Banca espanhola prepara assalto final a Portugal

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Dinheiro Vivo

O fraco crescimento da economia está a deixar os bancos portugueses mais débeis e, logo, mais suscetíveis de aquisição por parte de estrangeiros.

A banca espanhola está conquistar Portugal. Há nove séculos, D. Afonso Henriques conquistou Lisboa aos mouros. Agora, é a vez de os espanhóis conquistarem o centro financeiro do país, não pela força mas pelo poderio económico. Não foi necessário qualquer cerco a Lisboa, bastando a Espanha aproveitar a fraca rentabilidade dos nossos bancos, fruto em parte do nível elevado de crédito malparado. O fraco crescimento da economia, que deve rondar 1% este ano, torna o setor bancário uma presa fácil para as entidades estrangeiras. Este é o cenário pintado pelo jornal online “El Español”. A ideia não é nova. Mais de meia centena de notáveis portugueses chegaram a aventar a hipótese de escrever um manifesto contra a espanholização do setor financeiro, acabando por elaborar apenas um conjunto de reflexões sob o título “Reconfiguração da Banca em Portugal”. Duas ideias centrais do documento de reflexão, datado de 28 de abril de 2016: a excessiva concentração nas mãos de acionistas de uma só nacionalidade pode prejudicar o nosso país e, por outro lado, o Banco Central Europeu (BCE) não devia impor soluções cujos custos são suportados exclusivamente pelo país em causa.

Barclays Portugal, Banif, BPI O caminho que levou ao domínio espanhol começou com o Santander, que entrou em Portugal nos anos oitenta do século passado, através do Banco de Comércio e Indústria. Depois, no ano 2000, consolidou a sua posição ao converter-se no acionista maioritário do Banco Totta & Açores. Foi o primeiro passo para a criação da filial portuguesa do atual Banco Santander Totta. No entanto, o grande passo em frente aconteceu quando o Bankinter comprou, no último outono, o negócio de retalho do Barclays Portugal. Não demorou muito para que o Santander se impusesse ao Banco Popular e à norte-americana Apollo para ficar com o controlo do Banif, que colapsou em dezembro de 2015. Pagou apenas 150 milhões de euros, sendo que o banco resgatado recebia uma injeção de capital na ordem dos 2,25 milhões de euros de dinheiros públicos. “O triste caso do resgate do Banif indicia a adoção de um paradigma inaceitável, que não pode ser replicado em casos futuros. Se o que parece é, a atuação do BCE neste caso, em vez de viabilizar soluções com menores custos e igualmente credíveis, antes reflete uma estratégia que coloca a banca privada nacional na dependência de um muito escasso número de bancos de um país estrangeiro”, referem os subscritores do documento de reflexão “Reconfiguração da Banca em Portugal”. Em abril, foi a vez de o CaixaBank lançar uma segunda OPA sobre o Banco Português de Investimento (BPI). Apesar dos problemas colocados pela empresária angolana Isabel dos Santos, tudo se resolveu e o controlo do BPI deverá estar concluído ainda em 2016. BCP e Novo Banco Desde o início do ano que se ouvem rumores sobre o interesse de vários bancos espanhóis no Millenium BCP, sendo que o Sabadell é tido como um sério pretendente. Este banco espanhol controla 5% do BCP. Para já, certa é a entrada dos chineses da Fosun.

O Novo Banco (NB) é um peso morto dentro do setor. Custou 4,9 mil milhões ao Fundo de Resolução, o sistema solidário dos bancos, ao qual o Estado emprestou 3,9 mil milhões de euros. Tal como sucedeu com o Banif, e tendo em conta os prejuízos que vem acumulando, o NB pode acabar por ser vendido por um valor simbólico. Seja como for, tem de ser vendido até agosto de 2017, mas a verdade é que, caso a sua alienação não aconteça até ao final deste ano, terá lugar a redução de mais 500 postos de trabalho, corte adicional de 100 milhões de euros e fecho de mais 100 balcões, O Banco de Portugal está a analisar quatro propostas pelo Novo Banco: a do fundo Lone Star, da Apollo/Centerbridge, do BPI e uma manifestação de interesse do BCP, sem preço mas dizendo que podia avaliar o ativo noutras condições de mercado. O CaixaBank já veio dizer que a prioridade é a consolidação do BPI, dando a entender que o NB não é prioritário, afirmação que não exclui totalmente a operação de compra de mais um banco português por uma entidade espanhola.

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