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Nem BES, nem Banif, nem CGD: “O Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca”

Segunda-feira, Março 13th, 2017

Citamos

Público

Cristas assume que os instrumentos de controlo da banca eram frágeis antes de 2105. Hoje muita coisa mudou até por imposição da União Europeia. Mas defende que é preciso melhorar.

Passos Coelho falou “vagamente” no facto de o BES poder ser um problema, quando Seguro era líder do PS e pedia para usar o dinheiro da troika para a banca, que estava guardado. Mas “na substância”, nunca mais o ex-PM envolveu os ministros na discussão. Em nenhuma sobre a banca, diz Cristas. Confirma que, de férias, assinou o decreto sobre o BES por email, a pedido da ministra das Finanças.

O CDS foi sempre, no Governo e antes na oposição, um partido muitíssimo activo e na linha da frente do escrutínio da actuação da supervisão bancária. Fomos sempre, desde o tempo do BPN ao tempo do BES — e se forem verificar o que foi o trabalho da Cecília Meireles e do João Almeida nessas últimas comissões, como, aliás, tinha sido o de Nuno Melo no BPN, vêem que o CDS sempre teve todo o interesse em descobrir tudo, em fazer todas as perguntas, em escrutinar e em ter uma atitude de grande preparação e de grande profundidade.

Mas por que é que não avançaram com alterações à regulação da supervisão bancária?
Deixe-me concluir: as conclusões dessas comissões, nomeadamente as da comissão do BES, demoraram a chegar e, neste momento, já podemos tomar posições que, se calhar no tempo do Governo, podiam ter sido iniciadas. Mas muita coisa mudou. Agora, para fazermos estas alterações à supervisão, tivemos de, com muita atenção, verificar o que é que ainda não estava feito. Porque, entretanto, houve legislação europeia que foi transposta para a nacional. Aliás, na comissão do BES fala-se de questões que hoje já não aconteceriam porque, entretanto, as regras já mudaram. Portanto, não é verdade que nada tenha acontecido durante o tempo do Governo. O que achamos é que, apesar das alterações que já foram feitas em muita legislação, há aspectos que podem ser melhorados.

Alguma vez antes da queda do banco o assunto BES subiu a Conselho de Ministros?
O assunto BES nunca foi discutido em Conselho de Ministros com profundidade. Já disse isto.

Com profundidade ou nunca, sem profundidade sequer?
Referido apenas. Recordo-me de uma vez ter sido referido a propósito dos doze mil milhões para a banca. Lembram-se, na altura o líder do PS, [António José] Seguro, sugeriu que se utilizasse uma parte desse dinheiro para injectar na economia. Lembro-me de, uma vez no Conselho de Ministros, o primeiro-ministro ter dito: não faz sentido fazermos isso porque não sabemos se não pode vir a aparecer algum problema. Lembro-me vagamente de ter referido que o BES poderia ser um problema. Acho que foi por aqui. Não posso garantir tudo porque, de vez em quando, havia um ou outro Conselho de Ministros em que eu não estava, por razões de representação do ministério. Mas discussão em profundidade do problema do BES, das soluções, das alternativas, das hipóteses, isso nunca aconteceu.

Não acha isso estranho?
Fazia parte da visão do primeiro-ministro. O primeiro-ministro sempre teve uma visão que é esta: a banca e o pilar financeiro do resgate eram tratados pelo Banco de Portugal (BdP), que tinha as funções de supervisor independente, e o Governo não deveria meter-se nessas questões. Esta foi sempre a visão do primeiro-ministro. Portanto, o Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca.

O caso do Banif, antes das eleições, alguma vez foi discutido em Conselho de Ministros? A recapitalização da CGD alguma vez foi discutida?
Não quero estar a mentir, lá está para não falhar a memória, não quero estar a faltar à verdade. Não me recordo de todos os detalhes, mas posso dizer-lhe isto garantidamente: nunca os temas da banca foram discutidos em profundidade em Conselho de Ministros.

Hoje, repetiria a resolução que tomaram no caso BES?
É uma pergunta difícil, porque, mais uma vez, volto a este ponto, nós não discutimos os cenários possíveis no Conselho de Ministros. Aliás, a resolução do BES foi tomada pelo BdP e depois teve de ter um diploma aprovado pelo Conselho de Ministros. É aí que critico um bocadinho esta coisa de não termos nada que ver, o Conselho de Ministros não tem nada que ver, mas no fim da história é ele que tem de aprovar o decreto-lei. Esse decreto-lei foi aprovado com uma possibilidade regimental que era à distância, electrónica. Eu estava no início de férias e recebi um telefonema da ministra das Finanças a dizer: “Assunção, por favor vai ao teu email e dá o OK, porque isto é muito urgente, o BdP tomou esta decisão e temos de aprovar um decreto-lei.” Como pode imaginar, de férias e à distância e sem conhecer os dossiers, a única coisa que podemos fazer é confiar e dizer: “Sim senhora, somos solidários, isso é para fazer, damos o OK.” Mas não houve discussão nem pensámos em alternativas possíveis — isto é o melhor ou não —, houve confiança no BdP, que tomou uma determinada decisão.

