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Novo Banco: Registo de perdas por imparidade disparou após venda à Lone Star

Quarta-feira, Setembro 9th, 2020

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Público

Entre final de 2017 e em 2018 os activos imobiliários do banco registaram fortes desvalorizações. Vendas abaixo do valor de avaliação não foram justificadas.

O registo de perdas por imparidade aumentou significativamente no último trimestre de 2017 e em 2018, altura em o Novo Banco passou a ter novo dono, o fundo norte-americano Lone Star. “Relativamente ao registo de perdas por imparidade, verificou-se um reforço relevante em devedores incluídos na amostra no último trimestre de 2017 e em 2018, representando cerca de 50% do total de perdas entre 4 de Agosto de 2014 e 31 de Dezembro de 2018”, revela auditora Deloitte, no relatório que fez aos actos de gestão do BES/Novo Banco entre 2000 e 2018.

No período entre 4 de Agosto e Dezembro de 2018, e com base numa amostra de créditos e activos (imóveis, títulos de dívida) com perdas superiores a 10 milhões de euros, o registo de imparidades ascendeu a 2579,7 milhões de euros, mas 44% desse montante, ou 1144,5 milhões de euros, foi registado entre 18 de Outubro de 2017 e 31 de Dezembro de 2018.

O restante montante de imparidades (perdas reais ou potenciais por incumprimento de créditos ou desvalorização de activos), no montante de 936,8 mil milhões de euros, foi registado entre 4 de Agosto de 2014 e 30 de Junho de 2016; e de 498,3 milhões de euros, de perdas entre 1 de Julho de 2016 e 17 de Outubro de 2017.

O relatório apenas adianta que o volume de imparidades foi justificado pela “reavaliação de colaterais e/ou problemas na execução dos mesmos, incluindo acções cotadas, acções não cotadas e activos imobiliários no Brasil, e a evoluções adversas de actividade em project finance no Brasil”. São ainda apontados “incumprimentos de Planos Especiais de Revitalização ou planos de reestruturação e insolvências e evoluções adversas na actividade do devedor, incluindo na actividade internacional, nomeadamente Angola, Moçambique e Venezuela, relativamente a algumas entidades a operar no sector da construção”. E por último, a “sentenças judiciais adversas e créditos vendidos”.

O relatório da auditoria da Deloitte revela que as perdas totais para o Novo Naco ascendem 4042 milhões de euros entre 4 de Agosto de 2014 (um dia após a resolução do BES) e 31 de Dezembro de 2018, especificando que 2300 milhões de euros são relativos a operações de crédito, 488 milhões a subsidiárias e associados e 1234 milhões em “outros activos” não especificados.

Vendas por valores inferiores à avaliação

Também entre Outubro de 2017 e em 2018, o registo de perdas relativos imóveis disparou, ascendo a 96,4 milhões de euros, num total de 105,2 milhões de euros entre a data de criação do Novo Banco e o final de 2018.

Ainda relativamente ao período entre o final de 2017 e 2018, e considerando as rubricas de imparidade de outros activos (imóveis e outros) e perdas na reavaliação de propriedades de investimento”, o relatório refere que o banco “registou perdas totais de cerca de 395,7 milhões de euros.

Desse total das perdas, e considerando 23 activos imobiliários incluídos na amostra da Deloitte, o relatório dá conta que as perdas registadas ascenderam a 143,8 milhões de euros. “Destas perdas, apenas 8,5 milhões de euros (6%) dizem respeito a perdas totais realizadas em activos alienados nesses anos, todos eles no âmbito da operação de venda de agregada de imóveis denominada Viriato. Os remanescentes 135,3 milhões de euros dizem respeito à reavaliação dos imóveis registada nas contas do Novo Banco em 2017 e 2018”.

Entre os 25 activos da amostra da correspondentes a imóveis e equipamentos, o relatório da Deloitte verificou que “o Novo Banco vendeu entre 2016 e 2018 um conjunto de oito activos, três dos quais em 2018 integrados no âmbito da operação Viriato, e os restantes cinco vendidos no âmbito de outros processos de venda”.

O detalhe de cinco conjunto de activos foi apagado no relatório tornado público esta quarta-feira, sendo apenas revelado que “as vendas efectuadas pelo Novo Banco foram realizadas por valores inferiores (em alguns casos de forma significativa) face aos valores das últimas avaliações disponíveis”, matérias a que o PÚBLICO deu destaque nos últimos dias.

