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Administrador do Novo Banco indica empresas que alegaram perdas no GES para não pagar créditos

Domingo, Junho 6th, 2021

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Administrador do Novo Banco indica empresas que alegaram perdas no GES para não pagar créditos

Gestor do Novo Banco identifica empresas (uma foi o grupo Alves Ribeiro) que recusaram pagar créditos, alegando perdas no BES e no GES. Banco foi para tribunal e há decisões nos dois sentidos.

Há empresas que alegam perdas em investimentos em empresas do Grupo Espírito Santos ou ações do BES para recusar pagar os créditos que passaram para o Novo Banco. Nestes casos foram instauradas ações judiciais pelo banco, tendo havido já decisões favoráveis, mas também desfavoráveis, revelou o administrador do Novo Banco esta sexta-feira na comissão parlamentar de inquérito.

“Há muita gente que não paga (ao Novo Banco) porque investiu (e perdeu) no GES e acha que não deve pagar”, diz Bracinha Vieira

Rui Fontes adiantou que estes investimentos não eram do conhecimento do banco porque os clientes não usaram os títulos como colaterais dos financiamentos. Houve também casos de clientes que perderam dinheiro em ações do BES, o que potenciou perdas no crédito. Perante situações de entidades de que não pagam porque não querem, o banco avançou com ações judiciais contra essas entidades para receber.

A deputada socialista pergunta que entidades estão na situação apontada por Bracinha Vieira. O administrador do Novo Banco não associa necessariamente estes casos a um “default estratégico” porque os clientes estão a fazer valer os seus direitos. Mas indica que um dos casos que surpreendeu foi o do grupo Alves Ribeiro, que tinha uma operação cruzada com BES, e que recusou pagar. O caso está no tribunal de segunda instância. Também refere uma empresa brasileira de construção Asperbras que comprou papel comercial do GES e invocou esse motivo para não liquidar a dívida contraída ao Novo Banco. O litígio encontra-se num tribunal arbitral francês. Estes são os maiores casos. A auditoria da Deloitte aponta o caso do grupo Tricos que alegou perdas no BES para não pagar dívida.

Rui Fontes é administrador do Novo Banco desde 2017 com o pelouro do risco e foi diretor do departamento de risco entre 2012 e 2014 no tempo do Banco Espírito Santo. O responsável revelou que a concessão do crédito no tempo de Ricardo Salgado era decidida pelo conselho financeiro de crédito onde o departamento de risco não tinha lugar. Os créditos eram decididos sem o parecer do risco. Confirmou ainda que a sua nomeação para a administração do Novo Banco por indicação do Fundo de Resolução e António Ramalho e com parecer favorável do Banco Central Europeu.

 

Novo Banco. Nuno Vasconcellos faz perder a paciência aos deputados, que páram a audição – como aconteceu

Domingo, Maio 23rd, 2021

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Observador

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Nuno Vasconcellos diz que deu ativos ao BES. Não tem mota de água (é moto-quatro). Não assumiu dívida da Ongoing ao Novo Banco. A partir do Brasil irritou a comissão de inquérito que travou audição.

  • Negrão teve luz verde dos partidos para interromper audição

    Como já foi explicado há alguns posts atrás, a audição a Nuno Vasconcellos por vídeo-conferência foi interrompida pelo presidente da Comissão de Inquérito. Fernando Negrão tomou esta iniciativa inédita ao fim de menos de uma hora depois de receber a luz verde dos partidos presentes na sala.

    Esta ação drástica foi justificada pela recusa do inquirido em responder às perguntas concretas. A ser interrogado a partir de São Paulo (e não presencialmente), o antigo dono da Ongoing afirmou que estava ali como convidado e não como arguido.

    Nuno Vasconcellos faz parte do lote de “grandes devedores” do BES/Novo Banco chamado a esta comissão que já ouviu Bernardo Moniz da Maia, João Gama Leão (da Prebuild) e Luís Filipe Vieira. O empresário vive no Brasil há dez anos e manifestou espanto quando soube que estavam a ter dificuldade em contactá-lo.

  • Foi administrador da Affera? “Não me recordo, em altura nenhuma, de ser administrador de nenhuma empresa chamada Affera”

    Um dos grandes pontos de tensão na audição de Nuno Vasconcellos começou quando Mariana Mortágua lhe perguntou sobre a empresa Affera, sediada no Panamá. Em 2017, diz a deputada do Bloco, a administração desta empresa era composta por Rafael Mora, Guilherme Dray, Nuno Dias e Nuno Vasconcellos.

    “Não me recordo, em altura nenhuma, de ser administrador de nenhuma empresa chamada Affera”, remata Nuno Vasconcellos.

    Mariana Mortágua estranha que Nuno Vasconcellos não se lembre, e que também não saiba quem são os acionistas.

    “Eu sei quem são os acionistas. Já lhe falei aqui deles, até lhe falei que um é padrinho do meu filho. Onde é que a senhora deputada quer chegar”, pergunta Nuno Vasconcellos, visivelmente agastado.

    ”Quero chegar à lista completa dos acionistas da Affera”.

    “Isso tem de perguntar à Affera ou às entidades onde a Afera está registada”, diz o empresário.

    Mortágua ainda pergunta pelas empresas Goldenedge e WebSpectator, registada no Delaware (Estado norte-americano considerado um paraíso fiscal).

    “Esse nome diz-me alguma coisa, sim. Mas não faz parte do âmbito desta comissão, porque nunca fez parte da Ongoing”.

    “É património da sua família?”.

    “Não”, responde Nuno Vasconcellos, que depois explica que foi ele quem inventou o software da empresa. “Inventei não, tive a ideia para o software, depois outros fizeram. (…) Mas está completamente fora do âmbito desta comissão”.

  • “O Novo Banco não quis saber de mais nada, nem quis emprestar mais dinheiro”, lamenta Nuno Vasconcellos

    Sobre o padrinho do seu filho – que não identificou – Vasconcellos diz que “foi a pessoa que mais me ajudou”. Isto porque, na altura, “o Novo Banco não quis saber de mais nada, nem quis emprestar mais dinheiro”, salienta.

    E sobre o Novo Banco não querer ajudar, Vasconcellos relata um episódio, que começa com um contrato que foi feito ainda com o BES. “Quando me pediram para vender as ações da ZON e da Impresa para amortizar a dívida, eu falei que as empresas precisavam de dinheiro para os próximos três anos, porque não tinham operação rentável. Eram start-ups”, continua.

    Assim, diz, “houve um projeto feito pelo Novo Banco, chamado Chiado, em que eles me disseram ‘amortiza o crédito da Impresa, vende as ações da Zon e nós fazemos um empréstimo de 30 milhões de euros para financiar as empresas no Brasil nos próximos 3 anos. Depois veio a nova gestão e mostrei o documento [do projeto Chiado]. Havia salários por pagar, havia sobretudo impostos para pagar no Brasil, que aqui é crime – dá prisão – e eles [o Novo Banco] pediram para encerrar”.

  • A Real Time tem uma dívida de 47 milhões de euros no Novo Banco. Sim ou não?” “Não”, responde Vasconcellos

    Mariana Mortágua diz que a Real Time tem uma dívida de 47 milhões de euros junto do Novo Banco. “Não, na dívida do Novo banco não consta nada disso”, responde Vasconcellos.

    Mariana Mortágua passa para a HIS Portugal, uma empresa de software que era do grupo Ongoing.

    “A HIS Portugal foi dada como garantia ao Novo Banco”, afirma a deputada bloquista, referindo ainda um “aumento de capital por uma sociedade constituída no Panamá”.

    Nuno Vasconcellos lança-se, então, numa longa explicação sobre um “um conjunto de empresários brasileiros muito ricos aqui no Brasil que fizeram aumentos de capital nas empresas”, detalhando que estariam ligados a “um fundo financeiro que emprestou dinheiro a juros altíssimos”. E afirma que um desses empresários, o que mais o ajudou quando as empresas já não conseguiam pagar salários a trabalhadores, é uma pessoa que lhe é próxima: o padrinho do seu filho.

  • Vasconcellos diz que BES ficou com tudo. “Não tenho uma mota de água”… é uma moto quatro

    Antes de interromper a audição, Nuno Vasconcellos afirmou ter entregue ao BES como garantias vários ativos imobiliários, alguns dos quais pertenciam à família.

    Elencou os terrenos da Artilharia 1 (em Lisboa), prédios no Estoril, casas, empreendimentos em Alcácer do Sal, um armazém em Valejas (Oeiras) que diz estava avaliado em sete a oito milhões de euros, propriedades do Quinta do Peru, uma quinta “lindíssima” no Norte que era um dos ativos do grupo Ongoing.

    Afirmou ainda ter dado um aval pessoal ao BES um mês antes do banco cair, até a pedido do Banco de Portugal. Afirmou a propósito desse aval ter informado o banco que não tinha ativos em nome pessoal, mas também disse ter entregado antes ativos imobiliários em seu nome ao BES, como uma parte de um terreno na zona da Expo e na antiga Fundição de Oeiras.

