Arquivo para Março, 2021

Carlos Costa garantiu que linha da troika estava disponível para o BES, diz José Honório

Domingo, Março 28th, 2021

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Negócios

O antigo vice-presidente do Banco Espírito Santo diz que foi, assim como a restante equipa, surpreendido pelo anúncio do Banco de Portugal de que o banco ia ser alvo de uma medida de resolução.

Carlos Costa, ex-governador do Banco de Portugal, garantiu que a linha de recapitalização da troika estaria disponível, caso fosse necessário no Banco Espírito Santo (BES). A revelação foi feita por José Honório, antigo vice-presidente do BES e ex-administrador do Novo Banco, esta quarta-feira, no Parlamento. O banco acabou por ser alvo de uma resolução. Sobre a garantia de Angola no BESA, o gestor diz ter estranhado não ter havido nenhuma intervenção política.

O gestor está a ser ouvido pelos deputados, esta quarta-feira, 24 de março, no âmbito da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.

José Honório afirmou que, no momento em que foi convidado por Carlos Costa para assumir o cargo de vice-presidente do BES, em julho de 2014, questionou como estava o banco.

O governador disse “que o banco estava bem, que tinha uma almofada de capital”, refere, adiantando que questionou sobre a possibilidade de haver “algum factor superveniente” que tivesse impacto no banco. Foi aí que lhe foi dito por Carlos Costa que “não esteja preocupado porque aí temos a linha de recapitalização pública do Estado”.

Foi com base nesta garantia e na “confiança pessoal que tinha em Vítor Bento e com base no respeito que me merecia o governador” que aceitou o cargo.

O BES acabou, no entanto, por ser alvo de uma medida de resolução em agosto de 2014. Um anúncio que surpreendeu José Honório, mas também Vítor Bento, então presidente, e João Moreira Rato, ex-administrador financeiro, tal como já foi relatado pelos dois responsáveis no âmbito da mesma iniciativa parlamentar.

Quando José Honório confrontou Carlos Costa sobre a linha pública, o governador “disse que era uma decisão política”.

Resolução do BES surpreendeu
“Para mim e para os meus colegas era um facto completamente novo”, isto porque, até então, “todos os comunicados do Banco de Portugal falavam sempre que estava disponível a linha de recapitalização” da troika para socorrer o sistema financeiro nacional.

A equipa acabou por sair pouco tempo depois devido a um “cúmulo de situações”, como foi afirmado por Vítor Bento, na terça-feira, nomeadamente a insuficiência de capital no arranque do Novo Banco, uma instituição que tinha um estatuto de banco de transição e cuja marca tinha de ser reconstruída.

Era um “morto vivo numa unidade de cuidados intensivos”, com a gestão a “empurrar uma maca, mas onde faltavam os equipamentos”, descreveu José Honório, notando que “o banco nao tinha futuro como estava”.

Garantia de Angola devia ter tido intervenção política
Outro dos temas que tem estado em cima da mesa é a garantia soberana de Angola para cobrir riscos no balanço do BESA, que acabou por ser retirada.

De acordo com José Honório, “o tema da garantia só começou a ser tema de conversa quando as questões começaram a surgir”, referindo que “a nós nunca nos foi dito que a garantia não era ilegível”.

“A minha preocupação era a exposição do BES ao BESA, ainda para mais quando estávamos com um problema de liquidez muito grande”, referiu o gestor.

 

Pedido do Novo Banco “manifestamente ultrapassa” o que é devido, afirma Costa

Domingo, Março 28th, 2021

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Sic Notícias com som

O Novo Banco pede mais 598,3 milhões de euros ao Fundo de Resolução.

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou hoje que o pedido de capital do Novo Banco ao Fundo de Resolução “será apreciado”, mas considerou que “manifestamente ultrapassa” aquilo que se avalia ser devido.

No final de uma visita ao Pavilhão Multiusos de Odivelas, onde decorre a vacinação de professores e funcionários das escolas, António Costa foi questionado sobre o anúncio do Novo Banco, feito na sexta-feira, de que vai pedir mais 598,3 milhões de euros ao Fundo de Resolução ao abrigo do Mecanismo de Capital Contingente (MCC), para fazer face aos prejuízos de 1.329,3 milhões de euros reportados, relativos a 2020.

