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Litigância sobre a resolução do BES pode aumentar a factura do Fundo de Resolução. Faria de Oliveira afirma que os bancos “não podem aceitar” mais responsabilidades e admite que venham a recorrer a tribunal
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Litigância sobre a resolução do BES pode aumentar a factura do Fundo de Resolução. Faria de Oliveira afirma que os bancos “não podem aceitar” mais responsabilidades e admite que venham a recorrer a tribunal
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Presidente da Associação Portuguesa de Bancos diz que fatura da venda do Novo Banco é um fardo pesadíssimo. Pode chegar a dez mil milhões. Mas Faria de Oliveira admite que não há alternativas.
O presidente da Associação Portuguesa de Bancos avisa que a solução encontrada para viabilizar a venda do Novo Banco pode representar um “fardo pesadíssimo” para o sistema bancário. Em entrevista à Antena 1 e Jornal de Negócios, Faria de Oliveira diz que podemos estar a falar de uma exposição ao Fundo de Resolução por parte de outros bancos de quase dez mil milhões de euros. Isto é um peso importante e “representa uma percentagem elevadíssima do PIB” (Produto Interno Bruto), cerca de 5%.
Em causa está o reembolso dos financiamentos concedidos pelo Estado ao Fundo de Resolução para permitir a resolução do Banco Espírito Santo e recapitalização do Novo Banco, bem como do Banif, mas também a possibilidade deste fundo ter de assumir mais perdas na instituição que resultou do antigo BES, no quadro do contrato de venda.
O Governo prolongou o prazo de reembolso destes empréstimos, aliviando a carga de juros, conforme está reconhecido nas contas da Unidade Técnica de Apoio Orçamental, mas ainda assim, a conta que pode ir parar aos bancos a operar em Portugal é pesada, considera Faria de Oliveira.
Apesar deste alerta, o presidente da APB reconhece que não há grandes alternativas.
As negociações para vender o Novo Banco ao fundo Lone Star parecem bem encaminhadas e devem estar concluídas até ao final do ano, diz Faria de Oliveira. Ainda no final da semana passada, foi noticiado que as condições para a troca de dívida com obrigacionistas do Novo Banco seriam conhecidas nos próximos dias. Esta é uma operação fundamental para fechar a venda da instituição.
Neste momento, seria muito difícil perspetivar outro tipo de soluções. A nacionalização não parece possível, a liquidação é completamente indesejável. E encontrar um novo comprador exigiria um processo negocial com as autoridades europeias que não sei se estariam disponíveis”.
Faria de Oliveira reconhece ainda que o setor gostava de ter mais informação sobre o estado das negociações. Aliás, é uma das reclamações que o sistema [bancário] tem feito: sermos pouco postos ao corrente do que vai acontecendo”, afirma o porta-voz da banca em entrevista à Antena 1 e ao Negócios.
Nesta entrevista, o presidente da APB admitiu ainda que o processo de redução de trabalhadores na banca vai prosseguir. “Estamos a entrar numa nova era na banca “e os bancos portugueses estão a preparar-se para a nova forma de fazer banca, e que passa muito mais pelos canais digitais e o serviço online.
O BPI anunciou recentemente ter fechado acordo para reduzir, com rescisões voluntárias e pré-reformas, com mais de 600 colaboradores. A Caixa Geral de Depósitos tem em curso um plano de reestruturação que prevê o fecho de balcões e a redução de mais de 2000 trabalhadores.
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Bancos comunicaram ao Governo receio com a venda acelerada de activos tóxicos do Novo Banco. Sector teme mais esforço do Fundo de Resolução.
Alguns bancos portugueses manifestaram ao Governo a preocupação com a possível aceleração da venda de activos problemáticos do Novo Banco que a Lone Star está a discutir com as autoridades europeias. O Negócios sabe que vários responsáveis do sector receiam que uma maior rapidez na redução destas carteiras aumente a probabilidade de o Fundo de Resolução ser obrigado a injectar dinheiro na instituição, o que levará à necessidade de mobilizar mais recursos financeiros do que seria necessário caso estes activos fossem geridos num horizonte temporal mais alargado.
Como o Negócios noticiou na semana passada, o plano de negócios que a Lone Star, investidor norte-americano que acordou a compra do Novo Banco, e o Governo estão a negociar com Bruxelas prevê uma aceleração da redução do crédito malparado face às metas inicialmente previstas. Para a banca, reduzir o horizonte temporal para a gestão destes activos deve significar uma maior pressão sobre o seu preço de venda, podendo implicar um aumento das perdas a contabilizar pela instituição. Neste cenário, haverá maior probabilidade destes prejuízos porem em causa o nível de solidez definido no mecanismo de partilha de riscos acordado entre a Lone Star e o Estado e que dita a necessidade de o Fundo de Resolução injectar dinheiro no Novo Banco.
A preocupação da banca resulta do facto de o acréscimo de responsabilidades do Fundo de Resolução com a instituição que herdou os despojos do BES implicar um aumento da exposição do sector ao Novo Banco. Tendo em conta que aquela entidade pública pode vir a ser chamada a injectar mais 3.890 milhões na instituição, a banca ficaria a responder por um total de 8.790 milhões por causa da resolução do antigo banco de Ricardo Salgado.
Para defender a melhor gestão dos activos problemáticos do Novo Banco, a APB quer “garantir a competência e idoneidade de quem vai estar na comissão de acompanhamento” daquelas carteiras, revelou Faria de Oliveira. E apesar dos receios da banca com o facto de o Fundo de Resolução manter 25% da instituição, o líder da APB reconhece que a venda à Lone Star é a “melhor solução” possível.
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Os bancos estão preocupados com a solução de venda do Novo Banco, por implicar que o Fundo de Resolução mantenha 25% e possa injectar até 3.890 milhões na instituição. “Queremos garantir a competência e idoneidade” na gestão dos activos problemáticos do banco, revela Faria de Oliveira.
Depois de terem sido confrontados com a solução de venda do Novo Banco à Lone Star, que suscita preocupações aos bancos por poder implicar o aumento da exposição do Fundo de Resolução, os banqueiros querem assegurar que a qualidade da comissão que vai fiscalizar a gestão dos activos problemáticos da instituição.
“Queremos garantir a competência e idoneidade de quem vai estar na comissão de acompanhamento” da gestão dos activos problemáticos do Novo Banco, revelou o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), num encontro com jornalistas. Ou seja, os bancos querem ter uma palavra a dizer neste dossiê, assegurando a capacidade técnica dos futuros responsáveis por acompanhar o mecanismo de partilha de riscos da instituição acordada com o Estado. Uma possibilidade já admitida pelo ministro das Finanças.
A preocupação expressa por Fernando Faria de Oliveira resulta do facto de a solução de venda do Novo Banco implicar que o Fundo de Resolução – financiado pelo sector bancário – mantenha 75% da instituição e poder vir a ser chamado a desembolsar até 3.890 milhões de euros para compensar as perdas geradas por activos problemáticos que façam baixar o rácio de capital do banco aquém de determinado nível.