    Nuno Vasconcellos aproveitou para esclarecer o “mito urbano” da mota de água que teria sido o único em seu nome detetado numa ação de execução da banca. “Não tenho uma mota de água”. Mariana Mortágua acrescenta era uma moto quatro (mota todo-o-terreno).

    Os outros ativos, os imobiliários, foram com o BES. “Todos os ativos em meu nome ficaram no BES. E levanta a questão: se a dívida da Ongoing era assim tão má como passa para o Novo Banco?

    Em plena comissão de inquérito ao Novo Banco, Nuno Vasconcellos voltou a desviar o tema para o BCP, que era o maior credor do grupo Ongoing, para insistir que história está “mal contada. O ideal era que a PGR investigasse de quem é a culpa. Tenho muita coisa para contar”.

    A deputada do Bloco de Esquerda responde que a PGR devia era investigá-lo a si. O empresário diz que já o fez e por esta altura os ânimos voltam a exaltar-se.

    “Não vim aqui como arguido para falar consigo. Exijo respeito”.

  • “É totalmente falso que o Novo Banco tenha garantias na Real Time Corporation. Nem nunca teve”

    Pouco tempo antes do fim intempestivo da audição, Mariana Mortágua que junto de Nuno Vasconcellos informações mais precisas sobre a Real Time Corporation.

    “O que me respondeu é que não é responsável pela dívida. Diz aqui num documento do Novo Banco que as únicas garantias reais estão concentradas numa empresa brasileira chamada Real Time Corporation. Confirma?”, perguntou a deputada.

    “É totalmente falso, a Ongoing tinha uma participação nessa holding, que tem empresas de tecnologia e internet. E que até ia fazer um IPO no Brasil”, respondeu o empresário, antes de mais um e demorado período em que o som do seu microfone não estava ligado.

    “Todas as garantias reais estão contratualizadas com o Novo Banco. Não tem garantias na Real Time, nem nunca teve. Mas posso dizer que a Real Time não era tudo isso que se fala”, acrescentou Nuno Vasconcellos, dizendo – entre cortes – que as empresas detidas pela Real Time “acabaram por ficar sem operação no Brasil”.

  • “Está aqui porque deixou um calote de 600 milhões” e “não pretendo dar-lhe mais palco”. As frases de Mariana Mortágua a Vasconcellos

    Após essas declarações de Nuno Vasconcellos, Mariana Mortágua decidiu que não iria fazer mais perguntas, naquilo que foi um prenúncio do fim abrupto da audição anunciada depois por Fernando Negrão.

    “O senhor está aqui porque deixou um calote de 600 milhões de euros no Novo Banco e agora vem a esta comissões, da alto da sua moralidade, passar lições de moral aos bancos e aos governos. Por mim termino aqui, não pretendo dar-lhe esse palco, e não lhe farei mais perguntas até final”, disse a deputada do Bloco. Pouco depois, Fernando Negrão haveria de terminar a audição.

  • Vasconcellos para Mariana: “Quer que lhe responda o que quer ouvir, mas não vai ter essa sorte (…) Não vim aqui para ser desconsiderado”

    O desfecho imprevisível da audição (muito esperada) ao dono da Ongoing resultou da insistência de Mariana Mortágia na pergunta sobre a dívida de 522 milhões de euros ao Novo Banco e sobre se o empresário a tencionava pagar.

    As garantia “são empresas vazias” e os imóveis só valem seis milhões de euros. Aguardo resposta, vai ser paga e quando: Quer que responda ao que quer ouvir, mas não vai ter essa sorte. Mas vou-lhe falar a verdade. Só por isso estou aqui. E o ex-dono da Ongoing pediu para aceitarem ouvir a sua parte,

    Negrão interrompe pela primeira vez para pedir outro tom e respostas. “O meu tom tem muita consideração por esta CPI. A deputada é que não está com o tom certo e faz considerações que não deve. Não posso ser desconsiderado. Não estou aqui para ser desrespeitado O respeito tem duas vias”.

  • As frases que irritaram Mariana Mortágua ao ponto de não querer fazer mais perguntas. E a audição acabou pouco depois

    Golpe de teatro na audição de Nuno Vasconcellos. Depois de algumas trocas de palavras mais azedas entre Nuno Vasconcellos e a primeira deputada que lhe fez perguntas, Mariana Mortágua, o empresário deu várias respostas incompletas, omissas ou demasiado vagas sobre vários dos negócios que tem no Brasil.

    A certo ponto, Mariana Mortágua insistiu que Nuno Vasconcellos estava a ser ouvido porque tem uma dívida de 600 milhões de euros ao Novo Banco. A resposta do empresário foi esta:

    “A senhora deputada insiste… O meu grupo não deve 600 milhões de euros ao Novo Banco. Temos de aprender a fazer contas. Tudo o que o BES e o Novo Banco me pediram eu dei”.

    Mas não se ficou por aqui, iniciando uma longa declaração sobre a culpa dos bancos e dos governos, e não dos empresários.

    “Agora é fácil, cinco anos depois, sempre que os bancos precisam de mais dinheiro, lá vem a lenga-lenga que os empresários não pagaram. (…) Os bancos estavam cheios de dívida pública, e a culpa é dos governos, não dos empresários”, disse Nuno Vasconcellos.

    “Gostava muito de ajudar. E se existem culpados, que se encontrem esses culpados e que sejam castigados”, afirmou ainda.

  • Negrão põe fim à audição a Nuno Vasconcellos

    Não foram precisas muitas perguntas. Mariana Mortágua interrompeu a sua intervenção dizendo que não está disponível para permitir que Nuni Vasconcellos use a comissão de inquérito para fazer passar a sua narrativa, sem responder às perguntas. Fernando Negrão concorda e, em nome da dignidade da comissão de inquérito, dá como terminada a audição a Nuno Vasconcellos.

    “Fica claro que se recusa sistematicamente a admitir que seja titular de qualquer dívida [ao Novo Banco] e fica claro que não responde a nenhuma pergunta de forma construtiva. A sua única preocupação é construir e deixar aqui a sua defesa. em nome da dignidade desta comissão damos por terminada a mesma”, diz o presidente da comissão.

Acusação de insolvência culposa. “Se é assim, o BCP é um mentiroso”

Mas é acusado de insolvência culposa pelo BCP?

“Não tenho conhecimento disso. E se é assim, o BCP é um banco mentiroso e o presidente também”. Vasconcellos conta que deu um aval pessoal de 10 milhões de euros para cobrir juros. E chegou a ir com o presidente do Banco Pactual do Brasil que fez uma oferta de 140 milhões pela dívida, mas diz que o banco recusou.

Mais tarde e depois da insolvência chegamos a um acordo e os créditos foram comprados por mais de 80 milhões em troca de ativos que estão no balanço do BCP que, diz, aceitou a operação e diz que até uma carta do gestor da insolvência a confirmar que não há dívida. “O BCP acusa-me de não pagar o aval pessoal, mas disse que ia perdoar esse aval. Isso não foi cumprido. Essa historia está mal contada como muitas historias sobre a Ongoing e a minha família”

Vai me dizer que não dívidas? “Quem tem dívidas é a Ongoing. Nós demos garantias”

Em 2016 a Ongoing devia mais de 500 milhões ao Novo Banco e não tinha garantias, diz Mariana Mortágua.

O empresário contrapõe: O grupo não é da minha família. A empresa insolveu em 2016.

Vai dizer que não tem dívidas? (perguntou Mariana Mortágua)

Quem tem dívidas é a Ongoing e nós demos garantias e amortizamos dividas, acedemos a solicitações de BCP e BES.

Bloco: “Nunca teve nada que não fosse comprado com dinheiro emprestado por Ricardo Salgado”

O empresário garante que ficou depósito de 68 milhões de euros no BES.

Por esta altura, a deputada pergunta: Sabe o que quer dizer provisionar? É quando o Banco dá esse valor como perdido.

Nuno Vasconcellos insiste que os ativos existiam estavam lá e diz que tem relatório de auditoria no final de 2013 da Ongoing que tem uma avaliação de mais de mil milhões em ativos, terrenos, ações da Zon, prédios, terrenos e armazéns.

E essa empresa tinha uma dívida de mil milhões de euros, responde a deputada. “Nunca teve nada que não fosse comprado com dinheiro emprestado por Ricardo Salgado”.

  • “Dívida ao BES quem tem de a pagar é a Ongoing não sou eu”

    Sobre a dívida ao BES diz que “foi provisionada”.

    “Quem tem de pagar é a Ongoing, a pergunta está a ser feita de um ponto de vista pessoal, mas deve ser feita à Ongoing. Em 2014, o Banco de Portugal obrigou o BES a provisionar.

    Do BES chamaram-me porque o Banco de Portugal estava a apertar muito com o banco, porque havia a previsão que as ações do BES não iram valer nada.

    E pediram.me para vender as ações que tinha da Impresa e ativos da Ongoing, nomeadamente as ações da ZON. Essas ações foram vendidas por 70 milhões de euros.

    Pediram-me me para deixar numa conta do banco, dada como colateral para aquilo que falava provisionar, que era cerca de 100 milhões de euro.

    Estamos a falar de 417 milhões de euros, de uma dívida de 520. Tenho um relatório que diz que esse dinheiro ficou no banco.