“É um pedido, será devidamente apreciado, como o Ministério das Finanças ontem [sexta-feira] já disse, manifestamente ultrapassa aquilo que é a avaliação que se faz sobre o que são as necessidades e aquilo que é devido, mas isso é outro filme”, disse, apenas, o primeiro-ministro.

A transferência de 476 milhões de euros prevista na proposta de Orçamento do Estado para o Fundo de Resolução, destinada a financiar o Novo Banco, acabou por ser chumbada no parlamento, mas o Governo já indicou que irá cumprir o contrato estabelecido aquando da venda da instituição financeira à Lone Star.

Na sexta-feira, em comunicado do Ministério das Finanças, o Governo disse estar “plenamente convicto” de que o valor final do Fundo Resolução a transferir para o Novo Banco, “após a verificação das entidades competentes, ficará abaixo do previsto na proposta de OE2021”, segundo um comunicado.

As Finanças dizem depois que “o Governo ficará a aguardar pela informação que lhe seja transmitida pelo Fundo de Resolução sobre esta matéria”.

A tutela recordou ainda que, “além dos mecanismos contratualmente previstos, aguarda-se ainda a conclusão da auditoria especial prevista na Lei n.º 15/2019, de 12 de fevereiro, relativa ao pagamento efetuado em 2020 pelo Fundo de Resolução, a qual deverá ser concluída em breve” e apelou a “todos os agentes” a que “atuem com a máxima exigência e rigor, com vista à preservação da estabilidade do sistema financeiro e da reputação da República, e à minimização dos impactos nas contas públicas”.

Desde 2017, o Fundo de Resolução já meteu 2.976 milhões de euros no banco, dos quais 2.130 milhões vindos de empréstimos do Tesouro (como o fundo não tem dinheiro suficiente, todos os anos pede dinheiro ao Estado, que devolverá em 30 anos).

No total, até ao momento, os custos do Fundo de Resolução com o Novo Banco já totalizam 7.876 milhões de euros (4.900 milhões de euros da capitalização inicial, em 2014, e 2.976 milhões ao abrigo do mecanismo contingente desde 2017) e mais encargos se poderão somar quer para o fundo quer diretamente para o Estado, muitos dos quais impossíveis de quantificar (indemnizações por processos em tribunal, pagamentos a credores do BES, garantias a lesados, entre outros).

 

Fundo de Resolução passa a pente fino 160 milhões do pedido de injeção do Novo Banco

Domingo, Março 28th, 2021

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Negócios

O Fundo de Resolução está a passar a pente fino matérias que integraram o pedido do Novo Banco para acionamento do mecanismo de capital contingente que excedem os 160 milhões de euros, anunciou a entidade liderada por Máximo dos Santos.

Em comunicado – divulgado depois de ter sido anunciado pelo Novo Banco que tinha pedido ao Fundo de Resolução uma injeção de capital de 598,3 milhões de euros, com base nas contas de 2020 – o Fundo de Resolução informa que vai analisar o pedido, mas vai já dizendo que, “relativamente a determinadas matérias, se encontra ainda em análise se os respetivos impactos nas contas do Novo Banco estão abrangidos, nos termos do contrato, pelo mecanismo de capitalização contingente”, sendo que as “matérias em análise representam um montante que excede os 160 milhões de euros”.

O Novo Banco apresentou os resultados de 2020, com um prejuízo superior a 1.300 milhões de euros, tendo acionado o mecanismo de capital contigente para repor os rácios de capital.

“De acordo com os resultados divulgados, o pedido do Novo Banco relativamente ao pagamento a realizar nos termos do Acordo de Capitalização Contingente ascende a 598 milhões de euros”, explicando o Fundo de Resolução que, “nos termos do contrato, serão agora realizados os procedimentos de verificação do valor calculado pelo Novo Banco, como aliás tem sucedido nos últimos anos”.

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, realçou, em conferência de imprensa para apresentar as projeções económicas, que “o que conhecemos através do Novo Banco foi o pedido de acionamento do acordo de capital contingente”, mas que “há, agora, um processo de validação desse pedido que decorrerá nas próximas semanas e o Banco de Portugal e o Fundo de Resolução farão o seguimento desse processo”.

