma questão de princípio, porque é mesmo uma questão de princípio: a APB, desde sempre, não se pronuncia sobre questões específicas dos seus associados e dos seus acionistas, portanto tenho muita dificuldade…

Nós também temos um princípio, que é ser jornalistas e fazer perguntas.

Eu sei, evidentemente, evidentemente.

Não tem de se pronunciar de forma específica, pode ser de uma forma geral [risos] …

Portanto, o que é a missão da APB? É tratar dos assuntos transversais ao setor e dos interesses gerais dos seus associados. É nisso que nós trabalhamos mas, naturalmente, dentro da atuação da APB importa que cada banco nosso associado – e, principalmente, aqueles que são mais relevantes no sistema, e o Montepio Geral é um banco relevante no sistema, não apenas por ser um banco centenário -, tenha preservada a sua solidez, a sua modernidade e a confiança que traz para os seus clientes. O que passa pelo cumprimento das exigências regulatórias e das exigências de supervisão e, seguramente, isso está efetuado pelas autoridades competentes. É basicamente isto o que tenho a dizer e, o que estou a dizer em relação ao Montepio é absolutamente geral em relação a qualquer outra instituição.

Está satisfeito com a hipótese de serem instituições de caráter social, numa lógica de como é também uma caixa mutualista, a fazerem parte da solução que o governo preconiza?

Mais uma vez é-me difícil fazer comentários sobre essa matéria.

Não me parece possível um veículo para o mal parado, talvez uma plataforma

Temos estado a resolver caso a caso os problemas do setor bancário. Tarda, ainda assim, a solução para um problema que é generalizado, a questão do crédito malparado, já temos vindo a falar dele, a Associação Portuguesa de Bancos integra aliás um grupo de trabalho que procura soluções para esta questão. O tal veículo de que o primeiro-ministro tem falado, de que falou há mais de um ano, estamos mais perto dessas soluções, elas já existem?

Vamos ver. Em primeiro lugar, sem dúvida que a Associação Portuguesa de Bancos tem estado fortemente envolvida no que diz respeito ao encontro de soluções que permitam acelerar a resolução do problema da venda do crédito malparado, que é basicamente o que está em questão. Mas nós não fazemos parte do grupo de trabalho relacionado com aquilo que se chama veículo ou plataforma que vai ser criada para permitir que se criem mecanismos que sejam principalmente capazes de gerar um mercado secundário de compra de créditos pouco produtivos ou não produtivos que seja mais eficiente. Como sabe, no nosso país esse mercado é muito incipiente, basicamente são alguns fundos internacionais que trabalham nesse mercado, e, ao mesmo tempo, é um biased market e, como biased market que é naturalmente que o simples facto de haver pressão para a venda diminui a capacidade negocial das instituições.

A nossa preocupação, e isso sim, fazemos parte de um segundo grupo de trabalho que foi constituído, tem muito a ver com a eliminação de todo um conjunto de entraves e bloqueamentos a que seja possível atuar sobre o crédito malparado de uma maneira mais célere.

Entraves legais, entraves fiscais?

Entraves fiscais, judiciais – do funcionamento mais célere ou menos célere dos tribunais -, muito ligados com o SIREVE, com o PER, com os processos de recuperação e de insolvência que em Portugal são tão morosos que os bancos ficam, até à decisão final, inibidos de poder fazer o write off desses créditos nos seus balanços; isto tem muito a ver com a questão dos DTAs que eu depois poderei também abordar. Desde logo, a otimização do PER e do SIREVE, a melhoria da eficácia e da eficiência dos processos de revitalização e de insolvência, a dinamização do mercado secundário, como eu já referi, e a melhoria do enquadramento fiscal, muito relacionada com a questão dos DTAs, são questões que, para nós, são tão ou mais importantes do que trabalhar no domínio da criação da plataforma.

E esse tipo de questões já tem soluções desenhadas que permitam depois avançar? Estava a falar dos DTAs, o que é que procura que o governo seja capaz de dar em matéria fiscal?

Vamos lá ver, logo aí há uma matéria que importa clarificar: o governo não está a dar, eu sei que têm surgido algumas notícias de que há uma nova ajuda para o sistema bancário relacionada com a questão dos DTAs, mas isso é muito importante clarificar. Qual é, na realidade, a questão que se coloca? Quatro países no âmbito da União Europeia, quatro, Grécia, Itália, Espanha e Portugal, tinham um regime contabilístico não coincidente com o regime fiscal no tratamento fiscal das imparidades; isto é, uma instituição regista uma imparidade porque determinou que um crédito é praticamente incobrável, mas a autoridade fiscal não aceita esse registo até que os tribunais decidam que deixou de haver condições de recuperar o crédito; só com a decisão do tribunal. E há um hiato de tempo em que o banco registou a imparidade e, portanto, tendo resultados positivos está a pagar o IRC por antecipação e o Estado o que faz? O Estado transforma esse crédito que recebeu antecipadamente num DTA que pode ser recuperado mais tarde, exatamente quando houver o reconhecimento integral da perda.

Estes quatro países viveram durante muitos anos em perfeita desvantagem em relação a todos os outros Estados-membros da Europa, onde coincide o regime fiscal com o regime contabilístico.

E tem isso assegurado por parte do governo para poder resolver a questão do crédito malparado?

