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Vendas forçadas e abaixo da avaliação. As reservas dos auditores às operações imobiliárias do Novo Banco

Segunda-feira, Agosto 17th, 2020

Citamos

Observador

Vendas forçadas e abaixo da avaliação. As reservas dos auditores às operações imobiliárias do Novo Banco

 

Das compras generosas no tempo do BES às vendas apressadas feitas pelo Novo Banco, o que explica tantos prejuízos na venda de imóveis? Veja as reservas dos auditores dos fundos imobiliários.

Um terreno no litoral algarvio, avaliado em pouco mais de seis milhões de euros e vendido por 1,1 milhões de euros. Uma sociedade com um projeto imobiliário em Sesimbra, comprada por mais de 11 milhões de euros a uma empresa do universo Espírito Santo já depois do resgate financeiro a Portugal, e transacionada por menos de um milhão de euros no ano passado. Um fundo imobiliário que teve perdas de 44,6 milhões de euros no ano passado, em resultado da alienação de vendas de ativos abaixo do valor a que estavam registados nas contas.

Estes são três exemplos das polémicas operações de venda de imóveis por parte do Novo Banco que têm estado no centro das atenções devido à forma como a instituição tem empacotado estes ativos em carteiras, vendendo-os depois a investidores internacionais, com perdas significativas, face ao valor do balanço ou à avaliação de mercado.

Nos últimos dois anos, a gestão agressiva das vendas de imóveis tem suscitado reservas e ênfases por parte dos auditores independentes que têm como missão fiscalizar as contas dos fundos de investimento imobiliário detidos pela instituição bancária e onde estão parqueados estes ativos. Estas dúvidas ou discordâncias não impediram a aprovação das contas dos fundos imobiliários detidos pelo Novo Banco, mas alinham com alguns dos reparos que têm rodeado estas transações aceleradas de milhares de imóveis, muitos dos quais são terrenos.

Os comentários repetem-se nas auditorias externas aos relatórios e contas dos fundos de investimento imobiliários detidos pelo Novo Banco, sustentados em ênfases — quando o auditor quer destacar uma situação ou alertar para uma incerteza, mas sem exprimir desacordo quanto ao tratamento dado — ou reservas. Neste caso o auditor pode discordar da opção, mas também pode fazer um aviso sobre falta de informação ou previsibilidade de uma dada situação que pode ter um efeito material na sociedade.

O Observador foi consultar os relatórios e contas dos fundos geridos pela GNB (parte do negócio da seguradora do Novo Banco que ficou no grupo). Entre os 26 fundos que estão ativos, encontramos reservas e ênfases a alertar para vendas abaixo das avaliações e dos valores de balanço nas contas do ano passado em quase uma dezena de sociedades. Há também alertas para operações de venda forçada, que se traduzem em perdas para os fundos imobiliários e para a instituição bancária.

O impacto destas operações pode também elevar os pedidos de capital ao Fundo de Resolução. Para já, informação divulgada nas últimas semanas pela instituição liderada por António Ramalho, e também em resposta a perguntas do Observador, aponta para um impacto reduzido destas perdas nos pedidos de capital com recursos a dinheiros públicos. E sinaliza que a suspensão de vendas até à entrega da auditoria final a estas operações só se aplica aos ativos que estão protegidos no mecanismo contratado com o Fundo de Resolução.

Uma reserva que se repete em alguns relatórios por parte do auditor Baker Tilly  é a de que nos “últimos exercícios têm sido concretizadas alienações por parte do Fundo e daquelas empresas participadas, de alguns ativos por valores significativamente abaixo dos seus valores de balanço, em resultado de vendas forçadas e de que resultam menos-valias significativas”
Auditora Baket Tilly nos relatórios e contas de 2019 dos fundos Fimes Oriente e Imoinvestimento

Uma reserva que se repete em alguns relatórios elaborados pela auditora Baker Tilly é a de que nos “últimos exercícios têm sido concretizadas alienações por parte do Fundo e daquelas empresas participadas, de alguns ativos por valores significativamente abaixo dos seus valores de balanço, em resultado de vendas forçadas e de que resultam menos-valias significativas“. As vendas forçadas referidas resultam da urgência da gestão do Novo Banco em se livrar dos ativos mais problemáticos e limpar o seu balanço, o que tem conduzido à alienação de centenas de imóveis em pacote numa só operação.

Outro comentário aponta o mesmo problema nas contas do fundo Fungere.  O auditor destaca o caso de um ativo imobiliário avaliado em 33,7 milhões de euros, com base na média de duas avaliações de peritos independentes, que tiveram por base pressupostos de desenvolvimento e posterior ou exploração dos ativos, o que passa por obter as licenças necessárias. Mas também nota que o Novo Banco – que detém o fundo – está a apressar as vendas e que isso pode fazer com que os pressupostos iniciais não venham a cumprir-se. Assim, dizem: “Não nos é possível concluir (…) sobre a razoabilidade do valor da valorização acima mencionada”.

Por outras palavras, as avaliações independentes ponderam o retorno que a exploração comercial destes imóveis pode dar a prazo, mas ao apressar a sua venda dentro de carteiras que misturam centenas de ativos, muitos dos quais ainda sem condições para a sua exploração, o resultado é a desvalorização de muitos destes imóveis face ao valor potencial que o perito independente fixou a partir de um quadro de pressupostos distinto.

Questionada pelo Observador sobre as reservas e questões suscitadas pelos auditores dos fundos de investimento imobiliário, fonte oficial do Novo Banco começa por sublinhar que a GNB Real Estate (uma empresa do grupo que ao ser contactada remeteu para a instituição bancária) “gere os fundos de forma independente, no melhor interesse dos seus participantes (seja o Novo Banco ou outros participantes) e dos fundos que gere”.

Dito isto, justifica que a alienação de imóveis realizada pelos fundos identificados (Fimes Oriente, Fungepi Novo Banco, Imogestão, entre outros) se enquadra “na estratégia de desinvestimento em ativos não produtivos ou não core (não centrais). Este desinvestimento segue princípios de racionalidade económica e de oportunidade, de forma a minimizar potenciais perdas futuras associadas”.

Sobre as opiniões dos auditores, o Novo Banco diz que “decorrem do facto dos objetivos e timings de desinvestimento colocarem pressão adicional nos valores concretizados de venda dos imóveis face à sua avaliação em carteira. No entanto, é de realçar que todas as alienações de ativos foram realizadas com base em processos de venda competitivos e feitas ao melhor preço recebido”.
Resposta dada ao Observador por fonte oficial do Novo Banco

Sobre as opiniões dos auditores, o Novo Banco justifica ao Observador que “decorrem do facto de os objetivos e timings de desinvestimento colocarem pressão adicional nos valores concretizados de venda dos imóveis face à sua avaliação em carteira. No entanto, é de realçar que todas as alienações de ativos foram realizadas com base em processos de venda competitivos e feitas ao melhor preço recebido“.

Por que razão os auditores levantam reservas?

Nas contas de 2019 do fundo de investimento imobiliário Fimes Oriente, o auditor Baker Tilly emite a seguinte reserva: “O ativo inclui ativos imobiliários — terrenos e participações financeiras em empresas imobiliárias, valorizados em 42,5 milhões de euros e 36,9 milhões de euros, respetivamente, determinados com base na média de duas avaliações de peritos avaliadores independentes registados na CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários). Aquelas avaliações e valorização foram determinadas com base em pressupostos de desenvolvimento e posterior exploração ou comercialização daqueles ativos, que assume a obtenção de eventuais licenças necessárias para o efeito”.

