Arquivo para Julho, 2017

Novo Banco vende créditos que eram bandeiras de Salgado

Segunda-feira, Julho 31st, 2017

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Negócios

O Novo Banco vendeu os financiamentos a duas auto-estradas uma em Inglaterra e outra nos Estados Unidos, operações que eram apontadas como bandeiras por Ricardo Salgado. Operações reduziram activos não rentáveis em 900 milhões.

Custo com Fundo de Resolução já “ultrapassa o razoável”

Sábado, Julho 29th, 2017

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Economia ao minuto

O presidente do BCP, Nuno Amado, recusou hoje que haja favorecimento aos bancos, considerando que o custo com os mecanismos de resoluções bancárias é desproporcionado, e rejeitou qualquer agravamento.

Ocusto que hoje temos já ultrapassa o que é razoável e é muito superior a qualquer outro banco europeu em termos relativos”, disse Nuno Amado na apresentação dos resultados do banco referentes ao primeiro semestre, período em que lucrou 89,9 milhões de euros (que compara com os prejuízos de 197,1 milhões de euros do mesmo período de 2016).

O presidente do BCP disse que, apenas até junho, o banco pagou cerca de 90 milhões de euros para financiar os mecanismos de resolução de bancos, e que apenas em Portugal desembolsou mais de 30 milhões de euros só para o Fundo de Resolução, que financiou as intervenções no BES e no Banif.

“Quando falam que os bancos têm tido favorecimento não é verdade. O BCP tem sido um contribuinte para o sistema de resolução e de garantias, incluindo para o Novo Banco e o Banif”, afirmou.

Amado considerou que os bancos portugueses e nomeadamente o BCP (até pela sua dimensão) têm tido um custo com as contribuições para o fundo de resolução nacional mas também europeu “que é desproporcional ao que têm os concorrentes europeus”, considerando que penaliza a concorrência num mercado bancário europeu que se quer único e integrado.

Questionado sobre a proposta do PSD que recomendou ao Governo que renegoceie as condições dos dois empréstimos do Estado ao Fundo de Resolução, pagos pelos bancos, depois de a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) ter considerado que a revisão desses empréstimos (alongou as maturidades para 30 anos e alterou as taxas de juro) piorou as condições para o Estado, Nuno Amado afirmou que não é possível pagar mais.

“Margem de manobra não há”, disse, e recordou que a deliberação da resolução bancária do BES tinha uma cláusula que referia que “não podia pôr em causa a estabilidade do sistema financeiro”.

Já quanto ao encargo extra que ainda pode pender sobre o Fundo de Resolução, uma vez que o acordo para a venda do Novo Banco à Lone Star implica que ainda possa a vir recapitalizar o Novo Banco com até 3,89 mil milhões de euros, o presidente do BCP afirmou apenas que é fundamental que a prestação que os bancos já pagam não aumente.

“Pois? Logicamente é uma decisão complexa, difícil, de valor incerto, vamos ver… A prestação não deve aumentar”, disse.

Já anteriormente, questionado sobre o Novo Banco, Nuno Amado tinha dito que o que o preocupa são “os efeitos colaterais que solução para novo banco tenha” no BCP.

O responsável disse ainda que o BCP não tem obrigações do Novo Banco, tal como o BPI afirmou também esta semana, pelo que não terá de decidir se participa ou não na recompra de dívida própria proposta pelo Novo Banco com vista a poupar 500 milhões de euros.

O líder do maior banco privado português mostrou-se confiante na operação de recompra de dívida, até porque é essencial para que o Novo Banco seja vendido à Lone Star.

O Fundo de Resolução tem uma dívida de cerca de 4.000 milhões de euros ao Estado do dinheiro pedido para pagar as intervenções no BES/Novo Banco, sobretudo, mas também no Banif.

Apesar de o Fundo de Resolução ser gerido pelo Banco de Portugal e consolidar nas contas públicas, o seu financiamento e pagamento das dívidas cabe aos bancos, que têm contribuições anuais regulares para este mecanismo.

A Caixa Geral de Depósitos e o BCP são os principais contribuintes tendo em conta que são os maiores bancos a operar em Portugal.

Novo Banco: Os termos de um negócio reescrito

Sábado, Julho 29th, 2017

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Eco

Novo Banco: Os termos de um negócio reescrito

É pegar ou largar. Foi assim que o Novo Banco (NB) se dirigiu esta semana aos seus obrigacionistas, “propondo-lhes” a troca de obrigações sénior, emitidas pelo banco, por contrapartida de dinheiro.