A propósito destas vendas, os auditores verificaram que “o Novo Banco não tinha implementado até 31 de Dezembro de 2018 procedimentos documentados de backtesting das avaliações efectuadas para este tipo de activos, tendo em consideração as vendas efectuadas”. E que “o Novo Banco não tinha igualmente implementado procedimentos de análise e justificação formal das variações ocorridas nas avaliações obtidas, comparativamente às avaliações anteriormente disponíveis”. Ou ainda que “nas propostas de aprovação das vendas são normalmente descritas as características e condicionalismos dos imóveis, mas não é incluída uma justificação ou explicação para a diferença entre o valor de venda e o valor de avaliação anterior”, salvaguardando, no entanto, “que esta justificação não era requerida de acordo com o normativo interno aplicável”.

Fundo de resolução já injectou 2976 milhões de euros

Parte das perdas registadas pelo Novo Banco caem na esfera do mecanismo de capital contingente criado no âmbito da venda da instituição à Lone Star, que prevê que o Fundo de Resolução, criado na esfera do Estado, possa compensar o comprador até 3890 milhões de euros, dos quais já injectou 2976 milhões de euros.

O Fundo de Resolução, que ficou com uma participação de 25% do capital do Novo Banco, não está presente nos órgãos sociais, embora seja chamado a “aprovar” um conjunto de operação de alienação de activos, proposta pela administração da instituição.

Como o relatório da auditoria relembra, o Governo remeteu à Direcção Geral da Concorrência da Comissão Europeia, em Outubro de 2017, uma nova carta de compromissos (revistos) referentes ao Novo Banco, que substituía o conteúdo das cartas de compromissos anteriores.

No que se refere à presença continuada do Fundo de Resolução no capital do Novo Banco, o Estado compromete-se a que esta entidade “não venha a exercer os direitos de voto correspondentes a 25% das acções ordinárias do Novo Banco, as quais permanecerão em sua posse, e que tais direitos serão objecto de renúncia irrevogável”.

Novo Banco não avisou Fundo de Resolução sobre chumbo interno à venda de imóveis

Terça-feira, Setembro 8th, 2020

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Público

O negócio envolveu imóveis no valor de 645 milhões e uma instituição espanhola, que os vendeu. A direcção que garante o cumprimento das boas práticas no banco chumbou duas vezes o negócio. Mas o Fundo de Resolução só soube dois anos depois

A auditoria especial ao BES/Novo Banco apurou que a gestão de António Ramalho não informou o Fundo de Resolução que, por duas vezes, foi desaconselhada pela direcção de compliance do banco a avançar com as operações de venda de carteiras de activos (imóveis) envolvendo a sociedade Alantra. Este facto relevante só viria a ser reportado ao Fundo de Resolução, em Junho de 2020, quase dois anos depois, na sequência do auditoria da Deloitte. No relatório, a auditora revela ainda o facto de não ter conseguido confirmar ou excluir eventuais ligações entre os compradores das carteiras de activos vendidas pelo Novo Banco e sociedades próximas do próprio banco ou da Lone Star, o fundo norte-americano que adquiriu 75% a instituição em 2017.

O Novo Banco contesta a omissão ao Fundo de Resolução dos dois pareceres da direcção de compliance, factos que vêm referidos nas páginas 327, 328 e 329 do relatório da Deloitte. “O Banco sempre reportou os seus assessores [sic] ao Fundo de Resolução”, afirma a administração numa nota enviada ao PÚBLICO. E “no caso da existência de pareceres internos contraditórios entre si, e face ao tema colocado exclusivamente do ponto de vista de potencial risco reputacional, que foi mitigado pela contratação exclusivamente da equipa da Alantra Espanha, o Banco não considerou necessário o reporte desse parecer.”

O contrato de prestação de serviços foi encomendado à Deloitte pela tutela (e pago pelo avaliado) e destinou-se ao levantamento e à análise dos actos de gestão do BES/Novo Banco, entre 2000 e 2018, com foco nas decisões relacionadas com as perdas imputadas ao Fundo de Resolução – o veículo público, a operar no âmbito do Banco de Portugal (BdP), que, desde a venda ao Lone Star, ao abrigo do mecanismo de capital contingente, já injectou no Novo Banco 2,976 mil milhões de euros.