No entanto, recorda que o Fundo e as empresas participadas têm vindo a alienar ativos “por valores significativamente abaixo dos seus valores de balanço”, o que classifica como “vendas forçadas” que acabam em menos-valias significativas. É por isto que os auditores se dizem incapazes de tomar uma posição sobre se é possível ou não, ou se é razoável em termos de negócio, concretizar – como estava previsto – o desenvolvimento e a comercialização do projeto.  E com isto, os auditores assumem as suas dúvidas quanto à valorização inscrita nas contas.

Esta reserva consta das contas do fundo que protagonizou uma das maiores transações imobiliárias individuais do Novo Banco que até gerou uma mais-valia face ao valor contabilístico. O projeto da Matinha em Lisboa, com cerca de 20 hectares, foi adquirido pela VIC Properties por 140 milhões de euros, gerando uma mais-valia (ganho face ao valor de balanço) da ordem dos 2,5 milhões de euros. No entanto, e no quadro de uma alienação conjunta de vários ativos detidos por outros fundos, todos geridos pela GNB, um segundo imóvel avaliado em 6,2 milhões de euros (um número suportado por avaliações de abril de 2018) “foi alienado por cerca de 1,1 milhões de euros, tendo sido registada uma menos valia de cerca de 5,1 milhões de euros”.

A operação em causa envolveu um prédio rústico de 157 mil metros quadrados em Alfanzina, no Carvoeiro, uma freguesia do concelho de Lagoa com vista privilegiada para o mar, no Algarve.

A operação, que suscitou um ênfase na auditoria às contas do ano passado, é justificada pela entidade gestora do fundo como tendo resultado de um “processo de venda estruturado e organizado de forma competitiva, gerido e coordenado por consultores e advogados de renome nacional e internacional, integrando um portefóleo de ativos imobiliários — o projeto Sertorius — , com diversificadas características relativamente ao qual tiveram a participação de diversos investidores nas diferentes fases do processo, tendo sido selecionada a proposta de maior valor considerando o portefóleo como um todo”.

O Fimes Oriente, um fundo imobiliário fechado, fechou 2019 com prejuízos de 4,1 milhões de euros, depois de uma perda de 13,5 milhões de euros em 2018.

O auditor do fundo Imoinvestimento, a mesma Baker Tilly, reporta que o ativo deste fundo inclui ativos — terrenos e participações financeiras em imobiliárias que estão valorizadas em 10 milhões de euros e 45,5 milhões de euros, respetivamente, com base em avaliações de peritos independentes. Estas avaliações tiveram como “base em pressupostos de desenvolvimento e posterior exploração ou comercialização daqueles ativos”, o que passa por obter as necessárias licenças para o efeito.

Mas, “nos últimos exercícios têm sido concretizadas alienações por parte do Fundo e daquelas empresas participadas, de alguns ativos por valores significativamente abaixo dos seus valores de balanço, em resultado de vendas forçadas e de que resultaram menos-valias”. E o auditor repete a impossibilidade de concluir se os valores dos ativos são razoáveis ou exequíveis.

Os imóveis que estão contabilizados na Imoinvestimentos até apresentam uma mais-valia potencial de mais de quatro milhões de euros, entre o valor de balanço, quase 11 milhões de euros, e a média das avaliações independentes que aponta para mais de 15 milhões de euros. Mas considerando a experiência recente de vendas forçadas e integradas em portefóleos, não há garantia de que estas mais-valias se materializem em resultados. O fundo teve um prejuízo de 25 milhões de euros no ano passado, o que resulta do reconhecimento de perdas relativas a compras feitas no passado a preços elevados.

As compras por valores generosos feitas no tempo do BES/GES

Uma consulta mais atenta do relatório e contas de 2019 da Imoinvestimentos revela que os imóveis foram adquiridos por valores muito elevados, alguns ainda do tempo do GES/BES, o que também ajuda a explicar a dimensão das perdas.

Contas de 2019 do fundo Imoinvestimento (Novo Banco)

A carteira de títulos deste fundo é composta por ações de várias sociedades que são proprietárias de terrenos, quase todos em Sesimbra. Algumas destas sociedades foram adquiridas a empresa ligadas ao antigo Grupo Espírito Santo, ainda no tempo da gestão de Ricardo Salgado. Os valores de aquisição de seis sociedades totalizam 141 milhões de euros, a que se somam prestações acessórias de 17,8 milhões de euros (capital emprestado por acionistas), mas o valor líquido é de apenas 45,5 milhões de euros, o tal número referido pelo auditor. Isto significa que foram feitos ajustamentos negativos (para baixo) do valor destes ativos no montante de 113 milhões de euros.

Uma destas sociedades, a Quinta da Areia, tinha sido adquirida por 11,9 milhões de euros à construtora Opway em 2012. Em 2019, foi assinado um contrato promessa de compra e venda para a sua venda por cerca de 515 mil euros. A diferença (perda) foi reconhecida nas contas deste fundo, metade da qual no ano passado. Em 2018, a Quinta da Areia estava valorizada em cinco milhões de euros (menos 6,9 milhões de euros face ao valor de compra). Mas em 2019, esta sociedade estava já valorizada em 516 mil euros, ou seja, ao valor negociado para a sua venda. Entre a compra e a venda, o valor caiu mais de 11 milhões de euros, o que corresponde a uma desvalorização de mais de 90%.

A Quinta da Areia é descrita como um terreno rústico no concelho de Sesimbra, com uma área total de 147,4 mil metros quadrados e uma área de construção de 95.100 metros quadrados que se encontra abrangido pelo plano de urbanização da Quinta do Conde.

O fundo que vendeu tudo por 17% do valor médio das avaliações

Outro fundo imobiliário e mais uma nota do auditor. Apesar de não colocar reservas às contas de 2019, a BDO destaca a incerteza sobre a continuidade do fundo.

O Asas Investimento vendeu todos os seus ativos imobiliários em 2019 “por valores significativamente abaixo dos valores de avaliação no âmbito de processos de venda de portefóleos imobiliários constituídos por ativos dos fundos geridos pela sociedade gestora e ativos das carteiras do Novo Banco, tendo sido apurada uma menos-valia líquida de 462.500 euros, para além da menos valia potencial de cerca de dois milhões de euros registada em 2018, quando foi celebrado o contrato promessa de compra e venda do seu principal imóvel, por um valor correspondente a cerca de 17% do valor médio das avaliações efetuadas por peritos externos nesse mesmo mês, venda essa que se concretizou em 2019”.

As vendas envolveram a Quinta de Santo António, no Entroncamento, onde estavam os ativos mais valiosos, e vários terrenos em Aldoar, Porto, numa zona que hoje está integrada na freguesia de Aldoar, Foz do Douro e Nevolgide, vizinha do rio Douro.

Nas contas do fundo de investimento Arrábida, uma das ênfases colocadas pelo auditor, outra vez a BDO, remete para imóveis que foram alvo de contratos promessa de compra e venda por valores “significativamente abaixo dos seus valores de avaliação”, celebrados no âmbito de um processo de venda de portefóleos de ativos imobiliários que engloba ativos de outras carteiras do Novo Banco e que resultaram no registo de menos-valias de 3,6 milhões de euros.

O fundo Fungepi Novo Banco II, que alienou vários imóveis no quadro das carteiras Sertorius e Viriato, fechou o ano de 2019 com prejuízos de 33 milhões de euros que resultam essencialmente dos ajustamentos negativos de imóveis. A Fungepi registou perdas de 44,6 milhões de euros em vendas de imóveis no ano passado. Entre os ativos que terão sido vendidos está um prédio urbano no Porto, ao pé da Alameda das Antas que até ao primeiro semestre de 2019, segundo as contas de 2018, estava contabilizado por 27 milhões de euros, com uma avaliação média de 33 milhões de euros. Este imóvel já não consta do ativo do Fungepi em 2019.