Em princípio sim. Devo dizer que o Banco Mundial e o BCE fizeram recomendações no sentido de se eliminar esta diferença temporal entre o regime fiscal e o regime contabilístico. O nosso governo está, aparentemente, de facto a trabalhar neste assunto para poder aprovar a legislação que, pura e simplesmente, harmoniza com o resto da legislação europeia.

Este crédito malparado, e estamos a falar de dezoito a vinte mil milhões de euros, não é necessariamente para passar todo para esse veículo. De que percentagem dele é que seria necessário os bancos libertarem-se para uma melhor governação?

Os bancos na ausência de um mecanismo – e, uma vez mais, a Danièle Nouy na entrevista de anteontem refere que no âmbito europeu se pensa criar também um mecanismo pan-europeu para acelerar o tratamento despes NPLs, aliás no seguimento de uma proposta feita pelo governador do Banco de Portugal, se não estou em erro, em novembro de 2015, que terá sido pioneira no âmbito do Conselho Europeu para criar uma tal solução, visto que o problema é sistémico, é europeu, não é um problema exclusivamente nacional, embora Portugal seja um dos países, como diz o relatório do Fundo Monetário, onde o problema é mais premente -, têm vindo a trabalhar neste domínio. Estes aumentos de capital que foram realizados têm também muito a ver com a possibilidade de acelerarem o tratamento da resolução destes problemas.

Eu creio que na medida em que o mercado secundário puder ser vitalizado, na medida em que as tais questões de natureza temporal, que são bloqueamentos, forem resolvidas…

…acha que não será preciso um veículo?

Não, um veículo pode ser muito útil, principalmente se for pan-europeu, pode ser extremamente útil.

Mas vejo-o pessimista em relação a um veículo que pudesse ser unicamente para os bancos portugueses.

Não. Vamos lá ver, eu tenho dúvidas de que seja possível criar um veículo, como aconteceu com outros Estados-membros muito beneficiados nesta matéria, com garantias de Estado. Isso seria o ideal.

O primeiro-ministro já disse que não estava disponível para isso.

Seria necessário que houvesse um waiver por parte das instituições europeias nesse sentido. É mais natural que, a prazo, se venha a criar um veículo europeu, chamemos-lhe assim, mas entretanto se houver uma plataforma que dinamize este mercado já seria extraordinariamente positivo.

Mas não acredita que esse veículo venha a conhecer a luz do dia, a nível nacional para o problema português, se não houver garantias de Estado?

Não será um veículo, será uma plataforma, chamemos-lhe assim, em que sejam incentivadas várias instituições, fundos, etc., especializados na compra do crédito malparado e que permitam…

…mas cada uma delas a fazer a gestão dos próprios ativos, pelos quais se responsabilizará.

Exatamente, exatamente.

Ficámos preocupadíssimos com a solução encontrada para o Novo Banco

Há uma solução anunciada para o Novo Banco, à espera ainda da confirmação final, esta solução terá custos acrescidos, nomeadamente para o Fundo de Resolução, ou seja, para os outros bancos. Ficaram dececionados com a solução que acabou por ser encontrada?

Ficámos preocupadíssimos, mas a verdade é que este processo teve um pecado original e insofismável, que foi a decisão da medida de resolução do BES, um banco sistémico. Logo nessa altura, a Associação Portuguesa de Bancos e os presidentes dos bancos disseram claramente que esta decisão não devia ser tomada, visto que o BES era um banco sistémico e não só o Fundo de Resolução não estava devidamente apetrechado para isso, tinha menos de trezentos milhões de euros naquele momento de fundos, como, ainda por cima, o efeito de natureza quase sistémica que teria em relação aos outros bancos que têm, em qualquer caso, a responsabilidade de financiar o Fundo de Resolução, podia trazer problemas complicados. Mas pronto. Não foi possível sermos atendidos nesta matéria, nem pelo governo de então, nem pelo Banco de Portugal e o processo pode dizer-se que correu mal.

Eu creio que não havia um completo conhecimento da qualidade da carteira do BES e que as autoridades admitiram, nessa altura, que uma venda próxima do banco de transição se poderia fazer por valores próximos do capital que iria aí ser investido. A realidade veio demonstrar uma situação bem diferente. A verdade é que o Novo Banco foi acumulando prejuízos, falhou a primeira tentativa de venda, esta segunda tentativa de venda acabou por ser, na fase final, praticamente limitada à negociação com um concorrente. Para os bancos do sistema isto constitui um fardo pesadíssimo. Repare, os 4,9 mil milhões de capital inicial do Novo Banco já ultrapassavam aquilo que em termos europeus se define como limite máximo de exposição que deve haver em relação à resolução de um banco, que são 5% do passivo mais fundos próprios; isso dava, em relação ao BES de então entre 3,6 e 3,9 bis, e foram definidos 4,9; e estes 5% não foram definidos completamente por acaso, são para salvaguardar a estabilidade financeira. Agora ficamos sujeitos a uma exposição adicional, através de um mecanismo contingente que fica responsável, que é uma garantia para todos os efeitos.

De 3,9 mil milhões.

Claro, isto atira para nove mil milhões de euros, praticamente. É um valor de uma dimensão brutal que é cerca de 5% do PIB nacional. Portanto, isto não pode deixar de nos provocar preocupações. É certo, e até de acordo com uma proposta de vem de há muito tempo e que a APB fazia, que foi possível obter atendimento por parte das instituições europeias de que em termos contabilísticos e prudenciais, a exposição dos bancos ao Fundo de Resolução pudesse ser diluída no tempo; isto é, de que houvesse a possibilidade de o fazer mantendo um valor anual das contribuições periódicas dos bancos para o Fundo de Resolução.

