Carta aberta de Fernando Barros a José Cardoso Botelho sobre a venda da Comporta

Caro José Cardoso Botelho,

 

Depois de ler os seus argumentos sobre a venda da Comporta, venho afirmar e acrescentar que este Processo foi uma vergonha porque teve como objectivo beneficiar a Amorim Luxury e a Port Noir do Sr. Berda em detrimento dos lesados do GES.

A Gesfimo – Sociedade Gestora, entidade regulada pelo Banco de Portugal e CMVM, e  que administra o Fundo que detém os activos para venda na Comporta, organizou um concurso competitivo com regras transparentes e aceites pelos concorrentes. Só depois do resultado anunciado no dia 11 de maio de 2018 é que o Consórcio derrotado, Amorim Luxury/Port Noir contestou o processo. Alegando para o efeito o seguinte:

 

1 – As propostas seriam idênticas em termos de preço

2 – A proposta do Consórcio vencedor: Oakvest/PAP/Sabina não era vinculativa, contrariamente á do consórcio Amorim Luxury/Port Noir

 

Após uma leitura atenta das Propostas apresentadas na Assembleia de Participantes constato o seguinte:

 

1 – A Proposta rejeitada da Oakvest/PAP/Sabina é significativamente superior à do Consórcio derrotado: €36.500.000 Vs € 28.000.000 respectivamente. Ambas as propostas assumiam a divida aos bancos e respectivas garantias bancárias e ambas excluíam os suprimentos feitos pelo fundo na empresa DCR&HDC.

Como se constata não é verdade aquilo que o Sr. Cardoso disse aos órgãos de comunicação social de que as propostas seriam idênticas no que ao preço diz respeito.

2 – Na carta enviada pela Amorim Luxury/Port Noir à Gesfimo no dia 16 de Abril de 2018 e disponibilizada na Assembleia de Participantes de 27 de Julho pode ler-se o seguinte:

“A presente Nova Proposta é vinculativa para os investidores, salvo se decidirem pelo direito de não concluir a Transação Visada, após conclusão da due diligence aos Activos…….”A conclusão da Transação visada estará sempre dependente de um acordo final entre as Partes”.

Como se constata não é verdade aquilo que o Sr. Cardoso disse nos órgãos de comunicação social no que se refere à vinculatividade da sua Proposta.

Diz ainda o Sr. Botelho que o Consórcio Oakvest/PAP/Sabina, ou melhor a Oakvest,  não é credível. A idoneidade das empresas que compõem o este Consorcio foi seguramente escrutinada pelas autoridades competentes sujeita à supervisão do BdP, CMVM e MP e por essa razão não é a opinião do Sr. Botelho – representante do Consorcio derrotado – que é credível até porque nunca se inibiu de fazer declarações falsas para a imprensa como se confirmou nos parágrafos anteriores.

Quanto à sua referencia sobre o Novo Concurso internacional e mais competitivo supervisionado pela Deloitte estamos conversados – Nem internacional nem competitivo – Só apareceu o Consórcio Amorim Luxury/Port Noir, como se pretendia!

Refere o sr. Botelho que a proposta aprovada no dia 27 de Novembro foi com uma larga maioria. Relembro que essa maioria é composta pelos votos conjuntos da Rio Forte (59%) e do Novo Banco (15%) contra os minoritários que viram as suas expectativas defraudadas. Convinha esclarecer quem aconselhou a Rio Forte em tão desastrosa decisão e porque razão se aliou o Novo Banco? Para agradar ao poderoso Consórcio Amorim/Claude Berda?

Refere o sr. Botelho que as propostas não são comparáveis? Como não? A proposta da Amorim/Port Noir é de 157,8 Mln de euros versus  166 Mln de euros da Oakvest/PAP/Sabina.

A proposta da Amorim/Port Noir prevê ainda 13,7  Mln de euros em conta escrow para eventuais contingências (inexistente na Proposta da Oakvest/PAP/Sabina). Acresce ainda que os juros corridos do empréstimos junto da CGD são, a partir de dezembro de 2018 até à liquidação financeira da compra, por conta do Fundo de investimento, isto é, da responsabilidade dos credores e lesados do GES. Brilhante sr. Cardoso.

Está também de parabéns a campanha de difamação orquestrada pelo Consorcio representado pelo Sr Botelho. Do ponto de vista de lobby empresarial foi um sucesso – chapeau. Perderam o 1º concurso, conseguiram “baralhar e dar de novo” acabando por fazer um novo concurso à medida, sem concorrentes e comprando os activos por um preço inferior ao da proposta da Oakvest/PAP/Sabina. Espectacular!

O Sr. Botelho não deixa de ter graça ao afirmar “ A verdade é que este processo mostra que há algo a mudar em Portugal….”.

Todos sabemos que os patrões do Sr. Botelho são imensamente ricos, apesar de não terem apresentado a prova de fundos exigida no concurso (pelo menos não consta da proposta de 27 de Julho). Portanto nada muda em Portugal a não ser os actores porque os conflitos de interesses, lobbies e conluios, esses , aparentemente, continuam a proteger os ricos e poderosos.

Aproveito ainda para lhe perguntar qual a estratégia para a ADT2, um dos macro plots que viram as suas licenças expirarem e que de acordo com a lei terão que se sujeitar a novo licenciamento e ás regras do novo PDM da CMA, que substitui o antigo PROTAL e que obriga a que as construções sejam feitas não a 500 metros da duna mas sim, e muito bem, a 2 Km da orla costeira. Que magia conseguirá o sr botelho desta vez para manter a actual licença, com um índice de construção muito superior ao que a lei actualmente consagra, em detrimento e desrespeito pela legislação em vigor, das entidades ambientais e comunidade local.

Esta triste novela mais parece uma historia de uma conhecida Banda Desenhada em que os irmãos Dalton acabam sempre por escapar e voltar a fazer das suas…!

Boa sorte!

Fernando Barros

 

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