Tendo em conta o Fundo de Resolução já injectou 4.900 milhões no Novo Banco e ainda pode vir a mobilizar mais 3.890 milhões, a exposição indirecta do sector à instituição pode aproximar-se dos 8.870 milhões. “É uma exposição astronómica”, lamenta o representante dos banqueiros.
Ainda assim, Faria de Oliveira reconhece que a venda do Novo Banco acabou por ser a “melhor solução possível”.
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Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, é o convidado desta semana da grande entrevista DN TSF
Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, mostra-se confiante de que o setor vai conseguir ultrapassar a crise que garante não ter sido provocada pelos bancos. Considerando que a solução encontrada para o Novo Banco foi a possível, confessa que os banqueiros ficaram “preocupadíssimos” com o negócio. Nada preocupado está com a “espanholização da banca” mas mostra-se convencido que era bom ter um banco privado com capital maioritariamente português. Sobre o veículo para o crédito mal parado de que falou, há mais de um ano, o primeiro-ministro português, Faria de Oliveira diz não acreditar que ele venha a existir, a não ser que seja Paneuropeu.
A banca portuguesa entrou na união bancária com condições mais penalizantes
Vou ler-lhe vários títulos que encontrei ontem na preparação desta entrevista em sites de informação: “Bancos ainda têm pessoal e balcões a mais” (TSF); “FMI quer bancos nacionais a dar créditos só com critérios comerciais (Jornal de Negócios); “Bancos foram dos que menos reduziram rácios de crédito malparado” (Diário de Notícias); e, finalmente, “FMI diz que banca portuguesa e italiana são o elo mais fraco da zona euro” (Expresso). Depois de nos últimos anos termos resolvido, com custos de milhares de milhões de euros, vários problemas na banca, estes subsistem. Como saímos daqui?
Tem sido um período particularmente longo e difícil para todo o sistema bancário. Tudo começou com a crise financeira internacional em 2008, muito agravada com a crise da dívida soberana em 2011. É muito importante procurar entender qual foi a realidade que se viveu. O sistema bancário português foi muito fortemente afetado pela recessão económica derivada destas crises, essa recessão económica foi entretanto acompanhada por mudanças de política económica e pelo modelo de crescimento económico que o país viveu durante muitos anos. Em que é que isto se traduziu? Isto significou que muitas empresas – designadamente aquelas dos setores dos bens não transacionáveis, a construção civil, o imobiliário, que eram muito apoiadas pelo sistema bancário em termos de concessão de crédito -, viram os seus mercados fecharem-se, na medida em que a obra pública praticamente parou; o imobiliário também teve uma redução fortíssima e, com isso, essas empresas, que já estavam endividadas, ficaram sem capacidade de cumprir as suas obrigações perante a banca.
Mas houve aí uma má análise de risco…
Eu creio que a análise de risco é sempre objeto das circunstâncias em que as decisões são tomadas. E a verdade é que durante muitos anos a análise de risco se baseava fundamentalmente nos critérios correspondentes aos modelos de análise de risco de então que acompanhavam as políticas económicas do governo e as circunstâncias, outras, em que as decisões eram tomadas. A posteriori é fácil dizer que, na realidade, houve excesso de concessão de crédito por eventual condescendência na análise de risco, mas os factos provam que as taxas de incumprimento que vigoraram ao longo de muitos anos, até 2011, foram sempre extremamente reduzidas, o que, pura e simplesmente, é a demonstração cabal que os critérios então praticados correspondiam às circunstâncias do funcionamento da economia do país, e da Europa, pois o problema não é naturalmente um problema exclusivo da banca portuguesa.
Eu creio que existe, infelizmente, uma tendência significativa para, na análise das causas da situação do sistema bancário, não se ir ao fundo das questões. No método científico há dois princípios que têm de ser seguidos e que são os seus princípios fundamentais: a compreensão da realidade e a objetivação. Ora, muitas vezes, nesta matéria confundiu-se objetivação com objetivos. Na realidade, a opinião pública foi muito conduzida no sentido de atribuir a má gestão – designadamente por parte das instituições -, a um elevadíssimo peso das imparidades na gestão do sistema bancário. Na realidade, a atividade bancária tem o risco como inerente; se o risco existe em todas as atividades económicas, no sistema bancário tem um peso incomparavelmente superior, é específico do sistema bancário. E, portanto, seguramente que há sempre erros na concessão de créditos porque muitas das decisões depois não correm bem. Os erros também são inerentes, agora, atribuir a principal razão da situação da banca a erros de gestão parece-me sinceramente um exagero. Como digo, é fácil provar que a esmagadora maioria das imparidades registadas resultam das consequências da recessão económica.
Em janeiro, na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, o senhor disse que foi a crise das dívidas soberanas – um pouco no seguimento do que nos dizia antes – que, com as suas consequências, acabou por afetar os bancos e não estes a causarem essa crise. Isto implica que na resolução dos problemas do setor há uma responsabilidade acrescida para os Estados que terão estado na origem desta situação?
Como todos sabemos, a origem de tudo esteve na crise do subprime nos Estados Unidos, no comportamento de instituições bancárias que tiveram muito más práticas e comportamentos éticos absolutamente inaceitáveis, numa proliferação de produtos complexos no sistema bancário que geraram, depois, problemas de uma enorme dimensão. Essa é a principal origem.
E essas são também responsabilidades do setor bancário?
Seguramente, e extremamente graves, e que tiveram consequências depois, por efeitos de arrastamento, em todo o sistema bancário europeu que, como se recordarão, conduziram à necessidade de os Estados – designadamente o G20 e, dentro da Europa, o Conselho Europeu -, definirem programas específicos para tentar evitar que as consequências dessas situações causadas no sistema bancário se refletissem na economia. Daí, as garantias de Estado e os aumentos de capital que atingiram uma dimensão astronómica, que foi necessário aplicar para salvar vários bancos e, nomeadamente, bancos de grande dimensão. Não nos esqueçamos do que se passou em Inglaterra, nos países nórdicos, na Bélgica, na Holanda, etc. e, na Irlanda, em particular. O conjunto de medidas de apoio do estado, por exemplo à banca irlandesa, chegou a ultrapassar os 200% do PIB.
Em Portugal, o total das ajudas do Estado ao sistema bancário português foi de treze mil milhões de euros, (13 bis, que é uma expressão mais simples). Desses 13 bis, cinco estão recuperados, foram pagos pelo sistema. Portanto, na realidade, as perdas, aquilo que se pode designar por custos para o Estado e, portanto, para os contribuintes, são 8 bis, cerca de 5% do produto interno bruto. Portugal tem um peso, em qualquer circunstância, elevado, sem dúvida nenhuma que o é, mas que tem de ser visto no contexto da enorme crise que o sistema bancário sofreu, e que não está eliminada, não nos podemos esquecer que o sistema bancário europeu ainda tem, como anteontem disse Danièle Nouy, novecentos e trinta e um mil milhões de euros de imparidades, de NPLs [non-performing loans], nas carteiras dos bancos. Isto tem, portanto, uma dimensão que excede largamente a dimensão nacional, é um problema manifestamente europeu.