As notas de reserva e ênfase repetem-se nas contas dos fundos Imogestão e Prediloc. Já no caso do NB Património a reserva incide sobre o valor de balanço registado para o imóvel Leiria Retail Park de 20,4 milhões de euros, com base num acordo de venda celebrado em 2008 com outro fundo gerido pela GNB Investimento. Só que este imóvel foi entretanto valorizado a um preço de mercado médio de 3,7 milhões de euros, o que poderá resultar numa desvalorização de 16,7 milhões de euros no caso de a venda prevista há mais de dez anos não acontecer.

Nem todas as perdas dão direito a dinheiro do Fundo de Resolução

Mas em que medidas estas perdas se traduziram em pedidos de capital ao Fundo de Resolução por estes imóveis terem cobertura do mecanismo de capital contingente?

Quando saiu uma investigação no jornal Público sobre a venda da carteira Viriato, com cerca de 5.000 imóveis, com desconto, o Novo Banco desvalorizou o impacto das transações destes ativos nos pedidos de capital feitos este ano e no ano passado, sublinhando que a operação Viriato não teve qualquer custo direto (não se percebe se houve custos indiretos) para o Fundo de Resolução. Acrescentou ainda que para a totalidade dos imóveis protegidos até dezembro de 2019, o “Banco tinha obtido para o Fundo de Resolução uma mais valia de 10 milhões de euros” que abate “às perdas noutros créditos”, e que sustentaram os pedidos de capital.

No primeiro semestre, o Novo Banco “alienou imóveis ao abrigo do mecanismo de capital contingente no valor total de venda de 9,7 milhões de euros, sobre os quais se observou uma menos valia de 4% face ao seu valor líquido em balanço”.
Resposta do Novo Banco

No entanto, em respostas enviadas a deputados do PSD em julho, o presidente executivo identifica as cinco transações envolvendo imóveis abrangidos por esse mecanismo que geraram mais perdas e que dão acesso a compensações públicas.

A maior operação, como já foi noticiado pelo Observador, envolveu a alienação este ano da Herdade do Pinheirinho em Grândola ao grupo VCI Properties por cerca de 60 milhões de euros, o que representa uma menos-valia de 56 milhões de euros, com um desconto de quase metade face ao valor de entrada deste ativo no balanço do banco. Mas esta imparidade já teria sido reconhecida quando o terreno foi transacionado, não sendo claro se chegou a dar origem a pedido de capital ao Fundo de Resolução e quando isso aconteceu.

.O documento mostra ainda que a operação foi feita abaixo da avaliação mais recente de agosto de 2018 e que era de cerca de 105 milhões de euros (menos 45 milhões de euros).

As cinco operações assinaladas envolvem sobretudo terrenos — e não imóveis — o que tem sido um dos argumentos do banco para as vendas abaixo do valor de balanço, uma vez que faltam autorizações e há um risco associado ao desenvolvimento dos projetos. Os quatro terrenos (incluindo uma herdade) que foram alienados, e que estão cobertos pelo Fundo de Resolução, geraram perdas face ao valor de inicial a que deram entrada no balanço e foram entregues por um preço abaixo da última avaliação. Só a venda de um imóvel residencial em Albufeira gerou uma mais-valia (cerca de 400 mil euros) e obteve um encaixe superior ao da avaliação.

No total, as perdas associadas a estas transações, tendo em conta o valor inicial a que foram transferidas para balanço do banco, atingiram mais de 62 milhões de euros. Mas as imparidades já estariam reconhecidas nas contas da data da venda, gerando mesmo mais-valias porque as imparidades já tinham sido registadas antes.

O presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, já se mostrou disposto a ir ao Parlamento dar explicações — sobre esta e outras polémicas suscitadas pela venda de ativos — mas os deputados só o vão ouvir em setembro, numa altura em que deverá ser conhecida a auditoria pedida pelo Governo à gestão dos ativos herdados do antigo BES, e cujas alienações estão a gerar as perdas que dão direito a compensações de capital. Entretanto, e até lá, o Fundo de Resolução pediu ao banco que suspenda novas vendas de ativos, o que será acatado.

No entanto, e como esclarece ao Observador fonte oficial do Novo Banco, o acordo celebrado com o Fundo de Resolução apenas confere a esta entidade “poderes relativos aos ativos abrangidos pelo mecanismo de capital contingente e não à totalidade dos ativos, produtivos ou não produtivos”. O que significa que até pode haver vendas, mas não de ativos (imóveis, créditos ou participações) abrangidos por este acordo. Segundo o Expresso, o Novo Banco ainda tem em carteira para venda cerca de 4.000 imóveis, a maioria dos quais com origem em créditos com execução de garantias.

Três sócios da KPMG que fiscalizaram BES deixam de ser auditores

Sexta-feira, Agosto 30th, 2019

Citamos

Eco

Três sócios da KPMG que fiscalizaram BES deixam de ser auditores

A KPMG pediu para cancelar o registo de três auditores que fiscalizaram o BES até 2014. São eles Fernando Antunes, Inês Viegas e Sílvia Gomes. A CMVM já aceitou o pedido.

A KPMG pediu para cancelar o registo de três auditores que fiscalizaram o BES até 2014. São eles Fernando Antunes, Inês Viegas e Sílvia Gomes, que já tinham sido condenados em abril pelo Banco de Portugal. A CMVM — que tem em curso um processo de contraordenação contra a auditora — já aceitou o pedido no quadro da avaliação de idoneidade dos referidos sócios, adiantando que os três responsáveis só podem pedir novo registo dentro de dois anos. Na prática, a KPMG antecipa-se a uma decisão do supervisor que levaria ao mesmo resultado.

“A KPMG vem por este meio informar que os seus sócios Fernando Antunes, Inês Viegas e Sílvia Gomes decidiram deixar de exercer a atividade de auditoria, tendo em consequência requerido o cancelamento dos respetivos registos junto da CMVM. Estes requerimentos foram já deferidos pela CMVM”, diz a auditora em comunicado.

“É do domínio público que a KPMG e os seus referidos sócios estão envolvidos em processos em curso relacionados com os trabalhos de auditoria ao Grupo Banco Espírito Santo, neles se incluindo ações conduzidas pela CMVM no âmbito dos seus poderes de supervisão dos auditores. Assim, procurando salvaguardar os interesses da KPMG, os seus próprios interesses e, acima de tudo, os interesses dos seus clientes, os referidos sócios tomaram a decisão de deixar de exercer as funções de auditoria que, com brio, competência e dedicação, desempenharam durante mais de 25 anos“, explica a auditora liderada por Sikander Sattar.

Já depois do comunicado da KPMG, a CMVM adiantou que o referido pedido de cancelamento produz efeitos a partir deste momento e que “um novo registo só poderá ser solicitado uma vez decorridos dois anos sobre o cancelamento, ficando sujeito às condições previstas no Regime Jurídico da Supervisão de Auditoria, avaliadas pela CMVM no momento de solicitação da inscrição”. A CMVM tinha desencadeado um processo administrativo de avaliação da idoneidade dos auditores do BES e já tinha comunicado à KPMG as conclusões preliminares deste processo. A auditoria poderia contestar, mas optou por pedir o cancelamento do registo dos três sócios.

