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O acordo assinado em 2017 prevê que o Fundo de Resolução é que terá de injetar dinheiro no Novo Banco para reforçar os rácios de capital. Segundo apurou o Negócios, não está previsto um “plano B”.
O Parlamento travou a única forma de o Novo Banco receber a próxima injeção de capital. Ou seja, através do Fundo de Resolução. É que, segundo apurou o Negócios, o contrato assinado entre o Estado e o acionista norte-americano Lone Star dita que este reforço seja feito pelo fundo, sem prever alternativas. Em última instância, o destino do banco pode ficar nas mãos do Banco Central Europeu (BCE).
Foi na quarta-feira à noite que o Parlamento surpreendeu ao aprovar uma proposta do Bloco de Esquerda que trava a transferência de quase 500 milhões de euros do Fundo de Resolução para o Novo Banco (NB). Este é o valor que, segundo a proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2021, o banco pediria no próximo ano.
Esta proposta foi avocada na quinta-feira, apesar de todos os esforços do PS para convencer as outras bancadas a votar contra. Não conseguiu e, com isso, a verba que estava no OE para o Fundo de Resolução injetar no Novo Banco deixou de existir. E não há outra forma de o reforço ser feito.
“Não há uma alternativa prevista no contrato”, refere fonte próxima do processo ao Negócios. Há outras formas de capital ou de quase-capital, mas que o fundo não pode subscrever. São produtos apenas para os bancos, o que, na prática, significa que as instituições financeiras é que estariam a emprestar diretamente ao NB. E isso seria um incumprimento do contrato, refere outra fonte.
No contexto deste acordo foi criado um mecanismo de capitalização contingente que permite ao fundo injetar no NB até 3,89 mil milhões de euros para reforçar os rácios de capital sempre que baixem de determinado patamar. Deste total, a instituição já pediu perto de 2,9 mil milhões, num período em que tem registado perdas elevadas com a venda de carteiras.
Perante a falta de recursos próprios, o Estado tem feito todos os anos empréstimos ao fundo para este injetar no NB. Agora, este empréstimo seria feito por um conjunto de bancos. No entanto, com a decisão do Parlamento esta transferência fica bloqueada.
Mais flexibilidade do BCE?
Sem este “cheque”, o Novo Banco pode ficar dependente da posição do BCE. Fontes ouvidas pelo Negócios explicam que um dos cenários é o banco central dar flexibilidade, como aliás tem vindo a aplicar ao setor devido à pandemia, ao nível dos rácios de capitais do NB, cujo patamar definido é de 12%.
Para apoiar a banca e permitir que esta esteja mais disponível para apoiar a economia, o banco central tem aliviado as exigências de capital impostas às instituições financeiras. Por outro lado, permitiu que fossem concedidas moratórias no crédito sem que os empréstimos sejam considerados em incumprimento.
Já no caso de o Governo chegar a maio – data-limite para as injeções – sem avançar com o reforço, entrará em incumprimento contratual. Neste caso, referem fontes próximas do processo, o BCE pode vir até a aumentar os requisitos de capital do Novo Banco, perante uma mudança da perceção de risco.
A agência de notação financeira DBRS já avisou que esta aprovação “surpresa” coloca “desafios para o NB, ao criar incerteza em relação ao capital do banco e ao plano de redução de riscos, ao mesmo tempo que aumenta o potencial de litigância”.