No CDS, Paulo Portas alguma vez discutiu isso convosco?
Não.

De quem foi a culpa da queda do banco?
Para mim, foi de quem durante anos fez aquilo que está claro na comissão de inquérito — que espero que fique claro na Justiça.

Mas quem?
Os dirigentes, administradores, decisores do BES.

A Lone Star é um bom candidato para ficar com o Novo Banco?
Não faço ideia porque não conheço a proposta, o BdP é que a conhece. Se eu, no Governo, não conhecia estes detalhes da supervisão e da acção do BdP, muito menos agora na oposição.

Há muita informação na imprensa.
Há, mas acho que esta é uma matéria que tem de ser discutida eventualmente no Parlamento. Já perguntei por várias vezes ao primeiro-ministro qual era a opinião em relação ao Novo Banco e à venda do Novo Banco, e o primeiro-ministro e o ministro Mário Centeno têm respondido sempre que o BdP é que está a tratar dessa matéria, curiosamente criticando o Governo anterior, mas nesta matéria aparentemente não fazendo muito diferente.

Sente incómodo por a banca privada portuguesa já não ser portuguesa?
Todos sentimos um bocadinho essa pena. Sabemos que, em muitos casos, pode trazer consequências para o financiamento da nossa economia e das nossas empresas. Porque, obviamente, quando começamos a fazer parte de um grupo mais alargado e as nossas empresas, em muitos casos, passam a ter os seus empréstimos aprovados noutra geografia, que tem outro contexto — isto não é uma questão de preconceito mas uma questão de facto —, passamos a fazer parte de um bolo mais alargado e a competir com outras empresas, nomeadamente em Espanha. Acho que, obviamente, isto tem uma consequência. Por outro lado, a diminuição do número de actores na própria banca também gera mais dificuldade em as empresas muitas vezes conseguirem ter propostas competitivas e alternativas para o seu financiamento. Se me perguntam se é o ideal e se acho isso maravilhoso, não acho. Infelizmente, creio que é a situação em que estamos. Mais concorrência e menos concentração seria positivo para o mercado.

 

Rever a Constituição para depois remover governador do BdP

Quarta-feira, Março 16th, 2016

Citamos

Diário de Notícias

CDS quer o Presidente a nomear os principais reguladores e considera que após a revisão constitucional se abre uma janela para um “momento zero” nestes cargos

A proposta de revisão constitucional do CDS-PP tem como fim político criar uma janela de oportunidade para que os principais reguladores do país, incluindo o governador do Banco de Portugal (BdP), saiam pelo próprio pé quando esta estiver fechada. A ideia dos centristas passa por mudar o modelo de nomeação dos reguladores – atribuindo-a ao Presidente da República – para que, apurou o DN, seja tudo posto “a zeros” e Marcelo Rebelo de Sousa seja chamado a fazer nomeações.

Nos bastidores do partido agora liderado por Assunção Cristas já lhe chamam o “momento constituinte” para a supervisão e até reconhecem que eventuais alterações à lei fundamental – mexendo no paradigma dos supervisores – só farão sentido se puderem “resolver os problemas que existem” nos reguladores dos diversos setores. “Não faz sentido mudar a Constituição para que fique tudo na mesma”, observa um alto dirigente dos democratas-cristãos.

Fonte da direção do CDS explica ainda que a alteração à mãe das leis visaria reforçar a interdependência entre os órgãos de soberania, conferindo desde logo mais poderes ao Presidente, e levanta o véu sobre quais os reguladores que podem vir a ser visados com a mudança do famoso artigo 133.º (aquele que estabelece a competência do Chefe do Estado em relação a outros órgãos do Estado). Ora, entre os reguladores sobre os quais o Presidente teria a palavra final na hora da designação deverão estar o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Autoridade da Concorrência (AdC) e a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

Mas pode haver mais. Basta passar os olhos pelo último projeto de revisão constitucional do CDS, de 2010, que empurrava para a primeira figura do Estado essa prerrogativa. Defendia então o CDS que deveria ser competência do Presidente “nomear e exonerar, sob proposta do Governo e após audição na Assembleia da República, o presidente e os demais titulares dos órgãos diretivos das entidades administrativas independentes”. E excluíam desse leque apenas a ERC.

Seja como for, o CDS está ciente de que a revisão constitucional teria efeitos limitados sobre o atual governador do BdP, sobre o qual Paulo Portas disse, no congresso do último fim de semana, não saber se “faz parte da solução ou do problema” no sistema financeiro e que só o reconduziu no ano passado por estar em curso o processo de venda do Novo Banco.