“Procurando salvaguardar os interesses da KPMG, os seus próprios interesses e, acima de tudo, os interesses dos seus clientes, os referidos sócios tomaram a decisão de deixar de exercer as funções de auditoria que, com brio, competência e dedicação, desempenharam durante mais de 25 anos.”

KPMG

Comunicado oficial

Em simultâneo, continua a decorrer um outro processo de contraordenação na CMVM contra a KPMG. Segundo avançou o Jornal de Negócios no mês passado, regulador do mercado de capitais já terminou a investigação ao trabalho que a auditora desenvolveu no BES até 2014, tendo concluído que a KPMG errou na fiscalização do banco falido. O jornal adiantou que a decisão final da CMVM relativamente a este processo só será conhecida após a apresentação da defesa da KPMG. Em caso de condenação, a auditora poderá ter de pagar uma coima até cinco milhões de euros.

Outros três responsáveis da KPMG, incluindo o presidente Sikander Sattar, também foram condenados pelo Banco de Portugal por causa de infrações menos graves. O líder da KPMG foi alvo da coima única mais pesada do processo, no valor 450 mil euros, avançou o Expresso na altura. Já Inês Filipe e Sílvia Gomes foram alvo de coimas 375 mil euros e Sílvia Gomes de 225 mil euros.

Segundo o Banco de Portugal, ficou provado que a KPMG e os seus responsáveis tiveram conhecimento dos riscos da carteira de crédito do BES Angola e de como isso poderia afetar a operação do BES em Portugal e prestaram informações falsas ao supervisor. Todos os arguidos impugnaram esta condenação, para o Tribunal da Concorrência, Supervisão e Regulação.

 

Quem pode auditar os créditos do Novo Banco? PwC auditou em 2017, EY em 2018 e KPMG tem legado do BES

Segunda-feira, Março 18th, 2019

Citamos

Económico

Qual é a auditora que tem independência para avaliar os créditos do Novo Banco? Depois da KPMG, da PwC e da EY, só resta a Deloitte das “Big Four” para fazer a grande auditoria aos créditos do banco desde os tempos do BES que os políticos pediram.

Das “Big Four” só a Deloitte ainda não auditou os créditos do Novo Banco que estão hoje sob o mecanismo de capital contingente.

O Governo quer que seja realizada uma auditoria aos créditos que obrigaram o Novo Banco a pedir 1,9 mil milhões de euros ao Fundo de Resolução em dois anos, 792 milhões de euros em 2018, relativos a perdas de 2017, e quase 1.150 milhões de euros este ano relativo a perdas de 2018, num perímetro de créditos antigos que estão identificados há muito, desde a venda de 75% do Novo Banco ao fundo Lone Star, e que estão protegidos pelo mecanismo de capital contingente.

Este “valor expressivo” levou Mário Centeno a considerar “indispensável a realização de uma auditoria para o escrutínio do processo de concessão dos créditos incluídos no mecanismo de capital contingente” à semelhança do que EY fez na CGD entre 2000 e 2015.

Depois o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, veio a defender a dilatação do horizonte temporal da auditoria, para que não fique só sob o foco do BES de Ricardo Salgado, mas também o período pós-Ricardo Salgado e pós-Resolução.

Se o Governo seguir as “recomendações” de Marcelo, então na auditoria serão abrangidas as administrações de Ricardo Salgado, Vítor Bento, Eduardo Stock da Cunha e António Ramalho.

“Faz sentido uma auditoria à gestão do Novo Banco, não apenas na pré-história, isto é, até à resolução, mas depois da resolução”, defendeu o presidente da República, que era amigo do banqueiro. Mas a questão que se levanta é quem é que pode auditar os créditos do Novo Banco? É que o Novo Banco, desde que pede injeções de capital ao Fundo de Resolução já teve dois auditores. Portanto, as contas, os créditos, as imparidades nos últimos dois anos foram auditadas pela PwC em 2017 e pel E&Y em 2018.

A PricewaterhouseCoopers (PwC), foi a auditora do banco de transição resultante da intervenção das autoridades no antigo Banco Espírito Santo (BES) em agosto de 2014, depois, por imposições legais de rotatividade deu lugar à EY, antiga Ernst & Young, que audita as contas do banco desde 2018.

Para além de uma auditoria semelhante que foi pedida pelo Banco de Portugal na sequência da resolução do BES que deu origem ao Novo Banco, e que foi feita pela auditora PwC. A Price fez uma análise aos 250 maiores créditos do banco, à carteira de títulos e a todos os ativos e passivos que foram transferidos para o Novo Banco e que determinou a primeira injeção de capital no valor de 4.900 milhões de euros.

Já a KMPG está impedida de auditar o Novo Banco, porque era a auditora do BES nos anos antes da Resolução estando mesmo acusada pelo Banco de Portugal de falhas e incumprimentos na auditoria do Banco Espírito Santo, estando também a ser alvo de uma investigação da CMVM. A KPMG foi a auditora do BES e do BES Angola durante uma década e até ao momento que antecedeu o colapso do banco liderado pela família Espírito Santo.

Das “Big Four” só a Deloitte poderá ser contratada para uma nova auditoria aos créditos ruinosos do Novo Banco que vieram do BES e que estão protegidos pelo mecanismo de capital contingente.

A Deloitte só esteve envolvida na avaliação do impacto para os credores comuns da resolução versus liquidação que foi pedida pelo BdP a seguir à resolução do BES. O objectivo é garantir que os credores não perdem mais dinheiro com a resolução de um banco do que numa liquidação.

Essa auditoria concluiu que os credores comuns do BES têm direito a receber 31,7% da sua exposição ao BES, e que Fundo de Resolução vai ter de compensar estes investidores, após a liquidação do banco.

O tema da auditoria aos créditos que levam o Novo Banco a chamar o mecanismo de capital contingente até 3,89 mil milhões de euros num prazo de oito anos – sendo que segundo um dos membros da comissão de acompanhamento desse mecanismo, José Bracinha Vieira, já disse que espera que o Novo Banco use três mil milhões no máximo e que o banco atinja o breakeven em 2020 – já chamou o líder do PSD à discussão pública.

Rui Rio, afirmou que vão ser os contribuintes a pagar milhões ao Novo Banco, por ser grande o “horizonte de tempo” (acima de 30 anos) para admitir a devolução do dinheiro que o Estado vai emprestar ao Fundo de Resolução, e defendeu a realização de uma auditoria ao Novo Banco, para avaliar “se as imparidades [redução do valor contabilístico de um ativo] são reais ou se estão a ser empoladas”, notando ter sobre o caso “informações de alguma gravidade”. “Quando o Fundo de Resolução devolver ao Estado o dinheiro que está a ser emprestado ao Novo Banco, uma franja muito grande da população portuguesa já nem é viva”, alertou Rui Rio.

Esta posição do presidente do PSD surge depois da polémica prestação na COFMA de José Rodrigues de Jesus, presidente da comissão de acompanhamento do contrato de venda do Novo Banco ao fundo Lone Star, onde adiantou aos deputados que costuma perguntar aos auditores do banco se não têm registado imparidades a mais nos ativos que estão dentro do mecanismo de capital contingente, motivo pelo qual o Fundo de Resolução vai ter de injetar 1.149 milhões de euros este ano.

“Costumo perguntar se não há imparidades a mais no Novo Banco. Perguntei à EY [atual auditora do banco] se não há imparidades a mais”, disse o presidente da comissão de acompanhamento.

