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Ricardo Salgado pode livrar-se de pagar uma coima de 290 mil euros

Segunda-feira, Maio 24th, 2021

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Esquerda Net

Processo está retido no Tribunal da Relação há três meses por causa da defesa de Morais Pires. Reguladores e supervisores temem que a estratégia adotada pela defesa possa esgotar o tempo para pagar as coimas.

Há três meses que um dos vários processos de contraordenação a Ricardo Salgado está parado no Tribunal da Relação de Lisboa e mesmo que, entretanto, seja enviado para o tribunal inferior há um grande risco de que antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES) possa fugir ao pagamento de 290 mil correspondente a um dos processos do Banco de Portugal (BdP), segundo o jornal Expresso.(link is external)

O processo prescreve no dia 27 de junho e mesmo que seja acrescentado um tempo extra devido ao confinamento, é provável que se tenha que correr contra o tempo para que tudo seja resolvido dentro do prazo. Esta coima é uma das cinco que o BdP aplicou a antigos dirigentes do BES, onde está incluído o ex-braço direito de Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires.

Em 2017, Ricardo Salgado e Morais Pires foram sujeitos a várias coimas pelo BdP por violação das normas de prevenção de branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo. As coimas tinham um valor de 350 mil euros e 150 mil euros, respetivamente.

Em 2020, o Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (TCRS) condenou os dois ex-gestores do BES num valor de 290 mil euros a Ricardo Salgado e 100 mil euros a Morais Pires, tendo os arguidos recorrido para o Tribunal da Relação. A 19 de fevereiro deste ano, o acórdão do Tribunal de Relação julgou parcialmente procedente o recurso de Salgado, mas improcedente no que toca a Morais Pires.

Estes processos urgentes baixam à primeira instância em 10 dias, mas já passaram 3 meses. O Expresso questionou o Tribunal da Relação de Lisboa, que não quis “prestar qualquer declaração sobre o processo”, mas segundo informações recolhidas pelo jornal, o processo ainda não desceu por culpa da defesa de Morais Pires.

A estratégia da defesa tem passado por apresentar sucessivos incidentes processuais para assim fazer acabar o tempo permitido. A preocupação dos reguladores e supervisores é que esta situação pode ser “um espelho” para outros.

O BdP foi a primeira autoridade a finalizar os processos provenientes do BES. Foram finalizadas cinco contraordenações a Ricardo Salgado e já houve dois processos a transitar em julgado, o que quer dizer que a defesa não tem possibilidade de apresentar um recurso.

Ricardo Salgado foi condenado a pagar 3,7 milhões de euros por atos dolosos de gestão ruinosa e violação de normas de conflitos de interesse, sobretudo na questão do papel comercial do Grupo Espírito Santo vendido ao banco.

 

 

Banco de Portugal arrasa reestruturação da dívida de Vieira no Novo Banco

Quarta-feira, Maio 19th, 2021

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Eco

Banco de Portugal arrasa reestruturação da dívida de Vieira no Novo Banco

O Banco de Portugal defendeu, numa nota dos serviços consultada pelo ECO, que o plano do Novo Banco para as dívidas de Luís Filipe Vieira é “pouco realista” e tem “pouca aderência à realidade”.

Areestruturação da dívida do grupo de Luís Filipe Vieira no Novo Banco levantou muitas dúvidas ao Banco de Portugal em 2018. Ainda assim, a operação avançou sem a oposição do Fundo de Resolução porque, quando foi chamado a pronunciar-se, no âmbito do acordo de capital contingente negociado com a venda ao Lone Star, já o processo estava em curso (havia iniciado em 2016) e o banco tinha assumido compromissos com a Promovalor, pelo que existiam riscos de reputação e de indemnizações caso tivesse “chumbado” a operação. Para esclarecer as questões levantadas pelos serviços do Banco de Portugal, foi pedida uma auditoria independente a este acordo para avaliar os seus méritos e quais as perspetivas de recuperação das dívidas do presidente do BenficaEste trabalho está prestes a ser concluído pela BDO.