Recorde-se que, nos termos da venda do NB ao fundo norte-americano Lone Star, anunciada em Março passado, a operação ficara dependente da reestruturação da dívida emitida pelo NB, com vista à poupança de 500 milhões de euros que, na prática, reforçariam a posição de capital do banco. Na altura discutia-se que a reestruturação implicaria a transformação de dívida sénior em dívida subordinada, equiparada a quase capital, o que então me levou a escrever aqui no ECO que “os termos do negócio NB vão ruir”. Pois bem, em face do que ficámos a saber esta semana, os termos do negócio já estão a ser reescritos e o negócio final já não será exactamente aquele que foi anunciado em Março. A parte do negócio que acaba de ser reescrita é precisamente aquela que respeita à modalidade de troca das obrigações sénior do NB. Mas até ao final do processo de venda, continuo convencido, outras partes acabarão reescritas. E os termos do negócio, como já estamos a ver, acabarão por ser outros.

No comunicado de 31 de Março, o Banco de Portugal referia [um] “exercício de gestão de passivos, sujeito a adesão dos obrigacionistas, que irá abranger as obrigações não subordinadas do Novo Banco e que, através da oferta de novas obrigações, permita gerar pelo menos 500 milhões de euros de fundos próprios elegíveis para o cômputo do rácio CET1”. A verdade, porém, é que o prospecto agora divulgado propõe coisa distinta. Propõe a troca das obrigações não subordinadas (outra forma de dizer “sénior”) por dinheiro, em vez de novas obrigações. Em relação a esta alteração, devo dizer que a mudança da modalidade da troca traz várias vantagens face ao modelo original. O tempo foi bom conselheiro.

Primeiro, é oferecida uma única solução a todos os obrigacionistas do NB, institucionais ou particulares, eliminando riscos de arbitrariedade e discriminação entre credores. Segundo, oferece-se uma janela de liquidez – imediata, rápida e fácil de executar. Terceiro, a proposta é feita aos valores aproximados de mercado, facilitando o entendimento global da operação e dos descontos envolvidos. Por fim, pisca-se o olho aos investidores que, aceitando a troca, queiram também ficar como depositantes do NB, oferecendo-lhes, sobre o dinheiro reembolsado, depósitos a prazo entre 3 e 5 anos, cujas taxas de juro, não tendo sido ainda anunciadas, se presumem generosas.

O que poderá então falhar? A começar, a operação necessita de aprovação por parte de uma maioria qualificada de obrigacionistas que representem pelo menos 75% do montante a reestruturar. Trata-se de uma fasquia alta e que, sendo atingida, acarretará a reestruturação coerciva das obrigações detidas por todos os obrigacionistas, incluindo aqueles que tenham votado contra a mesma. Lá se vai, portanto, o carácter voluntário da operação, tantas vezes mencionado pelo Governo português, e que poderá encerrar um outro tipo de risco: uma eventual impugnação da operação, dependendo das regras em vigor nas diferentes praças onde o NB tem obrigações emitidas.

Mas a grande questão, aquela que neste momento ocupa o espírito dos investidores, é saber que alternativa existe a esta oferta? Ora, as autoridades nacionais têm vindo a alertar para o risco de novas medidas de resolução, através de cláusulas de “bail-in” (na prática, implicando a imposição de perdas ainda maiores, senão mesmo totais, aos obrigacionistas em função da hierarquia de senioridade dos títulos detidos), e no limite para o risco de liquidação do banco. O prospecto diz o mesmo. É a famosa TINA (“there is no alternative” – não há alternativa), reforçada pelos recentes acontecimentos em Espanha e Itália. Mas será mesmo assim?

Creio que não.

Primeiro, no caso do NB estaríamos a falar do “bail-in” de obrigações sénior, e não de obrigações subordinadas (como sucedeu no caso do Popular), violando a ideia de santuário tipicamente associada a activos sénior. Permitir o “bail-in” de obrigações sénior seria reincidir em operações como aquela de retransmissão de passivos operada pelo Banco de Portugal no final de 2015 e que o senhor primeiro-ministro tanto criticou (neste caso, muito justamente). Consubstanciaria uma incoerência política, conduzindo ao agravamento do diferendo institucional entre alguns dos principais fundos internacionais e o Estado português.