“No ano passado questionámos a PwC sobre o modo como se fez o conjunto de imparidades que foram registadas em 2017, se houve descontinuidade no cálculo dessas imparidades. Mas os critérios das provisões são os critérios dos auditores, do banco, e é usual perguntar se nas contas estão todas as imparidades. Não tenho mais nada para lhe dizer a não ser esta objetividade”, explicou José Rodrigues Jesus, salientando aos deputados que não houve alteração na política de imparidades após a venda de 75% do capital do Novo Banco.

Novo Banco explica imparidades

O Novo Banco veio a público explicar que as imparidades do Novo Banco mereceram recentemente o interesse de vários stakeholders,”pelo que importa proceder aos seguintes esclarecimentos: Os bancos, na sua atividade normal, constituem provisões (agora denominadas imparidades) para compensar riscos de perdas nos créditos concedidos; o volume de imparidades é constituído e realizado mensalmente, e reverificado num comité alargado, que conta com as presenças, entre outros, do CEO e da Comissão de Acompanhamento nomeada pelo Fundo de Resolução. O processo é auditado, sujeito à supervisão do BCE e objeto de um relatório específico definido em Instrução do Banco de Portugal”, diz o banco liderado por António Ramalho numa resposta enviada ao Jornal Económico e que foi inicialmente enviada à Lusa.

“No caso concreto do Novo Banco, as imparidades referentes a 2017 foram auditadas pela PWC e objeto de relatório específico. Dado que o Novo Banco procedeu à rotação de auditores, o valor das imparidades já foi posteriormente revisto à data de Setembro de 2018 pela E&Y e elaborado o respectivo relatório. Para dezembro de 2018, o Novo Banco está a seguir o mesmo processo, devidamente supervisionado pelo BCE”, destaca o banco.

“Além disso, o Banco é também sujeito ao escrutínio comparativo, porque boa parte dos créditos de risco são igualmente detidos por vários Bancos, o que permite a realização de um exercício comparativo dos níveis de imparidades específicos de cada um deles. Neste exercício o Banco de Portugal questiona as Instituições se encontradas diferenças assinaláveis”, explica a instituição de crédito.

O banco contextualiza que “em relação ao Novo Banco, o nível de NPLs (crédito sujeito a imparidades específicas) é mais do dobro da média do sistema (22% contra cerca de 10% do sistema). A cobertura dos NPLs por imparidades situa-se nos 60%, valor em linha com a maior instituição financeira portuguesa detida pelo Estado [CGD] que anunciou uma cobertura ligeiramente superior, o que infelizmente nos deixa como a instituição com o mais desafiante volume de NPLs líquidos do sistema financeiro português”, refere a instituição.

“As demonstrações financeiras do Novo Banco são elaboradas de acordo com as Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS), seguindo, nomeadamente os requisitos do IFRS 9, a Carta Circular 62/2018 do BdP, o GL/2017/06 da EBA e as Orientações do BCE sobre Non Performing Loans”, esclarece ainda o banco.

“Conclusão, com estes dados objetivos, o Novo Banco espera esclarecer definitivamente que o valor das imparidades por si constituídas é o adequado. E sublinha que o Banco não possui imparidades superiores às exigíveis, nem inferiores às julgadas necessárias. Qualquer opinião em contrário é tecnicamente incorreta e desprovida de qualquer fundamento”, destaca o banco liderado por António Ramalho.

O Novo Banco vem ainda sublinhar que “os dados que refere são supervisionáveis, facilmente comprováveis e, naturalmente, auditáveis (neste caso por uma terceira auditora)”.

O Novo Banco reforça também a ideia de que “todos os critérios apresentados demonstram a conquista progressiva da solidez da sua operação, quer pela redução do rácio de NPL’s (de 36% para 22%), quer pela sua cobertura adequada e regularmente auditada”, considera o banco.

Finalmente o Novo Banco recorda que “novas regras regulatórias, os compromissos assumidos por Portugal com a União Europeia e as linhas de Orientação do BCE mantêm uma pressão desafiante sobre este elemento da conta exploração nos próximos anos”, justifica a instituição.

 

Comunicado sobre a chamada de capital do Novo Banco ao Fundo de Resolução

Domingo, Março 3rd, 2019
O Ministério das Finanças tomou conhecimento da apresentação das contas de 2018 do Novo Banco (NB) e da estimativa da chamada de capital ao Fundo de Resolução (FdR), superior à do ano passado.
Caberá agora ao Fundo de Resolução validar o montante solicitado pelo NB, através dos mecanismos contratuais previstos (validação pela Comissão de Acompanhamento e pelo Agente de Verificação) e da atividade de supervisão desenvolvida pelo Banco de Portugal.
Feitas as validações, o FdR deve, numa fase inicial, disponibilizar os seus recursos próprios para assegurar o pagamento e, posteriormente, avaliar a possibilidade de um financiamento de mercado.
No caso de persistirem necessidades de financiamento, o FdR poderá pedir um empréstimo ao Estado que terá um valor máximo anual de 850 milhões de euros, conforme previsto no Acordo-Quadro.
Dado o valor expressivo das chamadas de capital em 2018 e 2019, o Ministério das Finanças, em conjugação com o FdR, considera indispensável a realização de uma auditoria para o escrutínio do processo de concessão dos créditos incluídos no mecanismo de capital contingente.
O Ministério das Finanças continuará a acompanhar regularmente o processo de validação, pelo FdR, do montante solicitado pelo Novo Banco, de forma a assegurar a defesa do interesse público.
No momento da venda, em outubro de 2018, foi colocado um limite ao envolvimento financeiro do FdR, que nessa altura assumiu um conjunto de obrigações no âmbito do mecanismo de capital contingente.
É importante realçar que estes resultados hoje apresentados estão dentro desse limite.
A estabilidade encontrada pelo Novo Banco está bem patente nos resultados operacionais do Banco quando não é considerado o legado do Banco Espírito Santo. Esta estabilidade, extensível aos restantes bancos nacionais, tem contribuído para a melhoria da avaliação dos riscos financeiros em Portugal, comprovado pelo comportamento das condições de financiamento da República desde o final de 2016 até ao presente.
O valor da estabilidade financeira e da credibilidade da política orçamental portuguesas, conquistadas nos últimos anos, é traduzido nas baixas taxas de financiamento do Estado, das empresas e das famílias, e tem contribuído de forma decisiva para a recuperação da economia portuguesa e para a sua trajetória de convergência com a União Europeia.
Considerando o Programa de Financiamento da República para 2019, não é expectável que um eventual empréstimo tenha um impacto adicional nas necessidades de financiamento. O Governo mantém assim o seu compromisso com as metas assumidas e com a promoção da estabilidade do setor bancário para o cumprimento das mesmas.

“Todas as auditorias são bem-vindas” – presidente do Novo Banco

Sábado, Março 2nd, 2019

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RTP

O presidente do Novo Banco disse hoje que “todas as auditorias são bem-vindas”, depois de o Ministério das Finanças ter considerado “indispensável” que se faça uma aos créditos para escrutinar o processo de recapitalização do Novo Banco.

“Todas as auditorias são bem-vindas”, disse António Ramalho, mesmo no final da conferência de imprensa de apresentação de resultados de 2018, logo que foi conhecido que as Finanças querem uma auditoria a créditos que estão no balanço do banco.

“Dado o valor expressivo das chamadas de capital em 2018 e 2019, o Ministério das Finanças, em conjugação com o Fundo de Resolução (FdR), considera indispensável a realização de uma auditoria para o escrutínio do processo de concessão dos créditos incluídos no mecanismo de capital contingente”,lê-se no comunicado emitido hoje.