Entre outras falhas detetadas, os técnicos do Banco de Portugal concluíram que o plano de negócios do fundo de investimento alternativo especial (FIAE) que ficou com os créditos e ativos do grupo imobiliário de Vieira é “ambicioso e pouco realista” e com “pouca aderência à realidade”, nomeadamente no que diz respeito aos projetos a desenvolver no Brasil.

“O plano de negócios do FIAE afigura-se ambicioso e pouco realista, pressupondo novos financiamentos, não sendo seguro que o FIAE venha a ter condições para os obter (tanto quanto mais que o Novo Banco não se comprometeu a conceder esse financiamento, o que é positivo na perspetiva da manutenção da exposição do Novo Banco, mas concorre para a conclusão de que o plano de negócios do FIAE poderá não ser exequível)”, indicava uma nota informativa produzida pelos serviços do Banco de Portugal no dia 14 de novembro de 2018 e que o ECO consultou.

O que está previsto no plano de negócios? Que o fundo vai gerar receitas suficientes para o pagamento integral de todos os financiamentos concedidos pelo banco à Promovalor (mais de 200 milhões), incluindo os 160 milhões de euros dos chamados VMOC (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis).

Há um calendário e metas para o desempenho do fundo:

  • Ano 5: amortização de 60 milhões de euros de dívida bancária (algo que não vai ser cumprido, devido à pandemia, segundo Vieira);
  • Ano 10: amortização de 250 milhões de euros de dívida bancária e capital subscrito (valores acumulados);
  • Ano 25: amortização de 350 milhões de euros de dívida bancária e capital subscrito (valores acumulados).

Para o Banco de Portugal, é “pouco prudente” assumir que os VMOC vão ser reembolsadas tendo em conta os obstáculos que o plano de negócios vai ter pela frente. Até o Novo Banco tem o valor dos VMOC provisionados a 100% nas suas contas, o que é um indício de “falta de crença” no plano de negócios do FIAE, argumentou o supervisor.

As dúvidas quanto à execução do plano de negócios não ficam aqui. Um dos principais pressupostos do fundo passa pelo desenvolvimento dos projetos imobiliários, o que vai implicar mais financiamento bancário. Ora, “não se considera provável” – disse o Banco de Portugal — que outro banco queira financiar estas iniciativas tendo em conta que os ativos estão hipotecados ao Novo Banco. Nessa medida, terá de ser o Novo Banco a ter de financiar estes projetos sob pena de se perder “a margem de promoção imobiliária” incorporada no plano de negócios.

No âmbito desta reestruturação, foram transferidos créditos na ordem dos 134 milhões de euros do Novo Banco para o FIAE (em troca de 96% das unidades de participação do fundo), tendo sido ainda reestruturados pelo banco financiamentos existentes de 85,8 milhões de euros.

Por seu turno, foram integrados no fundo mais de duas dezenas ativos imobiliários localizados em Portugal Espanha, Brasil e Moçambique, negócios que Vieira acredita que vão pagar todas as dívidas junto do Novo Banco, incluindo os VMOC de 160 milhões. Mas muitos destes projetos ainda se encontram por desenvolver.

Além dos VMOC, também a dívida da Imosteps no valor de 54 milhões ficou de fora desta reestruturação. Esta dívida foi vendida no pacote Nata 2 ao fundo Davidson Kempner por 4 milhões, tendo sido adquirida, entretanto, pelo sócio de Vieira e dono da Valouro, José António dos Santos, numa transação que foi amplamente discutida no Parlamento.

15 milhões em comissões para a Capital Partners

Por outro lado, também a escolha da C2 Capital Partners mereceu observações duras por parte do supervisor: não houve um “processo competitivo e transparente” no processo de seleção da sociedade gestora do FIAE, o que seria o mais adequado tendo em conta a existência de relações de proximidade entre as duas partes.