Segundo, conforme aqui escrevi em Abril, estou profundamente persuadido de que o Governo não deixará o NB resvalar para o cenário da liquidação, que aliás provocaria uma corrida aos depósitos. O custo político seria enorme, o custo financeiro seria maior ainda, e lá se iria a expectativa de recuperação do “rating” da República. Enfim, a alternativa estará, creio, na utilização do Fundo de Resolução (FdR), financiado pelo Tesouro, para fazer face a qualquer insucesso da troca de obrigações e à necessidade de encontrar 500 milhões de euros para reforçar os fundos próprios do NB.

De resto, é importante recuar no tempo e recordar que, nos termos originalmente anunciados, o Lone Star apenas se comprometeu a comprar 75% do NB, ficando o FdR com 25% do capital (mas sem direitos de voto). O envolvimento adicional do FdR não constituiria assim surpresa.

Dito isto, neste momento, o importante é conhecer o preço médio dos obrigacionistas que têm sido mais vocais na oposição à venda ao Lone Star. Os preços oferecidos pelo NB traduzem, grosso modo, as cotações actuais dos títulos em mercado secundário. Mas estes valores de mercado não representam os preços mínimos que, de um modo geral, as obrigações do NB conheceram no último ano e meio.

Assim, se o preço médio dos investidores com posições relevantes for inferior ao preço oferecido, representando posições que tenham sido adquiridas em secundário com descontos ainda maiores do que aqueles reflectidos nas cotações actuais, então, a operação será aprovada e com lucro para os fundos. Se, pelo contrário, os mesmos investidores estiverem carregados de títulos adquiridos ao valor nominal, ou adquiridos com desconto inferior àquele que agora é proposto, então, poderá dar-se o caso de alguns optarem pela máxima de “perdido por cem, perdido por mil”.

Tendo em conta o pedigree de alguns obrigacionistas do NB, estes mil serão tostões para alguns deles e, do ponto de vista dos seus próprios investidores, estes institucionais poderão muito bem concluir que as suas opções jurídico-legais estão ainda longe de estarem esgotadas. Ademais, poderão também concluir que o Estado português, numa altura em que a subida do “rating” da República é prioritária, provavelmente não quererá comprar nova guerra nos mercados financeiros.

Credor do Novo Banco: “investir em Portugal é uma confusão”

Sábado, Julho 29th, 2017

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Eco

Credor do Novo Banco: “investir em Portugal é uma confusão”

 

Fundo alemão investiu 100 milhões no Novo Banco e diz que o sucesso da operação de troca de dívida por dinheiro vai depender dos juros – “o bombom” – que a instituição oferecer nos depósitos.

O fundo alemão Xaia Investment está à espera de conhecer as condições finais da oferta de compra de obrigações do Novo Banco para decidir que rumo dar à posição de cerca de 100 milhões de euros que tem em dívida da instituição. Isto porque o sucesso da operação “dependerá das condições finais dos depósitos” que o Novo Banco vai disponibilizar aos credores, disse o ECO o diretor Jochen Felsenheimer.

Este fundo alemão detém uma posição em obrigações do BES/Novo Banco perto de 100 milhões de euros, mas não está autorizado a divulgar a posição exata. Ao ECO, Jochen Felsenheimer adiantou que já tentou entrar em contacto com o departamento de Relações para o Mercado do Novo Banco, mas sem sucesso. “Eu entendo. Talvez seja demasiado cedo e não queiram dar informação privada”, nota o responsável.

É nesta opção que Felsenheimer acredita que pode estar a chave do sucesso da operação que visa reforçar o capital do Novo Banco em pelo menos 500 milhões de euros.

“O meu entendimento neste momento até agora é que o ‘bombom’ da transação poderá vir da possibilidade de aceitar a oferta dos depósitos, dependendo dos termos finais da oferta”, notou o diretor do Xaia. “Depois de ter estado em contacto com alguns investidores, a minha impressão pessoal é que o nível da oferta em dinheiro é muito desapontante e, por isso, a probabilidade de ter todo o negócio feito dependerá das condições finais dos depósitos“, sublinhou.

“O meu entendimento neste momento até agora é que o ‘bombom’ da transação poderá vir da possibilidade de aceitar a oferta dos depósitos, dependendo dos termos finais da oferta.”

Jochen Felsenheimer

Xaia Investment

Da informação que foi revelada ao mercado até ao momento, sabe-se que cada depósito a prazo disponibilizado renderá juros a uma taxa fixa por um período determinado de tempo que irá variar de três a cinco anos, condições a aplicar em função da série de obrigações.