A reação das Finanças surgiu depois de o Novo Banco ter registado um prejuízo de 1.412 milhões de euros em 2018 e anunciado que vai pedir uma injeção de 1.149 milhões de euros ao FdR para reforçar rácios de capital, ao abrigo do Mecanismo de Capital Contingente acordado em 2017 aquando da venda da maioria da capital do banco ao fundo norte-americano Lone Star.

Os créditos cobertos pelo chamado mecanismo contingente têm que ver com o legado com que o Novo Banco ficou do BES.

O Novo Banco, criado no verão de 2014 para ficar com parte da atividade bancária do BES (resgatado em 03 de agosto de 2014), é detido pelo fundo norte-americano Lone Star em 75% e em 25% pelo Fundo de Resolução bancário.

A gestão do Novo Banco salienta reiteradamente, e hoje voltou a fazê-lo, que os seus resultados são penalizados pelo legado com que ficou do BES. Ramalho disse hoje mesmo que o “banco recorrente”, ou seja, excluindo o legado do BES, já teve em 2018 resultados positivos, ainda que de dois milhões de euros.

O Novo Banco anunciou hoje, em conferência de imprensa, que teve prejuízos de 1.412,6 milhões de euros e que vai pedir uma injeção de capital de 1.149 milhões de euros ao Fundo de Resolução.

Referente a 2017, o Novo Banco já tinha recebido uma injeção de capital de 792 milhões de euros, pelo que a concretizar-se o valor pedido hoje conhecido, as injeções do Fundo de Resolução ficarão em mais de 1.900 milhões de euros.

Contudo, o banco ainda poderá pedir mais quase 2.000 milhões de euros, uma vez que a recapitalização pelo Fundo de Resolução pode chegar aos 3,89 mil milhões de euros até 2026.

No ano passado, o Estado teve de emprestar ao Fundo de Resolução dinheiro (mais de 400 milhões de euros) para que este pudesse recapitalizar o Novo Banco. Este ano o Estado pode emprestar ao Fundo de Resolução até 850 milhões de euros.

Novo Banco: Finanças consideram “indispensável” auditoria à concessão de créditos

Sábado, Março 2nd, 2019

Citamos

Económico

O ministério liderado por Mário Centeno emitiu um comunicado a propósito da chamada do Fundo de Resolução relativamente ao Novo Banco. Finanças consideram indispensável a realização de uma auditoria.

O Ministério das Finanças reagiu esta tarde em comunicado à estimativa das necessidades do Novo Banco face ao Fundo de Resolução, avaliadas em 1,15 milhões de euros, considerando que, “dado o valor expressivo das chamadas de capital em 2018 e 2019, o Ministério das Finanças, em conjugação com o Fundo de Resolução, considera indispensável a realização de uma auditoria para o escrutínio do processo de concessão dos créditos incluídos no mecanismo de capital contingente”. Isto é, vai haver uma auditoria à concessão de créditos no tempo do Banco Espírito Santo, abrangerá as administrações do banco quando era liderado por Ricardo Salgado.

António Ramalho diz que “todas as auditorias são bem vindas”.

Este mecanismo de capital contingente cobre as perdas dos ativos definidos no âmbito da venda do Novo Banco à Lone Star.

Os ativos que estão sob o mecanismo foram herdados ao abrigo da resolução do BES. Sempre que esses ativos resultarem em perdas para o Novo Banco, a instituição liderada por António Ramalho pode requerer um adicional ao Fundo de Resolução que tem um fundo máximo de 3,89 mil milhões de euros.

Referente a 2017, o Novo Banco já tinha recebido uma injeção de capital de 792 milhões de euros, pelo que a concretizar-se o valor pedido hoje conhecido, as injeções do Fundo de Resolução ficarão em mais de 1.900 milhões de euros, o que significa que ainda poderá pedir mais quase 2.000 milhões de euros, uma vez que a recapitalização do Fundo de Resolução pode chegar aos 3,89 mil milhões de euros

O ministério liderado por Mário Centeno considera que, “feitas as validações, o Fundo de Resolução deve, numa fase inicial, disponibilizar os seus recursos próprios para assegurar o pagamento e, posteriormente, avaliar a possibilidade de um financiamento de mercado. No caso de persistirem necessidades de financiamento, o Fundo de Resolução poderá pedir um empréstimo ao Estado que terá um valor máximo anual de 850 milhões de euros, conforme previsto no Acordo-Quadro”.

Cabe ao FdR verificar se estão criadas as condições que determinam o pagamento e obter elementos para confirmar o valor em causa, através de contributos da Comissão de Acompanhamento do Novo Banco, do Agente de Verificação e, também, das análises do Banco de Portugal. O agente verificador é a Oliver Wyman.

O Novo Banco apresentou prejuízos de 1,412 mil milhões de euros em 2018. A entidade liderada por António Ramalho apresentou prejuízos ligeiramente acima do montante a receber em 2019 pelo Fundo de Resolução, no valor de 1.149 milhões.

Este montante decorre em 69% das perdas assumidas sobre os ativos incluídos no CCA (Mecanismo de Capital Contingente) e 31% devido a requisitos de capital regulatórios no quadro do ajustamento do período transitório dos rácios de capital e devido ao impacto do IFRS 9. Isto é, o Novo Banco precisou de ajuda daquela dimensão por causa de requisitos regulatórios de 354 milhões de euros e 795 milhões de euros por causa de perdas nos ativos cobertos pelo mecanismo.

O que é o Mecanismo de Capital Contingente (CCA)?

O Novo Banco pode ser compensado até 3,89 mil milhões de euros por perdas que venham a ser reconhecidas numa carteira predefinida de ativos e outras perdas cobertas pelo CCA  no caso dos rácios de capital descerem abaixo de um limite predefinido, o que se chama de Minimum Capital Condition. Na prática é um rácio de capital CET1 ou Tier 1 < CET1 ou requisito SREP Tier 1 mais um buffer para os primeiros 3 anos (2017 – 2019). O CET1 < 12% é motivo para acionar o mecanismo.

BdP acusa KPMG de ter mentido e ocultado informação sobre o BESA

Sexta-feira, Julho 27th, 2018

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Negócios

O Banco de Portugal acusa a KPMG, auditora do BES e do BESA, e cinco membros da auditora, de terem violado o dever de comunicação ao supervisor e de terem prestado informações falsas.

Quatro anos depois da queda do BES, o Banco de Portugal acusa a KPMG, que era auditora do BES e do BESA, de ter violado o dever de comunicação ao supervisor, avança o Expresso. Além da própria auditora, são acusados Sikander Sattar (na foto), Inês Viegas, Fernando Antunes, Inês Filipe e Sílvia Gomes.

A mesma publicação escreve que, segundo a acusação, ficou provado que tiveram conhecimento dos riscos da carteira de crédito e de como isso poderia afectar a operação em Portugal e não comunicaram esses factos ao Banco de Portugal. Mais ainda, assinaram as contas do BES e não fizeram qualquer reserva.

Os acusados incorrem numa coima que vai até aos 500 mil euros e de 1,5 milhões de euros no caso da própria auditora.

O Expresso conta que, depois da descoberta dos problemas do BESA, a autoridade liderada por Carlos Costa convocou a KPMG e alguns dos seus membros para reuniões.

O Banco de Portugal acusa-os agora de, nessas reuniões, terem prestado informações completamente falsas e/ou incompletas em relação à carteira de crédito do BESA, uma infracção que, a ser provada, poderá levar os acusados a terem de pagar coimas até 2 milhões de euros, e de 5 milhões no caso da KPMG.

