Arquivo para Julho, 2017

Novo Banco: Perguntas e respostas sobre a compra de dívida

Terça-feira, Julho 25th, 2017

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Negócios

A venda do Novo Banco à Lone Star está dependente de a instituição conseguir gerar 500 milhões de solidez à custa dos seus obrigacionistas. Esperava-se uma troca de dívida, mas está em cima da mesa uma oferta de aquisição de obrigações.

Perceba a quem se destina esta oferta e quais as suas consequências para os detentores de obrigações.

A quem se destina a oferta de troca?

Todos os detentores de dívida do Novo Banco são convidados a venderem as suas obrigações da instituição pelo valor de mercado. O que significa que todos os investidores serão chamados a contribuir para o objectivo de gerar 500 milhões de euros de solidez adicional para o banco.

 

Qual o objectivo desta operação?
O objectivo da oferta de troca é reforçar a solidez do Novo Banco em 500 milhões de euros. Esta meta é conseguida através da poupança gerada pela compra  das obrigações ser feita ao valor de mercado, que é inferior ao valor nominal. Além disso, a compra dos títulos implica que o banco deixará de pagar os juros previstos. É das poupanças com a remuneração das emissões de dívida que virá o principal contributo para conseguir gerar uma folga de capital de 500 milhões para a instituição.

 

Haverá perdas para clientes de retalho?

Os investidores de retalho que tenham adquirido as obrigações ao valor nominal, ou seja, ao preço a que os títulos foram emitidos, terão perdas. Isto porque as obrigações vão ser adquiridas pelo valor de mercado que é inferior ao preço de emissão. Além disso, os investidores tinham a expectativa de vir a receber juros até à data de vencimento das emissões, o que não acontecerá se o Novo Banco conseguir adquirir as obrigações.

 

Quando é que a oferta avança?
A aquisição dos títulos tem início esta terça-feira, 25 de Julho, e decorre até 2 de Outubro.

 

O êxito da operação está garantido?

Para que o Novo Banco consiga comprar as obrigações, os investidores têm de aceitar as condições de compra oferecidas pela instituição. O êxito pode tornar-se obrigatório caso a oferta seja aprovada em assembleia-geral (AG) de acordo com as regras da solicitação de consentimento de reembolso antecipado, prevista em todas as emissões. Isto significa que, para que as ofertas serem vinculativas, o nível de aprovação tem de ser de 75% dos votos representados em AG, bastando que na reunião estejam presentes 66% dos investidores.

Se a oferta for aprovada nestes termos, a aquisição dos títulos será extensível a todas as obrigações, independentemente de os investidores terem votado favoravelmente. Caso as primeiras assembleias-gerais não reúnam 66% dos investidores, nos encontros convocados pela segunda vez bastará que se façam representar 33% dos investidores e que a oferta seja aprovada com 75% dos votos presentes para que a aquisição passe a ser vinculativa.

O que acontece se a oferta for recusada?

Se os investidores recusarem a aquisição de dívida, a venda do Novo Banco à Lone Star não poderá ser concretizada. A realização da oferta de aquisição é uma condição para a concretização da venda.

O fardo sem fim da resolução

Terça-feira, Julho 25th, 2017

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Negócios

Estão quase a cumprir-se três anos desde o colapso do BES e da resolução que criou o Novo Banco. As datas certas são alturas propícias a balanços. Ricardo Salgado não quis deixar de fazer, de antemão, o seu, em legítima defesa, preparando a sua defesa em tribunal. Mesmo que se discorde, mesmo que indigne, há sempre utilidade em ouvir a outra versão da história.
A narrativa é a do costume. Na entrevista ao Dinheiro Vivo, Ricardo Salgado repete que a queda do BES e os lesados são responsabilidade de Carlos Costa e Passos Coelho; o que correu mal, como a dívida escondida do GES, não era do seu conhecimento ou estava fora do seu controle. Só assume que falhou na escolha de Álvaro Sobrinho e Helder Batáglia – cometeu “erros de julgamento, não de princípio”. Acredita quem quer.