O Banco de Portugal lembrou que havia “acionistas comuns” e “relações/interesses de índole comercial/profissional comuns” entre a Promovalor e a C2 Capital Partners. Designadamente, apontou o facto de Tiago Vieira, filho do presidente do Benfica, ter participações diretas em ambos os lados e ser também administrador da sociedade gestora, enquanto Nuno Gaioso Ribeiro, fundador da C2 Capital Partners, exercia também o cargo de vice-presidente do clube encarnado. Isso já não acontece atualmente.

Outro reparo deixado pelo Banco de Portugal: as comissões fixas que vão ser pagas à sociedade gestora de Nuno Gaioso Ribeiro podem ascender a 15 milhões de euros ao longo dos 25 anos de vida do fundo (600 mil euros por ano), não havendo um “alinhamento de incentivos” a que prossiga uma estratégia ativa para reembolsar as unidades de participação ao banco.

Também aqui Novo Banco defendeu-se junto do supervisor, argumentando que a remuneração da C2 Capital Criativo se encontra “em linha com a prática do mercado”. Já o Banco de Portugal notou que 600 mil euros de comissões por ano representa um aumento superior a 50% do volume de negócios da C2 Capital Criativo. Isto além da comissão variável em função dos reembolsos do FIAE.

Execução imediata daria perdas de 126 milhões

Apesar de todas as dúvidas quanto a este acordo entre o banco e a Promovalor, o Banco de Portugal reconhece que a alternativa à reestruturação produziria, “com elevada probabilidade”, um “pior resultado” para o Novo Banco, segundo os técnicos do supervisor. Esta ideia já tinha sido partilhada por Nuno Gaioso Ribeiro há poucos dias no Parlamento.

A nota informativa do Banco de Portugal apresenta os números desse cenário alternativo: “Com referência a 30 de setembro de 2018, considerando a exposição do Novo Banco à Promovalor e ao FIAE, o VVI [valor de venda imediata] dos ativos e os limites de dívida que os mesmos garantem, a execução de todas as hipotecas implicaria perdas mínimas de 126 milhões de euros”.

Contas feitas, o impacto no acordo de capital contingente superaria os 300 milhões de euros (a serem suportados pelo Fundo de Resolução), isto tendo em conta que o banco já tinha registado imparidades de 180 milhões de euros — sobretudo relacionadas com os tais 160 milhões das VMOC.

BDO prestes a concluir auditoria independente

Face às dúvidas levantadas, e tendo em conta que o Fundo de Resolução não podia dizer nem sim (pois tratava-se de um ato de gestão que compete ao banco e que não lhe cabe validar) nem não (pois poderia invalidar a operação com encargos que poderiam daí advir), os serviços do Banco de Portugal recomendaram “uma análise independente à operação de reestruturação e à obtenção de uma opinião sobre os seus méritos e sobre o plano de negócios do fundo e as expectativas de recuperabilidade” dos créditos da Promovalor.

É o que está prestes a ser concluído pela auditora BDO, segundo adiantou Luís Filipe Vieira esta segunda-feira. “A auditoria está a terminar”, disse. Será entregue a “breve trecho”, acrescentou o presidente do Novo Banco.

Grandes devedores da banca: os clientes “012” da CGD, “041” do BES e “130” do Novo Banco

Quarta-feira, Julho 17th, 2019

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Público

O Banco de Portugal divulgou as listas de grandes devedores dos bancos alvos de ajuda pública, que espelham a evolução das perdas de 2007 até 2017. Caixa e BES/Novo Banco dominam, com alguns clientes (ou códigos) em destaque.

O Banco de Portugal (BdP) publicou, esta terça-feira, a lista dos grandes devedores dos bancos portugueses que receberam dinheiros públicos, cumprindo a legislação de 12 de Fevereiro deste ano que obrigava o supervisor a fazê-lo, apesar de todos os alertas que foram sendo feitos sobre os riscos de violar o sigilo bancário. A solução foi identificar os clientes por códigos (que acumulam as exposições dos grupos económicos) e partilhar a fotografia dos créditos no momento em que foi injectado o dinheiro do Estado, que o BdP confirma que atingiu um total de 23.800 milhões de euros entre 2007 e meados de 2018.