“No caso de termos uma taxa de juro, que te compensa ao longo do tempo pelo desconto da oferta e finalmente tu tens o ‘par’ (isto é, a soma da oferta mais todos os juros recebidos nos depósitos) ao fim de alguns anos, economicamente, não é nada mais do que uma extensão da maturidade(juntamente com um haircut)”, explica Felsenheimer.

Desapontado com as perdas que pode vir a assumir com o investimento em obrigações do Novo Banco, Felsenheimer tenta desdramatizar esse cenário: “Eu gosto de Portugal, gosto muito das pessoas e até gosto da cerveja Sagres… mas investir em Portugal é às vezes uma verdadeira confusão”.

“Eu gosto de Portugal, gosto muito das pessoas e até gosto da cerveja Sagres… mas investir em Portugal é às vezes uma verdadeira confusão.”

Donde vem o dinheiro para a oferta do Novo Banco? Do balanço

Sábado, Julho 29th, 2017

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Eco

Donde vem o dinheiro para a oferta do Novo Banco? Do balanço

 

O Novo Banco vai gastar quase 3 mil milhões caso os investidores aceitem a troca de dívida. Para pagar, conta com dinheiro da venda de ativos (600 milhões em seis meses) e elevada liquidez do balanço.

É uma das perguntas para a qual os analistas e investidores do Novo Banco ainda não tinham resposta. Onde é que o Novo Banco vai arranjar 2,7 mil milhões de euros para pagar aos investidores caso a oferta de troca anunciada no início desta semana tenha sucesso?

Tendo em conta que recorrer à emissão de dívida é uma carta fora do baralho(já que o banco está precisamente a pedir aos detentores de dívida sénior para devolverem as suas obrigações e assumirem perdas), só resta ao Novo Banco recorrer a fundos próprios.

E que fundos são esses e onde estão? Os responsáveis do banco fecham-se em copas, mas o ECO conseguiu apurar junto de fontes de mercado que o Novo Banco está a contar com o produto da alienação de ativos e o buffer de liquidez que tem no balanço.

Segundo apurou o ECO, nos últimos seis meses o banco conseguiu realizar cash no valor de 600 milhões de euros em alienação de ativos não core. Uma tendência que vai continuar nos próximos anos e, caso se concretize a venda do banco ao Lone Star, o Novo Banco vai contar ainda com o mecanismo de capital contingente (garantia do Fundo de Resolução) que lhe permitirá acomodar perdas nos rácios de capital provocadas pela venda de ativos não core de até 3,9 mil milhões de euros.

Nos primeiros três meses deste ano, o ativo do Novo Banco totalizava 51 mil milhões de euros, menos cinco mil milhões do que os 66 mil milhões de euros contabilizados em março de 2016.

13,2 mil milhões de euros para descontar no BCE?

Em termos de liquidez, o banco também conta com uma posição confortável, e segundo as contas trimestrais tinha no final do primeiro trimestre 13,2 mil milhões de euros de ativos elegíveis para descontar no BCE.

“A oferta prevê a compra de todas as obrigações referentes a 36 emissões do Novo Banco, é uma oferta com contrapartida em cash, proporcionará aos seus detentores um preço alinhado com o mercado e é acompanhada por uma operação de solicitação de consentimento de reembolso antecipado (consent solicitation)”, diz o banco no comunicado onde explica a operação. Caso os obrigacionistas aceitem a troca — que é voluntária — o Novo Banco vai ter de desembolsar 2,7 mil milhões de euros em outubro.

Zeinal Bava. “O dr. Ricardo não me estava a dar nada que não tinha oferecido a outros!”

Sábado, Julho 29th, 2017

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Observador

Zeinal Bava. “O dr. Ricardo não me estava a dar nada que não tinha oferecido a outros!”

 

Ex-CEO da PT recebeu 25,2 milhões de euros do ‘saco azul’ do GES, mas só devolveu 18,5 à massa falida do grupo da família Espírito Santo. Bava mantém a justificação de que o dinheiro não era para si.

Zeinal Bava recebeu 25,2 milhões de euros do ‘saco azul’ do Grupo Espírito Santo (GES), a famosa sociedade offshore Espírito Santo (ES) Enterprises, mas apenas devolveu à massa falida do GES cerca de 18,5 milhões acrescidos de juros de mora. Bava está aberto a devolver a totalidade do dinheiro que recebeu por acordo feito com Ricardo Salgado, mas diz que ainda não tem segurança jurídica para o fazer. “O diálogo está em aberto”, diz Bava.

