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A associação que junta 100 investidores não qualificados afectados pela troca de dívida do Novo Banco congratula-se com soluções para vários tipos de lesados mas lembra que, na hierarquia de credores, são os mais bem classificados e são os que mais podem ser penalizados.
Os particulares afectados pela decisão do Banco de Portugal de transferir dívida sénior do Novo Banco para o BES “mau” querem negociar uma solução, à semelhança do que está a ocorrer com os investidores em papel comercial do BES e com os emigrantes.
“É com satisfação e esperança que lemos as notícias que indicam que vários grupos de lesados do BES estão a negociar com o Banco de Portugal, Governo e outras entidades, no sentido de se encontrar uma solução que permita a recuperação dos seus investimentos feitos em papel comercial e outros produtos do BES/GES”, indica o comunicado enviado às redacções pela Associação de Obrigacionistas Sénior Particulares Lesados do Novo Banco – AOSPNB.
Contudo, os particulares com dívida sénior do Novo Banco também queriam o mesmo tratamento: “Embora fiquemos contentes por esses nossos compatriotas poderem vir a receber de volta (seja em parte, seja na totalidade) as suas poupanças, o facto de sermos esquecidos nestas negociações vem exacerbar ainda mais a violentíssima discriminação de que fomos alvo”. “O nosso desejo é que seja encontrada uma solução equilibrada, justa, em tempo útil e que proteja os mais desfavorecidos neste cenário: os aforradores particulares”, defende o comunicado. Ruy Ribeiro, da associação, já tinha apelado à intervenção de António Costa.
Aliás, um dos argumentos da AOSPNB é o a dívida sénior ter uma classificação mais alta que outros investimentos na hierarquia de credores. “Pode dar-se o caso surreal e chocante dos únicos que perdem a totalidade dos seus investimentos serem os que por lei e pelo ‘ranking’ de credores têm prioridade sobre todos os outros, ou seja, os obrigacionistas sénior”, assinala o comunicado, sublinhando ainda a possibilidade de os restantes investidores poderem receber, nas respectivas soluções, obrigações seniores do Novo Banco, o produto que detinham. “No mínimo, uma situação completamente absurda e injusta”, conclui a associação que representa 100 investidores com 17,5 milhões de euros em obrigações nas mãos.
Foi a 29 de Dezembro de 2015 que o Banco de Portugal determinou que cinco séries de dívida sénior do Novo Banco passavam para o BES, libertando da instituição financeira presidida por Eduardo Stock da Cunha da responsabilidade de pagar 1.985 milhões de euros. A justificação dada pelo Banco de Portugal para escolher aquelas cinco séries – em vez de pegar em todas as 52 linhas – era a de que tinham sido dirigidas exclusivamente a investidores institucionais, visto como qualificados. Contudo, alguns bancos também tinham colocado estes títulos em clientes não qualificados.
O comunicado da AOSPNB é divulgado um dia depois de a associação que representa investidores com papel comercial da ESI e Rioforte vendido no BES ter revelado um atraso na procura por uma solução no âmbito da negociação entre reguladores, BES “mau” e Governo – apesar disso, as reuniões prosseguem. Os emigrantes que têm acções preferenciais de veículos com obrigações do Novo Banco também se têm reunido com Diogo Lacerda Machado, o amigo de Costa que tem servido de mediador nas negociações.
Além da negociação, a troca de dívida tem estado a ser discutida em tribunal, com grandes investidores – como a Pimco e a BlackRock, as principais afectadas – a contestarem a decisão do regulador.