Há depois a efabulação, de que se o tivessem deixado a ele, Ricardo Salgado, completar o seu plano, tudo teria corrido bem. Haveria aumentos de capital com dinheiro privado, o BES subsistiria e não haveria lesados do papel comercial. Quando se olha para o Fundo de Resolução e para os quase 10 mil milhões em responsabilidades efectivas e contingentes à conta do colapso do banco, a que acresce todo o dinheiro que se queimou em provisões, é difícil acreditar que tal plano tivesse qualquer chance de ser bem sucedido.

Foi Ricardo Salgado que colocou o banco na vulnerabilidade de ser resolvido. Não aconteceu, nesta crise, com mais nenhum grande banco do sistema português. Ser arguido simultaneamente no Monte Branco, Operação Marquês e Universo Espírito Santo não o condena, mas serve como julgamento ético.

Numa coisa Ricardo Salgado tem razão: ao contrário do que defende Carlos Costa, a resolução está longe se ser um processo exemplar. A venda do Novo Banco é um fiasco. O fardo de 10 milhões de euros que deixou – quando somadas as responsabilidades assumidas pelo Fundo de Resolução na venda do Novo Banco à Lone Star-, penalizam diariamente o sistema financeiro e continuarão a pesar durante longos anos. Seja nos resultados, no “rating” ou na avaliação dos investidores. E acabam por chegar aos clientes na forma de comissões e juros mais elevados.

E a carga ainda poderá crescer. É que se existirem indemnizações a pagar por causa dos processos que decorrem em tribunal, é ao Fundo de Resolução que a conta será endereçada. Na entrevista ao Negócios e à Antena 1, o presidente da APB veio já marcar posição: os bancos “não podem aceitar” mais encargos. O machado da litigância levará tempo a enterrar nos tribunais nacionais, mas a ameaça de guerra está feita.

A resolução é tudo menos um processo limpo, escorreito ou indolor. Três anos depois, o BES ainda é material tóxico e ainda o será por muito tempo. No fim a factura chega sempre: se não pagamos como contribuintes, pagamos como consumidores. Ou das duas maneiras.

Salgado e Morais Pires recorrem de novo processo do Banco de Portugal

Terça-feira, Julho 25th, 2017

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Negócios

O BES “mau” e o ex-administrador António Souto não recorreram da condenação do Banco de Portugal sobre as falhas de controlo do BES relativamente às sucursais. Ricardo Salgado e Morais Pires impugnaram a decisão.

Novo Banco compra toda a dívida para gerar 500 milhões de solidez

Terça-feira, Julho 25th, 2017

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Negócios

O Novo Banco acaba de anunciar uma oferta de compra, a preços de mercado, de todas as suas emissões de obrigações. O objectivo é gerar 500 milhões de euros de solidez. Investidores vão ter perdas de capital, mas sobretudo abdicar da remuneração futura.

A troca de dívida do Novo Banco vai ser, na verdade, uma oferta de aquisição das 36 emissões de obrigações de dívida sénior. A instituição propõe-se recomprar todos os títulos, com o objectivo de gerar 500 milhões de euros de solidez, condição indispensável à concretização da venda do banco à Lone Star.

 

“O Novo Banco lança esta terça-feira, 25 de julho de 2017, a operação de oferta de aquisição de várias emissões de dívida sénior emitidas direta e indiretamente [pela instituição], com o objectivo de reforçar os capitais próprios do banco e concluir o processo de venda à Lone Star anunciado a 31 de Março”, informou a instituição liderada por António Ramalho, ao final da noite desta segunda-feira, 24 de Julho, em comunicado publicado no site da CMVM.

Na prática, o banco vai reembolsar antecipadamente, e a preços de mercado, estas obrigações, algumas das quais com maturidades em 2040, o que significa perdas para os investidores que adquiriram os títulos ao valor de emissão. Além disso, todos os detentores das emissões deixarão de receber a remuneração prevista para estes títulos.

 

Os 500 milhões de solidez adicional que o Novo Banco pretende gerar com esta oferta resultarão, em parte, do facto de o reembolso antecipado ser feito ao valor de mercado ou um pouco acima, mas abaixo do valor de emissão. Mas a maioria da folga de capital resultará da poupança de juros que o banco teria de pagar caso as emissões se mantivessem vivas até à data de reembolso prevista.