Mas o FMI salienta que a situação da banca portuguesa e italiana é a mais complicada da zona euro.
Sem dúvida. Em relação à banca portuguesa creio que há algumas razões que o podem explicar. Devo dizer que ao procurar explicar cabalmente a situação não estou a dizer que o sistema bancário português não devesse estar mais bem preparado para enfrentar crises, como a que infelizmente aconteceu. O que quero enfatizar é que a situação que o sistema bancário atravessou, para além daqueles fatores que referi, foi agravada porque, ao mesmo tempo, exatamente quando estávamos a negociar o programa de ajustamento económico e financeiro, e a aplicá-lo, surgiram os novos requisitos, o novo quadro regulatório do sistema bancário europeu; com novos requisitos gravíssimos e que implicaram necessidades de aumento de capital de grande dimensão, bem como o mínimo de cumprimento de rácios de liquidez, de rácios de leverage [alavancagem financeira], etc.
Depois ocorreu um segundo facto. No momento em que estávamos no auge da recessão surge também a união bancária com outros novos requisitos. Portanto, a banca portuguesa teve condições de entrada na união bancária mais penalizantes do que aqueles que teve a grande maioria dos outros Estados-membros da União Europeia. Isto também é uma realidade inquestionável. Isso conduziu a que o sistema bancário português começasse a apresentar rentabilidades negativas. Os resultados dos bancos, praticamente desde 2012, passaram a ser resultados negativos. E, naturalmente também, conciliar necessidades de aumento de capital com rentabilidades negativas é algo extremamente complicado, porque os investidores olham, naturalmente, para as rentabilidades esperadas. E não esqueçamos também a destruição de capital colossal que derivou da crise do mercado de capitais e, designadamente, do valor das ações da banca. Não esqueçamos que em relação à capitalização bolsista em 2007-2008 chegou a haver uma perda de cerca de 90%, que depois foi parcialmente recuperada. Tudo isto afasta investidores e, portanto, torna mais complicado, quando há necessidade de realizar os aumentos de capital, atrair capital.
Seria útil um banco privado com capital maioritário português
Vamos olhar exatamente para esse ponto, para como está a banca hoje: a banca portuguesa passou tempos a resolver problemas – chegou-se a falar do perigo da espanholização da banca -, mas depois os espanhóis do La Caixa ficaram com o BPI, os chineses da Fosun entraram no BCP, os norte-americanos da Lone Star podem vir a entrar no Novo Banco, se o negócio se vier a confirmar, o Estado reforçou capitais na Caixa, chegou até a existir uma pequena polémica quanto à origem do investimento que obrigou o engenheiro Faria de Oliveira a vir explicar o que tinha dito. Esta diversidade deixou-o satisfeito?
Eu ceio que sim. Nós estamos no âmbito do projeto europeu, de acordo com os objetivos definidos pelo próprio BCE, a caminhar para um sistema de bancos pan-europeus. Há uma manifesta intenção de promover uma maior consolidação do sistema bancário europeu, mas, entretanto, a realidade também demonstra que os próprios Estados-membros continuam a manter um número significativo de instituições nacionais dentro do sistema bancário. No sistema bancário português, devido ao facto de o capital ser um bem escasso e, neste momento, ter havido uma grande destruição de capital em termos nacionais, naturalmente as necessidades de capital têm de ser supridas através da entrada de investimento estrangeiro.
Mas, em sua opinião, faria falta um banco privado com maioria de capital português?
Eu penso que seria seguramente útil e penso que isso ainda venha a ser, eventualmente, possível no futuro, quando houver uma recuperação das condições dos investidores nacionais. O país precisa manifestamente de aumentar o investimento e de aumentar a poupança, e só depois de se conseguir aumentar a poupança se criarão condições para que o investimento possa aumentar significativamente. Nós, neste momento, como sabe, temos taxas de poupança que são extremamente baixas, das mais baixas no contexto europeu.
Mas, neste contexto, o facto de haver um conjunto de bancos internacionais com origens de capital diversificadas pode ser positivo. Gostava que a banca portuguesa fosse particularmente apetente em termos de investimento para algumas instituições europeias de relevo e, infelizmente, neste momento, até porque muitas delas também têm problemas ainda a enfrentar até atingirem a total normalidade, isso não tem vindo a acontecer. E acho que os bancos espanhóis, que são dois bancos que eu conheço bem, extremamente sólidos, extremamente bem geridos, (o La Caixa e o Santander), oferecem todas as garantias de poderem, de facto, dar um contributo para que a banca nacional – porque os bancos, em qualquer caso, o BPI e o SantanderTotta, são bancos nacionais, com capital maioritariamente estrangeiro, mas são bancos nacionais -, cumpra aquelas que são as duas grandes missões do sistema bancário, e que são indispensáveis: o financiamento da economia e dos cidadãos por um lado e a garantia do sistema de pagamentos eficaz e seguro. Estas são duas missões insubstituíveis do sistema bancário.
Nunca o incomodou a ideia de que podia haver uma espanholização da banca portuguesa?
Como sabe eu estive três anos em Espanha, onde dirigi o então banco da Caixa Geral em Espanha, e conheço bem as instituições bancárias espanholas e bastante bem a maneira de pensar estrategicamente das instituições. Os próprios dirigentes políticos e bancários espanhóis serão os primeiros a ter muito bom senso no que diz respeito à sua maneira de atuar.
Há ainda um elefante, é um elefante bebé, mas é um elefante no meio da sala. Há razões para estarmos atentos com o que se passa com a Caixa Económica Montepio, que é um banco, ou o problema não é bancário, é do acionista e dos mutualistas que fazem parte desta instituição?
Bom, eu aqui tenho uma questão de princípio, porque é mesmo uma questão de princípio: a APB, desde sempre, não se pronuncia sobre questões específicas dos seus associados e dos seus acionistas, portanto tenho muita dificuldade…
Nós também temos um princípio, que é ser jornalistas e fazer perguntas.
Eu sei, evidentemente, evidentemente.
Não tem de se pronunciar de forma específica, pode ser de uma forma geral [risos] …
Portanto, o que é a missão da APB? É tratar dos assuntos transversais ao setor e dos interesses gerais dos seus associados. É nisso que nós trabalhamos mas, naturalmente, dentro da atuação da APB importa que cada banco nosso associado – e, principalmente, aqueles que são mais relevantes no sistema, e o Montepio Geral é um banco relevante no sistema, não apenas por ser um banco centenário -, tenha preservada a sua solidez, a sua modernidade e a confiança que traz para os seus clientes. O que passa pelo cumprimento das exigências regulatórias e das exigências de supervisão e, seguramente, isso está efetuado pelas autoridades competentes. É basicamente isto o que tenho a dizer e, o que estou a dizer em relação ao Montepio é absolutamente geral em relação a qualquer outra instituição.