O pagamento será feito em maio, garante ainda o Fundo de Resolução, “cumpridos que estejam todos os requisitos e procedimentos aplicáveis”. O Parlamento chumbou, no entanto, a verba inscrita no Orçamento do Estado para 2021 para o Novo Banco, de 476 milhões de euros. Mesmo assim tal como o Negócios noticiou, a verba pedida é superior a essa que estava inscrita no Orçamento.

Para Mário Centeno, aquilo que é mais importante é que os acordos sejam cumpridos. “Há sempre várias partes nos acordos e espero que isso aconteça exatamente nestes termos também”.

Novo Banco regista prejuízos de 1.329 milhões de euros em 2020

Domingo, Março 28th, 2021

Citamos Eco

Novo Banco regista prejuízos de 1.329 milhões de euros em 2020

Banco liderado por António Ramalho anunciou esta sexta-feira que teve um resultado líquido negativo de 1.329,3 milhões de euros no ano passado. A pandemia pesou, mas não só.

ONovo Banco fechou 2020 com prejuízos de 1.329,3 milhões de euros, anunciou o banco esta sexta-feira. O resultado compara negativamente com a perda de 1.059 milhões de euros registada em 2019.

As contas eram aguardadas com expectativa sobretudo por causa do pedido (que poderá ser o último) que o banco vai fazer ao Fundo de Resolução: apresentou uma fatura de 598,3 milhões, acima do que o Governo esperava. Ainda assim, há dúvidas sobre 160 milhões desse pedido por causa da venda da operação em Espanha.

A instituição liderada por António Ramalho explica o agravamento dos resultados no ano passado com três fatores:

  • um impacto negativo de 300,2 milhões resultado de avaliações independentes aos fundos de reestruturação;
  • 1.191,5 milhões de euros de imparidades e provisões, em resultado da descontinuação do negócio em Espanha e do agravamento do nível de incumprimento de alguns clientes (crédito a clientes, garantias e instituições de crédito), sendo 268,8 milhões de euros de imparidade adicional para riscos de crédito decorrentes da pandemia Covid-19; e
  • 123,9 milhões de euros de reforço da provisão para reestruturação.

No que diz respeito ao negócio, a margem financeira subiu 8,3% para 555,1 milhões de euros, com os rendimentos com serviços de clientes (comissões) a caírem 12,9% para 271,9 milhões.

produto bancário praticamente duplicou dos 300 milhões para os 617 milhões, uma subida que se deve sobretudo a um desagravamento da rubrica “Outros Resultados de Exploração”, que passaram de -326,8 milhões para -136,6 milhões, com António Ramalho a explicar esta evolução com a redução do legado do BES.

Do produto bancário há que subtrair os custos operacionais de 431,8 milhões (-1,6%) para se chegar ao resultado operacional positivo de 186,1 milhões de euros.

Ao contrário dos outros bancos, o Novo Banco viu a carteira de crédito emagrecer ligeiramente para 25,2 mil milhões de euros. Já os depósitos de clientes subiram (acompanhando a tendência do setor) para 26,1 mil milhões de euros.

Ao nível da qualidade do crédito, o rácio NPL baixou consideravelmente de 12% para 8,9% no final do ano passado, uma evolução que reflete, em boa parte, a venda de carteiras de malparado por parte do banco.

Enquanto isso, os rácios de solvabilidade baixaram de 13,5% para 11,3% (CET1 e Tier1) e 15,1% para 13,3% no caso do rácio de fundos próprios.

“Moratórias são para resolver já”

O Novo Banco tem 6,9 mil milhões de euros de crédito em moratória, representando cerca de 27% da carteira de créditos a clientes. António Ramalho está ciente do desafio que o setor tem pela frente quando as moratórias expirarem depois de setembro. E defende que as soluções devem ser pensadas sem mais demoras.

As moratórias são assunto para resolver já e não para resolver em setembro. Costumo dizer e volto a repetir: não deixemos em setembro o que podemos fazer em março. Não deixemos para 2022 o que podemos fazer em 2021″, disse António Ramalho. “Adiar problemas não resolve nada em banca”.

(Notícia atualizada às 19h14)

BES: Relação confirma sentença que condenou ex-administradores da PT

Quarta-feira, Março 24th, 2021

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Expresso

Em causa estava a redução das coimas aplicadas pelo regulador dos mercados aos ex-administradores da Portugal Telecom Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, Pacheco de Melo e Morais Pires.