Isso já foi conseguido, agora queria perguntar se confia que os atuais obrigacionistas estarão disponíveis para fazer um haircut que permita os quinhentos milhões de euros que são necessários para o aumento de capital e que são cruciais para que o negócio se conclua?

Eu creio que esta operação tem características ligeiramente diferentes daquela que foi a retransmissão das obrigações para o banco mau, esta é mais ou menos voluntária. Agora, ela tem de ser atingida e compete criar condições para facilitar o encontro…

… mas é um pouco como dizer, ou aceitam cortar estes quinhentos milhões ou vão ficar sem nada.

Vamos lá ver, isto vem sempre de acordo com a questão de fundo, que era esta: que alternativas havia para a resolução do problema do Novo Banco nesta matéria? Havia quatro hipóteses. A primeira, a liquidação, estava fora de causa porque o efeito sistémico era garantido e porque os custos para o Estado eram ainda maiores. A segunda era a nacionalização. Segundo o que ouvimos do primeiro-ministro os custos também eram superiores e creio que havia também uma questão política de fundo, uma nacionalização neste momento de uma instituição bancária, no contexto em que vamos vivendo em termos políticos, podia ser muito mal entendida pelos mercados e penalizar fortemente o país e, portanto, era uma solução possível, por exemplo nós não tínhamos nada contra ela, mas reconhecemos que em termos de imagem… Depois era a venda nas melhores condições possíveis e é isso que corresponde àquilo que o primeiro-ministro tentou, e haveria eventualmente uma última que era o adiamento da venda.

Aqui temos duas questões, a primeira é que havia compromissos com Bruxelas que não o permitiam, teriam de ser renegociados. A segunda é que a experiência existente até agora, não é muito grande mas há alguma, é que até hoje não foi possível através de adiamentos melhorar as questões de valorização das instituições. Portanto, nada nos garantia que poderiam ser obtidas melhores condições. A solução encontrada é um mal menor. É um mal menor e um grande fardo para o sistema bancário.

O senhor já referiu que o Fundo acaba por dar garantias no valor de cerca 3,9 mil milhões de euros nesta venda, se eles forem necessários será o Estado a emprestar e os bancos terão de pagar até 2046. Já houve uma renegociação de prazos e juros e houve mesmo o PSD a perguntar se houve um perdão de dívida aos bancos que suportam o Fundo. A minha pergunta é exatamente essa, houve um perdão de dívida?

Não, não houve perdão de dívida nenhum. Os bancos são o responsável último pelo montante definido em relação à resolução quer do BES, quer do BANIF. As condições de cumprimento, através das contribuições que os bancos vão fazendo é que são outras, não são feitas à cabeça, o que daria um problema sistémico. Repare, admitamos que são só os cinco bis, a Caixa Geral de Depósitos que representa cerca de 24% a 25% teria de registar à cabeça uma imparidade da ordem de 1 bi ou mais, e o mesmo se passaria com o BCP que é da mesma ordem de grandeza. Isto era insustentável e, portanto, foi possível fazer entender às autoridades nacionais e estrangeiras que tinha que haver uma diluição no tempo do pagamento deste financiamento do Fundo de Resolução. Isso foi conseguido, os bancos registam anualmente as imparidades correspondentes ao valor da contribuição anual que fazem e que está fixada mais ou menos em duzentos e cinquenta milhões de euros/ano e o tempo é que passou a ser a variável. Através do eventual aumento da exposição dos 4,9 até chegar aos 9, pode vir a ser necessário até prorrogar o horizonte temporal.

Entretanto, as condições de fixação da remuneração do financiamento que o Estado renegociou com o sistema bancário, porque o financiamento já existia, aumentando as taxas de juro, têm muito a ver com duas preocupações essenciais e, a primeira, é assegurar a solvência do Fundo de Resolução, porque se o Fundo de Resolução deixar de ser solvente temos um problema muito sério.

Aí serão os contribuintes a pagar.

Exatamente.

Temos um Presidente 5 estrelas

Vamos só olhar um pouco para a política, mas naquilo que diz respeito à vida dos bancos. A Associação Portuguesa de Bancos considerou arbitrária a cobrança à banca do imposto de selo em relação ao pagamento com cartões. Num setor com problemas de rentabilidade, o poder político, na opinião da APB está a criar dificuldades à atividade. Acha que isto tem a ver com o facto de existir uma aliança parlamentar de esquerda que não vê com bons olhos a iniciativa privada na banca, acha que esta pressão vem daí, desta questão política?

É uma excelente questão. Em relação ao caso concreto que referiu devo dizer que são muito mais questões de princípio do que propriamente o valor que está em causa, em relação ao imposto de selo sobre a taxa de serviço do comerciante. O que está em causa é que arbitrariamente se transforma um imposto que é um imposto sobre o consumo num imposto sobre o rendimento e isso é um caso completamente distinto. Não se atenta à natureza do imposto e isso é gravíssimo, do meu ponto de vista. E, ainda por cima, esse imposto sobre o rendimento incide sobre o rendimento bruto, não incide sobre o rendimento real e esquece que nesse rendimento estão incluídas várias verbas que não são para os bancos, são para os skins são para os Visas, são para esse tipo de entidades. Do ponto de vista, chamemos-lhe assim, eminentemente técnico, isto é uma barbaridade. Foi isso que nos levou a reclamar, porque não é o valor que está em causa, não é isso.