Está satisfeito com a hipótese de serem instituições de caráter social, numa lógica de como é também uma caixa mutualista, a fazerem parte da solução que o governo preconiza?
Mais uma vez é-me difícil fazer comentários sobre essa matéria.
Não me parece possível um veículo para o mal parado, talvez uma plataforma
Temos estado a resolver caso a caso os problemas do setor bancário. Tarda, ainda assim, a solução para um problema que é generalizado, a questão do crédito malparado, já temos vindo a falar dele, a Associação Portuguesa de Bancos integra aliás um grupo de trabalho que procura soluções para esta questão. O tal veículo de que o primeiro-ministro tem falado, de que falou há mais de um ano, estamos mais perto dessas soluções, elas já existem?
Vamos ver. Em primeiro lugar, sem dúvida que a Associação Portuguesa de Bancos tem estado fortemente envolvida no que diz respeito ao encontro de soluções que permitam acelerar a resolução do problema da venda do crédito malparado, que é basicamente o que está em questão. Mas nós não fazemos parte do grupo de trabalho relacionado com aquilo que se chama veículo ou plataforma que vai ser criada para permitir que se criem mecanismos que sejam principalmente capazes de gerar um mercado secundário de compra de créditos pouco produtivos ou não produtivos que seja mais eficiente. Como sabe, no nosso país esse mercado é muito incipiente, basicamente são alguns fundos internacionais que trabalham nesse mercado, e, ao mesmo tempo, é um biased market e, como biased market que é naturalmente que o simples facto de haver pressão para a venda diminui a capacidade negocial das instituições.
A nossa preocupação, e isso sim, fazemos parte de um segundo grupo de trabalho que foi constituído, tem muito a ver com a eliminação de todo um conjunto de entraves e bloqueamentos a que seja possível atuar sobre o crédito malparado de uma maneira mais célere.
Entraves legais, entraves fiscais?
Entraves fiscais, judiciais – do funcionamento mais célere ou menos célere dos tribunais -, muito ligados com o SIREVE, com o PER, com os processos de recuperação e de insolvência que em Portugal são tão morosos que os bancos ficam, até à decisão final, inibidos de poder fazer o write off desses créditos nos seus balanços; isto tem muito a ver com a questão dos DTAs que eu depois poderei também abordar. Desde logo, a otimização do PER e do SIREVE, a melhoria da eficácia e da eficiência dos processos de revitalização e de insolvência, a dinamização do mercado secundário, como eu já referi, e a melhoria do enquadramento fiscal, muito relacionada com a questão dos DTAs, são questões que, para nós, são tão ou mais importantes do que trabalhar no domínio da criação da plataforma.
E esse tipo de questões já tem soluções desenhadas que permitam depois avançar? Estava a falar dos DTAs, o que é que procura que o governo seja capaz de dar em matéria fiscal?
Vamos lá ver, logo aí há uma matéria que importa clarificar: o governo não está a dar, eu sei que têm surgido algumas notícias de que há uma nova ajuda para o sistema bancário relacionada com a questão dos DTAs, mas isso é muito importante clarificar. Qual é, na realidade, a questão que se coloca? Quatro países no âmbito da União Europeia, quatro, Grécia, Itália, Espanha e Portugal, tinham um regime contabilístico não coincidente com o regime fiscal no tratamento fiscal das imparidades; isto é, uma instituição regista uma imparidade porque determinou que um crédito é praticamente incobrável, mas a autoridade fiscal não aceita esse registo até que os tribunais decidam que deixou de haver condições de recuperar o crédito; só com a decisão do tribunal. E há um hiato de tempo em que o banco registou a imparidade e, portanto, tendo resultados positivos está a pagar o IRC por antecipação e o Estado o que faz? O Estado transforma esse crédito que recebeu antecipadamente num DTA que pode ser recuperado mais tarde, exatamente quando houver o reconhecimento integral da perda.
Estes quatro países viveram durante muitos anos em perfeita desvantagem em relação a todos os outros Estados-membros da Europa, onde coincide o regime fiscal com o regime contabilístico.
E tem isso assegurado por parte do governo para poder resolver a questão do crédito malparado?
Em princípio sim. Devo dizer que o Banco Mundial e o BCE fizeram recomendações no sentido de se eliminar esta diferença temporal entre o regime fiscal e o regime contabilístico. O nosso governo está, aparentemente, de facto a trabalhar neste assunto para poder aprovar a legislação que, pura e simplesmente, harmoniza com o resto da legislação europeia.
Este crédito malparado, e estamos a falar de dezoito a vinte mil milhões de euros, não é necessariamente para passar todo para esse veículo. De que percentagem dele é que seria necessário os bancos libertarem-se para uma melhor governação?
Os bancos na ausência de um mecanismo – e, uma vez mais, a Danièle Nouy na entrevista de anteontem refere que no âmbito europeu se pensa criar também um mecanismo pan-europeu para acelerar o tratamento despes NPLs, aliás no seguimento de uma proposta feita pelo governador do Banco de Portugal, se não estou em erro, em novembro de 2015, que terá sido pioneira no âmbito do Conselho Europeu para criar uma tal solução, visto que o problema é sistémico, é europeu, não é um problema exclusivamente nacional, embora Portugal seja um dos países, como diz o relatório do Fundo Monetário, onde o problema é mais premente -, têm vindo a trabalhar neste domínio. Estes aumentos de capital que foram realizados têm também muito a ver com a possibilidade de acelerarem o tratamento da resolução destes problemas.
Eu creio que na medida em que o mercado secundário puder ser vitalizado, na medida em que as tais questões de natureza temporal, que são bloqueamentos, forem resolvidas…
…acha que não será preciso um veículo?
Não, um veículo pode ser muito útil, principalmente se for pan-europeu, pode ser extremamente útil.
Mas vejo-o pessimista em relação a um veículo que pudesse ser unicamente para os bancos portugueses.
Não. Vamos lá ver, eu tenho dúvidas de que seja possível criar um veículo, como aconteceu com outros Estados-membros muito beneficiados nesta matéria, com garantias de Estado. Isso seria o ideal.
O primeiro-ministro já disse que não estava disponível para isso.
Seria necessário que houvesse um waiver por parte das instituições europeias nesse sentido. É mais natural que, a prazo, se venha a criar um veículo europeu, chamemos-lhe assim, mas entretanto se houver uma plataforma que dinamize este mercado já seria extraordinariamente positivo.
Mas não acredita que esse veículo venha a conhecer a luz do dia, a nível nacional para o problema português, se não houver garantias de Estado?