    Mariana Mortágua pergunta a Nuno Vasconcellos se ele sabe o que quer dizer “provisionadas”. O empresário atira “diga-me lá a senhora deputada o que entende por isso”.

    “Quer dizer que é o banco a dar como perdido esse valor”.

    “Foi feito um aumento de capital, feito com dinheiro do BES não do NB. A dívida foi provisionada. Os ativos existiam e estavam lá”, insiste.

  • “A Ongoing não tem nenhuma dívida com o BCP, foi comprada e regularizada.

    Mortágua insiste: “aquilo que perguntei é como pretende pagar a dívida”.

    Vasconcellos explica: “A Ongoing não tem nenhuma dívida com o BCP, foi comprada e regularizada. Começou como 400 milhões e ao longo de quatro anos foram pagos 120 a 130 milhões de euros. Essa dívida de 290 milhões de euros foi comprado por cerca de 80 milhões de euros, em troca de dois ativos prestados por accionistas do Ongoining, que não estavam dentro do balanço. Foram avaliados e aceites”.

    E sublinha que a dívida total é de 721 milhões de euros, incluindo Segurança Social, alguns trabalhadores – que infelizmente não foram pagos – fornecedores e bancos. Ao BES são 520 milhões, com juros.

  • “A história de não estar contactável está mal contada”. “Só posso concluir que foi falta de eficácia do gestor de insolvência”

    Mariana Mortágua (BE) arranca com as perguntas, não sem antes um comentário. “Tem graça que se manifeste tão disponível para ser contactado, quando tem uma ação de insolvência culposa, colocada pelo BCP contra si, um banco que diz que não o consegue contactar, nem às suas empresas”. E pergunta como e quando é que Nuno Vasconcellos vai pagar os 600 milhões que deve ao Novo Banco (a dívida total à banca portuguesa passa dos 1.000 milhões).

    Após alguns problemas de som, Nuno Vasconcellos diz que a história de não ser contactável “é uma história muito mal contada”.

    “Se o Fisco português me consegue contactar, o gestor de insolvência deveria conseguir também. Não tenho endereço em Portugal. Mas moro e pago impostos no Brasil há 10 anos, portanto só posso concluir que foi falta de eficiência do gestor de insolvência”, diz o empresário.

  • “Não agi de má fé e não posso ter o meu nome entre os responsáveis pela maior crise de Portugal”

    No final da sua intervenção inicial, o empresário remata: “Não tenho a esconder nada. Não agi de má fé e não posso ter o meu nome entre os responsáveis por levar Portugal à mais grave crise da sua historia recente”.

  • Vasconcellos pede ao Bloco para corrigir informação no site que o acusa de crime de corrupção

    Nuno Vasconcellos agacede a oportunidade de prestar esclarecimentos sobre a sua conduta à frente da Ongoing e promete: “Não vou deixar qualquer pergunta sem resposta” e quero esclarecer rumores. Nunca figu às minhas responsabilidades e lutarei dento das minhas possibilidades contra qualquer tentativa de tornar as responsabilidades maiores do que são.

    “Nunca me neguei a comparecer a este parlamento”. Empresário estranha informação de que o Parlamento não o encontrava. Vasconcellos vive há mais de 10 anos no Brasil e em São Paulo. As autoridades sabem como contactá-lo.

    Diz que é colunista do Dia, um dos jornais de maior prestigio e circulação e tem representantes legais em Portugal.

    “Gostaria de aproveitar para desmentir a informação no site do bloco que me atribui um crime de corrupção. Fui acusado com base em provas falsas e respondi a um processo no qual fui considerado inocente em 2016.

    Pede assim ao Bloco de Esquerda que essa informação seja corrigida.

  • Boa tarde, vamos acompanhar em direto mais uma audição da comissão de inquérito às perdas do Novo Banco. Os deputados vão questionar Nuno Vasconcellos, fundador da Ongoing, através de vídeo-conferência. O empresário está no Brasil e admite-se que possam existir algumas limitações técnicas a esta audição por causa da qualidade de ligação.

    A Ongoing é um dos maiores devedores ao Novo Banco, com dívidas da ordem dos 600 milhões de euros.

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A “arte difícil” de recuperar crédito de devedores sem bens

Domingo, Maio 23rd, 2021

Citamos

Negócios

Numa audição parlamentar, que durou mais de oito horas, António Ramalho afastou o “mito” do excesso de imparidades. Assumiu a dificuldade que é a atividade de recuperação de créditos, tendo encontrado muitos devedores sem património associado.

António Ramalho foi mais uma vez ao Parlamento, desta vez no âmbito da comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco. Numa audição que durou mais de oito horas, o CEO do banco garantiu que a ideia de que tem registado “perdas e imparidades excessivas” é um mito. E frisou estar a fazer tudo para recuperar os créditos, nomeadamente junto dos maiores devedores da instituição financeira. Isto ao mesmo tempo que tem vindo a vender imóveis. Esforços que vão ter de continuar: o banco ainda tem de se “libertar” de perto de 900 milhões de euros em ativos imobiliários.

“As perdas e as imparidades excessivas são um mito que foi criado à volta do banco”, disse António Ramalho, respondendo ao PSD que o acusou de estar a “atirar areia para os olhos” sobre a valorização de ativos. Ramalho rejeitou a crítica e pediu exemplos. O deputado Hugo Carneiro referiu-se então à Herdade da Matinha, que entrou no banco por 200 milhões, mas que acabou por ser vendida por 140 milhões.

Os deputados trouxeram também para a audição os grandes devedores do Novo Banco. Foi o caso da Nuno Vasconcellos, da Ongoing (que vai esta quinta-feira ao Parlamento), Moniz da Maia, mas também Luís Filipe Vieira, dono da Promovalor, e João Gama Leão, da Prebuild. Créditos que foram entretanto vendidos ou que o banco garante estar a tentar recuperar.

Mais de 900 milhões em imóveis
Além destes esforços de recuperação, o Novo Banco tem também vindo a libertar-se dos ativos imobiliários que herdou do Banco Espírito Santo. Ramalho relembrou no Parlamento que recentemente a Caixa Geral de Depósitos disse ter reduzido o montante em imóveis de 600 para 300 milhões. Mas o Novo Banco ainda tem “908 milhões de euros em imóveis, depois deste esforço enorme ainda temos isso”, disse, relembrando que o banco tem dois anos para alienar estes ativos.
Como o Negócios avançou em fevereiro, o banco libertou-se de perto de 1.700 milhões de euros em imóveis nos últimos quatro anos. O Novo Banco tinha uma carteira imobiliária no valor de 2.670 milhões de euros, em termos líquidos, em dezembro de 2016.

Grandes devedores ainda dão luta ao banco

Nuno Vasconcellos apareceu com grande mediatismo em 2006, por altura da oferta pública de aquisição (OPA) da Sonae sobre a Portugal Telecom. Surgiu ao lado de Ricardo Salgado contra a oferta. E em alguns anos formou uma posição de 10% na operadora, na qual, com o seu sócio Rafael Mora, chegou à administração. Vasconcellos estava então, também, ligado à consultora Heidrick & Strugles, que, aliás, era prestadora de serviços à Portugal Telecom. Mas Vasconcellos, através da sua empresa Ongoing, queria mais e em 2008 comprou o Diário Económico, e nesses anos quis comprar uma posição na TVI – travada pela ERC – e aumentar a sua posição na Impresa – travada por Francisco Pinto Balsemão.

2011 trouxe a troika. E em 2014 deu-se a queda do BES, que arrastou a PT. A Ongoing que tinha construído a sua posição na operadora e comprado o Económico com dívida viu-se em apuros. Agora, o nome Ongoing está no topo de lista das perdas do Novo Banco com os grandes devedores. A dívida atingiu, já em 2015, perto de 600 milhões de euros – crédito que o Fundo de Resolução não autorizou ser empacotado na venda da carteira de malparado designada Nata II.

A Ongoing faliu e Nuno Vasconcellos também, em Portugal. No Brasil está no portal IG. E é a partir do Brasil que Vasconcellos será esta quinta-feira ouvido na comissão parlamentar de inquérito.

600Ongoing
O Novo Banco chegou a registar uma dívida total de perto de 600 milhões, cujo valor foi totalmente imparizado pela instituição.

Foram feitas duas avaliações ao património do também presidente do Benfica, disse António Ramalho, CEO do Novo Banco, numa audição realizada esta quarta-feira no âmbito da comissão parlamentar de inquérito à instituição bancária. Primeiro, em 2016, encontrou-se o palheiro e mais tarde uma moradia e uma loja em Alverca do Ribatejo.

“Não quero dizer nada que prejudique as recuperações de crédito. O que vou dizer vou dizer com cautela. O aval do sr. Luís Filipe Vieira vale mais não executado do que executado”, disse o banqueiro aos deputados, salientando que a “recuperação de crédito é uma arte difícil”. E que “há quatro formas: mantendo as empresas vivas, mantendo empregos; há mandar para tribunal; e há vender créditos ou colocar os créditos sob gestão de terceiros. O que aconteceu é que temos várias coisas, várias formas conforme os casos das empresas.”