Defendido por regras do BCE

Mesmo com a pressão política a adensar-se, Carlos Costa está escudado pelos estatutos do Banco Central Europeu – que dizem que “um governador só pode ser demitido das suas funções se deixar de preencher os requisitos necessários ao exercício das mesmas ou se tiver cometido falta grave” – e já afirmou, em entrevista ao Expresso, que não tenciona demitir-se.

Já quanto a calendário, Assunção Cristas quer deixar a assentar a poeira no PSD. Só após o congresso dos sociais-democratas iniciará as demárches junto do ex-parceiro de coligação. À saída de um encontro com Passos Coelho, Cristas sublinhou ontem que a nomeação do supervisor da banca é apenas um dos pontos que quer incluir na proposta de revisão constitucional: “Demos um exemplo, que se enquadra na matéria de supervisão, de nomeação dos reguladores, em particular a do governador do BdP, mas esse é um tópico num conjunto de vários.”. O líder do PSD deve ter gostado do que ouviu.

PSD espera pelo congresso

O PSD continua interessado numa revisão constitucional mais ampla, mas só depois de abril e com timings próprios. Na reunião da comissão política nacional permanente de ontem não houve novidades quanto a este assunto e um vice-presidente notou ao DN que “taticamente não faz sentido ir atrás do CDS”. A mesma fonte remete para depois do congresso qualquer iniciativa, sendo que a base “será sempre o projeto que o partido apresentou em 2010 e nunca as propostas do CDS”.

Ora, o projeto social-democrata – que caducou no Parlamento com o fim da legislatura – incluía diversas medidas, como a possibilidade de apresentar no Parlamento uma moção de censura construtiva, acabar com a expressão do “tendencialmente gratuito” na saúde, educação e ensino superior e até avançava para a introdução do voto aos 16 anos. Quanto a poderes presidenciais, incluía a nomeação do governador.

Por outro lado, como lembra fonte próxima da direção, Passos “continua a confiar no governador que reconduziu como primeiro-ministro, o que não faz sentido é a afronta que o atual primeiro-ministro tem feito a uma instituição independente”. No PSD, mantém-se a ideia: Carlos Costa é para ficar.

Outro dos fatores que atira este assunto para o futuro é o facto de o PSD estar prestes a mudar a direção. “Qualquer decisão tomada agora carecia de alguma legitimidade, numa altura em que estamos a 15 dias de terminar o mandato”, disse um vice-presidente.

O PS, por seu lado, não abre o jogo sobre esta matéria. Pelo menos, para já e de forma oficial.

 

Cristas quer nova forma de nomeação do governador do Banco de Portugal

Segunda-feira, Março 14th, 2016

Citamos

Negócios

Assunção Cristas, no seu primeiro discurso enquanto líder do CDS-PP, traçou quatro prioridades. Uma delas é mudar a forma de designação do governador do Banco de Portugal.

Eleita com 95,6% dos votos, Assunção Cristas, no primeiro discurso como líder do CDS-PP, traçou quatro prioridades. A forma de nomeação do governador do Banco de Portugal é uma delas.

No discurso, de cerca de meia hora, e que estava a ser ouvido, em Gondomar, pelo líder do PSD, Pedro Passos Coelho, que reconduziu, quando era primeiro-ministro, Carlos Costa à frente do Banco de Portugal, a nova líder do CDS-PP não passou ao lado da necessidade de revisão da regulação e supervisão do sistema financeiro, “mudando o sistema de designação do governador”.

Este “é outro tema importante” e no CDS “acreditamos numa regulação eficaz, ágil, capaz, prudente, e numa economia de mercado a funcionar bem”. Só que, acrescentou Cristas, “o modelo tem mostrado deficiências. Todos estamos cansados de ver bancos a cair e a regulação a lamentar de não ter conseguido evitar”.

No CDS, disse ainda, “preferimos reconhecer o problema e proteger os portugueses a ficar calados e fingir que nada se passa. Mas não confundamos. Dizer que o modelo tem de ser revisto não é criticar pessoas, não é uma partidarização, não embarcamos na politização desta questão ao jeito do PS, com o Governo a criticar entidades em concreto”. Como líder do CDS disse poderem contar com o partido “para reflectir um modelo melhor, não para fazer política partidária sobre esta matéria”.

António Costa criticou já por algumas vezes o governador do Banco de Portugal. Mesmo no sábado, e no congresso do CDS-PP, Paulo Portas assumiu que só aceitou a recondução de Carlos Costa porque o processo de venda do Novo Banco estava em curso. Agora, disse, “é importante que cada um saiba perguntar-se a si próprio se é parte da solução ou parte do problema”.

Esta foi uma das mensagens dirigidas a António Costa, mas no discurso, o primeiro como líder do CDS, enviou outras, nomeadamente em relação ao sistema de pensões. Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, estava também a ouvir Assunção Cristas em Gondomar.