Não será um veículo, será uma plataforma, chamemos-lhe assim, em que sejam incentivadas várias instituições, fundos, etc., especializados na compra do crédito malparado e que permitam…
…mas cada uma delas a fazer a gestão dos próprios ativos, pelos quais se responsabilizará.
Exatamente, exatamente.
Ficámos preocupadíssimos com a solução encontrada para o Novo Banco
Há uma solução anunciada para o Novo Banco, à espera ainda da confirmação final, esta solução terá custos acrescidos, nomeadamente para o Fundo de Resolução, ou seja, para os outros bancos. Ficaram dececionados com a solução que acabou por ser encontrada?
Ficámos preocupadíssimos, mas a verdade é que este processo teve um pecado original e insofismável, que foi a decisão da medida de resolução do BES, um banco sistémico. Logo nessa altura, a Associação Portuguesa de Bancos e os presidentes dos bancos disseram claramente que esta decisão não devia ser tomada, visto que o BES era um banco sistémico e não só o Fundo de Resolução não estava devidamente apetrechado para isso, tinha menos de trezentos milhões de euros naquele momento de fundos, como, ainda por cima, o efeito de natureza quase sistémica que teria em relação aos outros bancos que têm, em qualquer caso, a responsabilidade de financiar o Fundo de Resolução, podia trazer problemas complicados. Mas pronto. Não foi possível sermos atendidos nesta matéria, nem pelo governo de então, nem pelo Banco de Portugal e o processo pode dizer-se que correu mal.
Eu creio que não havia um completo conhecimento da qualidade da carteira do BES e que as autoridades admitiram, nessa altura, que uma venda próxima do banco de transição se poderia fazer por valores próximos do capital que iria aí ser investido. A realidade veio demonstrar uma situação bem diferente. A verdade é que o Novo Banco foi acumulando prejuízos, falhou a primeira tentativa de venda, esta segunda tentativa de venda acabou por ser, na fase final, praticamente limitada à negociação com um concorrente. Para os bancos do sistema isto constitui um fardo pesadíssimo. Repare, os 4,9 mil milhões de capital inicial do Novo Banco já ultrapassavam aquilo que em termos europeus se define como limite máximo de exposição que deve haver em relação à resolução de um banco, que são 5% do passivo mais fundos próprios; isso dava, em relação ao BES de então entre 3,6 e 3,9 bis, e foram definidos 4,9; e estes 5% não foram definidos completamente por acaso, são para salvaguardar a estabilidade financeira. Agora ficamos sujeitos a uma exposição adicional, através de um mecanismo contingente que fica responsável, que é uma garantia para todos os efeitos.
De 3,9 mil milhões.
Claro, isto atira para nove mil milhões de euros, praticamente. É um valor de uma dimensão brutal que é cerca de 5% do PIB nacional. Portanto, isto não pode deixar de nos provocar preocupações. É certo, e até de acordo com uma proposta de vem de há muito tempo e que a APB fazia, que foi possível obter atendimento por parte das instituições europeias de que em termos contabilísticos e prudenciais, a exposição dos bancos ao Fundo de Resolução pudesse ser diluída no tempo; isto é, de que houvesse a possibilidade de o fazer mantendo um valor anual das contribuições periódicas dos bancos para o Fundo de Resolução.
Isso já foi conseguido, agora queria perguntar se confia que os atuais obrigacionistas estarão disponíveis para fazer um haircut que permita os quinhentos milhões de euros que são necessários para o aumento de capital e que são cruciais para que o negócio se conclua?
Eu creio que esta operação tem características ligeiramente diferentes daquela que foi a retransmissão das obrigações para o banco mau, esta é mais ou menos voluntária. Agora, ela tem de ser atingida e compete criar condições para facilitar o encontro…
… mas é um pouco como dizer, ou aceitam cortar estes quinhentos milhões ou vão ficar sem nada.
Vamos lá ver, isto vem sempre de acordo com a questão de fundo, que era esta: que alternativas havia para a resolução do problema do Novo Banco nesta matéria? Havia quatro hipóteses. A primeira, a liquidação, estava fora de causa porque o efeito sistémico era garantido e porque os custos para o Estado eram ainda maiores. A segunda era a nacionalização. Segundo o que ouvimos do primeiro-ministro os custos também eram superiores e creio que havia também uma questão política de fundo, uma nacionalização neste momento de uma instituição bancária, no contexto em que vamos vivendo em termos políticos, podia ser muito mal entendida pelos mercados e penalizar fortemente o país e, portanto, era uma solução possível, por exemplo nós não tínhamos nada contra ela, mas reconhecemos que em termos de imagem… Depois era a venda nas melhores condições possíveis e é isso que corresponde àquilo que o primeiro-ministro tentou, e haveria eventualmente uma última que era o adiamento da venda.
Aqui temos duas questões, a primeira é que havia compromissos com Bruxelas que não o permitiam, teriam de ser renegociados. A segunda é que a experiência existente até agora, não é muito grande mas há alguma, é que até hoje não foi possível através de adiamentos melhorar as questões de valorização das instituições. Portanto, nada nos garantia que poderiam ser obtidas melhores condições. A solução encontrada é um mal menor. É um mal menor e um grande fardo para o sistema bancário.
O senhor já referiu que o Fundo acaba por dar garantias no valor de cerca 3,9 mil milhões de euros nesta venda, se eles forem necessários será o Estado a emprestar e os bancos terão de pagar até 2046. Já houve uma renegociação de prazos e juros e houve mesmo o PSD a perguntar se houve um perdão de dívida aos bancos que suportam o Fundo. A minha pergunta é exatamente essa, houve um perdão de dívida?
Não, não houve perdão de dívida nenhum. Os bancos são o responsável último pelo montante definido em relação à resolução quer do BES, quer do BANIF. As condições de cumprimento, através das contribuições que os bancos vão fazendo é que são outras, não são feitas à cabeça, o que daria um problema sistémico. Repare, admitamos que são só os cinco bis, a Caixa Geral de Depósitos que representa cerca de 24% a 25% teria de registar à cabeça uma imparidade da ordem de 1 bi ou mais, e o mesmo se passaria com o BCP que é da mesma ordem de grandeza. Isto era insustentável e, portanto, foi possível fazer entender às autoridades nacionais e estrangeiras que tinha que haver uma diluição no tempo do pagamento deste financiamento do Fundo de Resolução. Isso foi conseguido, os bancos registam anualmente as imparidades correspondentes ao valor da contribuição anual que fazem e que está fixada mais ou menos em duzentos e cinquenta milhões de euros/ano e o tempo é que passou a ser a variável. Através do eventual aumento da exposição dos 4,9 até chegar aos 9, pode vir a ser necessário até prorrogar o horizonte temporal.