KPMG responde ao BdP e diz que foi além do exigido no BES

Quarta-feira, Abril 18th, 2018

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Negócios

A KPMG promete que irá defender o seu bom nome, recusando ter inccumprido as obrigações de transmissão de informação sobre o BES e o BESA.

“Deveres de informação”: este é um dos pontos centrais no processo de contra-ordenação instaurado pelo Banco de Portugal (BdP) à KPMG.

O supervisor acredita que a auditora deveria ter transmitido dados adicionais sobre a relação do Banco Espírito Santo ao BES Angola.

A KPMG contesta e diz que foi até além do exigido.

“A KPMG cumpriu todos os seus deveres, nomeadamente os deveres de informação junto do Banco de Portugal”, assinala a auditora presidida por Sikander Sattar em comunicado assinado pela comissão executiva.

A firma adianta mesmo que sempre colaborou no caso BES com o supervisor presidido por Carlos Costa, indo até “além do que lhe seria legalmente exigível”.

O Público relatou na edição de terça-feira que a KPMG e três responsáveis, incluindo Sattar, são alvos de uma contra-ordenação do Banco de Portugal por conta do BES, banco que auditava e que foi intervencionado em 2014.

Ainda não há decisão final (nem de condenação nem de arquivamento).

A KPMG recusa ter recebido qualquer acusação do Banco de Portugal que tenha por base incumprimento das normas internacionais de auditoria, mas faz questão de frisar o cumprimento do seu papel na informação transmitida ao supervisor, que é questionado pela acusação.

Um dos pontos centrais, referidos pelo Público, é que a KPMG Angola admitia não ter acesso a toda a informação sobre o BESA para os seus trabalhos em 2011 e 2012, um dado que depois não constava da auditoria ao BES, que era maioritário no BESA.

A auditora tem defendido que estão em causa duas entidades distintas, ainda que presididas pela mesma pessoa: Sikander Sattar.

E que a supervisão a cada uma das firmas é também distinta.

No comunicado de reacção, a KPMG promete ainda que “não deixará de prosseguir a defesa intransigente do bom nome e reputação profissional”.

Isto porque a contra-ordenação do Banco de Portugal não é a única investigação que tem a KPMG como peça central.

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), enquanto supervisora dos auditores, estava a investigar a auditoria feita pela firma presidida por Sikander Sattar ao BES Angola, como relatou o Expresso no ano passado.

Não houve novidades desta investigação e, contactado, o regulador do mercado de capitais não quis fazer comentários.

A cultura da responsabilidade

Sexta-feira, Janeiro 19th, 2018

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A cultura da responsabilidade

Não são só os administradores do BES, são os auditores nomeados pelos acionistas, os auditores nomeados pelo Banco de Portugal e o próprio Banco de Portugal. “Responsabilidades” significa isso mesmo.

O Colonial Bank era um banco sediado no estado do Alabama cujos gestores entenderam seguir por uma daquelas estratégias de expansão geométrica de que as prateleiras de histórias de terror financeiras estão cheias. De uma banqueta em Montgomery, a capital do estado, chegou a 27º maior banco dos EUA e, depois, atingiu facilmente o top 10 das maiores falências bancárias do país. Nos EUA, ao contrário da Europa, o mercado da banca é levado muito a sério e o fundo de resgate deles funciona mesmo. O banco foi intervencionado em 2009 depois de se ter percebido que era parte de um esquema de venda fictícia de crédito hipotecário, que envolvia a vice-presidente do banco e uma empresa angariadora que simulavam a existência desses créditos, quase 2 mil milhões de dólares deles. O custo para o fundo de resgate lá do sítio foi de cerca de 2,5 mil milhões de euros e o banco foi vendido a um concorrente. Estes últimos números parecem trazer-nos à memória algo que se passou entre nós, o BES.

Histórias de esquemas fraudulentos com bancos já não são exatamente notícia e esta é de 2009, várias outras (centenas delas) histórias de falências de bancos acontecem nos EUA. Na Europa, a falência de um banco é impossível porque a regulação é tão estúpida que é impossível ser banco e, então, vivemos neste limbo em que gostávamos de fazer o mesmo que os americanos, sem fazermos aquilo que os americanos fazem, que é serem liberais na constituição de bancos, deixarem que existam muitos e serem rigorosos no cumprimento das regras sem haver desculpas. Na Europa faz-se o contrário, faz-se de tudo para que só existam poucos e grandes bancos que salvamos mês sim, mês não.

O que trouxe o Colonial Bank de volta às notícias foi que no fim de 2017 um tribunal federal tomou uma decisão de implicações globais. A PwC, a auditora global com presença em Portugal, foi considerada negligente na deteção da fraude que envolvia o Colonial, o que a traz à lista dos responsáveis por recolocar os 2,5 mil milhões no fundo de resgate. O tribunal alega, numa argumentação difícil de combater, que uma empresa que recebeu cerca de 1 milhão de dólares para auditar um banco, não pode dizer que não conseguiu detetar que 20% do balanço do banco não existia. A empresa defendeu-se, em julgamento, dizendo que os seus procedimentos não estão desenhados para detetar fraudes, o que ainda ajudou a juíza na condenação.

Esta decisão é um déjà vu daquilo que aconteceu na Enron, no início do século e que levou ao desaparecimento da auditora Arthur Andersen (da marca, porque os auditores continuaram por aí com outra marca), lançando novamente a discussão se as auditoras internacionais são instrumentos de credibilidade ou simples cosmética cara, debaixo da qual toda a fraude acontece. E sobre isto deveríamos refletir sobre o que aconteceu entre nós, debaixo de uma cultura de responsabilidade completamente diferente da americana porque, na verdade, aqui nunca nada acontece, independentemente da dimensão do crime.

Isto a propósito de outra notícia recente, esta muito mais próxima de nós, que relata que o Fundo de Resolução, aquilo que poderíamos ver como uma solução de jeito para as questões da banca na Europa, mas que acabou por ser um nado morto, dá como perdidos a módica quantia de 4,9 mil milhões de euros. E, sejamos rigorosos, são 4,9 mil milhões porque só um dos bancos foi lá metido. Com os posteriores, nomeadamente o BANIF, a CGD e o Montepio, foram usados outros fundos de resolução e, sejamos honestos nesta matéria, a resolução do BES bate por KO todos os outros processos em termos de transparência. Por isso, só podemos imaginar quanto é que esses nos estão a custar, enquanto este já tem, aparentemente, uma fatura emitida.

Aquilo que me traz aqui não é a fatura em si. Se já me leram sobre bancos, sabem que a minha opinião é que é muito pouco inteligente partir do princípio que um banco tem que ser um negócio protegido, que não pode falir em circunstância nenhuma e que a sua gestão tem que ser feita por virgens cujas mãos tenham sido beijadas por Deus. A atitude mais inteligente (para mim, a única) é assumir que um banco é uma empresa como outra qualquer, sujeita aos termos que se apliquem ao mercado em que atua na proteção dos seus clientes, mas que pode falir, que está sujeita a incompetências e às falibilidades do ser humano. E, dentro do princípio de que os clientes devem ser protegidos, a consequência óbvia é que terão que existir muitos bancos e que os bancos centrais (a bolsa do mercado do dinheiro) devem ser privados e detidos pelos próprios membros do mercado que determinarão as regras que se aplicam aos seus membros, cumprindo com esse desígnio inquestionável: o dinheiro dos clientes não se perde nunca, nem que tenham que ser os outros bancos a suportar o que faliu.