Um dos pontos sensíveis do relatório está relacionado com a contratação da consultora Alantra, representada em Portugal por Rita Barosa, uma ex-assessora de Ricardo Salgado e ligada ao núcleo duro de Amílcar Morais Pires – o ex-director financeiro do BES. O trabalho encomendado à Alantra destinava-se a assessorar uma operação de venda de uma carteira de activos imobiliários (parte créditos problemáticos) no valor de 645 milhões de euros. E, por duas vezes, a direcção de compliance do Novo Banco produziu pareceres desfavoráveis sobre a escolha deste intermediário.

Apesar da recomendação, o Novo Banco optou por não seguir a indicação do órgão que promove as boas práticas bancárias – nos termos da lei e da regulação, a direcção de compliance deve fazer alertas sobre as relações do banco com entidades e pessoas que possam vir a causar danos do ponto de vista reputacional, sejam legais ou criminais. E fê-lo sem dar conta da decisão ao Fundo de Resolução, no momento em que recebeu os pareceres sobre a operação de alienação de activos (os dossiês Viriato e Nata II).

Recorde-se que, no contexto da venda do Novo Banco ao Lone Star, tinha ficado estabelecido que Banco de Portugal/Fundo de Resolução seriam informado das decisões relevantes que envolvessem alienação de activos.

relatório de auditoria da Deloitte relata os factos. Em 2018, o Fundo de Resolução colocou questões à gestão do Novo Banco sobre o envolvimento da Alantra, mas na resposta que recebeu não lhe comunicaram que a direcção de compliance emitira parecer desfavorável.

Só em Junho de 2020, já com a auditoria a correr, é que a gestão de António Ramalho enviou uma carta ao Fundo de Resolução a reportar que, apesar dos dois pareceres contrários produzidos pela direcção de compliance, deliberara continuar com as transacções assessoradas pela Alantra. Em Agosto de 2020, o Fundo de Resolução respondeu a António Ramalho, notando de que era a primeira vez que este o informava de que tinha sido desaconselhado pelo compliance.

A 15 de Agosto de 2020, em declarações ao Expresso, António Ramalho, sobre a venda de activos, respondia nestes termos: “O departamento de compliance nunca deu parecer negativo a nenhuma operação com estas características [vendas de carteiras de activos].”

Esta é uma história antiga. A 11 de Julho de 2018, o PÚBLICO noticiou que o Novo Banco contratara a Alantra para procurar no mercado internacional compradores para a sua carteira de imóveis. Da primeira proposta entregue pela Alantra Espanha, constava o nome de Rita Barosa, que chefiava a filial da sociedade em Portugal. Pouco depois, o nome da gestora (especializada em produtos estruturados) desapareceu da documentação.

Rita Barosa ocupava lugares de destaque no BES, onde integrava a equipa de Amílcar Morais Pires, antes de ocupar o cargo de secretária de Estado da Administração Local e da Reforma Administrativa, do gabinete do ministro Miguel Relvas. Em 2013, regressou ao banco, agora para ser assessora do ainda presidente Ricardo Salgado.

Na mesma edição, o PÚBLICO adiantava que a Alantra fora seleccionada pela Hudson Advisors, detida em 100% pelo Lone Star. E que tinha sido à Hudson Advisers que António Ramalho fora logo em 2018 recrutar o gestor alemão Volkert Schmidt, a quem encarregou de monitorizar o plano de recuperação do banco e de assessorar a venda da carteira de activos imobiliários. Antes de ser contratado, já Volkert Schmidt circulava livremente pelos corredores do Novo Banco, mostrando poder decisório.

A omissão dos pareceres negativos está a ser analisada pelo BdP e pelo Fundo de Resolução, soube o PÚBLICO. Uma fonte próxima do processo considerou-a “muito sensível”. E o próprio Fundo de Resolução avisava no seu comunicado sobre a auditoria que, se os seus resultados “traduzem a adequação dos princípios e critérios adoptados”, “não deixará de integrar os resultados na sua reflexão permanente sobre a execução do Acordo [de venda à Lone Star], tendo em vista extrair as conclusões que se mostrem pertinentes”. Contactado pelo PÚBLICO, o Fundo de Resolução respondeu: “Para já, o Fundo de Resolução não tem comentários a fazer.”

Quem são os destinatários finais?

A Deloitte menciona outros constrangimentos relacionadas com a ausência de informação relevante sobre quem são de facto os donos dos fundos que compraram os activos do Novo Banco e sobre a falta de normativos internos para o controlo de conflito de interesses. Nas páginas 46 e 47 do relatório de auditoria, no capítulo sobre “operações de venda de activos e análises de contrapartes”, é destacado que o Novo Banco não apurou quais os nomes dos últimos beneficiários das entidades que adquiriram os activos (imóveis e empresas).