Mas acha que a decisão é marcadamente ideológica?

Eu acho que a decisão é ideológica. Agora, isso tem muito a ver com o funcionamento da geringonça. Eu distingo muito entre governo e geringonça. A geringonça é instrumental para viabilizar o governo, mas ela agrega partidos que são contra a economia de mercado, que são contra o euro, que são contra a União Europeia, que são contra o sistema bancário, que têm posições diferentes das do PS, e essas posições penalizam bastante o país, por um lado, perante os investidores, perante os círculos políticos dominantes, provocam desconfiança, etc. Mas a geringonça tem também alguns aspetos positivos, porque criou um clima de estabilidade social, com menor contestação, pugna pelas classes mais baixas ainda que, eventualmente, num processo que se continuasse podia ser perverso, de alinhamento por baixo, até hoje a experiência empírica mundial mostra claramente que nenhuma sociedade conseguiu prosperar e aumentar a criação de riqueza com base neste tipo de modelo.

Mas a ação governativa tem tido, indiscutivelmente, vários méritos. Desde logo, aqueles que são conhecidos e que têm a ver com os progressos registados na redução do défice, no aumento do emprego, no aumento do crescimento económico, no investimento, ainda que muito ténue. E ainda temos que registar muito positivamente a determinação na resolução de problemas candentes e essenciais para o país, que são o problema da capitalização das empresas, o problema da estabilidade financeira, da eliminação de todo um conjunto de bloqueamentos a uma maior eficácia de atuação por parte do aparelho produtivo e bancário. Isto é indiscutível e resulta muito de uma capacidade de diálogo muito forte que tem havido, mas existe ainda um conjunto de omissões e de eventuais riscos que importa salvaguardar. Para mim, a maior preocupação que existe é uma certa falta ou a inexistência de uma visão estratégica e de um rumo, para o médio e longo prazo, claro para o nosso país. Eu acho que isso é essencial para transmitir confiança e mobilizar os cidadãos, e, depois, há vários temas que merecem planos contingentes ou uma grande atenção, como seja por exemplo o caso do valor da dívida pública e o respetivo ILD, no caso de o Banco Central Europeu reduzir o programa de compras da dívida pública ou alterar a sua política de taxas de juro. Nós temos de estar preparados para responder a isso. Neste momento não temos tanto o perigo da DBRS deixar de nos atribuir o rating adequado…

Mas temos de nos preparar para poder ir ao mercado se faltar o BCE.

Exatamente. Depois é o adiamento das reformas estruturais que é algo gravíssimo, a verdade é que reformas adiadas são ruturas anunciadas, portanto esta matéria também tem de ser objeto de muita atenção.

Pedia-lhe agora para olhar também para o papel do presidente da República, de quem já se disse que, de alguma forma, leva também ao colo o governo e a solução política encontrada no Parlamento. Está satisfeito com a prestação do chefe de Estado até esta altura?

Vou ser extremamente curto: cinco estrelas.

Novo Banco: Parlamento chumba projetos de nacionalização do BE e PCP

Sábado, Abril 22nd, 2017

Citamos

Observador

Novo Banco: Parlamento chumba projetos de nacionalização do BE e PCP

 

O parlamento chumbou dois projetos de lei de BE e PCP em defesa da nacionalização do Novo Banco, e rejeitou também um texto do PSD sobre as condições do empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução.

O parlamento chumbou dois projetos de lei de BE e PCP em defesa da nacionalização do Novo Banco, e rejeitou também um texto do PSD sobre as condições do empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução.

Os textos de BE e PCP mereceram o voto contra de PS, PSD e CDS-PP, com todas as demais bancadas – “Os Verdes” e PAN” – a acompanharem bloquistas e comunistas.

Já o projeto de resolução do PSD recomendando ao Governo a renegociação das condições do empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução da banca teve votos positivos de sociais-democratas e do CDS-PP, abstenção do PAN e votos contra de PS, PCP, BE e “Os Verdes”.

Um outro projeto de resolução do BE, advogando “descontentamento pela decisão de venda do Novo Banco sem consulta” ao parlamento foi também chumbado com os votos contra de PS e PSD e a abstenção do CDS.

Antes das votações deu-se um novo debate em plenário sobre o Novo Banco, com a bloquista Mariana Mortágua a arrancar a discussão precisamente defendendo que o tema devia ter vindo à Assembleia da República.

“O BE nunca se colocaria de fora de uma solução que preservasse o controlo público do novo banco. O Governo fez mal em não trazer o assunto à Assembleia”, declarou, acusando ainda PSD e CDS-PP de não terem “alternativa real” face à decisão de venda do Governo aos norte-americanos da Lone Star.

PSD e CDS, disse por seu turno o comunista Miguel Tiago, “comprometeram-se perante as instituições europeias com a venda do Novo Banco” e “durante anos esconderam as reais contas desta instituição”

“O atual Governo prosseguiu esse compromisso de PSD e CDS em relação a Bruxelas, de vender o Novo Banco. Não estamos a propor a nacionalização com integração na esfera pública de forma transitória unicamente para limpar a instituição dos prejuízos e entregar a uma entidade privada”, continuou o comunista, defendendo a integração da entidade no setor público bancário.