 

As ofertas de aquisição, que têm início esta terça-feira, 25 de Julho, e terminam a 2 de Outubro, são voluntárias. No entanto, de acordo com as regras da solicitação de consentimento de reembolso antecipado, previstas em todas as emissões, a venda dos títulos pode tornar-se obrigatória caso a assembleia-geral (AG) dos obrigacionistas que detêm estes títulos aprovem a activação daquelas cláusulas.

Segundo as regras da solicitação de consentimento de reembolso antecipado, a aquisição passa a ser vinculativa para todos os títulos caso o nível de aprovação em AG seja de 75% dos votos representados, bastando que na reunião estejam presentes 66% dos investidores. Se a oferta for aprovada nestes termos, a aquisição dos títulos será extensível a todas as obrigações, independentemente de os investidores terem votado favoravelmente.

Caso as primeiras assembleias-gerais não reúnam 66% dos investidores, nas reuniões convocadas pela segunda vez bastará que se façam representar 33% dos investidores e que a oferta seja aprovada com 75% dos votos presentes para que a aquisição passe a ser vinculativa.

“A oferta prevê a compra de todas as obrigações referentes a 36 emissões do Novo Banco, é uma oferta com contrapartida em cash, proporcionará aos seus detentores um preço alinhado com o mercado e é acompanhada por uma operação de solicitação de consentimento de reembolso antecipado (consent solicitation)”, esclarece o comunicado.

A instituição liderada por António Ramalho justifica a opção pela compra dos títulos em substituição de uma troca de dívida com o facto de uma “solução em ‘cash’ tornar mais simples e perceptível a contrapartida, e mais ajustada aos investidores institucionais e de retalho. Para os clientes do banco que optem pela venda ou que sejam reembolsados serão disponibilizados depósitos a prazo com condições específicas”, adianta o Novo Banco.

“A operação abrange 36 séries de obrigações, com maturidades entre 2019 e 2052, no valor nominal global de 8,3 mil milhões de euros, correspondente a cerca de 3 mil milhões de euros de passivo contabilístico”, esclarece a instituição. Ou seja, nas contas do Novo Banco estes títulos já só implicam responsabilidades de 3.000 milhões sem qualquer alteração das condições das emissões. Tendo em conta que o reembolso antecipado será feito a preços de mercado e que a principal folga de solidez virá de poupanças com juros, o Novo Banco gastará menos de 3.000 milhões nesta oferta.

E como o banco propõe depósitos com remunerações acima da média do mercado aos clientes que têm obrigações e aceitarem está oferta, parte do dinheiro a aplicar na aquisição dos títulos poderá permanecer na instituição sob a forma de depósitos.

Novo Banco compra dívida com descontos entre 11% e 90,25%

Terça-feira, Julho 25th, 2017

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Negócios

O Novo Banco pretende recomprar a dívida sénior com níveis de desconto diferente. Em 15 das emissões, a perda face ao valor nominal é inferior a 50%. Mas em 20 linhas de dívida, o desconto pode chegar a 90,25%.

As condições de compra das 36 linhas de obrigações do Novo Banco variam consoante as características de cada emissão. Há 35 emissões que a instituição pretende adquirir a desconto face ao valor nominal, em que as perdas face a este preço podem variar entre 11% e 90,25%. Mas no caso de uma linha específica, o banco oferece um prémio de 52,74% face ao valor de emissão.

Entre as 35 emissões que a instituição liderada por António Ramalho pretende adquirir a desconto face ao valor nominal, mas a preços alinhados com o valor de mercado, os níveis de perda são inferiores a 50% para 15 emissões. E há sete colocações em que o banco admite pagar mais de 80% do valor do montante investido.

Mas há 20 linhas de dívida em que os investidores que tenham adquirido as obrigações ao valor nominal arriscam perdas superiores a 80%. Há mesmo uma destas emissões em que o desconto chega a 90,25%.