Em linguagem de auditor, a Deloitte escreveu que “a generalidade das operações de venda agregada de activos, teve como contrapartes sociedades gestoras de fundos de investimento internacionais, através de SPV (veículos especiais), criadas para o efeito”. Sublinha que “o banco realizou uma avaliação de contrapartes para parte das operações de venda das carteiras” de activos. Os pareceres da direcção de compliance reconhece que quem comprou essa carteiras são “entidades complexas”. Reconhece também que essas sociedades declararam que nenhum dos seus donos “detinha mais de 25% das entidades compradoras das carteiras do Novo Banco, conforme estipulado na legislação”.

Ou seja, a auditora adianta que não tinham “sido identificadas pessoas relacionadas com o Novo Banco ou a Lone Star, de acordo com a informação” prestada pelo Novo Banco. E admite que “não foram efectuadas análises (pela Deloitte) de partes relacionadas ou análises de conflitos de interesse.” Como o último beneficiário só é conhecido se tiver mais de 25% do capital do fundo, sem informação suplementar não é possível tirar conclusões “sobre a respectiva identidade.”

Na prática, a auditora infere que o Novo Banco se limitou a receber as explicações das sociedades gestoras dos fundos compradores, não tendo ido procurar esclarecimentos adicionais para lhe permitir descartar quaisquer ligações entre os compradores dos activos e os vendedores  – as sociedades ou os gestores do universo do Lone Star ou do banco. E, sendo assim, também a Deloitte não conseguiu ir mais longe.

 

Auditoria da Deloitte ao Novo Banco

Terça-feira, Setembro 8th, 2020

Auditoria da Deloitte ao Novo Banco

Auditoria: Novo Banco falhou na análise de risco de construtoras

Terça-feira, Setembro 8th, 2020

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Dinheiro Vivo

Em causa estão perdas estimadas em 271,7 milhões de euros relativas sobretudo a empréstimos a construtoras.

A Deloitte identificou falhas na análise de risco do BES e do Novo Banco em relação a planos de negócio e garantias apresentadas por devedores do setor da construção, entre 2012 e 2018, num valor de perdas estimadas de 271,7 milhões de euros no final de 2018. Em causa, estão algumas empresas do setor da construção que “começaram a atravessar dificuldades mais visíveis a partir de 2012 e o BES/Novo Banco foram tomando decisões em diversos processos de reestruturação ocorridos entre 2012 e 2018, que envolveram igualmente outros bancos nacionais, no sentido de manter o apoio a estas empresas, que por vezes envolveram new money e a prestação de garantias bancárias para realização de obras”.

A Deloitte explica, no relatório da auditoria especial, que “estas reestruturações foram assegurando a continuidade dessas empresas, criando condições para que continuassem a operar e a executar obras, em alguns casos explorando novos mercados em virtude da estagnação verificada no mercado em Portugal a partir do início dessa década”. Em alguns casos estas reestruturações “eram baseadas em planos de negócio elaborados por consultores externos, apresentados pelos clientes, os quais pressupunham normalmente crescimento significativo de atividade em outras geografias, tais como África, Médio Oriente e América do Sul”. “Apesar de os referidos planos de negócio terem incorporado análises de sensibilidade, no âmbito do nosso trabalho não nos foi disponibilizada evidência de o BES/Novo Banco ter efetuado uma análise crítica à razoabilidade e exequibilidade dessas projeções/planos de negócio, bem como à suficiência dessas análises de sensibilidade, numa perspetiva de risco”, aponta a Deloitte.

Nestes casos, “a estratégia das empresas não foi bem sucedida e as empresas acabaram por entrar em insolvência, obrigando, em alguns casos, o Novo Banco a honrar garantias bancárias de boa execução que tinham sido prestadas pelo BES e pelo Novo Banco para obras em curso e originando perdas associadas a exposição patrimonial”. Os montantes de perdas registados refletem a reduzida expetativa de recuperação do Novo Banco para estes clientes em 31 de dezembro de 2018.

Conselho de Supervisão do Novo Banco: O que parecia ser banco bom, não era”

Segunda-feira, Setembro 7th, 2020

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Eco

Conselho de Supervisão do Novo Banco: O que parecia ser banco bom, não era”

Presidente do Conselho Geral e de Supervisão do Novo Banco revela choque pelo facto de a gestão do BES até 2014 “ter usado todos os mecanismos para diferir riscos e problemas para o futuro”.