Pelo PSD, o deputado António Leitão Amaro ironizou com o “tempo novo das esquerdas”, que considerou representar “negócios ruinosos para os contribuintes mas generosos para a banca”.

A governação socialista, continuou, passa por “estoirar sem dó o dinheiro dos contribuintes”, com Cecília Meireles, do CDS-PP, a colar PCP e BE ao executivo: “O Governo existe com a legitimidade que os senhores lhe dão”, disse a centrista, dirigindo-se aos partidos à esquerda.

Eurico Brilhante Dias, do PS, criticou o PSD por ter “de forma absolutamente irresponsável” empurrado para a frente “um problema com impacto nas contas públicas”, vindo hoje pedir a “renegociação de um empréstimo contraído pelo Fundo de Resolução ao tempo” que o deputado Leitão Amaro fazia, inclusive, parte do governo PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho.

O negócio de venda do Novo Banco à Lone Star prevê a alienação de 75% do banco ao fundo norte-americano, ficando o Fundo de Resolução com 25% (posição que poderá alienar a qualquer momento a um privado).

Contudo, a concretização do negócio ainda está a sujeita a três condições.

Uma delas passa por uma troca de obrigações com vista a melhorar o capital do Novo Banco em 500 milhões de euros, o que implicará penalizações para os seus detentores.

É esperado que seja brevemente apresentada a oferta de troca de obrigações aos seus detentores – sejam clientes institucionais ou de retalho -, desconhecendo-se ainda pormenores da operação.

Por exemplo, poderá ser proposto um corte de juros ou aumento de maturidades dos títulos ou até uma solução que implique as duas modalidades. Também poderá ser proposto uma alteração no preço da obrigação.

Os obrigacionistas serão confrontados com o dilema de, caso não aceitem a solução proposta, o Novo Banco poder ser liquidado, com implicações também para os seus investimentos.

Para já, com o contrato de promessa de compra e venda que foi assinado foi conseguido que desaparecesse o prazo de 02 de agosto de 2017 para o banco ser vendido ou liquidado, existindo o prazo indicativo da venda ser concretizada até ao final do ano, que pode ser dilatado.

 

Estado poderá ter de pagar indemnizações aos lesados do papel comercial

Sábado, Abril 22nd, 2017

Citamos

Diário de Notícias

Executivo enviou ao parlamento a proposta de lei para a constituição de fundos de recuperação de créditos

O Estado poderá ser chamado a pagar, em 2018 e 2019, as indemnizações aos clientes lesados do papel comercial do BES, caso o fundo criado para o efeito não tenha dinheiro disponível, segundo um diploma do Governo.

O executivo enviou ao parlamento na quinta-feira a proposta de lei para a constituição de fundos de recuperação de créditos, legislação que visa enquadrar a solução que compensará parcialmente os 4.000 clientes que investiram, aos balcões do Banco Espírito Santo (BES), 434 milhões de euros nas empresas Espírito Santo Financial e Rio Forte, e cujo investimento perderam com o colapso do Grupo Espírito Santo (no verão de 2014).

Segundo o mecanismo de compensação acordado ao longo do último ano por um grupo de trabalhado criado propositadamente, os clientes que aceitem a solução irão recuperar 75% do valor investido, num máximo de 250 mil euros, isto se tiverem aplicações até 500 mil euros. Já acima desse valor, irão recuperar 50% do valor investido.

Por exemplo, quem fez uma aplicação de 400 mil euros receberá 250 mil euros, o valor máximo possível para esse montante, ainda que seja abaixo dos 75%. Já para uma aplicação de 600 mil, serão pagos 300 mil euros.

Ou seja, os clientes assumem perdas, mas recebem dinheiro por que teriam de esperar anos, provavelmente, para recuperar em processos em tribunal e de forma incerta.

O pagamento será feito por parcelas, sendo que 30% do total será recebido logo após o cliente assinar o contrato de adesão, que agora se prevê que aconteça entre junho e julho, enquanto o restante valor será pago em mais duas parcelas, em 2018 e 2019.

Segundo o acordo, as indemnizações serão pagas aos clientes lesados pelo fundo.

Contudo, como este não terá dinheiro, terá de se financiar junto da banca, referindo o diploma que o Estado pode prestar garantias quando “se afigure indispensável à obtenção de financiamento”.

A legislação também refere outro mecanismo de financiamento, com intervenção mais direta pelo Estado.

“Em alternativa à celebração de um contrato de financiamento, e sendo isso também indispensável ao cumprimento de determinadas obrigações legais e contratuais do fundo de recuperação de créditos perante os participantes, o Estado pode ainda assegurar aos participantes a satisfação dos créditos pecuniários correspondentes”, refere o ponto 2 do artigo 70.º do documento.

De acordo com informações recolhidas pela Lusa, o que se passará é que na celebração do contrato de adesão será concedida aos clientes lesados uma garantia estatal que assegura que receberão as segunda e terceira tranches da indemnização acordada.

Ou seja, se nessa altura o fundo não tiver dinheiro para pagar, cada cliente lesado pode acionar essa garantia e o Estado paga-lhes diretamente, ficando depois o fundo em dívida perante o Estado.