O resultado confirma, de forma agregada, a evolução do sector bancário nos últimos dez anos. A Caixa Geral de Depósitos (CGD), que precisou de 6250 milhões de euros durante este período, apresentava em Junho de 2017 – altura da maior injecção de fundos públicos no âmbito da recapitalização – danos de crédito provocados por grandes clientes de 3582 milhões de euros, entre imparidades (1672 milhões) e outras perdas (1910 milhões). Estes valores reflectem a dimensão dos problemas que os grandes devedores provocaram nas contas da CGD, mas são fluxos, isto é, resultam da evolução dos créditos ao longo do período em análise e são valores máximos de prejuízo esperado, podendo ser inferiores através de diversas medidas de recuperação.

Em 2012, por exemplo, estes valores, no caso do banco público, eram de 927 milhões (imparidades) e de 761 milhões (outras perdas). No arranque do período em análise, as imparidades não passavam de 129 milhões, enquanto as outras perdas chegavam aos 428 milhões, montantes que foram crescendo ao ritmo do agravamento da crise financeira e, sobretudo, mostram que o Estado injectava capital no banco público cada vez que se desequilibrava a sua situação financeira. Fê-lo seis vezes desde 2007.

Na Caixa, há dois códigos que se mantêm ao longo do tempo, mesmo até ao momento da recapitalização negociada por António Domingues e executada por Paulo Macedo. É o caso do cliente 012, que arranca em 2007 com uma exposição original (crédito concedido) de 1144 milhões, que se traduz logo na altura numa perda de 427 milhões em Dezembro de 2007, no final do período quente da “guerra do BCP”, em que a Caixa financiou vários accionistas do banco rival, com destaque para José Berardo. Um ano depois, o cliente 012 continuava a provocar danos e a perda já ia em 526 milhões. Em 2017, o cliente 012 ainda aparece na tabela, agora com perdas cifradas em 101 milhões. Durante todo este período, estes valores foram oscilando entre a tentativa de execução de garantias, reconhecimento de perdas nas contas, registo de imparidades e eventuais reestruturações.

A acompanhar o cliente 012 na Caixa, desde o início, está o cliente 128, sempre com montantes mais baixos, tanto de créditos como de perdas relacionadas.

A utilização destes códigos acautela o cumprimento, pelo Banco de Portugal, das exigências em termos de sigilo bancário, um tema que foi alvo de intensa discussão entre o Parlamento e o supervisor. Por outro lado, outra das características da apresentação destes dados que protege a identidade dos clientes (e a sua relação com os bancos) é o facto de os dados não serem apresentados de forma acumulada, mas sim mostrando a exposição e perda no dia em que a ajuda pública chegou aos bancos. Por outro lado, as imparidades (perdas potenciais) não são apresentadas por cada devedor, mas sim através do valor agregado total dos grupos de devedores em cada banco, o que dá menos informação sobre a perda que determinado grupo deverá implicar para o banco em causa.

A queda do BES

O impacto que os grandes devedores tiveram na banca vai decrescendo consoante o montante que cada instituição recebeu de ajuda pública. Depois da CGD, está o universo BES, que se transformou em Novo Banco. Neste caso, a ajuda pública foi – até agora – de 4330 milhões de euros (exclui os empréstimos do Fundo de Resolução posteriores a Maio de 2018), necessária para colmatar o “buraco” provocado desde logo pela resolução do BES, em Agosto de 2014, que gerou uma imparidade de mil milhões de euros numa lista onde domina o cliente 041. À época, a exposição do banco ao Grupo Espírito Santo passou para BES mau, dado que era constituído por sociedades relacionadas com os accionistas da instituição liderada durante décadas por Ricardo Salgado.

