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Juros disparam, bolsa afunda. “Muitas chamadas” nas corretoras

Terça-feira, Novembro 10th, 2015

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Negócios

Muitos “receios”, a “percepção do risco”, num contexto de “instabilidade política no país”, marcaram uma sessão “negra”, dizem os analistas. Não só os juros da dívida pública dispararam como a bolsa nacional registou a maior queda a nível mundial.
Depois do BE, o PCP chegou a acordo com o PS. Há um entendimento para uma alternativa de governo que se prepara para derrubar a coligação. “A incerteza sobre a capacidade de permanência de um executivo no Governo de Portugal aumentou a incerteza” dos investidores perante o país, dizem os analistas. Levou a uma escalada dos juros da dívida, pesando na banca. A bolsa afundou. E houve “muitas chamadas” nas corretoras de investidores preocupados.

“A percepção do risco soberano de Portugal estará a degradar-se”, diz João Queiroz, notando o comportamento díspar entre a dívida nacional e a da Alemanha. O prémio de risco disparou 18 pontos para 217,3 pontos base. “Na sala de negociação começámos a receber muitas chamadas de clientes a perguntarem pelo risco da dívida soberana, o que não terá sido mera coincidência”, nota o director de negociação da GoBulling.

“A incerteza sobre a capacidade de permanência de um executivo no Governo de Portugal aumenta a incerteza e baixa a complacência dos investidores no actual enquadramento”, acrescenta. A “actual instabilidade política no país, com uma possível queda do governo esta semana, está a aumentar a incerteza dos investidores em relação às propostas de governo para os próximos quatro anos”, diz a equipa de “research” do BiG

A evolução das taxas de juro no mercado secundário “reflecte os receios dos investidores, relativamente à direcção adoptada por um governo com apoio dos comunistas e bloquistas”, diz Pedro Ricardo Santos. A taxa a 10 anos disparou cerca de 15 pontos base para cima dos 2,8%, um máximo de Julho. Chegou a agravar-se em mais de 20 pontos, reflexo dos “receios” dos investidores.

Banca como termómetro

“A expectativa de um abandono completo das medidas de austeridade, aumenta a probabilidade de algumas agências de ‘rating’ reverem em baixa a qualidade da nossa dívida, com possíveis impactos no dinheiro que mensalmente o BCE injecta na nossa economia”, recorda o gestor da XTB Portugal. Essa perspectiva catapultou as taxas da dívida, levando a “cotação dos principais bancos portugueses a afundar”, nota.

BCP, BPI e Banif registaram todos perdas expressivas, de 9,49%, 8,91% e 10,71%, respectivamente, levando a bolsa a cair 4,05%. E será o “sector financeiro o mais penalizado pelo impacto directo que a instabilidade política tem na evolução das ‘yields’ de dívida portuguesa e o impacto indirecto na alienação do Novo Banco, isto para além da perspectiva de uma maior nível de taxação sobre a banca e rendimentos de capital, traduzindo uma certa ideologia de esquerda (mais ou menos radical) que poderá estar imbuída numa solução de Governo que contemple PS-PCP-BE”, diz a equipa de “research” do BiG.

Tensão elevada

Se o Programa do Governo “não for aprovado, como é esperado pelos mercados, a atenção irá concentrar-se na decisão do Presidente da República. Se for solicitado ao Partido Socialista a formação de um governo, a incerteza irá provavelmente continuar até que seja conhecido o programa do novo governo e a proposta de Orçamento de Estado para 2016”, diz Albino Oliveiro. Por isso, “no curto prazo, a incerteza irá provavelmente continuar”, nota o analista da Patris Investimentos.

“Não se esperam dias calmos para a praça nacional”, antecipa o gestor da XTB. “Enquanto não se verificar uma solução governativa estável no país, com a definição das medidas para a próxima legislatura, o sentimento do PSI-20 poderá continuar deprimido, com elevados níveis de volatilidade”, alerta o BiG. E só “um programa governativo final, que não comprometa as finanças públicas do país e não afaste o compromisso político em torno da implementação de reformas políticas sectoriais e/ou estruturais com o objectivo de incrementar o potencial da economia portuguesa, poderá acalmar os actuais receios dos agentes de mercado”, conclui.