“É uma dívida muito ampla, demasiadamente ampla, a recuperação tem sido feita à base daquilo que os meus gestores fazem a cada momento”, disse Ramalho.

Questionado sobre a relação do CEO com Luís Filipe Vieira – cuja dívida ao Novo Banco alcançou os 400 milhões de euros -, o gestor garantiu que “não assisti a nenhum jogo de futebol a convite” do presidente do Benfica. “Conheço-o, naturalmente, como empresário, nada mais”, afirmou, acrescentando que não foi ele que geriu a situação da Promovalor, pois já estava “em curso” quando entrou no banco.

“Só tomei uma decisão, foi que depois de aprovada a reestruturação no conselho de crédito, eu sugeri, pela notoriedade que o caso ia ter, que fosse aprovado no conselho de administração”, rematou. Na sua audição, Vieira disse que não teve perdão de capital ou de juros.

400Promovalor
A dívida da Promovalor, o grupo de Luís Filipe Vieira, o também presidente do Benfica, chegou a alcançar 400 milhões de euros no Novo Banco.

| “Fomos enganados” no processo Moniz da Maia

António Ramalho, CEO do Novo Banco, afirma que o banco que lidera foi “enganado” no caso de Moniz da Maia. O gestor diz que foi uma “sucessão de catástrofes” neste processo junto de um grupo considerado um dos maiores devedores da instituição financeira. A dívida superou os 500 milhões de euros.

“O caso tem origem em ações, como sabe”, disse António Ramalho numa audição realizada esta quarta-feira, no âmbito da comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco. A informação era pouca, mas sabia-se que havia uma “estrutura empresarial desestruturada”. Ainda assim, o banco aceitou negociar, mas “fomos enganados com aumentos de capital”, referiu o presidente executivo do Novo Banco.

Questionado pela deputada bloquista Mariana Mortágua como é que o grupo conseguiu fazer os aumentos de capital à revelia, o gestor disse que a instituição financeira tentou anular as operações e que, juridicamente, foram feitas “na nossa opinião de forma fraudulenta”.

Na sua ida ao Parlamento, Bernardo Moniz da Maia recusou a acusação de “calote” de Mortágua. Segundo a deputada, o empresário aumentou o capital de empresas devedoras ao Novo Banco para diluir a posição do banco e “fugir à dívida”.

“Depois de ter falhado o processo de reestruturação, o doutor Moniz da Maia vai, à revelia do Novo Banco e em segredo, e faz um aumento de capital destas empresas para diluir a posição do Novo Banco. Nós conhecemos essa estratégia. Foi exatamente a estratégia que José Berardo usou para diluir a participação dos credores na Coleção Berardo. Esta estratégia tem outro nome: chama-se calote”, denunciou a deputada. O empresário recusou comparações com Berardo, dizendo que “foram aumentos de capital feitos por investidores externos” e que “o Novo Banco estava a par das coisas”.

500Sogema
Bernardo Moniz da Maia, administrador da Sogema, entrou nas contas do Novo Banco, em 2014, com uma dívida superior a 500 milhões de euros.

O Novo Banco diz ter executado todos os responsáveis ligados à Prebuild, de João Gama Leão, um dos grandes devedores do Novo Banco. Mas, revela António Ramalho, quando o fez já não encontrou nenhum dos automóveis de luxo que faziam parte da lista de ativos deste grupo. Uma gama de automóveis de serviço que ” me enerva”, disse o presidente executivo do banco.

Foi esta quarta-feira, na comissão parlamentar de inquérito, que António Ramalho, CEO do Novo Banco, foi confrontado com a dívida de João Gama Leão, do grupo Prebuild. Sobre este caso, o gestor começou por dizer que o nível de operações de “trade finance” praticados anteriormente com o empresário “eram muito maiores do que volume de negócios do cliente” e que, quando assim é, estamos na presença de “transferências de fundos sem qualquer base que assentem na realidade”.

O gestor confirmou ainda que a aquisição da Cerâmicas Aleluia se enquadrou numa lógica que existia de “aquisições de favor”, em que o empresário em causa ficava com ativos problemáticos do banco, mas a pedido. “Houve a perceção de que as aquisições feitas por favor estavam a ser aproveitadas para desnatar um pouco dos ativos existentes”, disse o banqueiro.

António Ramalho mostrou-se também indignado “quando vejo a lista de automóveis das empresas de Gama Leão. Com aquele tipo de automóveis de serviço. Eram Aston Martin e outros. Eu também gosto de carros, mas aquilo…”, frisou, concluindo que, o “banco executou toda a gente, mas já não estavam lá os carros”.

Na sua audição, Gama Leão, cujas dívidas chegam aos 300 milhões, atacou o Novo Banco. O fundador da Prebuild garantiu que a empresa só não sobreviveu porque o banco não esteve disponível para ajudar aquele que é hoje um dos seus “grandes devedores”. Um rótulo que disse aceitar, mas não a comparação com a “elite podre” que tem ido à comissão de inquérito, já que a sua dívida se deveu à expansão do grupo. “É mais fácil enterrar uma empresa e depois ir aos contribuintes pedir o dinheiro do que tratar um empresário em dificuldades”, acusou o empresário.

João Gama Leão é um dos maiores devedores do Novo Banco. A dívida do empresário, que também já foi ao Parlamento, supera os 300 milhões de euros.

João Gama Leão. “Não fui eu que peguei num assalto do BES e o transformei num problema público”

Sexta-feira, Maio 7th, 2021

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João Gama Leão. “Não fui eu que peguei num assalto do BES e o transformei num problema público”

“Não fui eu que peguei num assalto do BES e o transformei num problema público”. Deputados pasmados com respostas de um dos maiores devedores do Novo Banco.Mais uma audição a grandes devedores do Novo Banco e mais deputados de boca aberta perante as respostas. Na passada sexta-feira tinha sido Bernardo Moniz da Maia, esta quinta-feira João Gama Leão, do grupo Prebuild.

A Prebuild ficou a dever mais de 300 milhões de euros ao Novo Banco, mas João Gama Leão inverte os papéis e diz-se “vítima do Grupo Espírito Santo e do Novo Banco”. Mais à frente também diria que recusa o “papel de vítima”, mas pelo meio faz fortes ataques em todas as direções: aos políticos, às administrações do Novo Banco, à “elite empresarial podre” que tem passado pela Comissão de Inquérito, a Ricardo Salgado.

Primeiro contra as decisões políticas. “O facto de o Novo Banco estar hoje na saúde dos portugueses não é culpa minha. Pode ser de muita gente, mas minha não é de certeza. Não fui eu que peguei num assalto do BES e o transformei num problema público”, disse João Gama Leão aos deputados, ao ser confrontado com as injeções no banco liderado por António Ramalho.

Depois contra o próprio Novo Banco (e o seu dono, a Lone Star). “A verdade é que parece que o interesse desta comissão é defender o interesse público, mas não confundo o interesse público com o interesse do Novo Banco. O Novo Banco tem interesses que não são públicos, apesar de ter dinheiro público. Os interesses do Novo Banco não são públicos”, referiu.

E novamente contra os governos de Passos Coelho (PSD e CDS/PP) e António Costa (PS). “Não fui eu, de maneira nenhuma, que peguei num problema de larápios, mudei o rei e agora mando o problema para os contribuinte. Não fui eu com certeza”, sublinhou.

Então também se considera um dos lesados do BES, concluíram os deputados. “Eu não sou lesado, sou um grande devedor do Novo Banco, para que fique claro”, contrapôs João Gama Leão. Mas a minha dívida tem dois grandes itens: recuperação de empresas em dificuldades e apoio à exportação. (…) O que o meu grupo fazia era exportar, era um dos grandes exportadores deste país”, indicou.

Frases de João Gama Leão que levaram os deputados a classificar a suas justificações como “alucinantes”. “Se acha que o papel que eu venho aqui fazer é alucinante – porque digo que sou vítima do Grupo Espírito Santo – eu acrescento: sou vítima do Grupo Espírito Santo e sou vítima do Novo Banco”, disse o homem forte da Prebuild.

Mas também matizou. “Se eu me sinto lesado pelo Grupo Espírito Santo? Tenho pouco jeito para papel de vítima. Tudo aquilo que fiz eu assinei, sou responsável”. Portanto, “a dívida é astronómica, mas chega pelo Novo Banco não pela minha mão”. Uma audiência que promete.

E isso quer dizer que a responsabilidade é do Novo Banco? Não, clarifica João Gama Leão. “Eu não disse que o Novo Banco é o culpado da dívida. (…) Há dias o senhor presidente pediu a um senhor que cá estava [Moniz da Maia] que fosse afirmativo. A dívida ao Novo Banco é da minha responsabilidade, ok? Quanto à queda do meu grupo, aí é que já desconfio que seja da minha responsabilidade”.

E culpados por isso, há? Novo ataque: desta vez numa resposta que encaixa direitinho no caso de Bernardo Moniz da Maia e de outros devedores, que viram as suas dívidas serem reestruturadas ao longo de anos, apesar de estarem em incumprimento. “Em primeiro lugar: eu não trago dívidas de há não sei quantos anos renovadas com… fantasias. A minha dívida é muito recente. Segundo, quando caiu o Grupo Espírito Santo o meu default era zero. Não trazia dívidas penduradas do Novo Banco”.

