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Moody’s: “É improvável que resolução do BES seja considerada ilegal”

Quarta-feira, Abril 27th, 2016

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Negócios

Num relatório sobre as obrigações hipotecárias do Novo Banco, a agência não vê grandes riscos para os detentores de dívida do Novo Banco nos processos movidos por causa da resolução do BES.

Após a resolução do BES em Agosto de 2014, multiplicaram-se os processos em tribunal a contestar a medida de resolução aplicada ao BES, em Agosto de 2014. E alguns dos prejudicados pedem que os activos que estão no Novo Banco voltem a transitar para o BES. Apesar destas exigências dos credores prejudicados com a resolução, a Moody’s considera improvável que a Justiça lhes venha a dar razão.

“Baseado em toda a informação disponível e nas perspectivas de peritos familiares com a lei aplicável, acreditamos ser improvável que os tribunais declarem a medida de resolução como ilegal”, referem Miguel Lopez Patron e Edward Manchester, analistas da Moody’s, num relatório sobre as obrigações cobertas do Novo Banco. A preocupação da agência é que se os tribunais derem razão aos queixosos e decidirem transferir activos do Novo Banco para o BES, os detentores de obrigações cobertas da entidade liderada por Stock da Cunha deixem de ter activos como garantia.

No entanto, além de considerar improvável que o tribunal venha a considerar que a medida de resolução foi ilegal, a Moody’s realça que mesmo que o fizesse, as consequências seriam limitadas. “O sistema jurídico português garante que mesmo que um tribunal decida que um acto administrativo foi ilegal, pode determinar que as consequências da anulação desse acto seriam excepcionalmente negativas para o interesse público”. A agência considera que “neste caso, a transferência dos activos do Novo Banco para o BES seria certamente prejudicial ao interesse público”.
E mesmo que o tribunal deliberasse a anulação da resolução, o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras dá poderes ao Banco de Portugal para que, “em execução de sentenças anulatórias”, o supervisor possa “invocar causa legítima de inexecução”, “iniciando-se, nesse caso, de imediato, o procedimento tendente à fixação da indemnização devida”.

“Assim, a nossa opinião, é de que é extremamente improvável que os direitos dos detentores de obrigações cobertas do Novo Banco aos activos que servem como garantia a esses títulos sejam negativamente afectados pelos processos que correm nos tribunais”, conclui a Moody’s.

“Investidores ficaram com medo de Portugal”

Terça-feira, Janeiro 19th, 2016

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Diário de Notícias

Gestora americana BlackRock refere casos recentes na banca nacional para justificar receios e desconfiança sobre o país

“Os investidores tornaram-se mais receosos quanto à situação de Portugal.” O alerta foi dado ontem pela BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos mundiais e, paralelamente, uma das mais atingidas pela recente decisão do Banco de Portugal em passar as obrigações seniores do Novo Banco para o BES. Sem fazer qualquer referência a este caso, o vice-presidente da área de investimento em obrigações da BlackRock defendeu que a confiança dos investidores na dívida portuguesa ficou afetada.

Em entrevista à Bloomberg TV, Scott Thiel começou por salientar que a gestora “gosta de Portugal do ponto de vista de fundamentais”. O responsável diz que “o mercado reagiu de forma relativamente negativa quanto à situação política portuguesa”, o que se refletiu num agravamento dos juros da dívida, mas acrescentou: “Obviamente, com o que aconteceu com alguns bancos em Portugal, os investidores tornaram-se mais receosos quanto à situação de Portugal.”

O comentário do responsável da BlackRock foi feito no âmbito da pressão que as obrigações e as ações nacionais voltaram a ser alvo por parte dos investidores internacionais. De acordo com a Bloomberg, as taxas de juro exigidas pelos investidores para negociar dívida portuguesa não estão muito distantes das yields (rendimento) pedidas na transação de dívida alemã há seis meses, um indicador de desconfiança na dívida portuguesa. Outro sinal claro são os juros da dívida a dez anos, a referência do mercado, que subiram para 2,78%, o nível mais alto desde novembro.

A decisão de passar para o BES cinco séries de obrigações seniores (não subordinadas) apanhou de surpresa os investidores e a contestação não se fez esperar. Inicialmente, foram vários os clientes particulares a queixar-se, uma vez que apesar de essa dívida ter sido sobretudo destinada a investidores institucionais (fundos de investimento, fundos de pensões, seguradoras) houve particulares que a adquiriram no mercado secundário e já depois da resolução do BES.

Nos últimos dias, as vozes que se têm levantado são de grandes investidores internacionais, que ameaçam mesmo com processos judiciais, alegando que está a ser violado o princípio da igualdade de tratamento para proteger os detentores de títulos da mesma classe. A gestora de ativos norte-americana Pimco foi uma das que se manifestaram e, segundo a Bloomberg, poderá ter de assumir perdas de 228 milhões. Já a BlackRock, que continua sem se pronunciar sobre o facto de ter sido afetada pela decisão de retirar dívida do Novo Banco, poderá ter perdas de 254 milhões de euros.

Os ataques à solução encontrada pelo Banco de Portugal para “completar” a resolução do Novo Banco não ficam por aqui. O FT destacou neste domingo que os bancos mais frágeis do Sul da Europa, como “outros bancos portugueses” e bancos italianos mais pequenos, estão a ser “contaminados” com o “precedente aberto” no Novo Banco, que leva a perdas avultadas de dinheiro aplicado por investidores “institucionais”, como os gigantes da gestão de ativos Pimco e BlackRock. “Os investidores também dizem que a solução para o Novo Banco contaminou o mercado para os bancos mais fracos no Sul da Europa”, acrescentou o jornal.