Estas revelações foram feitas pelo próprio ex-chief executive officer (CEO) da Portugal Telecom (PT) no interrogatório a que foi sujeito no dia 24 de fevereiro deste ano no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) no âmbito dos autos da Operação Marquês — e que foi revelado pela Sábado na sua edição desta quinta-feira.

Num interrogatório tenso em que o gestor falou muitas vezes de forma atabalhoada, Zeinal Bava começou por ser constituído arguido por corrupção passiva, branqueamento de capitais e fraude fiscal por ter recebido entre 2007 e 2011 um total de 25,2 milhões de euros da ES Enterprises. De acordo com as suspeitas do procurador Rosário Teixeira, líder da equipa de investigação da Operação Marquês, Ricardo Salgado ordenou a transferência desse montante para assegurar o apoio de Bava e a sua influência junto dos restantes administradores da PT para um conjunto de decisões favoráveis ao BES/GES. A saber:

  • A oposição à OPA da Sonae à PT — que terminaria com a influência do BES/GES na operadora;
  • A cisão da PT Multimédia, que terá dado a ganhar ao BES várias centenas de milhões de euros;
  • E a venda da empresa brasileira Vivo e consequente compra da Oi/Telemar — duas operações apoiadas pelo BES.

 

As transferências da ES Enterprises para Zeinal Bava foram reveladas publicamente pelo Expresso em maio de 2016 e diziam respeito a um total de 18,5 milhões de euros transferidos, tal como o Observador noticiou posteriormente, em duas tranches, em 2011, por ordens de Ricardo Salgado. Em Março deste ano, o Observador revelou que a investigação da Operação Marquês tinha detetado uma nova transferência do ‘saco azul’ para Bava logo em 2007, mais concretamente a 7 de dezembro de 2007. Foi nesse dia que a ES Enterprises transferiu, por ordens de Ricardo Salgado, 6,7 milhões de euros para a UBS de Singapura, onde Zeinal Bava tinha uma conta aberta em nome de uma sociedade offshore.

Confrontado com esta primeira transferência, Zeinal Bava manteve a sua explicação de sempre para as transferências do ‘saco azul’ do GES: foi uma alocação fiduciária. Ou seja, o dinheiro não lhe pertence, tendo-lhe sido apenas confiado pelo GES numa perspetiva de investimento numa eventual privatização da PT em nome de quadros desta empresa.

Nas suas declarações no DCIAP, Zeinal Bava revelou que, após a derrota da OPA da Sonae à PT, “coloca-se a questão de se eu vou ficar na PT Multimédia, se eu vou ficar na PT. E o dr. Henrique Granadeiro, nessa altura, convida-me… ah.. para ficar como vice-presidente da PT, com a vontade de que eu passasse a ser presidente [em 2008] (…) Naturalmente, o dr. Ricardo Salgado… ah… achou uma boa escolha e nos contactos que eu mantive com o dr. Ricardo Salgado (…) disse que via com bons olhos que eu — e quem eu escolhesse — pudesse ficar mais comprometido com o projeto (…) Eu não fui a primeira escolha, não sei quem foram as outras pessoas, mas aparentemente houve outros convites que tinham sido feitos e essa questão de dar a hipótese às pessoas de poderem ter uma participação na PT já tinha sido aflorada e então eu disse-lhe: ‘olhe, vamos fazer isso, então faz essa transferência’”.

Bava terá feito questão de dizer aos investigadores que não se mostrou surpreendido com esta proposta de Ricardo Salgado:

Tal como o dr. Ricardo me disse que tinha convidado pessoas, não é? Antes de eu ser presidente da PT (…), por isso não me estava a dar nada que não tinha oferecido a outros”, terá afirmado Bava, segundo a revista Sábado.

Confrontado com o facto de não ter sido feito nenhum contrato em 2007 (tal documento só terá sido assinado vários anos depois, a crer nas declarações que Bava fez à comunicação social), Zeinal Bava afirmou aos procuradores Rosário Teixeira, Inês Bonina e Filipe Preces que sentiu-se “desconfortável” com esse facto e pediu a Ricardo Salgado para “formalizar” depois de ter recebido a transferência em dezembro de 2007 mas isso só terá sido feito em 2011.

Tal como já tinha afirmado à comunicação social, Bava admitiu que não chegou a contactar nenhum administrador ou alto quadro da PT para proceder a tal investimento fiduciário com o dinheiro do saco azul’ do GES.