João Gama Leão também alinhavou um terceiro argumento: ao longo de meses, ninguém no Novo Banco quis tratar do seu caso. “Quando se dá a resolução do BES, tentei de todas as maneiras contactar o Novo Banco. O banco cai em 3 de agosto e só consigo a primeira reunião com um responsável do Novo Banco em dezembro”, diz Gama Leão antes de soltar um riso nervoso.

Numa analogia com a saúde, Gama Leão diz que, antes da resolução do BES, o grupo Prebuild estava numa “situação frágil” devido às muitas frentes de investimento abertas. Na sequência, a Prebuild teve de fazer dois Processos Especiais de Revitalização (PER), devido às dificuldades.

“Em agosto começámos a sentir falta de ar, e o que o Novo Banco fez foi ‘vai para casa porque não precisa de medicação’. Ficar sem ar nas empresas é ficar sem liquidez. Aguentámos seis, sete ou 8 meses sem contacto com o nosso principal parceiro financeiro. E quando chego ao contacto, meses depois, (…) passámos da falta de oxigénio para a Unidade de Cuidados Intensivos”, explica o empresário.

Novo Banco fez “zero tentativas” de recuperar dívida da Prebuild

Sobre os PER, João Gama Leão aponta “má fé” por parte do banco. Porquê? “Depois de uma novela muito triste, cedemos as cerâmicas ao banco e foi aprovado o PER [Processo Especial de Revitalização]. À partida, quem aprova um PER está a pensar na recuperação de uma empresa. O que é que acontece a seguir? O Novo Banco pede a minha insolvência pessoal”.

E logo de seguida desmente Eduardo Stock da Cunha, o homem que antecedeu António Ramalho como CEO do Novo Banco. “Ao contrário do que o doutor Stock da Cunha [antigo presidente do Novo Banco] disse aqui, que eles fizeram várias tentativas de recuperar as grandes dívidas, as tentativas que o Novo Banco fez de recuperar a minha dívida foram zero”.

Para João Gama Leão, “mandar cartas para um grupo” como o seu, que é um grande devedor, e não haver a capacidade de se reunir “e tentar encontrar uma solução é no mínimo inédito”. “O meu grupo consegue uma reunião com o Novo Banco em dezembro de 2014 e sou recebido por um administrador que era Vítor Fernandes e também por Daniel Santos. O Novo Banco em momento algum se mostrou interessado em conversar sobre a Prebuild”, acusou.

De acordo com o empresário, a única intenção do Novo Banco era retomar a Aleluia Cerâmicas. “Essa reunião correu muito mal porque o doutor Vítor Fernandes teve uma postura muito agressiva, muito mal-educada, no sentido de ‘ou pagas ou vais para insolvência, mas tens aqui uma alternativa que é devolver-nos as cerâmicas’”. E foi isso que aconteceu.

“Quem não nasceu apelido Espírito Santo tem que ir à luta, porque senão não faz nada”

Sobre se a atividade do seu grupo era de risco, João Gama Leão disse que sim, mas com um “twist”. “Quem não nasceu apelido Espírito Santo tem que ir à luta, porque senão não faz nada”. Ou seja, “não há outra maneira de crescer sem risco”.

“Quanto a considerar que eu fazia apostas de risco, é uma frase boa mas, de facto, não reflete a realidade dos factos”, acrescentou, admitindo mais à frente que o seu grupo “tinha certamente uma posição bastante agressiva de crescimento, recuperação de empresas e expansão”.

João Gama Leão sublinhou que tinha e ainda tem “boas relações com a família Espírito Santo”, mas com “Ricardo Salgado não falava. “Posso dizer que me encontrei duas ou três vezes com ele, para tristeza do meu passado”, acrescentou o empresário.

No entanto, João Gama Leão descartou que tivesse investido “para ser beneficiado em financiamentos” pelo grupo.

“Lembro-me de um almoço que tive com o doutor Ricardo Salgado, e depois de eu já ter investido no grupo Espírito Santo – se não me falha na ESI [Espírito Santo International] – e sentou-me à cabeceira da mesa e disse-me que a família nunca esquece quem os ajuda”, contou.

Admitindo que “hoje pode parecer ridículo”, Gama Leão referiu que “ter o doutor Ricardo Salgado a agradecer” o investimento foi “dos momentos mais altos” da sua carreira.

“Quanto a isso resultar em benefícios no banco, acho que é fácil mostrar que se há coisa que não fui foi beneficiado”, disse o líder da Prebuild. Mas João Gama Leão fez questão de separar a família Espírito Santo de Ricardo Salgado, considerando incorreto “resumir demasiado aquilo que é a história daquela família” ao antigo líder do BES.

João Gama Leão era um dos “devedores” que os serviços do Parlamento estavam a ter dificuldades em contactar, por estar ausente a residir no Brasil. A Prebuild – ligada ao setor da construção – caiu em 2019, com dívidas de mais de 300 milhões de euros.

“Aceito o rótulo de grande devedor. Eu não aceito é que me comparem com esta elite podre que tem vindo cá, isso é que eu não aceito. Essa gente endividou-se para comprar ações, para fazer tudo, para manipular o mercado, para servir o doutor Ricardo Salgado”, referiu.

A Prebuild acabou por gerar prejuízos adicionais no Novo Banco e foi incluída no mecanismo de proteção dos créditos de alto risco cujas perdas dão direito a pedidos de capital ao Fundo de Resolução.

Novo Banco: C2 Capital Partners garante que vai ser ouvida por gerir fundo que adquiriu créditos

Domingo, Abril 18th, 2021

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Dinheiro Vivo

Luís Filipe Vieira, Nuno Vasconcellos ou Bernardo Moniz da Maia são alguns nomes que a comissão de inquérito ao Novo Banco deverá ouvir na última semana deste mês, arrancando um conjunto de audições aos grandes devedores ao banco.

Aparticipação na comissão de inquérito ao Novo Banco do Presidente do Conselho de Administração da C2 Capital Partners prende-se “em exclusivo” com o facto desta empresa gerir um fundo que adquiriu créditos ao banco, garante a sociedade.

Num esclarecimento à Lusa, a empresa presidida por Nuno Gaioso Ribeiro afirma que “a eventual participação do representante dessa sociedade gestora na CPI [comissão parlamentar de inquérito] do Novo Banco relacionar-se-á, em exclusivo, com o facto desta sociedade ter sob gestão um fundo de investimento alternativo especializado (FIAE), registado na CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários], que adquiriu créditos ao Novo Banco”.

Nuno Gaioso Ribeiro está entre os empresários que deverão ser ouvidos no final do mês, no parlamento, no âmbito das audições aos grandes devedores, na comissão de inquérito ao Novo Banco, avançou hoje a Lusa, indicando que também Luís Filipe Vieira, da Promovalor (e presidente do Benfica) vai ser chamado.

De acordo com a C2 Capital Partners, Nuno Gaioso Ribeiro participará na audição “exclusivamente como sociedade gestora de um fundo que adquiriu os créditos ao Novo Banco sobre o devedor mencionado”, ou seja, sobre a Promovalor, liderada por Luís Filipe Vieira, explicou à Lusa fonte oficial da empresa.

A sociedade gestora “cumpre e sempre cumpriu todas as suas obrigações de toda a espécie e natureza, não estando nem nunca tendo estado em incumprimento perante qualquer entidade”, assegura.

Luís Filipe Vieira, Nuno Vasconcellos ou Bernardo Moniz da Maia são alguns nomes que a comissão de inquérito ao Novo Banco deverá ouvir na última semana deste mês, arrancando um conjunto de audições aos grandes devedores ao banco.

“Na última semana de abril começarão a ser ouvidos os grandes devedores do Novo Banco”, adiantou à agência Lusa Fernando Negrão, presidente da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.

Entre os nomes a ser ouvidos estão Luís Filipe Vieira (Promovalor) e Nuno Gaioso Ribeiro (C2 Capital Partners), Nuno Vasconcellos (Ongoing), João Gama Leão (Prebuild) e Bernardo Moniz da Maia.

“Algumas destas pessoas já foram contactadas e demonstraram total disponibilidade. Já com outros o contacto está a ser difícil, mas contamos que será levado a bom porto”, disse ainda o social-democrata Fernando Negrão à Lusa.

Entre os grandes devedores do Novo Banco encontram-se a Martifer, o construtor José Guilherme, o empresário José Berardo ou ainda a Promovalor, liderada pelo presidente do Benfica Luís Filipe Vieira.