Há ainda uma linha de obrigações que o Novo Banco quer comprar e se propõe pagar um prémio face ao valor nominal aos investidores. Em causa está uma emissão de 20 milhões de euros que a instituição pretende adquirir por 30,55 milhões. Um valor que, ainda assim, representa um desconto face ao actual valor de mercado desta linha, que é de 37,23 milhões.

Ricardo Salgado: “Qualquer outro Governo teria evitado a resolução do BES”

Terça-feira, Julho 25th, 2017

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Negócios

O ex-líder do BES aponta o dedo a Passos Coelho e renova as críticas ao Governador do Banco de Portugal, a quem atribui as culpas pelo surgimento dos lesados do BES. Sobre o Novo Banco, diz que era preferível vender ao BCP ou à CGD.

Ricardo Salgado renova as críticas duras ao Banco de Portugal a quem atribui a responsabilidade da resolução do BES e do surgimento dos lesados do banco, apontando também o dedo ao Governo de Passos Coelho.

 

“Qualquer outro governo com o mínimo de responsabilidade e sem intuitos populistas teria evitado a resolução de um banco com a dimensão do BES. Não houve até hoje na Europa nenhuma resolução de um banco que tivesse 20% de quota de mercado, que representasse 27% das operações com as PME, tinha 30% no financiamento do comércio internacional… e 2 milhões de clientes”.

 

A frase de Ricardo Salgado foi dita em entrevista ao Dinheiro Vivo, onde o antigo líder do BES cita a recapitalização do italiano Monte dei Paschi di Siena, depois do governo italiano ter fugido da aplicação de uma resolução “como o diabo da cruz”.

Semanas antes do colapso do BES, Ricardo Salgado apresentou ao Governo da altura um plano para salvar o banco e o Grupo Espírito Santo, que exigia a injecção de dinheiros públicos e que mereceu o chumbo do executivo de Passos Coelho.

Mas Ricardo Salgado culpa sobretudo o regulador e Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. “O Banco de Portugal provocou o colapso e os lesados do BES”, refere Ricardo Salgado, defendendo que a “administração do BES ficou sujeita a uma resolução, por causa das provisões ilegais” que foram determinadas pelo regulador e que “não foram usadas para reembolsar os lesados do BES”.

Para Ricardo Salgado, “foi a resolução do Banco de Portugal somada à decisão inusitada de se acabar do nome Espírito Santo que apagou das fachadas dos prédios uma marca com mais de 140 anos”, uma decisão “absolutamente inexplicável” que ditou o surgimento dos lesados.

Diz que “já nem estava no BES no momento da resolução” e o Banco de Portugal iniciou “um processo de intoxicação da opinião pública” com o objectivo de o destruir.

Ainda sobre os lesados do BES, lamenta os que perderam dinheiro e afirma que “estamos a falar de dois mil milhões de euros em papel comercial, num total de depósitos de 35 mil milhões. Era um montante pequeno”.

O ex-líder do BES aponta ainda o dedo a Álvaro Sobrinho e Hélder Bataglia, que “tiveram um papel terrível na destruição do banco em Angola”, tendo efectuado “uma gestão ruinosa”. Salgado conta que “só mais tarde vim a perceber que eles eram sócios” e confessa que “este foi um erro meu, de julgamento”.

 

Novo Banco vai ser entregue gratuitamente a um conglomerado estrangeiro

Sobre a venda do Novo Banco também lança críticas, considerando que “vai ser entregue gratuitamente a um conglomerado misto estrangeiro, com uma reputação que devemos questionar”.

Afirma que “o Lone Star é conhecido por ser um fundo oportunista que só irá adquirir o banco se tiver garantido, à partida, que quando vender, parte ou a totalidade, terá rendibilidade elevada” e volta a atacar Carlos Costa. “Era preciso salvar em vez de matar o banco. Isto tudo tem sido consequência da pressão que o governador do Banco de Portugal põe na venda do Novo Banco, que é um desastre”.

Para Ricardo Salgado, “a melhor solução para o Novo Banco era permanecer português, usando o modelo italiano, quer fosse adquirido pela CGD, quer pelo BCP”, ou mesmo pelo Banco de Fomento, que “podia perfeitamente ser recapitalizado pelo Estado para reforçar o Novo Banco”.