Refira-se que as explicações que Ricardo Salgado deu ao procurador José Ranito no âmbito do caso BES/GES sobre as transferências de 18,5 milhões para Bava, e que repetiu na Operação Marquês, são contraditórias com as de Zeinal Bava, visto que justifica a transferência daquele montante com a ida de Bava para o Brasil para liderar a Oi.

 

A devolução do dinheiro

Durante o interrogatório, foi revelado que Zeinal Bava, tal como Ricardo Salgado e Carlos Santos Silva, tinha aderido ao Regime Excepcional de Regularização Tributária (RERT) para regularizar em maio de 2012 cerca de 11,5 milhões de euros que tinha depositado no estrangeiro.

Os investigadores desenvolveram igualmente em pormenor a devolução que Zeinal Bava afirmou na comunicação social que tinha feito à massa falida do GES no Luxemburgo. Bava garantiu que tentou devolver o dinheiro ao BES logo em 2013, assegurando que enviou uma carta a Ricardo Salgado nesse sentido. O ex-CEO da PT repetiu por várias vezes que essa sempre foi a sua intenção, tendo feito, diz, outras tentativas ao longo dos últimos anos. Mas só em maio de 2016 devolveu 18,5 milhões de euros que tinha recebido em 2011 — valor este que era o único conhecido publicamente pela notícia do Expresso; o valor de 6,7 milhões só foi revelado em março de 2017 pelo Observador.

Os investigadores, contudo, não deixaram passar em claro a contradição: se tinha 6,7 milhões de euros em Singapura desde 2007 e se recebeu 18,5 milhões em 2011, num total de 25,2 milhões, por que razão apenas devolveu 18,5 milhões?”. “Porque não tinha segurança jurídica”, foi a primeira resposta de Bava. Perante a insistência dos investigadores, Bava acrescentou:

O valor foi pago… uh… manteve-se… o diálogo está em aberto, não é? Ou seja, não é um processo que se encerrou, é um diálogo que está em aberto”, terá afirmado, segundo a Sábado.

A terminar o interrogatório, Zeinal Bava terá garantido que, “em relação a tudo o que a gente falou sobre as decisões da OPA [da Sonae à PT], na venda da Vivo, no reajustamento da Vivo, etc., em nada, em nada eu faria diferente do que aquilo que fiz. OK? Em nada”, concluiu.

CreditSights recomenda aceitar oferta “coerciva” do Novo Banco

Sábado, Julho 29th, 2017

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Negócios

A empresa de “research” especializada em dívida de empresas considera que não vender agora as obrigações pode expor os investidores a um risco ainda maior.

A CreditSights divulgou esta manhã um breve relatório sobre a oferta de compra de obrigações anunciada pelo Novo Banco onde aconselha genericamente a aceitação da oferta, tendo em conta o risco de uma futura resolução caso a operação fracasse. E nota o tom “duro” do prospecto.

O Novo Banco anunciou na madrugada de terça-feira uma oferta sobre as obrigações seniores do banco, propondo-se a comprá-las por um valor próximo do valor de mercado, o que implica perdas significativas em relação ao valor nominal. A operação visa conseguir o reforço do capital em 500 milhões de euros, uma condição essencial para que o negócio da venda à Lone Star se possa consumar.
“Para muitos investidores, a oportunidade para sair de um activo ilíquido por um preço próximo dos valores actuais de mercado poderá ser uma opção menos arriscada quando comparada com a incerteza de uma resolução e as dúvidas sobre a viabilidade do banco no longo prazo”, escreve a CreditSights.

A empresa de “research” salienta que a alternativa à oferta e à venda ao Novo Banco é “presumivelmente o banco ser resolvido, o que envolveria um ‘bail-in’ dos detentores de obrigações seniores, uma vez que o NB não tem dívida subordinada ou outros instrumentos híbridos para absorver perdas. Podem ser alvo de uma redução do valor nominal ou convertidas em acções, dependendo do plano de resolução. Esta pode ser uma opção mais atractiva para alguns obrigacionistas, mas isso depende da sua opinião sobre os termos do ‘bail-in’ em comparação com a presente oferta”.