 

Novo Banco não seguiu alerta para processar grandes devedores por “gestão danosa”

Quarta-feira, Abril 14th, 2021

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Público

O aviso foi feito pela Comissão de Acompanhamento e consta da auditoria da Deloitte. Foram identificados casos de clientes suspeitos de boicotar “qualquer hipótese de recuperação de créditos” tóxicos. António Ramalho decidiu avançar com a venda da carteira em que estes créditos estavam incluídos.

maior carteira de activos problemáticos de sempre em Portugal foi vendida com alguns créditos em que se registaram “perdas enormes” para o Novo Banco, com casos de alegada “gestão danosa” por parte dos grandes devedores envolvidos, suspeitos de práticas de “subtracção dolosa de activos” e “flagrante má-fé negocial”. A gestão do Novo Banco foi avisada e aconselhada a “iniciar processos-crime” ou “acções de responsabilidade cível” contra estes devedores. No entanto, concretizou a venda sem o fazer. A operação chama-se Nata II e gerou perdas de 80 milhões para o Fundo de Resolução.

O cenário é descrito na auditoria da Deloitte conhecida na semana passada, a partir de um alerta da Comissão de Acompanhamento (que avalia as decisões de António Ramalho no recurso à almofada de 3,89 mil milhões de euros criada para acompanhar a venda ao Lone Star). Em causa está um parecer deste órgão que dá conta da “existência de casos de perdas enormes para o Novo Banco devidas a situações de gestão danosa, de subtracção dolosa de activos do património do devedor para dificultar qualquer hipótese de recuperação dos créditos, de flagrante má-fé negocial”.

O parecer explicava ainda que, nestes créditos, “no caso de existirem factores claramente indiciadores de comportamentos ou condutas ilícitas com o propósito de prejudicar o Novo Banco, este deve considerar a hipótese de iniciar processos-crime ou acções de responsabilidade cível contra os autores de tais actos e condutas que levaram a tão pesados prejuízos na instituição”.

Em causa está a operação Nata II, que envolveu os grandes devedores não só do Novo Banco, mas de todo o sistema bancário, com nomes conhecidos como a Ongoing, Joaquim Oliveira, Sogema, de Moniz da Maia, Prebuild, entre muitos outros. A carteira estava avaliada em três mil milhões, foi sendo sucessivamente reduzida com a intervenção do Fundo de Resolução, tendo sido excluídos créditos de alguns destes clientes famosos. Acabou vendida por 157 milhões de euros, com um desconto de 90% face ao valor bruto da carteira (34% face ao valor líquido), uma perda de cerca de 80 milhões coberta pela almofada de dinheiro público.

No seguimento do alerta da Comissão de Acompanhamento, o Fundo de Resolução, explica a Deloitte, solicitou por carta enviada ao Novo Banco que este “se pronunciasse e procedesse à necessária averiguação relativamente a este”. A auditora acrescentou que “não foram realizadas comunicações formais de resposta ao Fundo de Resolução neste contexto”.

Sobre este tema, o Novo Banco referiu aos auditores que “foi realizado um follow-up desta matéria com a Comissão de Acompanhamento”. Mais especificamente, a gestão de António Ramalho disse estar limitada pelo compromisso que tinha assumido no contrato de compra e venda (CVV) assinado com a entidade compradora, uma sociedade de gestão de activos do grupo americano Davidson Kempner.

Assim, diz a Deloitte, “de acordo com o Novo Banco, o CCV não previa a possibilidade de o Novo Banco interpor processos-crime e/ou acções de responsabilidade cível relativos a exposições alienadas na carteira Nata II após o CCV, passando tal decisão para a esfera do comprador”. Para além disso, os “resultados de processos judiciais sobre exposições incluídas na transacção e que estivessem em curso à data da alienação seriam integralmente devidos ao comprador, sendo este um factor ponderado e reflectido no valor proposto de compra”, deixando entender que, se tivesse seguido a recomendação da Comissão de Acompanhamento, teria recebido menos dinheiro pela venda do pacote de créditos.

Ao jornal digital Eco, que noticiou nesta terça-feira o alerta divulgado na auditoria da Deloitte, o Novo Banco explicou que “o dever fiduciário do banco é recuperar crédito, que é assunto cível e não criminal” e que a venda de créditos em pacote é uma solução de recuperação “mais eficiente” do que através do recurso ao tribunal.

Vendas em pacote penalizam banco

Sobre este negócio, a Comissão de Acompanhamento também fez observações críticas acerca dos créditos vendidos em pacote, em particular sobre a inclusão de credores que deviam ter ficado de fora. E destaca ainda que, dada a pressão de fechar a operação, o Novo Banco foi prejudicado.

Assim, segundo um parecer desta comissão, datado de 18 de Outubro – para uma operação que tinha de fechar a 31 de Outubro –, “caso a venda da carteira se tivesse prolongado por mais tempo, outras situações de exclusão poderiam ter sido concretizadas com benefício para o Novo Banco”. Isto dado ter “sido demonstrado interesse por alguns investidores em antecipar negociações bilaterais por via da sua inclusão no perímetro da carteira”.

Sobre as referidas exclusões, este órgão defendeu que, “desde que não resultasse num decréscimo do valor da carteira superior a 20% do preço acordado no CCV, o Novo Banco poderia ainda excluir posições credoras globais sobre certos grupos”. E, admitindo “a complexidade e custos inerentes aos esforços necessários a uma recuperação parcial da exposição”, sugeriu que fosse analisada a possibilidade de exclusão de alguns casos, ainda que tal constituísse uma diluição do objectivo de rápida redução do stock de NPL [crédito malparado] do Novo Banco”.

Na mira da comissão estavam 22 exemplos, entre casos em que o valor contabilístico era substancialmente superior ao preço oferecido, casos em que os preços oferecidos pelos dois investidores na fase de ofertas vinculativas foram muito díspares entre si, ou casos em que os valores oferecidos pelo comprador escolhido poderiam ser inferiores aos valores económicos de anteriores propostas de venda ou de reestruturação de créditos.

No final do processo, foram excluídos seis créditos, por indicação do Fundo de Resolução, o “limite máximo de grupos económicos permitido ao abrigo do CCV assinado com o comprador, sem dar lugar a compensações”, que representaram uma redução dos 51 iniciais para os finais 45.

Esta questão da venda em pacote de créditos foi levantada por João Costa Pinto, antigo vice-governador do Banco de Portugal, quando no Parlamento disse que, “quando se avança para vendas apressadas, tudo muda. As perdas de valor são imediatas. Quando se decide agregar em pacote créditos em que se misturam alhos e bugalhos, coisas boas e más, é receita para o desastre”.

O Novo Banco respondeu a estas acusações numa carta aos deputados, em que compilou a lista das transacções comparáveis à Nata II realizadas na Península Ibérica nos últimos três anos, “que somam 173 operações realizadas por 11 instituições portuguesas e 44 por instituições estrangeiras”. O objectivo, defendeu António Ramalho, foi “evitar a valorização de opiniões imprecisas e totalmente desfasadas da realidade”, num contexto em que a “boa gestão bancária aconselha, desde há muito, a venda rápida de activos não produtivos de forma a não onerar o balanço dos bancos”.

Fundo de Resolução pediu à Deloitte para acrescentar 22 devedores do Novo Banco à amostra

Sábado, Setembro 12th, 2020

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Económico

A maioria das perdas nas operações de créditos resultam de imparidades que tiveram de ser constituídas. O total perdas em análise foi de 3.834 milhões de euros, a amostra da Deloitte abarcou 121 entidades e perdas de 2.320 milhões.

“O Fundo de Resolução indicou-nos 47 devedores que na sua perspetiva deviam ser incluídos na amostra”, revela a Deloitte no relatório da auditoria aos atos de gestão do Novo Banco entre 2000 e 2018. Destes devedores, 25 já estavam incluídos na amostra que a auditora definiu, pelo que a seleção do Fundo de Resolução originou 22 devedores adicionais a incluir na amostra.

Estes 22 devedores foram responsáveis por perdas acumuladas de 30 milhões, entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018, graças às imparidades que foram constituídas.

No mesmo período, os 50 devedores abrangidos pelo CCA geraram perdas de 1.495 milhões, também graças essencialmente ao volume de imparidades constituídas.

Os 44 devedores identificados como “Grande posição financeira deram perdas de 573 milhões de euros ao Novo Banco.

Para cada um dos devedores selecionados foram analisadas as operações com perda líquida acumulada mais relevante entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018.

Segundo o documento, os devedores identificados pelo Mecanismo de Capitalização Contingente foram 50 e o número de operações 103. Os devedores identificados como “Grande posição financeira” eram 44 e as operações destes devedores 64. O Fundo de Resolução acrescentou 22 devedores e 28 operações.

“Para além das operações selecionadas, foram também analisadas as operações, que lhes deram origem, o que na generalidade dos casos implicou a análise de um número adicional significativo de operações de crédito adicionais”, diz a Deloitte.

Os três workstream, dividem-se em operações de crédito; subsidiárias e associadas; e outros ativos.

No workstream 1 – operações de crédito estão incluídos 50 devedores individuais com maior exposição líquida em 30 de junho de 2016, no que se refere a ativos abrangidos pelo Acordo de Capitalização Contingente (CCA). Mas também mais 50 devedores individuais identificados pelo Novo Banco como “Grande posição financeira”, com referência a 31 de dezembro de 2018, que geraram as maiores perdas líquidas de reversões e reposições entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018. Mas destes últimos 50, seis foram incluídos na amostra dos Workstreams 2 e 3.

Há ainda no workstream 1 os devedores que foram indicados pelo Fundo de Resolução.