Faria de Oliveira: “Bancos não podem pagar litigância da resolução do BES”

Segunda-feira, Julho 24th, 2017

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Negócios

Litigância sobre a resolução do BES pode aumentar a factura do Fundo de Resolução. Faria de Oliveira afirma que os bancos “não podem aceitar” mais responsabilidades e admite que venham a recorrer a tribunal

Novo Banco pode custar à banca quase 10 mil milhões, mas não há alternativas

Segunda-feira, Julho 24th, 2017

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Observador

 

Presidente da Associação Portuguesa de Bancos diz que fatura da venda do Novo Banco é um fardo pesadíssimo. Pode chegar a dez mil milhões. Mas Faria de Oliveira admite que não há alternativas.

O presidente da Associação Portuguesa de Bancos avisa que a solução encontrada para viabilizar a venda do Novo Banco pode representar um “fardo pesadíssimo” para o sistema bancário. Em entrevista à Antena 1 e Jornal de Negócios, Faria de Oliveira diz que podemos estar a falar de uma exposição ao Fundo de Resolução por parte de outros bancos de quase dez mil milhões de euros. Isto é um peso importante e “representa uma percentagem elevadíssima do PIB” (Produto Interno Bruto), cerca de 5%.

Em causa está o reembolso dos financiamentos concedidos pelo Estado ao Fundo de Resolução para permitir a resolução do Banco Espírito Santo e recapitalização do Novo Banco, bem como do Banif, mas também a possibilidade deste fundo ter de assumir mais perdas na instituição que resultou do antigo BES, no quadro do contrato de venda.

O Governo prolongou o prazo de reembolso destes empréstimos, aliviando a carga de juros, conforme está reconhecido nas contas da Unidade Técnica de Apoio Orçamental, mas ainda assim, a conta que pode ir parar aos bancos a operar em Portugal é pesada, considera Faria de Oliveira.

Apesar deste alerta, o presidente da APB reconhece que não há grandes alternativas.

As negociações para vender o Novo Banco ao fundo Lone Star parecem bem encaminhadas e devem estar concluídas até ao final do ano, diz Faria de Oliveira. Ainda no final da semana passada, foi noticiado que as condições para a troca de dívida com obrigacionistas do Novo Banco seriam conhecidas nos próximos dias. Esta é uma operação fundamental para fechar a venda da instituição.

Neste momento, seria muito difícil perspetivar outro tipo de soluções. A nacionalização não parece possível, a liquidação é completamente indesejável. E encontrar um novo comprador exigiria um processo negocial com as autoridades europeias que não sei se estariam disponíveis”.

Faria de Oliveira reconhece ainda que o setor gostava de ter mais informação sobre o estado das negociações. Aliás, é uma das reclamações que o sistema [bancário] tem feito: sermos pouco postos ao corrente do que vai acontecendo”, afirma o porta-voz da banca em entrevista à Antena 1 e ao Negócios.

Nesta entrevista, o presidente da APB admitiu ainda que o processo de redução de trabalhadores na banca vai prosseguir. “Estamos a entrar numa nova era na banca “e os bancos portugueses estão a preparar-se para a nova forma de fazer banca, e que passa muito mais pelos canais digitais e o serviço online.

O BPI anunciou recentemente ter fechado acordo para reduzir, com rescisões voluntárias e pré-reformas, com mais de 600 colaboradores. A Caixa Geral de Depósitos tem em curso um plano de reestruturação que prevê o fecho de balcões e a redução de mais de 2000 trabalhadores.

Governo procura acordo com fundos internacionais que perderam dinheiro com o BES

Sábado, Julho 22nd, 2017

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Público

Está em causa uma indemnização que pode chegar até mil milhões de euros.