No Novo Banco, em Junho de 2018, quando o banco vendido aos norte-americanos do Lone Star precisou de nova injecção do Fundo de Resolução, as imparidades relativas aos grandes devedores eram de 2420 milhões, enquanto as outras perdas ascendiam a 3542 milhões. Aqui, destaca-se o cliente 130, que para um crédito inicial de 3328 milhões, tinha registado perdas de 2941 milhões.

No resto da banca, a dimensão dos danos é relativamente inferior. O BPN – nacionalizado durante o Governo de José Sócrates por um custo de 4915 milhões para o erário público – tinha em Dezembro de 2012 imparidades de 1896 milhões. No BCP e no BPI – que beneficiaram da ajuda do Estado durante a permanência da troika e que a pagaram na totalidade e com juros – as perdas/imparidades com os grandes devedores ascenderam a 2,5 mil milhões e 600 milhões, respectivamente. Ao passo que o Banif sofreu imparidades de 145 milhões e o BPP de 11 milhões.

Marcelo vai permitir a divulgação dos grandes devedores da banca

Quinta-feira, Janeiro 31st, 2019

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Negócios

O Presidente da República revelou hoje que vai dar “luz verde” ao diploma sobre a divulgação dos grandes devedores da banca que foi aprovado pelo Parlamento.

O Presidente da República revelou hoje que vai dar “luz verde” ao diploma sobre a divulgação dos grandes devedores da banca que foi aprovado pelo Parlamento.

Marcelo Rebelo de Sousa anunciou esta quarta-feira, 30 de janeiro, que vai promulgar o diploma sobre a divulgação dos grandes devedores da banca que foi aprovado pelo Parlamento no início de janeiro com os votos a favor de todos os partidos, exceto do Partido Socialista que se absteve.
“Espera-se que chegue amanhã ou depois de amanhã o diploma relativo à divulgação de informação das instituições bancárias em certas circunstâncias”, referiu o Presidente da República, revelando que “mal ele chegue, uma vez que tem sido o seu processo de elaboração acompanhado de perto, será objeto de promulgação”. As declarações foram proferidas em Belém numa conferência de imprensa após a visita do Presidente da Bulgária.
Em causa está a transparência dos bancos que recebem ajudas de Estado, seja esta diretamente através dos cofres públicos ou através do Fundo de Resolução. De acordo com esse diploma, o Banco de Portugal passa a ter de publicar no seu site a informação agregada e anónima sobre os grandes devedores desses bancos e a ter de enviar ao Parlamento essa informação de forma mais detalhada.

O decreto altera o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras de forma a clarificar os poderes das comissões parlamentares de inquérito no acesso a informação bancária e de supervisão. Incluídos neste escrutínio não estão todos os empréstimos em incumprimento, mas apenas os mais expressivos em valor, consoante uma série de requisitos.

No imediato, uma das consequências práticas da promulgação do Presidente da República é a publicação do decreto em Diário da República, o que obrigará o Banco de Portugal a entregar um relatório extraordinário no prazo de pouco mais de três meses.

“No prazo de 100 dias corridos da publicação da presente a lei, o Banco de Portugal entrega à Assembleia da República um relatório extraordinário com a informação relevante relativa às instituições de crédito abrangidas em que, nos doze anos anteriores à publicação da presente lei, se tenha verificado qualquer das situações de aplicação ou disponibilização de fundos públicos previstas na alínea a) do n.º 1 do artigo 3.º.”, lê-se no texto aprovado pela Assembleia da República.

Num parecer enviado ao Governo, citado pela Lusa, o Banco de Portugal dizia que este prazo não era exequível. “Atualmente as instituições não reportam ao Banco de Portugal a totalidade da informação relevante prevista no projeto”, assinalava o banco central, pelo que para cumprir essa obrigação com os detalhes pedidos teria de ser criado “um novo reporte para as instituições”, referindo ainda que o diploma não lhe confere habilitação regulamentar para tal.

Líder do Novo Banco admite que divulgação de devedores possa ocorrer em “algumas circunstâncias”

Sexta-feira, Agosto 31st, 2018

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Negócios

António Ramalho não tem uma resposta definitiva sobre a divulgação de grandes devedores, mas assume que a banca tem de reconquistar confiança. E um dos passos pode ser, em casos “muito excepcionais”, revelar o que causou os problemas no sector.

