Citamos
á 128 grandes responsáveis pelas perdas registadas em oito banco nacionais que necessitaram de ser ajudados pelo Tesouro português. Entre eles, encontram-se o antigo BES Angola e o Estado grego, mas há muitos outros. Contudo, ainda não são conhecidos. A divulgação da lista dos grandes devedores foi feita sem identificação. Mas há algumas conclusões a tirar.
O Banco de Portugal publicou esta terça-feira a “informação agregada e anonimizada” sobre os grandes devedores. Foi por conta da lei da transparência na banca (Lei n.º15/2019), que obriga a que, além do documento completo com toda a informação sobre os grandes devedores dos bancos ajudados pelo Estado entregue confidencialmente no Parlamento, seja também disponibilizada publicamente uma informação agregada e com dados, mas sem identificação.
E é isso que se pode tirar do documento de 30 páginas: Há 16 quadros, cada um deles relativo ao momento em que foi disponibilizado dinheiro estatal para auxiliar cada um dos oito bancos. Estão em causa a CGD (seis quadros, um para cada data, a última em 2017), BES/Novo Banco (quatro, a última em 2018), Banif (duas, a última em 2015), BCP (um, em 2012), BPI (um, em 2012), BPN (um, em 2012) e BPP (um, em 2010).
Para cada um dos bancos, aparece um código – o grupo cliente devedor anónimo – bem como quanto é que já tinham feito o banco perder nos anos antes da data da ajuda estatal. Os clientes não aparecem com nome. Surgem códigos – e é o mesmo código se aquele devedor aparecer em diferentes bancos. São 130 códigos. Mas o 020 e o 043 não surgem na listagem, pelo que descem para 128 os grandes devedores. E estes grandes devedores correspondem a grupos económicos: podem estar aí integradas diferentes entidades.
Além disso, os devedores são devedores em diferentes momentos consoante o banco, daí que não se possam fazer somas fáceis. Isto porque cada quadro é uma fotografia no momento em que o banco recebeu auxílio estatal. E os bancos precisaram de ajuda em datas distintas.
BES ANGOLA É O 130
Mas conseguem-se tirar conclusões. Desde logo que o Novo Banco tem a maior perda com um só grupo. Como noticiou o Expresso, trata-se do BES Angola, de que Álvaro Sobrinho (na foto) foi o principal líder.
O Novo Banco tinha já perdido com a exposição ao BES Angola, depois transformado em Banco Económico, um total de 2,9 mil milhões em 2018 (quando usou dinheiro do Fundo de Resolução já após a venda à Lone Star). E havia ainda uma exposição de 546 milhões a este ativo – não se sabendo se há alguma imparidade associada.
Ao todo, as perdas já registadas pelo Novo Banco com os seus 33 maiores devedores ascendiam, em junho de 2018, a 3,5 mil milhões de euros, pelo que o BES Angola foi um grande responsável. A exposição do banco liderado por António Ramalho a este grupo de clientes era, na mesma data, outros 3,5 mil milhões.
Na Caixa Geral de Depósitos, os grandes devedores, em junho de 2017, acumulavam perdas de 1,3 mil milhões de euros. Eram 16 grandes devedores, a que se juntavam ainda 12 participações financeiras com perdas de 576 milhões. Ao todo, eram 1,9 mil milhões de euros de perdas nestes dois conjuntos.
112? QUANDO A GRÉCIA ESTEVE EM EMERGÊNCIA
Há um devedor que se destaca nos anos de 2012. É o código 112. A identificação do número é revelado através de um comunicado de reação do BPI, enviado às redacções logo após a divulgação do documento pelo Banco de Portugal.
“Este montante agregado inclui as perdas com os títulos de dívida pública grega que, à data de referência (2011), ascendiam a 408 milhões de euros, representando 80% do total de perdas reportadas”, indica o banco liderado por Pablo Forero. Ao todo, as perdas registadas com grandes devedores do BPI eram de 508 milhões.
Ora, sendo títulos de dívida emitidos pela Grécia, quer isto dizer que o devedor foi o Estado grego. Este mesmo 112 surge no BCP. Perdas de 358 milhões foram as que o banco agora presidido por Miguel Maya já tinha registado para esta exposição naquele ano de 2012, quando também recebeu ajuda estatal.
No caso do BCP, o peso dos grandes devedores e das participações financeiras era superior, com perdas totais de 2 mil milhões à data.
De qualquer forma, ambos reembolsaram os empréstimos do Estado (1,5 mil milhões, no BPI, 3 mil milhões, no BCP) – e ambos gostam de referir que o fizeram reembolsando tudo e pagando juros e comissões.
DOIS MAIORES DO BANIF SEM QUALQUER GARANTIA
No caso do Banif, alvo de medida de resolução em 2015, eram dois os grandes devedores a 30 de junho, considerados de acordo com os critérios legais. A um deles o banco tinha emprestados 36 milhões, a outro 119 milhões, resultando numa exposição total de 155 milhões.
Deste montante, 130 milhões estavam, naquela data, cobertos por imparidades, ou seja, havia já o reconhecimento de que dificilmente seriam recuperados.
Um dado que se pode retirar é que nenhum destes créditos tinha associado qualquer tipo de garantia.
BPN E BPP SEM DEVEDORES RELEVANTES
Nacionalizado em 2008, só em 2012 é que entram dinheiros públicos efectivos no BPN. E é por isso que a fotografia tirada neste relatório tem como referência o final daquele ano. Neste caso, o banco tinha uma exposição de 2,4 mil milhões de euros a sete devedores, havendo imparidades constituídas de 1,5 mil milhões – e perdas incorridas de apenas 11 milhões.
Segundo os cálculos definidos pela lei, o BPP, que recebeu um auxílio de 450 milhões (o mais reduzido em todos estes bancos), tem grandes devedores quando as exposições são superiores a 5 milhões. São dois: um a que o banco estava exposto precisamente com 5 milhões; e outro com 12 milhões.
Nenhum deles tinha causado perdas reais e efectivas em 2010, a data de referência. Mas ambos estavam sob imparidades, de 11 milhões, não se sabendo qual a divisão entre cada um.