O executivo de Amtónio Costa está a tentar chegar a um acordo com grandes investidores do Novo Banco, como os fundos BlackRock e Pimco, que perderam cerca de 1500 milhões de euros com a transferência das obrigações que detinham no Novo Banco para o BES “mau”, decididas pelo Banco de Portugal (BdP) no final de 2015. A notícia é avançada nesta sexta-feira pelo Jornal Económico, e o PÚBLICO apurou que o executivo já transmitiu ao BdP a informação de que tem mantido contactos com os investidores afectados e que estes terão manifestado disponibilidade para um acordo que ponha fim ao litígio. A contrapartida pedida pelo Ministério das Finanças é que a BlackRock e Pimco reinvistam, depois, em dívida pública portuguesa – um negócio que seria semelhante ao que foi celebrado com o Santander, na resolução do litígio sobre os polémicos swaps contratados a empresas públicas portuguesas.

Está em causa, para já, está uma indemnização que pode ir de 750 milhões a 1000 milhões de euros, adianta o Jornal Económico, mas até agora, segundo fonte governamental próxima do processo, não há ainda um princípio de acordo com estes fundos internacionais. De resto, sublinhou uma fonte ligada ao processo ao PÚBLICO, qualquer desfecho nesse sentido terá sempre de ser feito entre as partes em litígio, neste caso, os investidores em obrigações retransmitidas do Novo Banco para o BES “mau” e a Autoridade de Resolução (o BdP).

O objevtivo do Ministério das Finanças com este acordo é fazer um “dois em um”: garantir que um pagamento reverte, também, para o mercado de dívida pública, do qual ambos os fundos se afastaram desde que, a 29 de Dezembro de 2015, o BdP decidiu retransmitir as obrigações que tinha incluído no Novo Banco aquando da resolução para o “bad bank” que está com as dívidas por resolver do velho BES. E, em segundo lugar, resolver um litígio judicial com dois importantes fundos de investimento internacionais. Nos dois casos, o acordo ajudaria a baixar os custos de financiamento da República.

Segundo conta o mesmo jornal, já houve contactos e reuniões do supervisor com estes investidores, que terão registado uma posição “inflexível” do BdP quanto a um acordo: não pode dar uma indemnização com base numa taxa superior à que foi fixada para os chamados “lesados do BES”, os compradores de obrigações vendidas aos balcões do antigo banco. Ao caso, de 50% do valor investido (para os maiores clientes).

Recorde-se que o Governo de António Costa tinha acabado de tomar posse há um mês, quando o Fundo de Resolução (comandado pelo Banco de Portugal) tomou aquela decisão – que desprotegeu os investidores, mas tirou um peso do Novo Banco, procurando uma solução para a sua venda. O executivo não gostou da decisão, que também prejudicou a evolução dos juros da dívida pública (na altura, em subida acentuada). E não poupou às críticas o governador Carlos Costa.

Ricardo Salgado: “O Banco de Portugal é que criou os lesados do BES”

Sábado, Julho 22nd, 2017

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Dinheiro Vivo

É a primeira entrevista em três anos, quando o BES colapsou. Arguido em centenas de processos, admite erros de gestão e não poupa críticas ao BdP

A 3 de agosto completa-se precisamente o terceiro ano desde a resolução do Banco Espírito Santo (BES). A conversa exclusiva com o Dinheiro Vivo decorreu no escritório de Ricardo Salgado, numa vivenda em Cascais, onde prepara a sua defesa e escreve as memórias, que quer lançar até final do ano. Acerca do colapso do BES, durante toda a entrevista deita culpas ao governador do Banco de Portugal e a Passos Coelho. Aceitou responder a todas as perguntas que o Dinheiro Vivo colocou.

Começamos pela compra do Novo Banco pela Lone Star. Como analisa esta aquisição?

Ironicamente, tal como era o GES, a Lone Star é um conglomerado misto, composto por uma área financeira e outra não financeira. A natureza destas instituições foi desconsiderada e criticada pelo governador do Banco de portugal (BdP). Em contradição aberta à posição defendida pelo governador na comissão parlamentar de inquérito ao BES em 17 de Novembro de 2014 – de colocar um fim aos conglomerados mistos e que foi utilizada com uma veemência pouco habitual no Dr. Carlos Costa como um dos argumentos para aplicar ao BES como medida de resolução – assistimos agora à emergência de novos conglomerados mistos em Portugal. A diferença é que estes são estrangeiros.