O presidente do Conselho Geral e de Supervisão do Novo Banco está chocado pelo facto de a gestão do BES até 2014 “ter usado todos os mecanismos possíveis para diferir riscos e problemas para o futuro”, revela, numa entrevista ao semanário Expresso.

O que posso garantir e o que acho relevante é o facto de o Ministério das Finanças ter informado que as perdas foram fundamentalmente sobre ativos do BES, até 2014, e para mim isso quer dizer mais de 95%. E isso é importante. Revela que houve uma conceção errada de que o Novo Banco era o banco bom com um balanço limpo após a resolução”, sublinha o responsável.

Pouco mais de dois anos depois de ter dado a primeira entrevista ao jornal, Byron Haynes assinala que as críticas e acusações feitas, nos últimos meses, pela classe política, ao banco, não o surpreendem.

“Fiquei chocado (em 2017) com o legado tóxico que herdámos, mas o maior choque foi a evidência de que o BES até 2014 usou todos os mecanismos possíveis para diferir os riscos e problemas para o futuro”, refere, na entrevista ao jornal português.

Sobre a auditoria feita pela Deloitte ao Novo Banco, Byron Haynes refere que se trata, em 25 anos de experiência em banca, de “um dos pedidos mais detalhados e robustos a que já assisti, cobre 18 anos, a Deloitte pediu e analisou milhares de documentos que cobrem milhares de operações. É um trabalho muito detalhado e implicou um esforço enorme do Novo Banco para entregar toda a informação pedida. E estou muito satisfeito pelo facto de este trabalho ter sido concluído.”

 

BE defende nulidade da auditoria da Deloitte ao NB. Vê conflito de interesses

Sexta-feira, Setembro 4th, 2020

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Dinheiro Vivo

Segundo o partido, há um “conflito de interesses” uma vez que a Deloitte Espanha assessorou o banco na venda do GNB Vida concluída em 2019.

O Bloco de Esquerda defende que a auditoria da Deloitte aos atos de gestão do Novo Banco deve ser considerada nula devido a um possível conflito de interesses da consultora. Em causa a auditoria pedida pelo Governo para avaliar os atos de gestão do BES e do Novo Banco entre 2000 e 2018, sobretudo na venda de ativos, tendo em conta a injeção de dinheiros públicos através do Fundo de Resolução. O BE aponta uma denúncia, também noticiada pelo Jornal Económico (acesso pago), indicando que a Deloitte Espanha assessorou o Novo Banco na venda da GNB Vida que foi desencadeada em 2017 e concluída em outubro do ano passado, com perdas avultadas de 250 milhões de euros.

“O que a auditoria da Deloitte não refere é que a própria Deloitte foi assessora do Novo Banco para a venda da GNB, e isso coloca em causa a auditoria”, sublinha a deputada do BE, Mariana Mortágua. “Como pode um consultor de uma venda auditar de forma independente essa venda? E a resposta é não pode. Que credibilidade tem essa auditoria? Não tem”, conclui a deputada. Esta auditoria não garante seriedade, rigor, independência, nem a defesa do interesse público. A auditoria não refere a desvalorização na GNB Vida, não refere as ligações entre o comprador e um corrupto condenado [Greg Lindberg] e também não refere que a própria Deloitte foi assessora financeira do Novo Banco na venda do GNB Vida e, portanto, tem uma responsabilidade partilhada. Pressão sobre Costa e Marcelo A auditoria especial pedida pelo Governo e que a Deloitte entregou esta semana, foi defendida pelo primeiro-ministro, Presidente da República e Assembleia da República e agora o Bloco quer que sejam retiradas conclusões.

“Achamos que é importante que o Presidente da República e o Governo também tirem as suas conclusões sobre esta auditoria”, frisou Mariana Mortágua. “Da mesma forma que foi entendido pelo Presidente da República e pelo Governo que esta auditoria era importante para analisar as próximas injeções no Novo Banco, é preciso agora considerar nula a auditoria e os seus resultados”, defendeu a parlamentar, lembrando que os contribuintes ainda podem ser chamados a injetar 950 milhões de euros ao abrigo do mecanismo de capital contingente previsto no acordo de venda à Lone Star em 2017. O partido apresentou uma proposta para a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito aos atos de gestão no Novo Banco depois da resolução do BES e espera que os restantes partidos com assento parlamentar a aprovem.