Entretanto, as condições de fixação da remuneração do financiamento que o Estado renegociou com o sistema bancário, porque o financiamento já existia, aumentando as taxas de juro, têm muito a ver com duas preocupações essenciais e, a primeira, é assegurar a solvência do Fundo de Resolução, porque se o Fundo de Resolução deixar de ser solvente temos um problema muito sério.
Aí serão os contribuintes a pagar.
Exatamente.
Temos um Presidente 5 estrelas
Vamos só olhar um pouco para a política, mas naquilo que diz respeito à vida dos bancos. A Associação Portuguesa de Bancos considerou arbitrária a cobrança à banca do imposto de selo em relação ao pagamento com cartões. Num setor com problemas de rentabilidade, o poder político, na opinião da APB está a criar dificuldades à atividade. Acha que isto tem a ver com o facto de existir uma aliança parlamentar de esquerda que não vê com bons olhos a iniciativa privada na banca, acha que esta pressão vem daí, desta questão política?
É uma excelente questão. Em relação ao caso concreto que referiu devo dizer que são muito mais questões de princípio do que propriamente o valor que está em causa, em relação ao imposto de selo sobre a taxa de serviço do comerciante. O que está em causa é que arbitrariamente se transforma um imposto que é um imposto sobre o consumo num imposto sobre o rendimento e isso é um caso completamente distinto. Não se atenta à natureza do imposto e isso é gravíssimo, do meu ponto de vista. E, ainda por cima, esse imposto sobre o rendimento incide sobre o rendimento bruto, não incide sobre o rendimento real e esquece que nesse rendimento estão incluídas várias verbas que não são para os bancos, são para os skins são para os Visas, são para esse tipo de entidades. Do ponto de vista, chamemos-lhe assim, eminentemente técnico, isto é uma barbaridade. Foi isso que nos levou a reclamar, porque não é o valor que está em causa, não é isso.
Mas acha que a decisão é marcadamente ideológica?
Eu acho que a decisão é ideológica. Agora, isso tem muito a ver com o funcionamento da geringonça. Eu distingo muito entre governo e geringonça. A geringonça é instrumental para viabilizar o governo, mas ela agrega partidos que são contra a economia de mercado, que são contra o euro, que são contra a União Europeia, que são contra o sistema bancário, que têm posições diferentes das do PS, e essas posições penalizam bastante o país, por um lado, perante os investidores, perante os círculos políticos dominantes, provocam desconfiança, etc. Mas a geringonça tem também alguns aspetos positivos, porque criou um clima de estabilidade social, com menor contestação, pugna pelas classes mais baixas ainda que, eventualmente, num processo que se continuasse podia ser perverso, de alinhamento por baixo, até hoje a experiência empírica mundial mostra claramente que nenhuma sociedade conseguiu prosperar e aumentar a criação de riqueza com base neste tipo de modelo.
Mas a ação governativa tem tido, indiscutivelmente, vários méritos. Desde logo, aqueles que são conhecidos e que têm a ver com os progressos registados na redução do défice, no aumento do emprego, no aumento do crescimento económico, no investimento, ainda que muito ténue. E ainda temos que registar muito positivamente a determinação na resolução de problemas candentes e essenciais para o país, que são o problema da capitalização das empresas, o problema da estabilidade financeira, da eliminação de todo um conjunto de bloqueamentos a uma maior eficácia de atuação por parte do aparelho produtivo e bancário. Isto é indiscutível e resulta muito de uma capacidade de diálogo muito forte que tem havido, mas existe ainda um conjunto de omissões e de eventuais riscos que importa salvaguardar. Para mim, a maior preocupação que existe é uma certa falta ou a inexistência de uma visão estratégica e de um rumo, para o médio e longo prazo, claro para o nosso país. Eu acho que isso é essencial para transmitir confiança e mobilizar os cidadãos, e, depois, há vários temas que merecem planos contingentes ou uma grande atenção, como seja por exemplo o caso do valor da dívida pública e o respetivo ILD, no caso de o Banco Central Europeu reduzir o programa de compras da dívida pública ou alterar a sua política de taxas de juro. Nós temos de estar preparados para responder a isso. Neste momento não temos tanto o perigo da DBRS deixar de nos atribuir o rating adequado…
Mas temos de nos preparar para poder ir ao mercado se faltar o BCE.
Exatamente. Depois é o adiamento das reformas estruturais que é algo gravíssimo, a verdade é que reformas adiadas são ruturas anunciadas, portanto esta matéria também tem de ser objeto de muita atenção.
Pedia-lhe agora para olhar também para o papel do presidente da República, de quem já se disse que, de alguma forma, leva também ao colo o governo e a solução política encontrada no Parlamento. Está satisfeito com a prestação do chefe de Estado até esta altura?
Vou ser extremamente curto: cinco estrelas.
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Antigo ministro das Finanças reuniu-se com o líder da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
O antigo vice-governador do Banco de Portugal, João Salgueiro, considerou hoje que há uma estratégia para desvalorizar os bancos portugueses por parte de investidores que estão interessados em reforçar ou entrar no seu capital.
João Salgueiro reuniu-se hoje com o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, para apresentar formalmente o manifesto Reconfiguração da Banca em Portugal – Desafios e Linhas Vermelhas, de que é um dos promotores.
À saída, em declarações à Lusa, o também antigo ministro das Finanças de Francisco Pinto Balsemão disse que, no encontro, foi referida a necessidade de ser assegurado que o sistema financeiro põe “a escassa poupança portuguesa ao serviço do crescimento e do emprego em Portugal”, isto tendo em conta o receio de que “accionistas estrangeiros não contribuam de forma activa” para isso.
Também o caso da resolução do Banif foi abordado neste encontro, com João Salgueiro a considerar que Portugal funcionou “como cobaia” para o novo esquema de resgate a nível europeu.
Além de Salgueiro, o manifesto é assinado por personalidades como Manuela Ferreira Leite ou António Bagão Félix e defende um pensamento estratégico sobre o futuro da banca em Portugal, considerando ainda que é urgente combater o excesso de dirigismo das autoridades europeias e impedir que os capitais dos bancos sejam controlados por um único país estrangeiro.
Quanto a assuntos que estão na ordem do dia no sistema financeiro, caso da significativa desvalorização recente das acções do BCP, João Salgueiro considerou que isso demonstra que “há muito interesse pelo BCP e que há uma estratégia para fazer perder valor ao banco”.
Aliás, afirmou, é genérica “a estratégia de desvalorizar os bancos portugueses antes de serem vendidos”.
As ações do banco BCP avançaram hoje em bolsa 15,38% para 0,0255 euros (2,5 cêntimos), após oito sessões consecutivas negativas, isto numa altura em que se fala num eventual aumento de capital no banco e do seu interesse em adquirir o Novo Banco.
Quanto à Caixa Geral de Depósitos (CGD), o economista disse esperar que seja ultrapassado o problema de uma injeção de capital pelo único acionista, o Estado, e que o importante é que os capitais que sejam investidos “sejam bem utilizados” com “critérios exigentes e orientados para prioridades de Portugal”.