O acórdão da Relação, datado de 12 de fevereiro e a que a Lusa teve hoje acesso, julgou, com voto de vencido do presidente da Secção de Propriedade Intelectual, Concorrência, Regulação e Supervisão, Eurico Reis, improcedentes os recursos interpostos pelos ex-administradores da PT, no âmbito do processo que envolveu o investimento da operadora na Rioforte, empresa do Grupo Espírito Santo (GES).

Na sua decisão, o Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (TCRS), em Santarém, manteve a coima de um milhão de euros aplicada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) à PT (atual Pharol), suspendendo-a na totalidade durante três anos, e reduziu as que o regulador havia aplicado aos ex-administradores Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, Pacheco de Melo e Morais Pires.

Os ex-administradores recorreram da decisão para o Tribunal da Relação de Lisboa, que confirmou na íntegra a sentença da primeira instância, a qual reduziu as coimas aplicadas pela CMVM a Henrique Granadeiro de 750.000 para 420.000 euros, a Zeinal Bava de 600.000 para 310.000 euros, a Luís Pacheco de Melo de 400.000 para 300.000 euros e a Amílcar Morais Pires de 300.000 para 180.000 euros.

O acórdão da Relação é passível de recurso até ao Tribunal Constitucional.

Na declaração de voto de vencido, Eurico Reis afirma que teria julgado “parcialmente procedentes” os recursos e reduzido os valores das coimas, tendo em conta o estabelecido no artigo 18º do Regime Geral das Contraordenações (RGCO), que determina a medida da coima.

O juiz invoca o facto de a sentença do TCRS justificar a redução das coimas por não ter ficado provado que as condutas dos ex-administradores “tenham gerado danos ou prejuízos, nem que da sua atuação tenham resultado benefícios patrimoniais” e por terem sido “cooperantes”, determinando que agiram com “dolo eventual” e não direto como vinham condenados.

Eurico Reis questiona se o julgamento dos recursos às decisões das entidades reguladoras deve continuar a ser “balizado pelas regras estabelecidas” no RGCO, aprovado em 1982, “ou se não deveria ser criada uma regulamentação autónoma” assente na “nova perspetiva de abordagem de resolução desses conflitos”.

Sublinhando que “tal discussão não foi ainda sequer iniciada”, o juiz desembargador entende que só resta aos juízes seguir aquelas normas “tomando em consideração os mecanismos internos de funcionamento da concreta área económico-social em que atua a entidade […] acusada da prática da infração”.

A decisão do Tribunal da Relação de Lisboa (TRL), aprovada pelos juízes desembargadores Carlos Melo Marinho e Ana Mascarenhas Pessoa, confirma como prazo de prescrição do processo o dia 17 de março de 2021, tendo em conta o prazo máximo de oito anos a partir da data da prática dos factos, não dando razão a Zeinal Bava, que alegava a prescrição do procedimento contraordenacional pelo qual foi condenado.

Para Eurico Reis, o facto de os processos chegarem aos tribunais muito próximos do prazo de prescrição “constitui uma inaceitável pressão sobre quem tem de proferir uma decisão fundamentada”.

Dá ainda razão ao ex-administrador e responsável financeiro da PT Luís Pacheco de Melo, que contestou os prazos de recurso dada a “especial complexidade” do processo.

“Se assim não fosse, por que motivo a instrução do procedimento por parte da CMVM demorou tanto tempo e encurtou de forma tão intensa o tempo disponível, nomeadamente aos Juízes que exercem funções nesta Relação de Lisboa, para ponderar de forma cuidada a materialidade submetida ao julgamento do Tribunal?”, questiona Eurico Reis.

Em causa no processo estão as contraordenações imputadas pela CMVM relativas à divulgação de informação não verdadeira, não completa e não lícita nos relatórios e contas da antiga PT de 2012, 2013 e primeiro trimestre de 2014 e nos relatórios de governo societário de 2012 e 2013, relativa às aplicações de tesouraria realizadas pela PT na Espírito Santo International e na Rioforte nos anos de 2012 a 2014.

Vítor Bento diz que não teria entrado no BES se tivesse mantido exigência de contas aprovadas

Quarta-feira, Março 24th, 2021

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RTP

O antigo presidente do BES e do Novo Banco Vítor Bento disse hoje no parlamento que provavelmente não teria entrado no BES caso tivesse mantido a exigência de ter as contas do primeiro semestre de 2014 aprovadas.