Refere-se a outros exemplos?

É o caso do CaixaBank, maior da Península Ibérica, que confirmou a aquisição do BPI, e da Fosun, acionista do Milenium BCP. São conglomerados mistos, aprovados. O GES e o BES eram o maior conglomerado misto português e não tiveram direito de se reorganizar, por imposição do Banco de Portugal e do poder político. Pergunto: onde está a coerência do banco central?

Ricardo Salgado: “O Banco de Portugal é que criou os lesados do BES”

Acha que foi discriminatório? Não, não foi só discriminatório. O Banco de Portugal provocou o colapso e os lesados do BES e, se me permitir, vou-lhe explicar como é que isso foi feito. Acredita que a venda do Novo Banco possa vir a ter sucesso? Não posso estar perante uma venda forçada e considerar que ela seja um sucesso. A venda forçada do Novo Banco foi e é um erro. Basta ver onde chegarmos: vai ser entregue gratuitamente a um conglomerado misto estrangeiro, com uma reputação que devemos questionar. O Lone Star é conhecido por ser um fundo oportunista que só irá adquirir o banco se tiver garantido, à partida, que quando vender, parte ou a totalidade, terá rendibilidade elevada. Será esta a solução que o país precisa para gerir o que resta do BES, maior banco de PME em Portugal? Porque não se olha para o que se passa na Europa (Espanha, Itália) e se arrepia caminho? Há PME que poderão colapsar sem um banco com essa matriz? Já muitas colapsaram porque houve uma paralisação do crédito desde a queda do BES, mas as que têm resistido, resistem a duras penas. Em relação ao que foi aplicado ao BES, a resolução, é bom constatar o que se passa na Europa e ver que o governo italiano fugiu da aplicação de uma resolução ao Monte dei Paschi di Siena, o banco mais antigo da Europa, como o diabo da cruz. Aliás, há poucos dias vimos que foi autorizado por Bruxelas que o Estado italiano recapitalizasse o banco.

Defende que Portugal deveria ter feito o que fez a Itália?

Exatamente. Era preciso salvar em vez de matar o banco. Isto tudo tem sido consequência da pressão que o governador do Banco de Portugal põe na venda do Novo Banco, que é um desastre. No meu entender, a melhor solução para o Novo Banco era permanecer português, usando o modelo italiano, quer fosse adquirido pela CGD, quer pelo BCP. Mas também me pergunto: e o Banco de Fomento, para que é que serve? Defende que o Novo Banco fique no Banco de Fomento? Mas tinha defendido a CGD ou BCP… O Banco de Fomento podia perfeitamente ser capitalizado pelo estado para ficar com o Novo Banco. Faz sentido que o Banco de Fomento apoie o desenvolvimento das PME. As PME não precisam só do serviço bancário, de depósito e crédito, precisam de apoio para se desenvolver, para investimento e internacionalização.

Não considera, como muitos, o Banco de Fomento um nado morto?

É um nado morto. Mas é um valor potencial que está ali e que pode ser utilizado. Se o Estado, numa alteração da política que tem seguido até aqui, conseguir aquilo que os italianos conseguiram, não vejo porque é que não deveria fazer um esforço nesse sentido. BCP, CGD e o próprio Banco de Fomento seriam alternativas possíveis.

Por várias vezes, nesta conversa, deita as culpas no governador. Mas a resolução do BES era evitável?

A resolução era perfeitamente evitável. Sei que hoje, passados três anos, já não sou o único a pensar assim. O argumento principal para ter sido desencadeada a resolução, de não haver capital disponível em 48 horas antes do final de julho de 2014, é falso. Este foi o argumento dado pelo Banco de Portugal. Pôs uma espada em cima da cabeça do Vítor Bento [ex-presidente do Novo Banco], ou seja, que tinha de encontrar em 48h uma solução de recapitalização. Mas o governador não diz nada a respeito de ter recusado duas recapitalizações anteriores. O BdP rejeitou pelo menos duas hipóteses, uma a 11 de julho e outra a 16 de julho. Eu saí do banco no dia 13. O governador nem sequer recebeu esses investidores e eles pegaram nas malas e voltaram imediatamente para Londres. Um deles o Third Point LLC, liderado por Daniel Loeb, foi ao Banco de Portugal dizer que estava interessado em recapitalizar o banco e não lhe responderam.

