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Nos últimos anos, várias operações que passaram pelo banco tiveram a intervenção de dois gestores suíços e da sociedade Eurofin, que está no centro da acusação do Ministério Público contra Ricardo Salgado.
A anterior e a atual administração do Novo Banco mantiveram, nos últimos anos, contactos e desenvolveram operações com três acusados no “caso BES”: a sociedade Suíça Eurofin e os gestores Alexandre Cadosch e Michel Creton. Segundo documentos dos autos do processo-crime, as operações foram levadas a cabo sem o conhecimento do Ministério Público. Uma delas, aliás, resultou no desaparecimento de 60 milhões de dólares, apreendidos judicialmente. O Novo Banco garante ter atuado dentro da lei, porém o Ministério Público descreveu várias “interacções” entre responsáveis do banco e os suspeitos.
Logo num despacho de 28 de janeiro de 2020, isto depois de a investigação já ter descoberto que um conjunto de obrigações apreendidas à ordem do processo judicial tinham sido declaradas extintas – a procuradora Olga Barata, que integrou a equipa de magistrados do Ministério Público (MP) que durante seis anos investigou o caso, adiantou que, em setembro de 2019, o MP tinha comunicado ao presidente do conselho de administração que o banco estava a manter “interacções com Alexandre Cadosch e Michel Creton e a Eurofin”, três arguidos no caso BES. Para estar a par das suspeitas, o MP “facultou ao Novo Banco a indicação criminal feita” no processo crime do Banco Espírito Santo, cuja acusação foi conhecida no passado mês de julho . A interacção com os arguidos terá decorrido mesmo após
Em outubro de 2019, referiu a procuradora no mesmo despacho, “o Ministério Público comunicou ao Novo Banco que não adequaria a idoneidade de negociação que envolvesse arguidos no processo que investiga as circunstâncias que permitiram o fim do BES e a lesão dos seus clientes”. Porém, continuou, o “Novo Banco prosseguiu uma iniciativa sua”, dizendo estar a ser conduzida “no interesse de clientes seus”. Isto mesmo reafirmou o banco em resposta à SÁBADO. A Eurofin e os dois gestores, recorde-se, foram acusados de crimes de associação criminosa, burla qualificada, entre outros, por suspeitas de terem integrado um esquema liderado pelo antigo banqueiro Ricardo Salgado para, através dos clientes do Banco Espírito Santo, obter financiamento, com a compra e recompra de obrigações, para a parte não financeira, o chamado Grupo Espírito Santo.
Uma das operações prendeu-se com a extinção de obrigações no valor de 60 milhões de dólares, que estavam sob custódia do Novo Banco. E, num despacho de Novembro de 2019, o Ministério Público foi claro: a extinção das obrigações decorreu sem “qualquer conhecimento prévio do tribunal, por parte do Novo Banco, como estava obrigado em virtude da apreensão judicial da carteira de títulos, para que em tempo fosse deduzida a oposição”. Já depois de o Ministério Público ter imputado ao Novo Banco a responsabilidade pelo “desaparecimento” do dinheiro, o juiz Carlos Alexandre declarou no processo: “Em 15 anos, nunca me tinha sido dado a conhecer que, após uma apreensão, o que estava à guarda do fiel depositário [neste caso, o Novo Banco] fosse movimentado sem conhecimento do tribunal”. O juiz de instrução obrigou o banco à prestação de uma caução, mas este recorreu da decisão, aguardando um desfecho.
No despacho de acusação, os procuradores referem que “após terem tido conhecimento que tais títulos estavam apreendidos judicialmente, os responsáveis pela ZYRCAN e EG PREMIUM, os arguidos Michel Creton e Alexandre Cadosch praticaram um conjunto de contratos fraudulentos que tiveram por propósito extinguir juridicamente as obrigações em causa. O que aconteceu sem o conhecimento das autoridades judiciárias, e em violação da decisão judicial que as havia apreendido”.