O presidente do Novo Banco, António Ramalho, admite que há “algumas circunstâncias” em que a divulgação de grandes devedores pode justificar-se. Ainda assim, recusa ter uma posição definitiva em relação ao tema. “Essa é talvez a pergunta moralmente mais difícil de responder”, é o que começa por responder quando a pergunta lhe é feita numa entrevista ao Observador.

“O valor do sigilo profissional – que é uma coisa que percebe, porque também vive com ele – e que faz parte do que é o centro da minha ética bancária. Mas não deixo de reconhecer que temos de fazer uma séria reflexão sobre se esse valor não cede em casos muito excepcionais, e excepcionais, a um valor mais elevado: o reconhecimento perante a sociedade de debilidades que globalmente custaram caro”, respondeu o líder da instituição financeira, detida em 75% pela Lone Star e em 25% pelo Fundo de Resolução.

Daí que António Ramalho, no cargo há dois anos, diga ao Observador que, “em algumas circunstâncias, o valor da transparência reputacional do sistema pode justificar que haja alguma clareza neste tipo de informação”.

Ramalho lidera o Novo Banco, instituição financeira criada em 2014 com a capitalização de 4,9 mil milhões de euros, 3,9 mil milhões dos quais de injecção de dinheiros públicos. Uma injecção que tem sido prejudicada por grandes créditos que foram concedidos. Por exemplo, em entrevista ao Negócios e à Antena 1, em Abril, Ramalho adiantou que o grosso dos problemas da instituição estava em “44 créditos fundamentais”, e que actualmente há um devedor com uma exposição superior a 500 milhões de euros. Não se sabe quem.

O presidente da instituição tem reiterado que a recuperação do banco é uma “maratona” e que ainda vai custar tempo e dinheiro. Neste momento, o banco está sob um mecanismo de capitalização contingente, que cobre uma carteira dos seus activos, e pelos quais o Fundo de Resolução (que tem sobrevivido devido a empréstimos estatais) assumiu a possibilidade de vir a injectar 3,89 mil milhões de euros – já colocou 792 milhões.

Ainda que dizendo que o seu coração balança neste tema, o banqueiro acredita que essa divulgação poderá ser uma forma de a banca se reconstruir. “O nosso negócio é um negócio de confiança e também tem de se reconstruir na confiança não só dos seus clientes, mas também da sociedade”, respondeu ao jornal digital. Contudo, recusou que se siga um caminho persecutório desses clientes.  

Apoios e oposições

Ramalho junta-se assim ao seu antigo colega no Santander, António Horta Osório, que defende que o princípio do sigilo bancário “colide” com o facto de o dinheiro público ter sido usado para salvar vários bancos. “Parece-me de elementar justiça que os portugueses saibam como é que esse dinheiro foi aplicado e acho muito bem que o Parlamento esteja a legislar no sentido de os bancos que tiveram ajudas públicas terem de ser obrigados a divulgar a lista dos maiores devedores””, disse, em Maio.

O Parlamento aprovou legislação, que tem de ser trabalhada na especialidade, para a exposição pública dos grandes devedores da banca, mais concretamente dos bancos que receberam ajudas estatais, ainda que o conceito não esteja estabelecido na totalidade. O Governo, por Ricardo Mourinho Félix, já se mostrou favorável a uma iniciativa transversal à banca.

Por sua vez, a Associação Portuguesa de Bancos veio mostrar-se contra esta intenção. “O segredo bancário é pedra angular entre banco e cliente”, declarou o seu presidente, Fernando Faria de Oliveira, ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos. No banco público, Paulo Macedo também é contra a possibilidade de vir a ser obrigado a divulgar os maiores devedores, tendo em conta, aliás, a legislação actual. “Não há possibilidade de haver essa informação em termos públicos”, já afirmou.