A proposta de lei enquadra a criação de fundos de recuperação de créditos (desde já para fazer face à questão dos lesados do papel comercial, mas que poderá servir para constituir novos fundos de lesados no futuro), sendo justificada a sua necessidade com o facto de os mecanismos atualmente existentes serem “insuficientes para assegurar o enquadramento de soluções destinadas a minorar as perdas sofridas por investidores”.

Estes fundos terão de ser aprovados pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que é quem faz a sua supervisão, terão a duração de 10 anos (pode ser prolongada), e terão isenção de custas judiciais.

Quanto ao valor que será pago pelo fundo aos lesados, este será isento de IRS até “ao limiar do capital originariamente investido”.

Na quinta-feira, o grupo de trabalho dos lesados do papel comercial (constituído por Associação de Indignados e Enganados do Papel Comercial, CMVM, Banco de Portugal, ‘banco mau’ BES, com mediação do Governo, através do advogado Diogo Lacerda Machado) divulgou um comunicado no qual indicava que os lesados do papel comercial do BES terão de decidir até 26 de maio se aceitam ou não o mecanismo que visa compensá-los parcialmente pelas perdas sofridas.

Esses clientes deverão começar a receber os documentos com a proposta de solução no início de maio, tendo então cerca de 20 dias para tomarem a decisão.

Isto significa um novo atraso face ao calendário que previa que essa documentação fosse enviada até final de março. Aliás, este processo tem tido atrasos sucessivos.

Em março de 2016 ano passado, quando houve uma cerimónia pública para selar um compromisso entre a associação de lesados, CMVM e Banco de Portugal para chegar a uma solução, o primeiro-ministro, António Costa, estabeleceu o início de maio de 2016 como a data limite para ser encontrada uma solução, mas essa só chegaria em dezembro, estando desde então a serem criadas as condições para ser executada.

Os clientes que queiram aderir a esta solução terão de cumprir uma série de obrigações.

Desde logo, os que puseram processos em tribunal contra entidades e administradores ligados ao GES deverão ceder os direitos judiciais ao fundo de indemnizações, que assumirá a litigância desses processos na Justiça e receberá as eventuais compensações.

Os clientes terão ainda de comprometer-se a renunciar a reclamações e processos judiciais contra uma série de entidades, entre elas o Banco de Portugal, a CMVM, o Fundo de Resolução bancário, o Estado, o Novo Banco e o comprador (a Lone Star).

A solução para os lesados do papel comercial poderá não ser aceite por todos os clientes, nomeadamente os que têm valores mais altos, acima dos 500 mil euros, que têm considerado que ficam prejudicados.

Ainda não se sabe se insolvência do BES foi dolosa

Sábado, Abril 22nd, 2017

Citamos

Negócios

Continua a faltar a qualificação da insolvência do BES “mau”. A comissão liquidatária quer ter mais informações mas dá pistas sobre eventuais irregularidades cometidas por ex-administradores.

Ainda não se sabe se a insolvência do Banco Espírito Santo (BES) foi culposa ou fortuita. Esta é uma fase do processo que a comissão liquidatária do BES não conseguiu concluir até agora e que mostra a complexidade de todo o dossiê que irá colocar um fim à instituição que teve origem na Casa de Câmbio de José do Espírito Santo Silva em 1869.

A comissão tinha até Março de 2017 para apresentar o seu parecer de qualificação da insolvência, que pretende aferir as causas da queda do banco. Contudo, foi pedida uma extensão do prazo, concedida pelo tribunal até Setembro, por ser “imprescindível” obter elementos adicionais.

Os responsáveis da comissão acreditam, contudo, já ter conclusões sobre o que aconteceu no banco liderado durante 22 anos por Ricardo Salgado. “Tem vindo (…) a público (…) um vasto conjunto de factos e irregularidades que poderão revelar a falta de observância do dever de gestão sã, prudente e criteriosa por parte de ex-administradores do BES e outros sujeitos que, por acção e/ou omissão com culpa grave ou com dolo, terão causado e/ou contribuído para a produção de danos patrimoniais para o BES (…) e terão determinado e/ou contribuído para a sua situação de insolvência”, indicam os documentos judiciais consultados pelo Negócios.

Há a acrescentar ainda “relatórios de auditoria especial” do Banco de Portugal que não são do conhecimento da comissão que poderão ajudar à qualificação. “Alguns factos que terão determinado a insolvência do BES poderão estar relacionados com algumas operações e/ou negócios executados entre o BES e sociedades do GES”, que é preciso averiguar, antecipam ainda os documentos.

Além de faltar a qualificação, que não tem, contudo, consequências penais, a liquidação ainda está na fase de citação de credores.  Embora na União Europeia já todos tenham sido citados, fora do espaço comunitário ainda está em curso o processo de citação, nomeadamente através da tradução das cartas rogatórias.  “Até ao momento, foram recebidos cerca de 17.300 requerimentos, visando mais de 20 mil reclamações de crédito e um universo de reclamantes superior a 19 mil”, indica o resumo da comissão em Março.

LIQUIDAÇÃO

Um processo sem prazo para acabar

Citação de credores continua
A 13 de Julho de 2016, o Banco de Portugal revogou a autorização do BES. Iniciou-se o processo de liquidação do banco “mau”. Começou o processo de citação de credores, que ainda não está concluído. Estão a ser enviadas cartas rogatórias, muitas precisando de tradução. EUA, Mónaco, Ilhas Virgens e México são países dos visados nessas missivas.