A CreditSights não deixa de salientar o tom do prospecto. Lembra que se o reembolso for aceite pelos detentores de mais de 75% das obrigações, os mesmos termos serão aplicados aos restantes títulos da mesma série, considerando que “a oferta tem um aspecto algo coercivo, através desta cláusula ‘sweep-up’”. A expressão “oferta coerciva” está também no título do relatório. Observa ainda que a linguagem usada é “deliberadamente dura”.
As obrigações têm um valor nominal de 8,3 mil milhões de euros mas estão registadas no balanço do Novo Banco por pouco mais de 3.000 milhões, salienta a CreditSights. Pelos seus cálculos, a aceitação da oferta permitirá reforçar os rácios de capital em pelo menos 250 milhões de euros, vindo o restante valor das poupanças que o banco conseguirá no pagamento de juros.

Novo Banco reduz prejuízos para 290,3 milhões

Sábado, Julho 29th, 2017

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Negócios

Os prejuízos do Novo Banco diminuíram 19,9% nos primeiros seis meses do ano, fixando-se em 290,3 milhões. O corte de custos e de imparidades sustentou a recuperação dos resultados da instituição liderada por António Ramalho.

O Novo Banco registou prejuízos de 290,3 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, o que representa uma redução de 20% face ao final de Junho de 2016, de acordo com o comunicado divulgado esta sexta-feira, 28 de Julho, no site da CMVM. A recuperação dos resultados beneficiou do corte dos custos operacionais e da redução das imparidades, o que mais do que compensou a diminuição do produto bancário.

A diminuição do esforço de imparidades foi a principal razão para a redução dos prejuízos. As imparidades e provisões totais recuaram 28,4%, para 413,1 milhões de euros. Esta queda foi possível apesar de o banco liderado por António Ramalho ter “constituído uma provisão para reestruturação (39,1 milhões) e para actividades em descontinuação (40 milhões”, esclarece a o comunicado.

“Estes resultados evidenciam o enorme esforço de reestruturação do banco, quer no aumento dos resultados operacionais, quer na redução continuada de custos”, justificou Ramalho, citado na nota do Novo Banco. Os custos operacionais recuaram 12,8%, para 265,2 milhões, a beneficiar da redução de trabalhadores verificada nos últimos meses.

Já os proveitos bancários caíram 2,2%, para 436,6 milhões de euros, sobretudo devido à queda de 9,1% verificada na margem financeira. Este desempenho anulou o aumento de 10,5% verificado nas comissões líquidas, que totalizaram 156,3 milhões.

Em termos de negócio, o crédito a clientes recuou 6,9% para 32,23 mil milhões de euros. Já os depósitos aumentaram 1,27%, para 25,38 mil milhões.

Entrou hoje em juízo ação de responsabilidadade civil extracontratual contra o Banco de Portugal e o Estado

Sexta-feira, Julho 28th, 2017

Entrou hoje no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa uma ação administrativa em que se pede a condenação do Banco de Portugal, do Estado, do ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, do ex-Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho e do Governa dor do Banco de Portugal, Carlos Costa por, no essencial, terem ocultado informação relevante a boa gestão dos investimentos no Banco Espírito Santo e terem, depois da resolução, ocultado totalmente a informação que seria indispensável para responsabilizar os membros dos órgãos sociais do BES.

Sustentam os AA., que são pequenos investidores do BES que, se o Banco de Portugal e o Estado tivesse fornecido ao mercado a informação relevante, não teriam eles feito os investimentos que fizeram ou teriam alienado a tempo os seus títulos.

O direito a indemnização por responsabilidade civil extracontratual do Estado e das entidades públicas prescreve no dia 2 de agosto próximo.

Esta ação é patrocinada pelos advogados da Miguel Reis & Associados, de Lisboa.

Novo Banco propõe troca de obrigações por depósitos

Quarta-feira, Julho 26th, 2017

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Público

O Novo Banco já definiu o passo mais decisivo para concretizar a sua venda à Lone Star: recompra antecipadamente dezenas de séries de obrigações a preço de mercado e paga com depósitos. O saldo entre o que gasta e o que poupa em juros permite ter uma folga de 500 milhões para melhorar a solidez.

O Novo Banco comunicou esta madrugada ao mercado os detalhes da operação que falta para finalizar a aquisição pelos norte-americanos do Lone Star. Com o objectivo de reforçar a sua solidez em 500 milhões de euros, o banco liderado por António Ramalho propõe reembolsar de forma antecipada os detentores de obrigações de 36 emissões colocadas no Luxemburgo, e Londres, no valor global de 8300 milhões de euros.

A proposta prevê que o reembolso seja feito a preços de mercado, o que significa que quem aceitar receberá um montante inferior ao valor nominal da dívida. Este desconto varia entre um mínimo de 11% e um máximo de 90,25%, dependendo das maturidades dos títulos, que oscilam entre 2019 e 2052.