“Provavelmente se eu tenho mantido a exigência de só entrar depois das contas aprovadas, não teria chegado a entrar”, disse hoje Vítor Bento na sua audição da comissão de inquérito ao Novo Banco, que decorre no parlamento, referindo-se às contas do BES do primeiro semestre de 2014, prejuízos de 3,6 mil milhões de euros.

O economista disse que depois da resolução “o balanço fica um bocadinho indefinido”, sendo encomendada uma auditoria à consultora PwC.

“Só no final dessa auditoria é que se ficaria a conhecer verdadeiramente a valorização dos ativos que constavam do balanço. Até aí era um bocadinho uma situação, se me permite a expressão, de limbo quanto a essa valorização”, respondeu à deputada Cecília Meireles (CDS-PP).

Vítor Bento lembrou que essa auditoria só foi conhecida em dezembro, já depois da sua saída, e já antes das contas terem sido apresentadas no final de julho, mês que “entre outras coisas trouxe uma desvalorização assinalável na participação na PT”, de 106 milhões de euros, segundo a deputada centrista.

“Depois, o impacto das exposições indiretas, papel comercial, obrigações, etc… ainda não estavam devidamente clarificadas” relativamente ao seu impacto total, segundo Vítor Bento.

Anteriormente na audição, Vítor Bento já tinha dito que o capital inicial dotado para o Novo Banco [4,9 mil milhões de euros] “estava demasiado à pele” em termos do cumprimento dos rácios prudenciais.

“O facto de ter um capital demasiado à pele era negativo, por um lado, para o `rating do banco, e sendo negativo para o `rating do banco tinha uma influência negativa na avaliação que as contrapartes faziam da própria atividade do banco, e do risco que o banco representava para essas contrapartes”, nomeadamente em linhas de crédito do mercado, “essenciais para a normalização” da instituição, segundo o antigo responsável.

“A primeira sensação que tive quando me foi colocada a resolução, e nos termos em que foi colcoada, é que o banco bom seria um banco normal, que seria gerido, recuperado e dentro dessa recuperação tentar fazer a sua valorização”, tendo percebido no dia seguinte “que o cenário não era esse” no quadro da resolução.

Vítor Bento disse ainda que o interlocutor principal no Banco de Portugal foi o governador Carlos Costa, mas não nas semanas seguintes à resolução (03 de agosto).

“Nas primeiras semanas após a resolução tivemos muito pouco contacto direto com o senhor governador, porque ele entretanto tinha ido de férias, o que era compreensível, tinha tido um período muito desgastante para ele, portanto só voltámos ao contacto com o senhor governador no dia 20 de agosto”, referiu.

Governo envia ao Parlamento carta de compromissos sobre Novo Banco junto de Bruxelas

Quarta-feira, Março 24th, 2021

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Eco

Governo envia ao Parlamento carta de compromissos sobre Novo Banco junto de Bruxelas

Finanças enviaram à comissão de inquérito ao Novo Banco a carta assinada por Centeno com os compromissos assumidos por Portugal para Bruxelas autorizar acordo de capital contingente de 3.890 milhões.

“Épouco, mas relevante”. Fonte parlamentar avançou ao ECO que o Governo já começou a enviar documentos pedidos pela comissão de inquérito ao Novo Banco, após as reclamações dos deputados. Um dos documentos enviados é particularmente sensível: a carta assinada pelo então ministro das Finanças, Mário Centeno, em 2017, juntamente com a lista dos compromissos assumidos pelo Estado português para a Comissão Europeia dar “luz verde” ao acordo de capital contingente de 3.890 milhões de euros.

É este acordo que está no centro de toda a discussão da comissão de inquérito que visa apurar as perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução e que realiza esta terça-feira nova audição: a Vítor Bento, o último presidente do BES e o primeiro do Novo Banco.

Em 2017, para concluir a venda de 75% do capital do Novo Banco ao fundo americano Lone Star, o Estado português teve de assumir compromissos junto da Comissão Europeia para aprovar um auxílio público. Além de um plano de reestruturação, incluindo a redução de pessoal, a venda de operações internacionais e a redução do malparado, o Novo Banco ficou obrigado a cumprir várias exigências do ponto de vista do desempenho operacional. Há, aliás, um documento que é público, mas muita informação sobre esses compromissos foi rasurada. O documento que chegou ao Parlamento é o mesmo, mas sem as rasuras.