Mais de 20 mil reclamações
Até Março deste ano, tinham chegado ao conhecimento da comissão liquidatária um total de 17.300 requerimentos, “visando mais de 20 mil reclamações de crédito e um universo de reclamantes superior a 19 mil”. Neste momento, há uma “equipa específica”, composta sobretudo por advogados, que está a fazer a análise de toda essa documentação.

BES reclama às empresas do Ex-GES
Além de receber reclamações de crédito, o BES também se assume como credor de várias empresas do GES. À Rioforte, sociedade do ramo não financeiro do grupo que está em insolvência no Luxemburgo, o banco “mau” reclama 198 milhões de euros. Espírito Santo Bank, no Panamá, com 12,7 milhões, e o suíço Privée, com 6,5 milhões, constam também da lista.

Solução para lesados do BES atrasada pelo menos um mês

Sábado, Abril 22nd, 2017

Citamos

Negócios

Os clientes do BES deveriam receber em Março os contratos de adesão à solução promovida pelo Governo. Agora, tal só começa a ocorrer dentro de duas semanas, segundo a agência Lusa. O ok tem ser dado até 26 de Maio.

A solução que o Governo está a promover junto dos reguladores para os clientes do Banco Espírito Santo que subscreveram papel comercial está atrasada pelo menos um mês. Só em Maio os investidores vão dar conta da intenção de adesão a este modelo. Quando foi anunciada, a intenção era que o primeiro pagamento acontecesse nesse mês.

Numa nota enviada à agência Lusa, o grupo de trabalho liderado pelo representante do Governo Diogo Lacerda Machado e composto pelo Banco de Portugal, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, associação de lesados e BES “mau” já definiu uma data para a recolha de intenções dos cerca de 2.000 investidores com estes títulos de dívida das insolventes Espírito Santo International e Rioforte: “O grupo de trabalho (…) estabeleceu o dia 26 de Maio de 2017 como limite temporal para que, no âmbito do processo de consulta que ora se inicia, os investidores se expressem sobre uma possível aceitação ou rejeição do modelo de solução apresentado em 19 de Dezembro de 2016”.

O Negócios fez esta quinta-feira perguntas à CMVM, à associação de clientes “lesados” e ao gabinete do primeiro-ministro sobre o tema mas, oficialmente, não houve qualquer indicação. Aliás, até aqui, são raras as respostas, apesar das insistências em torno do assunto que poderá ter impacto nas contas públicas.

Maio era para primeira prestação 

Também de acordo com a mesma nota enviada à Lusa, que não foi enviada ao Negócios apesar do pedido, os clientes do Novo Banco com estes títulos de dívida deverão receber a proposta no início de Maio. Os investidores vão receber documentação da instituição financeira. À partida, nesse contacto, o Novo Banco irá recolher as intenções de adesão à solução, com um formulário que irá acompanhado por um guia simplificado com a explicação do processo e com FAQ, com perguntas e respostas sobre o tema.

Quando o primeiro-ministro deu a cara pela solução, em Dezembro de 2016, foi anunciado que, “não obstante a complexidade das matérias envolvidas, o grupo de trabalho está convicto de que é razoável estimar que a solução poderá ser implementada e aberta a assinatura dos contratos de adesão até ao final de Março de 2017, correndo o período de subscrição até ao final de mês de Abril e, verificando-se que a taxa de adesão mínima foi alcançada, o pagamento da primeira prestação do preço poderá ter lugar em Maio do próximo ano”. Não vai acontecer.

Na semana passada, o Negócios indicou que a recolha de intenções iria acontecer esta semana, o que não se concretiza. Aliás, também não se cumpre a afirmação de António Ramalho, presidente do Novo Banco, que confirmou, a 12 de Abril, essa informação na apresentação de resultados do banco: “Julgo que a partir de segunda-feira [17 de Abril] vão começar a ser enviadas as propostas para que possam ser avaliadas”, disse, citado pelo jornal Eco.

A recolha de intenções de adesão à solução, que pode ser aplicada a papel comercial avaliado em 434 milhões de euros, faz sentido porque a “implementação da solução fica dependente de os investidores não qualificados do papel comercial aderentes representarem mais de 50% das aplicações que representem mais de 50% do capital investido”. Só havendo intenção de clientes que alcancem essa percentagem é que o modelo poderá seguir em frente.

Qual é a solução

Entretanto, a operacionalização da solução ainda está a ser feita. Há três semanas, no Conselho de Ministros de 30 de Março, foi aprovado o regime dos fundos de recuperação de créditos, de modo a criar um enquadramento legal que permita a constituição do mecanismo usado na solução. O diploma ainda não foi ainda publicado nem promulgado.

Este fundo irá ser composto pelo papel comercial da ESI e Rioforte, sendo responsável por reclamá-lo nas insolvências que estão em curso no Luxemburgo. O mesmo fundo irá ser detentor de créditos contingentes e futuros – com base em processos judiciais que visam a má conduta do BES na comercialização dos produtos; com base em eventuais processos indemnizatórios sobre a gestão; e ainda com base na legislação comunitária e na auditoria feita pela Deloitte, que obriga o Fundo de Resolução a reembolsar 31,7% do investimento.