Na comunicação que fez aos investidores, o Novo Banco sublinhou que é condição de sucesso desta oferta que um número mínimo de obrigacionistas representantivos de 6276 milhões de euros desta dívida aceite a proposta. Por outro lado, se não aceitarem, a venda ao Lone Star não se concretizará, alertando o banco que as consequências para estes obrigacionistas podem ter “um resultado final mais adverso” do que a proposta em causa, numa referência a uma eventual resolução da instituição.

E vai mais longe neste alerta: “O insucesso na venda do Novo Banco à Lone Star de acordo com os compromissos assumidos pela República Portuguesa perante a Comissão Europeia poderia reintroduzir o tema da liquidação do Novo Banco”.

A oferta termina a 2 de Outubro, depois de convocadas e realizadas as assembleias de obrigacionistas que votarão a proposta. A liquidação da oferta está marcada para 4 de Outubro, pelo que antes desta data o Lone Star não assumirá as rédeas do banco que sucedeu ao Banco Espírito Santo.

Como irá o Novo Banco pagar?

No documento enviado ao mercado, o banco sublinha que “acredita que a sua actual situação de liquidez é suficiente para suportar o desembolso de caixa associado [à oferta], incluindo na circunstância de todos os valores mobiliários serem adquiridos ou antecipadamente reembolsados”. Mesmo que a injecção de capital de 750 milhões de euros prevista na operação de venda à Lone Star ocorra já depois desta operação concretizada.

Por outro lado, o Novo Banco esclarece que os depósitos que poderão atingir um valor máximo de 3000 milhões de euros deverão ter um prazo entre três e cinco anos, consoante a maturidade dos títulos de dívida que substituam nas carteiras dos investidores, sendo que a taxa de juro dependerá também dos termos dessa troca.

A Lone Star acordou comprar 75% do Novo Banco, ficando os restantes 25% na posse do Fundo de Resolução, e aceitou injectar um total de 1000 milhões de euros no banco, 750 milhões no momento da compra e os restantes 250 milhões no prazo de três anos. Adicionalmente, o Fundo de Resolução comprometeu-se a injectar capital no Novo Banco até um máximo de 3890 milhões de euros no caso de se verificar a degradação de activos do banco – em especial na carteira de crédito – com impacto no seu nível de solidez de tal forma que ponha em causa o cumprimentos das metas estabelecidas pelas autoridades europeias.

Os argumentos do Novo Banco

Para tentar convencer os obrigacionista a aceitarem esta oferta, para além do alerta feito acerca das consequências potencialmente mais gravosas num cenário de resolução ou liquidação do banco, a instituição financeira defende também os méritos do valor implícito na troca de obrigações por depósitos.

“Desde a aplicação da medida de resolução ao BES, os preços de mercado secundário dos valores mobiliários têm estado sob pressão devido a um número de factores, nomeadamente devido ao estatuto do Novo Banco como banco de transição” explica na comunicação ao mercado, destacando alguns exemplos como as alterações do Banco de Portugal ao perímetro de activos e passivos, como passagem de títulos para o BES – muito contestada por investidores internacionais -, ou a “existência de vários processos judiciais” na sequência da resolução do banco.

Por outro lado, “os mercados secundários caracterizam-se por níveis reduzidos de liquidez. Os volumes de negociação são reduzidos e deve-se notar que, devido à falta de liquidez (…) os preços sofreram uma grande volatilidade” ao longo dos últimos 12 meses. Portanto, conclui o Novo Banco “caso a oferta não seja bem sucedida e o investimento pela Lone Star não se concretize, os detentos dos valores mobiliários poderão enfrentar perdas substanciais face aos preços de mercado secundário actuais”.

Estes argumentos dirigem-se sobretudo aos investidores institucionais na posse dos títulos em causa, que são também alguns dos que mais têm contestado a passagem de obrigações seniores do Novo Banco para o BES, no valor de mais de dois mil milhões de euros, decidida pelo Banco de Portugal no âmbito das suas competência como autoridade de resolução. Estes investidores, entre os quais se destacam as gestoras BlackRock e Pimco, já recorreram mesmo aos tribunais para defender as suas posições e estarão, agora, do outro lado da mesa desta proposta do Novo Banco, com uma peso significativo no volume total de obrigações abrangidas pela oferta divulgada esta madrugada ao mercado.

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