Sobre a sua entrevista à Antena 1, em que disse que haverá mais três bancos na linha de resgate, referindo então o BCP, a Caixa Geral De Depósitos (CGD) e “um banco mais modesto”, João Salgueiro esclareceu hoje que o que quer dizer é que se “não for resolvido a tempo o problema dos bancos, que esses ficam na fila de espera para resgate”.
Salgueiro criticou ainda eventuais intenções do Banco Central Europeu (BCE) de forçar uma consolidação na Península Ibérica, considerando que – a existir – essa intenção é uma “tontice”, uma vez que bancos grandes de mais são mais difíceis de regular, supervisionar e controlar – o conhecido ‘too big too fail’ – e, além disso, é importante que “haja mais entidades a concorrer” para fomentar a competição.
Quanto ao processo de venda do Novo Banco, repetiu que o importante é que “nenhum banco seja vendido à pressa” porque isso “tira valor” à instituição, e que se evitem situações como a do Banif, que “foi vendido a preço de saldo”.
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O presidente da Associação de Bancos deixa rasgados elogios a Carlos Costa e diz que a sua manutenção no cargo também depende da colaboração com o Governo. Não se opõe à nacionalização do Novo Banco.
Fernando Faria de Oliveira está otimista e diz ver uma “clara melhoria” na relação entre o Governo e o governador do Banco de Portugal, mas também considera que a manutenção de Carlos Costa no cargo “depende dele e de se criarem condições de funcionamento transparente colaborativo com o Governo”.
A afirmação foi feita numa entrevista ao Jornal de Negócios, onde o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) elogia Carlos Costa, por ser “extremamente íntegro, com elevado sentido de responsabilidade, com sentido ético, de dever público” e “numa situação particularmente difícil”. Faria de Oliveira diz-se ainda “perplexo com o tratamento público” dado ao Banco de Portugal, argumentando com o risco das “consequências negativas”que as críticas do meio político à instituição possam acarretar: “Fragilizar qualquer instituição é fragilizar o país”.
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A nacionalização do Novo Banco “é uma possibilidade” que Faria de Oliveira admite apoiar se o Estado assumir os custos. O líder dos banqueiros defende a injecção de dinheiro público na CGD e a necessidade de pensamento estratégico para fortalecer a banca.
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Superbanco que assuma malparado poderá ter de receber garantia do Estado. Analistas aplaudem ideia, mas temem custos.
O Novo Banco é a instituição bancária que mais tem a ganhar com a criação de um superbanco mau. No limite, criar uma instituição que junte todos os empréstimos de má qualidade da banca portuguesa poderá ajudar a acelerar a venda do banco liderado por Stock da Cunha, tornando-o mais atrativo para os investidores.
Para além disso, o nascimento de um superbanco mau poderá vir a ser mais um empurrão à concessão de crédito. A ideia é defendida pelo analista João Pereira Leite, diretor de investimentos do banco Carregosa.
A explicação é simples: depois da resolução do BES, o Novo Banco continua a ser a instituição com maior volume de malparado. Em dezembro de 2015, os créditos vencidos há mais de 90 dias representavam 14,5% do total de empréstimos concedidos pelo Novo Banco, dados do Relatório e Contas. Além disto, ; 22,8% dos seus empréstimos estavam em risco de vencerem. “Admito que possa ajudar a tornar o Novo Banco mais atrativo para eventuais compradores e aliviar os encargos do Fundo de Resolução que, no fundo, é todo o sector bancário”, disse João Pereira Leite. O mesmo referiu Pedro Oliveira, da GoBulling, ao Negócios: “Poderá aumentar o potencial de venda do Novo Banco.”
Um problema geral
O problema do incumprimento é generalizado na banca portuguesa. “Apesar da recente melhoria na qualidade dos créditos das instituições portuguesas, em algumas delas os créditos vencidos assumem percentagens superiores a 10%”, diz Pedro Ricardo Santos da ; XTB. Em fevereiro, o Banco de Portugal registou um total de 18 mil milhões de euros em créditos malparados. Estima-se ainda que, desde o início da crise, os bancos portugueses tenham gasto 40 mil milhões em imparidades, lucros colocados de parte para enfrentar os incumprimentos. António Costa, primeiro-ministro, quer, por isso, “encontrar um veículo de resolução para o crédito malparado, de forma a libertar o sistema financeiro de um ónus que dificulta uma participação mais activa no financiamento às empresas”.
Para já, ainda não são conhecidos os contornos que a instituição poderá ter (o já referido superbanco mau) mas todos os círculos admitem que o tema merece atenção – até o Bloco de Esquerda e o PCP que levantam dúvidas a este mecanismo -, para que se libertem capitais para a concessão de crédito. “Percebe-se evidente a necessidade de encontrar formas de capitalizar os bancos”, afirma Filipe Garcia, da Informação em Mercados Financeiros (IMF), lembrando que “a utilização de um veículo agregador do malparado pode ser interessante se ajudar a reconhecer o verdadeiro montante em causa e a gerir esses créditos de forma conjunta, permitindo uma recuperação ou uma venda mais vantajosa”. “A criação do bad bank, à semelhança de outros países europeus, permitiria libertar os balanços dos bancos nacionais do crédito mal-parado, abrindo a porta ao financiamento das empresas”, acrescenta Pedro Ricardo Santos.
A Associação Portuguesa de Banca e o Banco de Portugal também apoiam o mecanismo. Na comissão parlamentar de inquérito ao Banif, Carlos Costa disse que a constituição de um veículo que fique com os créditos vencidos e o imobiliário dos bancos é a “solução” que a banca portuguesa necessita. Já a APB, que em 2011 chegou a sugerir um veículo deste género, vê “naturalmente com agrado” esta sugestão do primeiro-ministro.
Quem paga?
Sem mecanismo desenhado, os analistas têm apenas uma dúvida: quem vai dar garantias? “Desvantagens não vejo nenhuma, vejo é dificuldades”, diz João Pereira Leite. O diretor de investimento do Banco Carregosa lembra que a capitalização e gestão desta entidade, bem como a recuperação dos créditos, continuam a ser o maior entrave à sua criação. Pedro Ricardo Santos repete: O envolvimento do Estado português passará, com elevada probabilidade, pela concessão de garantias, de forma a tornar os créditos mais atractivos para o investidor. Nesse caso, havendo incumprimento, o contribuinte pode ser chamado, mais uma vez, a pagar”.
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O processo de venda do Novo Banco merece grande atenção por parte da Associação Portuguesa de Bancos (APB). Para Faria de Oliveira, é fundamental que se promovam condições para maximizar o valor do negócio, de modo a minimizar o impacto para o sector. Numa conversa com o Negócios, o presidente da APB fala de outros desafios que o sector enfrenta, desde a rentabilidade, até às imparidades que ainda estão nos balanços e às mudanças que podem ocorrer no Banco de Portugal.