Há duas semanas, em entrevista ao ECO, a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua criticou o Executivo porque ainda não tinha enviado qualquer informação pedida pelo Parlamento no âmbito do inquérito parlamentar. “O Governo não enviou um documento, não fez nada. Não entregou absolutamente nada”, acusou a dirigente. E repetiu a crítica no arranque das audições nesse mesmo dia: “O Governo está em falta para com a comissão de inquérito. (…) Nem correspondência, nem os compromissos com a União Europeia”, lamentou.

Entretanto, o Governo emendou a mão e já começou a enviar dados. Também chegou ao Parlamento o documento confidencial de autorização da Comissão Europeia para o auxílio de estado. Ainda assim, continua a faltar documentação pedida pelos deputados, como a correspondência trocada com Bruxelas, o Banco de Portugal e o próprio Novo Banco. O ECO questionou o Ministério das Finanças sobre o atraso no envio de informação, mas não obteve uma resposta.

O ex-ministro e atual governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, é um dos nomes que irá à comissão de inquérito ao Novo Banco, mas só deverá ser chamado numa fase posterior, quando os deputados discutirem a venda da instituição.

Para já, e nas próximas semanas, o inquérito irá debruçar-se sobre a fase da resolução do BES e do Novo Banco, em agosto de 2014. Depois de Vítor Bento, serão chamados o antigo vice-presidente do banco José Honório (quinta-feira) e ex-diretor de supervisão do Banco de Portugal Carlos Albuquerque (sexta-feira). As audições com os ex-governadores Carlos Costa e Vítor Constâncio foram adiadas para depois da Páscoa.

Esta segunda-feira, depois da audição do ex-administrador financeiro do Novo Banco João Moreira Rato na quinta, o PSD deu entrada com um requerimento para solicitar mais dois documentos: ao Banco de Portugal, o relatório do ETRICC 2 que se refere à avaliação da Tranquilidade em 2014; e à Tranquilidade, as projeções económicas da companhia elaboradas em 2014 no momento prévio à venda da empresa ao fundo Apollo e, ainda, cópia dos relatórios e contas de 2014 a 2019.

 

Lesados do BES e do Banif levam caso até autoridades europeias

Quarta-feira, Março 24th, 2021

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Negócios

As associações dos lesados do Banif e das sucursais externas do BES vão reunir-se com a direção-geral de mercados de capitais da Comissão Europeia e com eurodeputados.

Sem solução à vista e há vários meses sem conseguirem contactar com representantes do Governo, os lesados do Banif e das sucursais exteriores do Banco Espírito Santo (BES) preparam-se para levar o caso ao Parlamento Europeu e à Comissão Europeia, através da DG Fisma (direção competente pela estabilidade financeira, serviços financeiros e união dos mercados de capitais).

Os investidores não qualificados do Banif, do Banque Privée e das sucursais do BES na Venezuela e na África do Sul aguardam por uma solução para recuperar parte das perdas desde a falência destes bancos. O seu caso conheceu avanços quando, em 2018, foi criado um fundo de recuperação de créditos para um outro grupo de lesados do BES (os do papel comercial), que contou com garantias estatais.

Os lesados do Banif e das sucursais externas do BES exigiram a criação de um veículo semelhante. Ainda em 2018, a Assembleia da República recomendou que fosse desenhada uma solução para estes lesados. Em dezembro de 2019, duas comissões de peritos independentes concluíram que houve práticas de vendas ilícitas nos bancos falidos e que perto de 3 mil pequenos investidores seriam elegíveis para integrar um fundo de recuperação de créditos.

Estavam reunidas as condições exigidas pelo Governo para que a solução avançasse. Os lesados do Banif e do BES esperavam reunir-se com o Executivo em janeiro de 2020, mas as reuniões nunca chegaram a acontecer, os lesados deixaram de receber resposta e, no final do 2020, o Governo veio dizer que, afinal, poderá não conceder qualquer garantia, por uma questão de “prudência” e da necessidade de “proteção do erário público”.