Ora, isto significa que existe uma probabilidade não nula de a falência pode ser tão grande, tão grande, que o dinheiro de todos os bancos do sistema não chega para a cobrir. Nesse caso, o dinheiro vai ter que aparecer, ou da emissão de dinheiro novo, ou dos impostos do contribuinte, o que vai dar ao mesmo em termos de destinatário da fatura. Mas como há os depositantes para proteger, ou seja, os cidadãos, o estado ou o banco central devem assumir esse custo temporariamente e é a cultura de responsabilidade em torno do sistema financeiro que determina quem a vai pagar no fim, porque há responsáveis a quem pedir contas.

Agora um à parte, por favor, não repitam aquela ladainha do contribuinte a salvar bancos porque 99% das vezes o que se passa é o contrário, são os bancos a emprestar dinheiro aos estados para conseguirem pagar as contas. Nós, portugueses, deveríamos saber isso melhor que ninguém, porque se não fosse o BCE a enterrar um esparrame imoral de euros na república portuguesa, hoje falava-se dela como uma espécie de Atlântida, uma terra perdida num dilúvio de dívidas e ignorância. Não há problema no facto de haver uma intervenção do contribuinte na salvação dos depositantes (que no fundo até são eles próprios), onde há problema é que isso seja atribuído a causas naturais, sem outra explicação.

Neste caso do Colonial atribui-se responsabilidades à PwC que, em princípio, vai ser chamada a pagar o buraco no fundo de resolução americano. Podia não ser, podia ser simplesmente o resultado de uma inversão do mercado, de algo catastrófico e inesperado. Mas a juíza concluiu que não. A cultura de responsabilidade que rodeia o sistema financeiro americano não permite que sejam dados como perdidos montantes desta dimensão sem uma razão clara e não havia uma justificação para que 20% dos ativos de um banco fossem fictícios, sem que quem tem a responsabilidade de certificar as contas não desse por isso (isto na visão da juíza, bem entendido).

No caso do BES devemos recordar que havia uma auditora responsável por certificar trimestralmente as contas, quer ao Banco de Portugal, quer aos acionistas, porque o BES era uma empresa cotada. O Banco de Portugal, por si, fazia auditorias periódicas ao banco e requeria reportes, inimagináveis para o cidadão comum, sobre o banco. No pico da crise, esses reportes chegavam a ser quinzenais. Quando a troika salvou o estado português da falência, impôs que o Banco de Portugal fizesse uma auditoria extraordinária aos principais bancos portugueses, incluindo o BES, a CGD, o BANIF e o Montepio, ao nível dos fundos próprios dos bancos, e o Banco de Portugal foi buscar duas auditoras com pouca presença na altura no sistema financeiro nacional, a PwC e a Ernst & Young, para as fazerem.

Espanta-me, por isso, que neste cenário, a nossa cultura de responsabilidade nos diga que a melhor solução é dar como perdidos 4,9 mil milhões. Reparem que não estou, de forma nenhuma, a dizer que o problema do BES era um problema detetável nas auditorias ou que as auditoras são culpadas. Podem muito bem ser completamente inocentes e por isso merecem ser libertadas de todas as suspeições. Mas faz-me muita confusão que tantos problemas ocorram, em tantos bancos do sistema – quase todos – sem que haja uma inquirição formal e pública sobre o papel e responsabilidades de quem certifica as contas e de quem tem por responsabilidade garantir que o cliente não é prejudicado. E essa inquirição não é para ser feita por deputados que leram umas coisas no site do Banco de Portugal, é para ser feita por especialistas, estrangeiros sem ligações europeias, se possível. Não é que eu não queira pagar a fatura, mas gostava de saber que sou culpado antes de a pagar. Isto porque sei que faturas destas são inevitáveis, o que não é inevitável é mandá-las sempre para o mesmo endereço.

Por isso, a cultura de responsabilidade em torno de um sistema financeiro não é coisa menor. Se as crianças não são responsáveis, o melhor é não lhes dar dinheiro para as mãos. Na minha opinião, não se poderá deixar passar esta fatura sem que se mostre que foram apuradas as responsabilidades de todos os envolvidos na questão e que tinham responsabilidades sobre a veracidade das contas. Não são só os administradores do BES, são os auditores nomeados pelos acionistas, os auditores nomeados pelo Banco de Portugal e o próprio Banco de Portugal. “Responsabilidades” significa isso mesmo e não se pode dizer que foram (e são) mal pagos para as assumirem. O Banco de Portugal e os auditores por eles nomeados na altura da troika enviaram aos bancos uma conta de vários milhões de euros por, olhando para o que hoje se pode ver pelos resultados, um monte de coisa nenhuma. E, repare-se, estamos só a falar do caso que é transparente, não estamos a falar dos demais casos que foram passados por debaixo do pano e cujos fundos de resolução foram outros, embora as faturas já tenham o meu endereço lá escrito. A inevitabilidade da fatura cair nas minhas mãos significa a inimputabilidade dos ditos “responsáveis” e resta-nos aplicar a regra que me ensinaram de muito novo: “Não se mandam putos às compras”. Se é este o cenário, então estas pessoas não podem andar a mexer no nosso dinheiro.

PhD em Física, Co-Fundador e Partner da Closer

BCE falha em identificar bancos em crise, conclui Tribunal de Contas Europeu

Quarta-feira, Janeiro 17th, 2018

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Eco

Os auditores europeus concluíram que a instituição liderada por Mario Draghi não tem indicadores “objetivos” para determinar quando um banco entra em situação de crise.

Os mecanismos criados pelo Banco Central Europeu (BCE) para identificar e lidar com bancos em crise são satisfatórios, mas têm “falhas”. A instituição liderada por Mario Draghi não tem indicadores “objetivos” para determinar quando um banco entra em situação de crise, não é eficaz no que toca ao planeamento inicial de um cenário destes e falha em afetar recursos humanos para lidar com casos urgentes. A conclusão é do Tribunal de Contas Europeu, que fez uma auditoria à “eficiência operacional da gestão de crise” por parte do BCE.

“A estrutura organizacional do BCE e os seus recursos para avaliar os planos de recuperação, bem como para supervisionar os bancos em crise, são satisfatórios”, conclui o Tribunal de Contas Europeu no relatório publicado esta terça-feira. Contudo, acrescenta, há “fragilidades no planeamento inicial”, assim como uma “necessidade de melhorar a alocação de técnicos para as situações mais urgentes”.

Os auditores reconhecem que o processo seguido pelo BCE para avaliar os planos de recuperação dos bancos é positivo, ainda que possa ser melhorado. “O enquadramento operacional do BCE para gestão de crises tem algumas falhas e há sinais de implementação ineficiente”, refere o relatório. “As orientações para uma intervenção antecipada estão pouco desenvolvidas e não definem critérios ou indicadores objetivos para determinar que um banco entrou em situação de crise”, acrescenta. Como exemplo, o Tribunal de Contas Europeu aponta que o BCE não define que medidas devem ser implementadas em casos específicos.

“As orientações do BCE para uma intervenção antecipada estão pouco desenvolvidas e não definem critérios ou indicadores objetivos para determinar que um banco entrou em situação de crise.”

Tribunal de Contas Europeu

Perante este cenário, o Tribunal de Contas Europeu recomenda que o BCE melhore a coordenação com entidades terceiras e que reforce a regulação dos planos de recuperação dos bancos.

A instituição liderada por Mario Draghi deverá ainda arranjar forma de intervir mais cedo em situações de crise e definir indicadores para identificar deterioração na situação financeira de um banco. Por fim, o Tribunal de Contas recomenda que o BCE passe a monitorizar sistematicamente a qualidade dos ativos, bem como a garantir que os problemas de um banco sejam quantificados antes de serem decididas as medidas de resposta à crise.