Conforme definido, a amostra deveria assegurar uma percentagem de cobertura mínima de 50% sobre o total das perdas líquidas relativas a crédito concedido, registadas entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018.

O total perdas em análise no workstream 1 (operações de crédito) foi de 3.834 milhões de euros entre 2014 (377 milhões); 2015 (748 milhões); 2016 (679 milhões); 2017 (1.305 milhões); e 2018 (504 milhões). A isto acresce 221 milhões de custos com o impacto da transição para as regras contabilísticas IFRS 9.

Como se sabe a amostra da Deloitte agrupa devedores que deram 2.320 milhões de euros de perdas e essas representam 61% do total de perdas com créditos identificadas.

A amostra selecionada pela Deloitte inclui 98 devedores que estão abrangidos pelo CCA. No período entre 1 de julho de 2016 e 31 de dezembro de 2018 as “perdas CCA” associadas a esses devedores ascenderam a 1.238 milhões de euros, representando cerca de 54% do total de perdas imputadas ao CCA nesse período.

“As rubricas selecionadas para análise no Workstream 1 incluem imparidade de crédito, provisões para garantias e compromissos e resultados de alienação de outros ativos – crédito a clientes”, explica a Deloitte. Os resultados de alienações de créditos (após imparidade) totalizam 260 milhões de euros no período (7% do total), concentrados essencialmente no ano de 2018 (214 milhões de euros, maioritariamente resultantes do Projeto Nata).

 

Imparidades dispararam no último trimestre de 2017, após venda à Lone Star

O ano de 2017 foi aquele em que se registaram perdas mais significativas, representando 34% do total do período. “De referir que uma parte relevante das perdas nesse ano foram registadas no último trimestre”, isto é depois da venda de 75% do Novo Banco ao Lone Star.  “O aumento de imparidade e provisões em 2017 esteve essencialmente relacionada com um conjunto de eventos ocorridos no decorrer desse ano em alguns dos principais grupos económicos a que o Banco se encontrava exposto”, justificou o banco liderado por António Ramalho.

Estas perdas foram assim essencialmente por imparidades para crédito. “Uma parte relevante dos devedores para os quais foram registados reforços de imparidade em 2017 e 2018 apresentava já incumprimento ou outros triggers de risco em períodos anteriores”, ressalva a auditora.

“As perdas registadas referem-se maioritariamente ao segmento de empresas, verificando-se uma concentração elevada num conjunto de grupos económicos. A título ilustrativo, verifica-se que cerca de 70% das perdas totais no período para a amostra analisada foram registadas para 14 grupos económicos”, diz também a Deloitte.

É também reportado, no que se refere às operações de crédito que houve uma redução de 40% da exposição bruta dos devedores incluídos na amostra, passando de um valor bruto de 7.113 milhões de euros em 31 de dezembro de 2014 para 4.214 milhões de euros em 31 de dezembro de 2018. Esta redução é parcialmente justificada por um efeito relevante de utilizações de imparidade (write-offs) e alienações de ativos. A que acresce o registo de montantes relevantes de imparidades para estes devedores.

“De salientar que em 2014 e 2015 existiram aumentos de exposições patrimoniais de cerca de 430 milhões relativos a responsabilidades assumidas em operações de derivados contratadas em data anterior a 4 de agosto de 2014 e de conversão de papel comercial em crédito concedido”, avança também a análise.

 

Operações de desinvestimento em subsidiárias e associadas deram perdas acumuladas de 605 milhões

No workstream 2 – subsidiárias e associadas, a seleção da amostra de entidades participadas pelo Novo Banco a analisar baseou-se em dois critérios cumulativos. Por um lado o investimento bruto superior a 20 milhões de euros. Isto é, o valor bruto investido acumulado pelo Novo Banco na entidade participada superior a 20 milhões de euros. Por outro o investimento ou desinvestimento entre 4 de agosto de 2014 e 31 de agosto de 2018 e uma operação de investimento ou desinvestimento entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018.

“Adicionalmente, e depois de cumpridos os dois critérios referidos, as perdas líquidas do conjunto das entidades participadas selecionadas deveriam representar pelo menos 50% das perdas verificadas, entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018, relativas a entidades participadas”, diz a Deloitte.

Foram selecionadas 26 entidades participadas para integrarem a amostra. Foi integrada a BES Vida/GNB Vida na amostra de entidades participadas. Mas também a Tranquilidade, a Herdade dos Pinheirinhos, a propriedade Greenwoods, o Moza Banco, entre outros.

O total de perdas em análise no workstream 2, entre 2014 e 2018, foram de 605 milhões e a amostra da Deloitte abarcou perdas de 488 milhões.

Finalmente o workstream 3 – outros ativos abrangeu os 25 imóveis que geraram as maiores perdas líquidas de reversões e reposições nascontas consolidadas do Novo Banco entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018; e os 25 títulos que geraram as maiores perdas líquidas de reversões e reposições nas contas consolidadas do Novo Banco entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018.

Adicionalmente, estava previsto ainda a seleção de operações de alienação agregada de imóveis e/ou crédito a clientes realizadas entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018, que apresentam um valor global de venda superior a 50 milhões de euros.

“Selecionámos os 25 imóveis que geraram as maiores perdas líquidas nas contas consolidadas do Novo Banco entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018” e “foi selecionada a amostra dos 25 títulos que geraram as maiores perdas líquidas nas contas consolidadas do Novo Banco entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018”, explica a Deloitte.

O total de perdas em análise no workstream 3 (outros ativos), entre 2014 e 2018, foram de 1.745 milhões.

Na amostra só estão perdas de 1.233 milhões repartidas entre imóveis, fundos de reestruturação, Valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis (VMOC), instrumentos de capital e fundos de investimento; e aplicações em instituições de crédito.

Parte relevante da metodologia de seleção da amostra nos vários Workstreams “foi direcionada para as operações ou ativos que registaram as maiores perdas entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018. Desta forma, a amostra selecionada não é representativa de todas as operações ou ativos do Novo Banco”, explica a Deloitte.

 

Dificuldade no acesso a informação das operações do tempo do BES reportada pela Deloitte

A Deloitte deparou-se com algumas dificuldades na análise. Entre as principais limitações está a falta de informação de alguns créditos concedidos antes da resolução. Por exemplo as carteiras de crédito de 31 de dezembro de 2000 e 2001 não foram disponibilizadas; as carteiras de crédito de 31 de dezembro de 2002 a 2008 apenas incluem informação das contas individuais do Banco Espírito Santo (sede); as carteiras de crédito de 31 de dezembro de 2002 a 2007 não incluem informação relativamente a juros corridos;  a carteira de crédito de 31 de dezembro de 2002 não inclui informação relativamente a crédito vencido; as carteiras de crédito de 31 de dezembro de 2002 a 2007 não incluem informação relativamente a responsabilidades extrapatrimoniais; as carteiras de crédito de 31 de dezembro de 2002 e 2003 não incluem informação relativamente a imparidade e provisões; as carteiras de crédito de 31 de dezembro de 2009 a 2013 não incluem informação relativamente a imparidade e provisões para as entidades Sucursal de Londres, da Sucursal de Cayman e da Espírito Santo, plc. (Irlanda). Para além que o banco não preparou a reconciliação contabilística dos saldos extrapatrimoniais e respetiva provisão para garantias e compromissos apresentados nas carteiras de crédito obtidas para o período compreendido entre 31 de dezembro de 2009 e 2018.

A Deloitte diz ainda que o detalhe das perdas disponibilizado para a sucursal de Londres, apenas inclui a identificação do devedor (sem desagregação por operação).

A Deloitte diz ainda que o Novo Banco não dispõe de forma automatizada de informação sistematizada sobre o histórico das operações de crédito originadas no BES que deram origem aos ativos selecionados.

“A identificação dessas operações foi efetuada de forma manual, muitas vezes através da consulta da documentação disponibilizada relativamente aos ativos selecionados, pelo que para alguns dos ativos selecionados não nos foi possível identificar a totalidade das respetivas operações originadoras, nomeadamente as operações que foram originadas em datas anteriores a 4 de agosto de 2014”, diz a auditora.

O problema do prazo da auditoria também é mencionado no relatório. “De referir que o detalhe da rubrica “Resultados na alienação de outros ativos – Imóveis”, que representou perdas para o Novo Banco em 2016 de 20 milhões de euros apenas foi obtido na fase de conclusão do nosso trabalho. Esta situação fez com que não tivesse sido selecionado na amostra um imóvel vendido nesse ano que representou uma perda total para o Novo Banco de 4,7 milhões de euros”, diz a Deloitte que sugere que este imóvel poderá ser integrado no âmbito da Auditoria Especial que terá como referência o ano de 2019.

Grandes devedores geram perdas de 5,5 mil milhões ao Novo Banco

Sexta-feira, Setembro 4th, 2020

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Eco

Grandes devedores geram perdas de 5,5 mil milhões ao Novo Banco

De 36 no final de 2018, o Novo Banco passou a contar com 35 grandes devedores em situação de incumprimento no final do ano passado.