É neste contexto que a Associação de Lesados Emigrantes da Venezuela e África do Sul (ALEV) e a Associação de Defesa dos Clientes Bancários (ABESD) se preparam para pedir ajuda a nível internacional. As duas associações serão recebidas por eurodeputados dos vários grupos parlamentares, bem como por Bruxelas, entre abril e maio, segundo adianta ao Negócios Nuno da Silva Vieira, advogado que representa as associações.

Os lesados esperam que algum grupo parlamentar recomende ao Governo que avance com uma solução. Se não acontecer, está já pronta uma petição para o mesmo fim, que será entregue no Parlamento Europeu. “Estamos em contacto com altas instâncias internacionais habituadas a resolver litígios globais”, diz o advogado.

 

Estamos em contacto com altas instâncias habituadas a resolver litígios globais.NUNO DA SILVA VIEIRA
Advogado

Venezuela insiste com BES para recuperar mais de 2 mil milhões

Quarta-feira, Março 24th, 2021

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Negócios

Os liquidatários do BES excluíram a Petróleos de Venezuela da lista de credores, por considerarem que as perdas com o papel comercial não são responsabilidade do banco e que as cartas de conforto não têm valor jurídico. Petrolífera impugnou a decisão.

Depois de ter ficado de fora da lista de credores do Banco Espírito Santo (BES), a Petróleos de Venezuela (PDVSA) contesta a decisão da comissão liquidatária do banco. A petrolífera estatal venezuelana exige mais de 2 mil milhões de euros, a que acrescem juros e uma indemnização.

A PDVSA começou por exigir estes montantes ainda em 2019, quando decorria a reclamação de créditos no âmbito do processo de liquidação do BES. Conforme noticiou então o Jornal Económico, a empresa reclamava 1.970 milhões de euros, investidos em papel comercial da Rioforte e da Espírito Santo International, a que acresciam outros 36,6 milhões de euros que estavam depositados em contas à ordem no BES.

A comissão liquidatária reconheceu 4.955 credores, com um total de créditos superior a 5 mil milhões de euros. De fora desta lista ficaram 21.253 reclamantes, cujos créditos não foram reconhecidos – entre eles, a PDVSA.

A impugnação entretanto apresentada pela empresa venezuelana, consultada pelo Negócios, justifica a exclusão da lista de credores reconhecidos. No entender da comissão liquidatária, o papel comercial e as obrigações em que a PDVSA investiu foram emitidas por entidades do Grupo Espírito Santo (GES) e, assim, “consistem em títulos representativos de dívida sobre os respetivos emitentes, os quais não são o BES”. Na prática, uma vez que não era o BES que emitia estes títulos, apesar de vender os mesmos aos seus clientes, a comissão liquidatária considera que o banco falido não tem responsabilidade de ressarcir os lesados do papel comercial.

Mais: as cartas de conforto assinadas por Ricardo Salgado e José Manuel Espírito Santo, que asseguravam que o BES reembolsaria o investimento da PDVSA em dívida das empresas do GES, não terão valor jurídico. “Das declarações e condutas do BES não resulta que as mesmas contenham uma declaração de vontade tendente à criação de um vínculo jurídico de o BES suportar, com as forças do seu património, uma dívida dos emitentes dos instrumentos financeiros objeto da reclamação perante o reclamante”, aponta a comissão liquidatária.

Já no que diz respeito à alegada violação de deveres de intermediação de financeira por parte do BES, a comissão liquidatária considera que não estão “verificados os pressupostos de direito e de facto de que dependeria a responsabilidade civil do BES”.

Por fim, quanto aos depósitos à ordem, os liquidatários do BES argumentam que “os mesmos não se encontram atualmente registados na contabilidade do BES” e acrescenta que, “mesmo que tais depósitos existissem à data de aplicação da medida de resolução, teriam sido transferidos para o Novo Banco e não constituiriam, em qualquer caso, um crédito sobre a insolvência do BES”.

Provisões provam “responsabilidade” do BES

A PDVSA vem agora refutar estes argumentos, a começar pela responsabilidade do banco. “Face ao colapso do GES, o BES assegurou reiteradamente o reembolso das aplicações de todos os credores impugnantes, em papel comercial e outros, adotando, para o efeito, as seguintes medidas: provisão nas contas da Espírito Santo Financial Group e criação de conta ‘escrow’; provisão nas contas do BES”, começa por lembrar.