Deloitte não conseguiu identificar últimos donos dos fundos que compraram activos ao NB

Sexta-feira, Setembro 4th, 2020

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Público

Auditores concluíram que Novo Banco não dispunha de “informação adicional” para fazer o escrutínio sobre os compradores dos activos. António Ramalho garante ter respondido à Deloitte nos termos da lei.

A auditoria especial da Deloitte ao Novo Banco não conseguiu identificar o nome dos últimos proprietários dos fundos institucionais que adquiriram os activos da instituição com descontos que chegaram, nalguns casos, a 80%.

Após passar para a esfera do fundo de private equity norte-americano Lone Star, em Outubro de 2017, o Novo Banco desenvolveu um padrão de negócio sustentado na venda das carteiras de activos (imóveis e empresas) a fundos de investimento, muitos deles de origem anglo-saxónica, de que se desconhecem os últimos beneficiários, ou seja, os seus verdadeiros proprietários.

Em linguagem de auditor, a Deloitte explica que, embora as operações tenham cumprido as regras de mercado, identificou que os fundos envolvidos na aquisição das carteiras de activos do Novo Banco, já depois de 2017, possuíam “estruturas complexas” e que solicitou esclarecimentos às áreas de compliance da instituição chefiada por António Ramalho. E foi elucidada de que o banco tinha uma declaração das sociedades gestoras dos fundos (os adquirentes dos activos) a confirmar que os seus participantes não possuíam posições superiores a 25%.

Em regra, as sociedades gestoras só são obrigadas a revelar detalhes sobre os seus investidores (como os nomes), caso estes controlem participações acima de 25%. Uma situação que abre a porta a que, no topo da pirâmide, possam ocorrer movimentações e concertações que escapam à malha pública.

Na prática, ao não conseguir determinar os últimos proprietários dos activos vendidos, a Deloitte inferiu que o Novo Banco não dispunha na sua posse de “informação adicional” para poder fazer o escrutínio sobre as relações que se estabelecem entre diferentes partes. Ou seja, em termos teóricos, embora os participantes de um fundo não tenham mais de 25%, todos podem estar, ou não, a operar de forma relacionada, sem que se saiba.

Uma fonte do PÚBLICO deu outro exemplo, para justificar o modus operandi das sociedades de private equity: “Um fundo com sede em Londres tem investidores que operam através do Luxemburgo, e estes, por sua vez, são detidos por veículos do Panamá e das Bahamas, que são controlados por sociedades de Delaware.”

O Novo Banco garante que “prestou todos os esclarecimento pedidos pela Deloitte sobre este tema”. E assegura que “cumpriu os procedimentos estabelecidos na legislação em vigor para este efeito, designadamente na Lei 83/2017, de 18 de Agosto”. A instituição afirma que o relatório da Deloitte “confirma expressamente” esses procedimentos.

Venda da GNB Vida na mira da Deloitte

Um dos negócios destacados no documento da Deloitte, por ter gerado perdas para o Novo Banco, que resultaram em chamadas de capital público ao Fundo de Resolução, prende-se com a venda da GNB Vida, agora designada Gama Life.

Como o PÚBLICO já noticiou, a 18 de Setembro de 2018, o Novo Banco anunciou a alienação da GNB Vida por 190 milhões de euros ao Bankers Insurance Holdings, controlado pelo Global Bankers Insurance Group, do investidor Greg Lindberg. Na altura, Lindberg estava já a ser alvo de averiguações por fraude fiscal e pagamentos indevidos ao Partido Republicano nos Estados Unidos. Investigações do domínio público.

Em Novembro do mesmo ano, a título pessoal, Greg Lindberg submeteu a sua oferta à Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), e a operação não se pôde concretizar. O regulador exigiu que o investidor “desaparecesse” da fotografia.

Contrariamente a outras situações idênticas, que ocorreram noutras geografias no mesmo período e envolvendo o investidor, em que se optou por anular os acordos e lançar novo concurso de venda, o Novo Banco prosseguiu. E a meio de 2019, o norte-americano foi substituído por fundos geridos por outro fundo norte-americano, o Apax.

O habitual é que os acordos contemplem uma cláusula a prever que, até à sua execução, haja a possibilidade de o preço do negócio ser ajustado. E foi o que se verificou no caso da GNB Vida e gerou perdas para o Novo Banco. Em Outubro de 2019, “no seguimento do comunicado de 12 de Setembro de 2018, o Novo Banco concretizou a venda da GNB Vida à GBIG Portugal, sociedade totalmente detida por fundos geridos pela Apax.” E o preço caiu para 123 milhões, ou seja, menos 67 milhões de euros do que o comunicado um ano antes.