Nem recebido pelo governador? Não. Foi recebido, julgo eu, pela supervisão. Aliás, vi uma desconsideração em relação a este fundo feita por um dos membros da supervisão e até pelo governador. Só queria recordar que este Daniel Loeb é hoje o homem que está a tomar posições significativas numa das maiores empresas europeias, a Nestlé. E foi diretamente ao BdP e não obteve qualquer resposta. O que é gravíssimo é que no a 11 de julho, era uma sexta-feira, eu saí dia 13, que era um domingo e um dia de azar, mas no dia 12 a área financeira do banco enviou à supervisão um comunicado avisando que o banco estava a ter uma fuga de 2 mil milhões de euros de depósitos. Portanto, não é possível considerar que o banco central não tenha compreendido que se estava a desenvolver aquilo que é o maior pesadelo para os banqueiros, mas também para reguladores e governos, que é uma crise de liquidez e corrida aos depósitos.

Na sua opinião, o que terá levado o Banco de Portugal a não aceitar essas recapitalizações?

É inexplicável, só o Banco de Portugal poderá explicar. Numa ótica da continuidade do BES, a atuação da supervisão foi ainda pior, porque a 23 de julho, forçou a constituição de 2 mil milhões de provisões ilegais que não observavam o regime do IAS 37, e que quebraram os rácios de solvências para um nível abaixo do requerido pelo BCE. Já no Novo Banco, o mesmo regulador determinou a reversão de cerca de mil milhões de euros dessas provisões, as mesmas que rapidamente se compreendeu que eram absolutamente desproporcionadas e que serviram para matar o BES, sem garantir o reembolso dos clientes para o que, alegadamente, tinham sido constituídas.

Terá sido essa a gota de água?

Foi, sem dúvida! Foi isso que destruiu o nível de capitalização do BES abaixo dos níveis de solvência e que deu o argumento ao Banco de Portugal para haver um corte nos apoios de liquidez do BCE ao BES. O que defendo é que quem prejudicou os lesados do BES não foi a administração do banco. A administração do BES ficou sujeita a uma resolução, por causa das provisões ilegais que referi, e a seguir essas provisões não foram usadas para reembolsar os lesados do BES. Essas provisões foram mandadas fazer pelo BdP, naturalmente com a assinatura do auditor. E, oportunamente, não já, sairá a demonstração que estas provisões eram ilegais, mas não lhe posso dizer mais nada nesta altura, peço desculpa. O que tem estado a dizer é que quem prejudicou os lesados do BES não foi a administração, mas foi o Banco de Portugal? Exatamente. Foi a resolução do Banco de Portugal somada à decisão inusitada de se acabar do nome Espírito Santo que apagou das fachadas dos prédios uma marca com mais de 140 anos. É absolutamente inexplicável! Foi também o BdP que, para justificar uma resolução injustificável, que imediatamente declarou culpados os gestores do banco e iniciou um processo de intoxicação da opinião pública. É preciso lembrar que já nem estava no BES no momento da resolução. Se o objetivo era destruir-me, não era preciso tanto. Julga que um outro governo, do PS por exemplo, teria evitado a queda do BES? Qualquer outro governo com o mínimo de responsabilidade e sem intuitos populistas teria evitado a resolução de um banco com a dimensão do BES. Não houve até hoje na Europa nenhuma resolução de um banco que tivesse 20% de quota de mercado, que representasse 27% das operações com as PME, tinha 30% no financiamento do comércio internacional… e 2 milhões de clientes. Mas um governo do PS teria evitado esse colapso? Qualquer outro governo. Eu não sou político, embora me quisessem colar a uma certa política do último governo do PS.… O governo de Sócrates? Não vou poder entrar muito por aí, como sabe. O caso Operação Marquês está a aguardar informações. Isso ficará demonstrado com o tempo. Nunca me envolvi em políticas nenhumas neste país, apesar de muitos comentadores quererem referir isso.