O ambiente de taxas negativas é um dos grandes desafios que o sector enfrenta para aumentar a rentabilidade, como é que o sector financeiro pode enfrentar estes desafios?
O problema da rentabilidade é, talvez, a primeira das prioridades do sistema bancário neste momento. Vivemos um quadro cheio de dificuldades. Para melhorar a rentabilidade, a hipótese de melhoria dos proveitos depende muito da procura de crédito solvente. Hoje há uma enorme competição entre os bancos para conseguirem obter créditos novos. O preço do crédito para as médias empresas e para as empresas de risco baixo e médio é extremamente favorável. Creio que nunca vivemos uma situação de taxas de juro tão favoráveis, incentivadoras para o investimento. Mas a procura de crédito é insuficiente para as necessidades dos bancos.
Do lado dos custos, a margem financeira está esmagadíssima, devido às taxas de juro extremamente baixas. Temos uma situação em que as comissões estão sob forte pressão, embora em Portugal sejam das comissões mais baixas do sistema europeu. Continua a existir uma insistência muito forte sobre a questão das comissões. E as operações financeiras dependem, naturalmente, das oportunidades de mercado.
Vive-se um quadro onde a actuação sobre os custos acaba por ser muito, muito relevante. Nesta matéria temos também um conjunto de situações não consistentes. Temos novos custos, relacionados com a supervisão e principalmente com a resolução. Temos novos custos no domínio fiscal. Custos relacionados com necessidades de investimento para satisfazer o novo paradigma do sistema bancário. Mas a verdade é que o sistema necessita mesmo de reduzir custos e tem sido feito um trabalho de reestruturação profunda dos bancos nesse sentido.
Que outros problemas ainda há por resolver no sector?
No contexto da actividade bancária actual continua a existir situações não completamente resolvidas. Umas relacionadas com os activos herdados, outras relacionadas com uma questão muito importante neste momento, que é o crédito malparado, ou crédito em incumprimento. O nível de créditos vencidos é elevadíssimo em Portugal e o tratamento dos créditos vencidos merece-nos particular atenção.
Estas são as áreas de actuação possível por parte dos bancos. Necessitamos de tempo para conseguir atingir novamente níveis de rentabilidade razoável, que atraiam os investidores. Enquanto a rentabilidade permanecer baixa é muito difícil que os investidores nacionais e estrangeiros se interessem muito pelo sistema bancário. E a banca está sob forte atenção das autoridades regulatórias e de supervisão. Em qualquer momento podem ser determinadas novas necessidades de aumentar os rácios de capital das instituições. Portanto é necessário criar capital orgânico que resulta da melhoria dos resultados para suprir a actual falta de atracção do investimento para o sector. As taxas de juro muito baixas não facilitam, mas esse é o contexto em que vivemos e temos que contar com ele.
Referiu que as comissões estão pressionadas em Portugal. Mas, os bancos têm vindo a aumentar…
As comissões em Portugal são das mais baratas no sistema bancário europeu. Ao contrário de muitas afirmações, o valor líquido das comissões em Portugal não aumentou nos últimos cinco anos. Existe uma pressão que é difícil de entender porque sem dúvida nenhuma em vários outros países são as próprias autoridades que incentivam os bancos, uma vez que a margem financeira está esmagada, a compensarem com um aumento de comissões, existe aqui um clima um bocadinho artificial, no sentido contrário. É preciso tomar a devida consciência da situação real. É fácil demonstrar que as comissões líquidas em Portugal nos últimos cinco anos não aumentaram.
E podem aumentar agora?
Os bancos têm que tomar as medidas necessárias para melhorarem a sua rentabilidade. A melhoria da rentabilidade dos bancos é do interesse nacional. Precisamos de fortalecer o sistema bancário e atrair investidores para o sistema bancário e isso não é possível sem
melhoria da rentabilidade. E tem que se actuar onde é possível actuar.
Um dos problemas que referiu no sector tem que ver com activos herdados. Estava a referir-se aos casos BES e Banif?
Todos os bancos têm um conjunto de activos em que muitos casos foram feitas provisões suficientes registadas as imparidades devidas, mas a reparação dos balanços, nalguns casos, não está completamente concluída. É ainda necessário fazer um esforço adicional para a limpeza completa dos balanços das instituições.
Noutros países adoptaram-se veículos específicos que ajudam a resolver o problema dos activos improdutivos, designadamente de longa duração, que aceleraram a que os balanços estejam neste momento completamente sãos, noutros casos ainda há algumas situações em que é necessário prosseguir esse esforço de provisionamento e de registo de imparidades.
E a questão do Novo Banco pode agravar esta situação e causar maior instabilidade no sector?
O Novo Banco está a realizar a segunda fase deste processo, que é acelerar um processo de reestruturação. Depois das últimas medidas tomadas pelo Banco de Portugal em relação ao balanço da instituição com a transferência de alguns passivos, numa segunda fase, para o BES, o Novo Banco tem que centrar-se na reestruturação para criar condições de maior atractividade no processo de venda.
Para nós é extremamente importante que este processo corra muito bem. Os bancos vão ter que suportar o diferencial entre valor injectado no Novo Banco – 4,9 mil milhões de euros – e o valor final da venda. Para nós é determinante que se criem condições para uma boa venda. É necessário estar atento às condições em que se possa lançar o processo de venda, de maneira a atrair o maior número possível de investidores, designadamente institucionais e, se possível, do próprio sistema bancário, para maximizar o valor de venda.
Foi noticiado que o Governo está a preparar mudanças ao nível do supervisor, no Banco de Portugal. Como é que a APB está a acompanhar este processo?
É extremamente importante que no que diz respeito à evolução do sistema bancário nacional haja uma forte ligação entre Governo, regulador, instituições europeias e o próprio sistema bancário. São questões de tal maneira importantes que nós próprios (APB) temos muitos contributos a dar que podem ser muito favoráveis nesse sentido. Neste momento a questão mais relevante que se possa colocar é de natureza do modelo de resolução existente. Deve ou não deve a autoridade de resolução ser entregue ao Banco de Portugal, ou deve ser uma autoridade independente do Banco de Portugal, uma vez que podem existir alguns conflitos entre supervisão prudencial e decisões na área da resolução. É uma matéria que merece bastante reflexão.
Depois temos também que ter muito presente que a supervisão bancária hoje é da responsabilidade do Banco Central Europeu, porque a autoridade de supervisão bancária ao nível do Eurogrupo foi prometida com a criação da União Bancária e foi cometida ao BCE. O Banco de Portugal funciona e trabalha com o BCE, mas de acordo com o modelo, a metodologia e as práticas do BCE. Para os bancos de menor dimensão, em geral, a supervisão é realizada pela autoridade nacional, ainda que sempre sobre a orientação do BCE. E isto, muitas vezes, é um bocadinho esquecido.