Para CEO da Gama Life foi nomeado o homem de confiança de Lindberg na Europa, o italiano Matteo Castelvetri, que tem como número dois Alistair Wallace Bel, o director de estratégia e operações do norte-americano.

E ainda hoje não há conhecimento sobre os actuais donos da seguradora, não se sabendo os nomes dos últimos beneficiários dos tais fundos geridos pela Apax que investiram. A 15 de Agosto, o PÚBLICO avançou que as várias sociedades e veículos abrangidos na compra da seguradora partilham, ou partilharam no momento do fecho do acordo, a mesma morada de Londres das firmas participadas por Greg Lindberg.

A propósito das conclusões da auditoria especial encomendada à Deloitte, que aponta para uma perda potencial de 4042 milhões de euros (que inclui os 3,9 mil milhões de capital contingente), o Ministério das Finanças e o Banco de Portugal vieram defender que o recurso do Novo Banco ao auxilio público (negociado com o Lone Star) estava devidamente justificado.

Ontem, em nota divulgada no seu site oficial, o BdP sublinhou ainda: “A auditoria especial detectou também insuficiências nos actos de gestão praticados no período em análise [de 2000 até 2018], com especial incidência e gravidade no período de actividade do BES” e que essas situações “estão já a ser alvo de uma análise cuidada por parte do Banco de Portugal, incluindo no quadro do Mecanismo Único de Supervisão, ao qual foi remetido o relatório da auditoria especial.”

Esta quarta-feira o Novo Banco realizou uma conferência de imprensa para comentar o trabalho da Deloitte, antes da comunicação social ter tido acesso ao conteúdo do relatório (que continua por divulgar). António Ramalho, presidente do banco, comparou a equipa de gestão, que lidera, com bombeiros que foram chamados a apagar um fogo, elogiando-a, e afirmando que o incêndio foi “fogo posto”.

Novo Banco: BdP vai analisar auditoria, FdR diz que usará para “reflexão”

Sexta-feira, Setembro 4th, 2020

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Negócios

A entrega da auditoria da Deloitte aos atos de gestão do Novo Banco provocou várias reações, desde os partidos ao regulador.

O Banco de Portugal (BdP) garante que vai analisar as insuficiências identificadas pela Deloitte na auditoria aos atos de gestão do BES e do Novo Banco. Já o Fundo de Resolução afirma que a análise da consultora mostra a “adequação” da sua atuação na instituição financeira liderada por António Ramalho. Esta é a reação do regulador e do fundo que detém 25% do Novo Banco à entrega do relatório esta semana.

“A auditoria especial detetou também insuficiências nos atos de gestão praticados no período em análise, com especial incidência e gravidade no período de atividade do Banco Espírito Santo, SA. Essas situações estão já a ser alvo de uma análise cuidada por parte do Banco de Portugal, incluindo no quadro do Mecanismo Único de Supervisão, ao qual foi remetido o relatório da auditoria especial”, de acordo com o comunicado enviado esta quinta-feira pelo BdP. Por outro lado, o fundo liderado por Máximo dos Santos disse que “não deixará de integrar os resultados da auditoria na sua reflexão permanente sobre a execução do acordo” de capital contingente. E que “os resultados da auditoria traduzem a adequação dos princípios e critérios adotados”.

No início da semana, o Governo também reagiu à auditoria, afirmando que “evidencia que as perdas incorridas pelo Novo Banco decorreram fundamentalmente de exposições a ativos que tiveram origem no período de atividade do Banco Espírito Santo”. Já o Novo Banco referiu que a “análise evidencia a importância dos processos de alienação de ativos para a recuperação do balanço” do banco. Ao todo, foram registadas perto de quatro mil milhões de euros em perdas.

Entre os partidos, as reações também não tardaram após a entrega do relatório. “Esta auditoria diz-nos que a doença do BES passou para o Novo Banco”, afirmou o deputado do PS João Paulo Correia. Por outro lado, Rui Rio, presidente do PSD, estranhou que fale “mais do BES do que do Novo Banco”. Já o CDS pediu explicações ao governador do BdP e ao ministro das Finanças sobre as “perdas muito avultadas”.

Do lado do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua disse que esta análise ao Novo Banco não responde à pergunta “se a Lone Star está a enganar o Governo português”. O PCP, por seu lado, reiterou a necessidade de se nacionalizar o banco.