Contudo, estes são créditos que não dão receita imediata, pelo que terá de ser solicitado um empréstimo para promover o pagamento da primeira tranche aos clientes em causa. Não se sabe como será feito, sendo que foi já noticiado pelo Público que poderá haver uma garantia estatal de 258 milhões de euros. Desconhece-se o impacto nas contas públicas da solução.

Certo é que os investidores não têm, com esta solução, direito a todo o capital aplicado no papel comercial. A solução assegura que quem investiu até 500 mil euros vai receber até 75% do capital investido, sendo que nunca num valor superior a 250 mil euros; quem aplicou mais de 500 mil euros só irá receber metade do investimento. Uma divisão que já levou à constituição de uma nova associação que representa os clientes de maior montante.

 

Ex-diretor de risco do BES desconhecia venda de dívida da ESI a clientes

Quinta-feira, Abril 20th, 2017

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Notícias ao Minuto

O ex-coordenador do Departamento de Risco Global do BES disse hoje em Tribunal que só soube posteriormente que a dívida do papel comercial da Espírito Santo Internacional (ESI) tinha sido vendida a clientes do banco e da ESAF.

Carlos Calvário começou hoje a ser ouvido como testemunha, arrolado pela defesa de Amílcar Pires e Ricardo Salgado, no âmbito do julgamento que decorre, desde 6 de março, no Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (TCRS), em Santarém, dos pedidos de impugnação das contraordenações aplicadas pelo Banco de Portugal (BdP) ao ex-administrador e ao ex-presidente do BES (no valor de 600.000 e 4 milhões de euros, respetivamente) por terem permitido que fossem comercializados títulos de dívida da ESI junto de clientes do BES e da Espírito Santo Ativos Financeiros (ESAF) apesar de conhecerem a situação líquida negativa da ESI.

Com quatro dias agendados para a sua inquirição, Carlos Calvário está a prestar depoimento por videoconferência, circunstância autorizada pelo TCRS depois de o ex-quadro do BES ter invocado o agendamento em cima da hora numa altura em que se encontra em fase de procura ativa de emprego e alegado a despesa inerente à deslocação a Santarém quando se encontra desempregado.

Os mandatários dos arguidos recorrentes ainda alegaram “irregularidade” por a decisão de audição da testemunha por videoconferência ter acontecido sem terem sido consultados previamente e a violação do direito de defesa, por considerarem que fica inviabilizada a confrontação com documentos constantes no processo.

Contudo, a juíza do TCRS invocou a celeridade que se impõe ao processo e a existência dos meios técnicos para a apresentação dos documentos.

Na sessão de hoje, Raul Soares da Veiga, mandatário de Amílcar Pires, “contextualizou” o que está em causa no processo, sublinhando que enquanto o BdP tem o entendimento de que o processo se destina exclusivamente ao apuramento da responsabilidade dos dois arguidos na colocação de dívida da ESI primeiro junto de clientes da ESAF (em 2012 e 2013) e depois do BES, a defesa pretende saber se o banco tinha ou não implementados os sistemas adequados de gestão e controlo de risco.

As questões do primeiro dos quatro dias em que Carlos Calvário prestará testemunho (estão agendadas sessões para quinta, sexta e segunda-feira próximas) foram centradas no esclarecimento sobre mecanismos de controlo interno, de uma forma geral, e, no caso concreto da dívida da ESI, se o banco avaliou ou não o risco da sua colocação junto de clientes.

Carlos Calvário afirmou que só soube que tinha sido vendida dívida do papel comercial da ESI a clientes do BES e da ESAF no âmbito da ETRIC (inspeções da ‘troika’ ao sistema), em cujo plano de recuperação trabalhou a partir de março de 2014, lembrando que deixou a coordenação do Departamento de Risco Global (que ocupava desde 2004) em agosto de 2012, altura em que foi para o departamento criado para a reestruturação de empresas.

Depois da resolução do BES, Carlos Calvário ainda exerceu funções no Novo Banco, a partir de outubro de 2014, como diretor do departamento técnico imobiliário, encontrando-se atualmente desempregado, disse.

As sessões do julgamento das impugnações apresentadas por Ricardo Salgado e Amílcar Pires às contraordenações aplicadas pelo BdP decorrem de segunda a quinta-feira no TCRS, em Santarém.

Novo Banco tem 2,4 mil milhões de euros em imóveis para venda

Quinta-feira, Abril 20th, 2017

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Idealista News

O Novo Banco tem no side bank imóveis (incluindo os de dação em pagamento por incumprimento de crédito) no valor líquido de 2,4 mil milhões de euros. Isto depois de no ano passado o banco ter tido um encaixe líquido com a venda de imóveis de 500 milhões de euros. As provisões para imóveis em 2016 somaram 126,3 milhões de euros.

Segundo o Jornal Económico, o side bank, que será gerido pelo Fundo de Resolução durante oito anos – se a venda do Novo Banco ao Lone Star de concretizar –, tem ainda de gerir as vendas em curso do NB Ásia, do BESV (Banque Espirito Santo et de la Venetie e do Banco Internacional de Cabo Verde. O Moza Banco foi intervencionado e está em processo de aumento de capital e a participação no banco em Angola (Ex-BESA) é dada como perdida.

Relativamente ao side bank, ou seja, os ativos não estratégicos do Grupo Novo Banco, o seu valor era de 8.737 milhões de euros, líquido de provisões, em 31 de dezembro de 2016. Um valor inferior ao registado no período homólogo: 10.843 milhões de euros.