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O Santander fechou as portas, mas o BCP e o Bankinter admitem que, quando o Novo Banco for para venda, será olhado de perto
Já há dois bancos a operar em Portugal interessados em olhar para o Novo Banco, quando a americana Lone Star e o Fundo de Resolução decidirem vender as suas participações, algo que poderá acontecer ao longo do próximo ano. Em causa estão o Banco Comercial Português (BCP) e o espanhol Bankinter.
Os dois bancos têm um ponto em comum: a prioridade é o crescimento orgânico, que consiste na expansão com base no negócio já existente. No entanto, os líderes de ambos confessaram recentemente que não podem fechar a porta à análise à compra da instituição financeira resultante da resolução do Banco Espírito Santo.
Na conferência de imprensa desta quinta-feira, dia em que apresentou uma subida de 1% dos lucros para 302 milhões de euros, o presidente executivo sublinhou que o tema não está em cima da mesa na atualidade. Quando for, haverá ação da parte do BCP.
“No momento em que essa operação for a mercado, se e quando for ao mercado, vamos olhar com o rigor que suporta as nossas decisões, analisaremos nessa altura se faz sentido, se não faz e o valor que faz sentido”, declarou o responsável, citado pela agência Lusa.
Sendo, agora, uma “obrigação estar atento a todas as oportunidades”, o BCP tinha, até aqui, afastado quaisquer aquisições até 2021. “Quero deixar muito claro que, até ao final deste mandato, não vamos efetuar aquisições adicionais”, avisou Maya no final de 2018. O banco, que tem a chinesa Fosun e a angolana Sonangol como principais acionistas, comprou o polaco Eurobank em 2018, crescendo naquela economia europeia. Agora, assume que, estando no mercado, terá de analisar o concorrente Novo Banco.
Uma potencial fusão entre o Novo Banco e o BCP (quando no passado o antecessor BES e o banco fundado por Jardim Gonçalves eram profundos rivais) tem sido referida na imprensa como uma solução para a saída da Lone Star e do Fundo de Resolução, ambos com um perfil vendedor. A alienação do banco ganhou nova força depois de noticiado pelo Expresso que foi discutida entre os acionistas a possibilidade de encerrar o mecanismo de capital contingente, através do qual o Fundo de Resolução se arrisca a colocar mais milhões no banco, antecipadamente, em vez de se esperar por 2026. O que facilitaria a venda.
Para um banco como o BCP também faz sentir olhar para este negócio já que é um dos principais contribuidores para o Fundo de Resolução, que depois terá de devolver ao Estado todos os empréstimos contraídos para a resolução do BES e para a capitalização do Novo Banco. A Caixa Geral de Depósitos, também nessa posição, está impedida de fazer aquisições até ao final deste ano – e é também já o banco maior do país.
A Lone Star, que adquiriu 75% do Novo Banco em 2017, só tem liberdade para alienar o banco a partir do próximo ano, por via do acordo de venda – mas, havendo entendimento entre acionistas, poderá ser acelerado.
UM ESJPANHOL NO CAMINHO, OUTRO FORA
Mas a consolidação entre os dois bancos não é o único cenário em cima da mesa. O Bankinter também admite que pode vir a olhar para o dossiê. O banco espanhol tem uma limitada presença internacional (apenas em Portugal e na Irlanda). E o país pode ser um espaço para crescer – até agora que o espanhol Abanca está a estender a sua presença portuguesa com a compra do EuroBic, em que o CaixaBank já é dono do BPI e em que o Santander é um dos maiores bancos.
“É natural que o Novo Banco venha a estar no mercado. Estaremos atentos a essa oportunidade”, disse Alberto Ramos, o responsável da sucursal portuguesa do Bankinter. “Se vão existir [oportunidades], na altura será analisado”, continuou, mas salvaguardando que o crescimento no país tem ocorrido por via de crescimento orgânico.
Quem já fechou a porta a um olhar sobre o Novo Banco foi o Santander. Pedro Castro e Almeida afirmou que o banco não está interessado em adquirir mais nenhum banco em Portugal. O grupo cresceu no país, nos últimos anos, com a resolução do Banif, a quem comprou os principais ativos e passivos, e a intervenção no Popular.
MUITAS VENDAS EM SEIS ANOS
O Novo Banco sempre foi tendo interessados, mas as operações de venda foram sempre difíceis. Criado em 2014, na resolução do BES, com uma injeção de 4,9 mil milhões de euros, foi colocado à venda no ano seguinte pelo seu acionista único, o Fundo de Resolução. Os chineses Anbang, Fosun e os americanos da Apollo foram os candidatos do concurso aberto em 2015, que acabou cancelado devido aos preços, dificuldades negociais e circunstâncias externas.
Dois anos depois, deu-se a venda de 75% à Lone Star, mantendo o Fundo de Resolução uma posição de 25%. A compra foi por zero euros. Os americanos comprometeram-se a colocar mil milhões e o Fundo assumiu que poderia colocar mais 3,89 mil milhões na instituição financeira por via de um conjunto de ativos problemáticos.
Mas o perfil da Lone Star, de investimento em empresas em dificuldades para reestruturação e posterior venda, sempre deixou em aberta a alienação futura. Que agora começa a ser falada de forma mais intensa.