[As insuficiências detetadas na auditoria] estão já a ser alvo de uma análise cuidada.BANCO DE PORTUGAL
Comunicado

 

 

Auditoria mostra “adequação” da atuação do Fundo de Resolução no Novo Banco

Sexta-feira, Setembro 4th, 2020

Citamaos

Eco

Auditoria mostra “adequação” da atuação do Fundo de Resolução no Novo Banco

Auditoria da Deloitte prova, segundo o Fundo de Resolução, que este tem exercido os seus poderes sobre o mecanismo de capital contingente de forma adequada.

“A informação apresentada pela entidade independente que realizou a auditoria especial evidencia, designadamente, que o Novo Banco tem vindo a operar num quadro fortemente marcado pelo vasto legado de ativos não produtivos, gerado ainda na esfera do BES, com o consequente registo de imparidades e provisões, mas que tem também robustecido os seus procedimentos internos”, começa por dizer o FdR.

Depois de destacar a conclusão relativa ao Novo Banco, o FdR salienta o que a auditoria da Deloitte diz relativamente à entidade liderada por Máximo dos Santos. “No que respeita ao exercício dos poderes do FdR no âmbito do Acordo de Capitalização Contingente [o mecanismo de capital contingente], os resultados da auditoria traduzem a adequação dos princípios e critérios adotados“.

Apesar deste resultado, o FdR diz que “não deixará de integrar os resultados da auditoria na sua reflexão permanente sobre a execução do acordo, tendo em vista extrair as conclusões que se mostrem pertinentes”.

Conclui afirmando que o FdR “como acionista, detentor de 25% do capital do Novo Banco, e todos os seus credores, em especial o Estado e as instituições bancárias, só têm a ganhar com a preservação da estabilidade do Novo Banco”.

 

Centeno só revela relatório do BES por decisão judicial

Quinta-feira, Setembro 3rd, 2020

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JN

Mário Centeno só vai disponibilizar o relatório interno sobre a supervisão ao Banco Espírito Santo por decisão judicial.

“O Banco de Portugal (BdP) aguarda decisão judicial que aprecie e decida acerca da eventual quebra do dever legal de segredo”, refere o supervisor numa nota oficial enviada ao JN/Dinheiro Vivo.

“A ser decidida essa quebra do dever legal de segredo, o BdP colaborará, de imediato, com o Tribunal, ficando, nos exatos termos dessa decisão judicial, autorizado a disponibilizar, desde logo, esse documento ao Tribunal”, indica a mesma nota, não apontando que o documento siga para o Parlamento como pediu o Bloco de Esquerda (BE).

Na nota, o supervisor sublinha ainda que o relatório não é uma auditoria interna, “nem tem como objeto de análise o processo de resolução do BES”.

Pouco depois de Mário Centeno ter assumido o cargo de governador, o BE insistiu no pedido que já tinha feito durante o mandato de Carlos Costa para ter acesso ao Relatório da Comissão de Avaliação das Decisões e atuação do BdP na Supervisão do BES. E tal como com Carlos Costa, teve uma nega de Mário Centeno que invocou o “dever legal de segredo”.

Para o BE, este comportamento revela incongruências do agora governador Mário Centeno, que fez parte de um Governo que pediu para conhecer os resultados do relatório.

Venda à Lone Star

Ontem, Mariana Mortágua anunciou que o BE vai propor uma comissão parlamentar de inquérito à gestão do Novo Banco. O PS já disse que admite uma comissão com um objeto “amplo” de averiguação, mas só após analisar a auditoria da Deloitte.

“Não queremos repetir a comissão ao BES. Queremos que seja sobre a resolução com base no relatório interno sobre a resolução de 2014 e a decisão de venda à Lone Star”, frisou a deputada.

“Procuraremos transparência, procuraremos encontrar as decisões que poderiam ter sido evitadas e também os seus responsáveis”, sublinhou.A saber

Argumentos

“Terminou o ciclo do silêncio e iniciou-se o ciclo do esclarecimento”, afirmou ontem o CEO do Novo Banco, garantindo que o banco não concedeu nenhum crédito “tóxico” novo após a resolução do BES e que 95% das perdas (4042 milhões de euros) são anteriores a 2014.

Apoio dos partidos

O BE está confiante que a criação da comissão de inquérito ao Novo Banco seja aprovada na Assembleia da República. “Existe uma larga maioria – até no país – que quer saber o que se passou e perceber o que poderia ser evitado”, declarou a deputada Mariana Mortágua.