São estas provisões que, no entender da PDVSA, provam a responsabilidade do banco. “A assunção da obrigação pelo BES, através da constituição das provisões, correspondeu ao reconhecimento de uma responsabilidade do insolvente perante todos os seus clientes de retalho. Sem esse reconhecimento, não haveria motivo para a constituição da provisão”.

Para além disso, antes de ser alvo de resolução, o próprio banco comunicou essa responsabilidade. “O BES tem assegurado o reembolso, na maturidade, do capital investido pelos seus clientes não institucionais junto das redes comerciais do grupo BES; o mencionado reembolso reporta-se a todas as emissões de papel comercial da Espírito Santo International e da Rioforte”, indicava um comunicado do BES datado de 18 de julho de 2014.

A comissão liquidatária do BES argumenta, ainda, que a PDVSA não apresentou a “documentação necessária para demonstrar a existência do crédito” reclamado, uma situação que a empresa agora justifica. “Com o avanço da queda do GES, a [PDVSA] começou a verificar constrangimentos no acesso à informação desenvolvida sobre os montantes, extratos e saldos das aplicações que tinha subscrito”, relata. Por isso, pede ao Tribunal do Comércio de Lisboa, onde decorre o processo de insolvência do BES, que notifique o Novo Banco, que agora terá “todo o ‘apport’ documental” da empresa, para disponibilizar esses documentos.

A PDVSA exige, assim, exatamente o mesmo montante que começou por reclamar há dois anos: 2.006.960.499 euros, a que acrescem juros e uma indemnização, não quantificada, pelo facto de o BES, enquanto intermediário financeiro, não ter prestado “boas informações” relativamente aos instrumentos que vendeu.

 

2.006

CRÉDITOS
A PDVSA reclama créditos de mais de 2.006 milhões de euros, relativos a investimento em papel comercial e a contas à ordem.
4.955

CREDORES A comissão liquidatária do BES reconheceu 4.955 credores, com um total de créditos superior a 5 mil milhões de euros.

Novo Banco. Siza Vieira participou na venda da Tranquilidade

Quarta-feira, Março 24th, 2021

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Jornal I

Moreira Rato revelou que regulador foi avisado que capital do NB poderia não ser suficiente.

O ministro Pedro Siza Vieira, na altura advogado da sociedade Linklaters, participou “numa ou outra reunião do conselho de administração” do Novo Banco sobre a venda da seguradora Tranquilidade ao fundo Apollo, confirmou o ex-administrador financeiro do banco, João Moreira Rato, na comissão de inquérito ao Novo Banco. O responsável disse ainda que a equipa de gestão foi surpreendida com a resolução do BES, em agosto de 2014, e que alertou o Banco de Portugal para a insuficiência da capitalização do Novo Banco devido aos riscos futuros.

Recorde-se que a seguradora acabou por comprar a Tranquilidade por 40 milhões, tendo-se comprometido a injetar 150 milhões na seguradora. Em 2019, o fundo acabou por vender a seguradora por 600 milhões à Generali.

BdP foi avisado

O antigo administrador financeiro do Novo Banco disse também que, logo após a resolução do BES, a então administração da nova instituição informou o Banco de Portugal que o capital inicial “poderia não ser suficiente”.

Esta é a resposta do responsável à questão colocada pela deputada Cecília Meireles sobre se o capital inicial de 4,9 mil milhões de euros para o banco de transição que nasceu do colapso do BES era adequado, na perspetiva da primeira equipa de gestão do Novo Banco.

“Pouco tempo depois, ainda em agosto, lembro-me de, no Conselho de Administração, nós discutirmos que o capital que tínhamos poderia não ser suficiente para fazer face os problemas que poderiam ainda acontecer e ter algum impacto no balanço do banco”, disse.

Questionado sobre os motivos desta insuficiência pela deputada do CDS-PP, Moreira Rato explicou que o rácio de capital, depois de “corrigir o que se tinha passado em julho”, se fixava nos “7 e tal por cento”, sendo 7% “o valor alvo” que queriam “evitar passar abaixo”.

E acrescentou: “Tínhamos consciência de que a carteira de empresas do banco poderia a prazo apresentar problemas. Era provavelmente também um dos riscos possíveis que nós considerávamos na altura”.