BCP avalia forma de entrar na corrida ao Novo Banco

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O BCP está a avaliar alternativas que lhe permitam entrar na corrida à compra do Novo Banco. A equipa de Nuno Amado está consciente de que é muito difícil obter luz verde de Bruxelas. Mas admite pedir autorização, o que ainda não aconteceu.

O BCP está a avaliar alternativas para entrar na corrida ao Novo Banco, sabe o Negócios. Apesar de a instituição estar impedida de fazer aquisições, por ainda beneficiar de 750 milhões de euros de ajuda do Estado, a equipa liderada por Nuno Amado entendeu que deveria analisar esta possibilidade, uma vez que esta será a última oportunidade para o maior banco privado português actuar como agente de um processo de consolidação nacional. Em vez de se transformar num alvo do movimento de concentração que o Banco Central Europeu está a promover.
Ao que o Negócios apurou, a administração do BCP está consciente de que será muito difícil obter autorização da Direcção-Geral da Concorrência da União Europeia (DGComp, na sigla inglesa) para participar no processo de venda do Novo Banco. No entanto, a gestão entende que é seu dever tentar. Até porque só se trabalhar nesse sentido é que poderá ter oportunidade, por muito estreita que seja, de ser bem sucedida na sua pretensão. Foi também a pensar em oportunidades como o Novo Banco que a administração do BCP avançou com uma proposta, a votar na assembleia-geral de dia 21, para que os accionistas abdiquem do direito de preferência em aumentos de capital no valor máximo de 20% das acções emitidas. Um instrumento que dá flexibilidade ao banco para captar capitais junto de novos investidores. A ambição da equipa de Nuno Amado colhe apoios entre alguns gestores portugueses. É o caso de Esmeralda Dourado, administradora do Grupo SAG e membro da unidade de missão para a capitalização das empresas. “Com algum talento, penso que é possível encontrar soluções para reforçar o BCP, para que possa ser um dos candidatos ao Novo Banco”, defendeu a gestora em entrevista ao Dinheiro Vivo, publicada no último sábado. E justificou a sua posição: “Temos de ter, pelo menos, dois bancos fortes, um público e um privado, que sejam o lastro do financiamento da economia portuguesa, que é caracterizado, essencialmente por PME”.

Governo quer estabilizar banca. Marcelo apoia

Para já, segundo sabe o Negócios, ainda não foi apresentado qualquer pedido formal ao Governo para que, como interlocutor de Bruxelas, desencadeie as diligências necessárias para que a DGComp se pronuncie sobre o projecto do BCP. Mas a ambição da equipa de Nuno Amado não será desconhecida do Executivo de António Costa.

Aliás, a avaliação que está a ser feita no BCP não será alheia ao facto de o primeiro-ministro ter assumido uma atitude proactiva naquilo que diz ser “a estabilização do sistema financeiro”. Como anunciou já este mês António Costa, este Governo não vira a cara “a resolver os problemas que necessitam de ser resolvidos” na banca. “Foi o que fizemos com o Banif, com o BPI e é o que faremos com o Novo Banco e com todos porque há que virar a página da instabilidade do sistema financeiro”. A intervenção do Executivo conta com o apoio do Presidente da República. Para Marcelo Rebelo de Sousa, justifica-se a “intervenção dos órgãos de soberania, em articulação com os reguladores” na estabilidade do sector financeiro, como afirmou há uma semana. *com hg/mmo

Calendário do NB é outra dificuldade

O calendário definido pelo Banco de Portugal para a segunda tentativa de venda do Novo Banco é outra dificuldade à participação do BCP neste processo. Neste momento, Sérgio Monteiro, o responsável operacional da operação e os assessores financeiros da transacção, o Deutsche Bank, do lado do Banco de Portugal, e o JP Morgan da parte da instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha, estão a iniciar um “road-show” em várias capitais financeiras mundiais para promover o Novo Banco e avaliar o interesse de diferentes tipos de investidores.

O Banco de Portugal está a trabalhar em dois modelos de venda em paralelo. Um com a dispersão em bolsa de parte do capital do Novo Banco e outro com a venda directa a investidores institucionais. O caderno de encargos da operação deverá ser aprovado em Junho, havendo a intenção de ter uma decisão até ao final de Julho.

TOME NOTA

BCP superaria CGD com Novo Banco

Se comprasse o Novo Banco, tal como a instituição estava no final de 2015, o BCP passaria a ser o maior banco português em negócio bancário. A Caixa Geral de Depósitos passaria ao segundo lugar.

BCP/NB TERIA MAIS 30% DO CRÉDITO

Seria no crédito que a união de esforços entre o BCP e o Novo Banco permitiria ter a liderança absoluta do mercado. A carteira de crédito dos dois bancos junta ascenderia a quase 93 mil milhões de euros, ficando 30% acima da CGD. A maior vantagem seria no financiamento a empresas, onde o BCP/NB teria um “stock” de 52 mil milhões de euros, mais de duas vezes superior ao da Caixa. Nos particulares, a vantagem seria inferior mas, ainda assim, com uma carteira de 40 mil milhões, o BCP/NB seria líder no segmento.

VANTAGEM MAIS CURTA NOS DEPÓSITOS

Também nos depósitos, juntar o BCP ao Novo Banco permitiria criar um banco líder. No entanto, nos recursos de clientes a vantagem face à CGD seria mais curta. Com depósitos de quase 79 mil milhões de euros, o BCP/NB teria um volume de poupanças 8% superior ao da CGD.

REDE PASSARIA PARA MAIS DE 1.200 BALCÕES

A integração do BCP e do Novo Banco criaria uma rede de distribuição superior a 1.200 balcões. Tendo em conta os dados das duas instituições no final do ano passado (dados que já estarão desactualizados), a nova entidade ficaria com 1.267 sucursais. Uma dimensão que daria margem para optimização.

QUADRO FICARIA COM 13.000 PESSOAS

Pelos dados de 2015, a fusão do BCP e do Novo Banco elevaria a 14 mil trabalhadores o quadro de pessoal da nova instituição em Portugal. No entanto, após o processo de redução de 1.000 trabalhadores que o Novo Banco tem em curso, o número cairia para 13 mil. Dando folga para novos cortes.

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