Isto mesmo terá acompanhado de perto pelo Novo Banco, já que os próprios arguidos, numa declaração enviada pelos seus advogados ao processo judicial a 28 de janeiro de 2020, declararam que o Novo Banco tinha “apoiado e acompanhado” todo o processo de oferta pública das obrigações, “bem como promovido e agilizado a disponibilização dos fundos para o efeito”. Aliás, num ofício enviado para o Departamento Central de Investigação e Acção Penal, o Novo Banco revelou ter mantido duas reuniões, em Paris, com a Eurofin e com os arguidos Alexandre Cadosch e Michel Creton.
O banco foi representado pelo presidente da comissão executiva, António Ramalho, por Isabel Ramos de Almeida e por António Taquenho, quadro do antigo Banque Espírito Santo et de la Vénétie. A proposta para a solução dos títulos EG Premium que ,segundo o Novo Banco, serviria para reembolsar os emigrantes que, antes da queda do BES, investiram nos títulos, foi apresentada por Nuno Barnabé, advogado da PLMJ, em representação da Eurofin e atravessou duas administrações do banco: a anterior liderada por Stock da Cunha, e a atual, presidida por António Ramalho.
Segundo os procuradores que investigaram o caso BES (processo 324/14.0TELSB), com as operações de venda de acções preferenciais “conseguiram os responsáveis pela EG PREMIUM, arguidos em Portugal, através dessa operação, reaver para o património da entidade um valor que, indiretamente, estava sob o domínio judicial, e que constituía parcialmente o produto de crimes que geraram proveitos ascendentes a 270 milhões de euros (o montante de todas as ações preferenciais vendidas a clientes bancários)”.
“Através de todos estes atos, pretenderam os arguidos, com a compra de ações preferenciais, emitidas pela EG PREMIUM, eliminar a sua dívida, com um prémio de 60%, mantendo para si uma mais-valia patrimonial, também ela criminosa”, concluíram os procuradores no despacho de acusação, que imputou centenas de crimes a antiga equipa de gestão do Banco Espírito Santo, liderada por Ricardo Salgado.
Entretanto, esta quarta-feira, o Novo Banco enviou à SÁBADO esclarecimento adicionais
Esclarecimento sobre notícia da revista Sábado
Relativamente a notícia de hoje publicada online na site da revista Sábado, nomeadamente o titulo erroneo referindo que o Banco “negociou as escondidas”, o Novo Banco considera relevante prestar os seguintes esclarecimentos:
– O Novo Banco nunca negociou com a sociedade gestora nem com os seus representantes, (trata-se de uma sociedade gestora suiça totalmente independentes do Novo Banco) apenas defendeu intransigentemente o direito dos seus clientes a terem uma opção de recuperar parte do valor que investiram, que de outro modo não iriam receber. Aderiram, em 2019, à oferta publica de aquisição uma percentagem muito significativa (84%) dos clientes, tendo o Novo Banco abdicado de vender os instrumentos que tinha em carteira para aumentar o valor a distribuir pelos clientes.
– O Novo Banco efetuou diligências entre 2015 e 2019 para obter informação relativamente ao EG Premium e aos seus ativos para que os mesmos pudessem ser rapidamente atribuídos aos clientes titulares destes instrumentos. De entre estas diligências existiram reuniões com a associação dos lesados, nas quais participaram também representantes do Governo. As reuniões mencionadas no artigo ocorreram em 2018, sendo que apenas em setembro de 2019 o Novo Banco foi informado do estatuto processual dos interlocutores que representavam a EGP.
– Adicionalmente, a operação de recompra do EG Premium e a respetiva documentação foi apresentada por iniciativa do Novo Banco ao Ministério Público e foi articulada com a CMVM.
– O Novo Banco prestou toda a colaboração e esclarecimentos solicitados pelas autoridades relativamente à operação e aos fluxos financeiros da mesma que eram do seu conhecimento.