O Novo Banco terminou 2019 com 35 grandes devedores em situação de incumprimento, menos do que registava no final do ano anterior, de acordo com a informação agregada e anonimizada relativa a grandes posições financeiras do banco liderado por António Ramalho. Todos estes grandes devedores geraram uma perda de mais de 5,5 mil milhões de euros à instituição que resultou da resolução do Banco Espírito Santo (BES).

Todos os anos, em resultado da injeção de fundos públicos no Novo Banco através do Fundo de Resolução, o Banco de Portugal tem de revelar as grandes posições financeiras em situação de incumprimento. Se no final de 2018 eram 36 os grandes grupos económicos cujas dívidas ao Novo Banco eram superiores a 43,3 milhões de euros e estavam em incumprimento, na atualização agora feita o total desce.

De acordo com os dados apresentados pelo Banco de Portugal, havia, no final de 2019, a tabela com os grandes grupos económicos em falta perante o banco liderado por António Ramalho aponta para um total de 35.

Assim, de um ano para o outro, o Novo Banco viu a lista de grandes grupos em situação de incumprimento junto da instituição reduzir-se em apenas um. Contudo, o valor das perdas deu um salto: passou de 4,150 para 5.575 milhões de euros.

Fonte: Banco de Portugal

Há devedores que surgem com centenas de milhões de euros em falta perante o Novo Banco, mas também há muitos devedores, todos eles identificados por números, cujas perdas provocadas ao banco mais do que duplicaram neste período de 12 meses. O saldo negativo para o Novo Banco agravou-se em mais de 1.400 milhões de euros, sendo que o grande devedor continua a ser o mesmo.

O cliente “130”, que gerou uma perda de 2,9 mil milhões de euros ao Novo Banco, é o maior devedor. A identidade deste grande devedor, ao contrário dos restantes, é conhecida: é o BES Angola.

Estado protege grandes devedores do BES

Terça-feira, Junho 23rd, 2020

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Executive

O Estado deu ao Novo Banco (NB) um seguro de protecção contra os prejuízos registados nos créditos dos grandes devedores até ao montante de 3,89 mil milhões de euros, avança o “Correio da Manhã” (CM).

De acordo com o “CM”, o Acordo de Capitalização Contingente foi enviado pelo Fundo de Resolução à comissão parlamentar de Orçamento e Finanças. No entanto, devido ao sigilo bancário e à protecção de dados pessoais, o anexo com a lista dos nomes dos grandes devedores não deverá ser divulgado.

O “CM” escreve, contudo, que a divulgação da lista dos grandes devedores , permitirá avaliar «com profundidade» os termos em que o Banco Espírito Santo concedeu os créditos a esses clientes. Segundo o jornal, deverão contar na lista nomes como o do grupo empresarial de Joe Berardo e a antiga Ongoing, de Luís Vasconcelos.

Ainda de acordo com o jornal, o Estado poderá ter autorização da Comissão Europeia (CE) para proceder à nacionalização do NB, através da chamada cláusula de backstop, que consta do acordo celebrado entre o Estado e a CE no âmbito da venda do NB.

Há mais três grandes devedores no Novo Banco e perdas com créditos sobem 608 milhões

Quarta-feira, Setembro 4th, 2019

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Económico

Há mais três devedores elegíveis em dezembro de 2018 que geraram perdas de mais 608 milhões de euros face a junho de 2018. “Ocorrência de mais de três situações de incumprimento”, explica o Banco de Portugal.

O Banco de Portugal acaba de atualizar a informação agregada e anonimizada relativa a grandes posições financeiras do Novo Banco, relativas a 31 de dezembro. A última informação que tinha sido divulgada no âmbito do processo dos grandes devedores aos bancos que receberam ajuda pública, referia-se a 30 de junho.

O Banco de Portugal disponibiliza “em cumprimento da Lei n.º 15/2019, de 12 de fevereiro de 2019, informação agregada e anonimizada sobre as grandes posições financeiras do Novo Banco, com referência a 31/12/2018, na sequência do pagamento efetuado pelo Fundo de Resolução ao Novo Banco, no dia 6 de maio de 2019, ao abrigo e em cumprimento do disposto no Acordo de Capitalização Contingente, celebrado a 18 de outubro de 2017”, lê-se no comunicado do supervisor.

BES Angola gera perdas de 374 milhões ao Novo Banco em 31 de dezembro

Tal como já era evidente no relatório dos grandes devedores enviado pelo Banco de Portugal aos deputados, em julho, o BES Angola é o grande devedor do Novo Banco responsável por perdas de 2.941 milhões de euros. Esse é o “cliente 130” ao qual o Novo Banco tinha, a 31 de dezembro, uma exposição de 374 milhões de euros, abaixo da exposição ao BES Angola reportada a 30 de junho de 2018 que era de 546 milhões de euros. Ambos abaixo da exposição original de 3.328 milhões de euros.

O prejuízo com o BES Angola justifica a maioria das perdas com grandes devedores que somam 3.025 milhões de euros a 31 de dezembro (eram 3.542 milhões de euros a 30 de junho de 2018, data em que recebeu ajuda do Estado através do Fundo de Resolução (cerca de 792 milhões de euros).

Recorde-se que o BES Angola passou a Banco Económico onde o Novo Banco é acionista minoritário com 9,72%.

A data de referência de 31 de dezembro de 2018 é a data em que se reporta o apuramento do montante dos fundos públicos disponibilizados em 6 de maio de 2019, sustentado em contas do banco que foram objeto de auditoria e certificação legal. O Novo Banco recebeu este ano do Fundo de Resolução 1.049 milhões de euros, ao abrigo do mecanismo de capital contingente, relativo aos prejuízos de 2018.

Mais grandes devedores e mais perdas

Outra alteração que se destaca é o aumento de exposição a grandes devedores. Pois se no relatório referente a 30 de junho de 2018, eram 33 os grandes grupos económicos cujas dívidas ao Novo Banco eram superiores a 43,3 milhões de euros. Tendo estes 33 devedores gerado perdas de 3.542 milhões de euros em junho do ano passado. Seis meses depois, a 31 de dezembro de 2018, são agora 36 os grupos económicos em incumprimento no Novo Banco, representando uma perda de 4.150 milhões (em perdas decorrentes de crédito malparad0). Logo mais 608 milhões de euros do que em 30 de junho de 2018.

Este é o somatório da rubrica “outras perdas”, que se refere ao valor agregado (dos devedores pertencentes a um mesmo grupo económico) relativas a medidas de reestruturação, ao desreconhecimento de exposições (por perdão, write-off, cessão a terceiros com desconto, ou medida similar) e à execução de garantias. Inclui perdas estimadas (para além da imparidade, reportada e perdas realizadas/definitivas registadas nos 5 anos anteriores à data de referência).

Mas há ainda a exposição a participações em instrumentos de capital (participações financeiras) e juntando as duas  – as perdas com grandes devedores e as perdas em participações financeiras – o banco liderado por António Ramalho tinha, em 31 de dezembro, uma exposição (perda) superior  a 5,2 mil milhões de euros. Um valor que compara com os 4,4 mil milhões de euros registados até junho desse mesmo ano. Isto é,mais 750 milhões de euros.

As perdas com participações financeiras somam em dezembro 2,2 mil milhões.

O reporte integra grupos económicos face aos quais a exposição inicial foi originada na esfera do Banco Espírito Santo mas que não integraram o reporte anterior porque só a 31/12/2018 passaram a cumprir os critérios previstos na Lei, designadamente no que se refere à ocorrência de mais de três situações de incumprimento, explica o Banco de Portugal.

Para efeitos da recolha da informação relevante foram seguidas as opções técnicas e metodológicas adotadas no âmbito da preparação do relatório extraordinário elaborado pelo Banco de Portugal.

Em causa estão posições financeiras de montante agregado superior a 5 milhões de euros, desde que igual ou superior a 1% do valor total dos fundos públicos mobilizados para essa instituição. No caso do Novo Banco o limite mínimo de elegibilidade são os 43,3 milhões de euros.

“A informação sobre as grandes posições financeiras é apresentada de forma agregada numa perspetiva de grupo económico, podendo incluir diferentes devedores desde que incluídos no mesmo grupo. Para efeitos do presente reporte, foram consideradas as operações que preenchem os critérios de elegibilidade previstos na Lei, de valor igual ou superior a 43,3 milhões”, explica o supervisor.

Os dados agregados e anonimizados incluem, para cada grupo económico, o valor da exposição inicial, o capital reembolsado, o montante da exposição à data de referência, o valor das imparidades e outras perdas registadas nos cinco anos anteriores, os tipos de garantias associadas e a existência ou não de ações e medidas de recuperação.

O Novo Banco apresenta, para além de “outras perdas” com grandes devedores de 4,15 mil milhões a 31 de dezembro de 2018, tinha ainda 2,179 mil milhões de euros de  imparidades para crédito na mesma data.

De salientar que as perdas por imparidades correspondem a uma estimativa de perdas à data de referência, calculadas de acordo com o normativo contabilístico aplicável, as quais são passíveis de reversão ou de aumento, caso se verifique, respetivamente uma melhoria ou deterioração das condições financeiras do devedor, lê-se no relatório.