Novo Banco pressiona Manuel Damásio a pagar dívida de 4 milhões

Terça-feira, Março 15th, 2016

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Negócios

O antigo presidente do Benfica obteve um crédito do BES para comprar papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo, noticia esta segunda-feira o Correio da Manhã.

O Novo Banco está a pressionar o antigo presidente do Benfica, Manuel Damásio, a regularizar um empréstimo do Banco Espírito Santo (BES) no valor de quatro milhões de euros. O Correio da Manhã desta segunda-feira, 14 de Março, avança que o “crédito em incumprimento será consequência de uma operação em que o ex-presidente do Benfica terá obtido, por alegada influência de membros da família Espírito Santo, um crédito do BES para com esse dinheiro comprar papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo, numa fase em que essas sociedades estavam com graves dificuldades financeiras”.

O jornal refere que o negócio era vantajoso para Manuel Damásio, já que o empresário obtinha uma taxa de juro mais alta no papel comercial do GES do que a taxa de juro que pagava ao BES pelo empréstimo. Devido ao colapso do grupo, Damásio poderá perder o dinheiro aplicado no papel comercial mas “o Novo Banco já está a pressioná-lo para que pague o crédito do BES que usou para comprar o papel comercial”.

O antigo presidente do Benfica foi detido no passado dia 3 de Março, no âmbito da operação Rota do Atlântico, suspeito de branqueamento de capitais e tráfico de influências. Foi libertado no mesmo dia já perto da meia-noite com várias medidas de coacção. “O juiz decidiu aplicar ao arguido as medidas de coacção de proibição de contactos com arguidos, suspeitos e testemunhas identificados no despacho que fixa as medidas de coacção e sujeição às obrigações decorrentes do termo de identidade e residência”, segundo uma nota da Procuradoria Geral da República emitida nesse mesmo dia.

O comunicado sublinhava ainda que Manuel Damásio, que foi presidente do Benfica entre 1994 e 1997, “foi indiciado por factos susceptíveis de integrarem os crimes de branqueamento e tráfico de influência”. Neste inquérito investigam-se ainda suspeitas da prática de corrupção no comércio internacional e fraude fiscal.

A investigação é dirigida pelo Ministério Público, o qual tem a coadjuvação da Polícia Judiciária, refere o comunicado, realçando que o inquérito – que corre termos no Departamento Central de Investigação e Acção Penal – encontra-se em segredo de justiça. 

O antigo presidente do Benfica, de 75 anos, exerce actividade empresarial no sector do imobiliário.

Novo Banco a reestruturar dívida de José Guilherme

Sábado, Janeiro 30th, 2016

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Expresso

Empresário que deu prenda de €14 milhões a Salgado entrou em incumprimento > Banco não tinha garantias sobre o crédito e não conseguiu executar avais pessoais por falta de bens

Novo Banco ‘perdoa’ dívida de José Guilherme

Empréstimos a amigo de Ricardo Salgado não tinham garantias

As dívidas do empresário José Guilherme ao Novo Banco foram reestruturadas. O empresário, que “ofereceu” um presente de €14 milhões a Ricardo Salgado quando este liderava o então BES, chegou a ter empréstimos superiores a €200 milhões junto daquela instituição.

José Guilherme terá pago uma parte destes créditos e nas respostas que enviou, no início do ano passado, à Comissão de Parlamentar de Inquérito ao caso BES admitiu que devia cerca de €121 milhões. O Expresso apurou que as dívidas do empresário foram agora reestruturadas num processo de resolução dos problemas que a herança da anterior gestão deixou no banco.

Este é apenas um dos processos muito complicados que Eduardo Stock da Cunha tem para resolver no Novo Banco. Quase todos com as mesmas características. Uma fonte da instituição disse ao Expresso que são vários os casos de créditos avultados que estão em incumprimento e que não têm qualquer garantia. Em alguns, inclusive, existem apenas avais pessoais que são extremamente difíceis de cobrar. Seja pela lentidão do sistema judicial, seja pelo simples facto de os devedores não terem bens em seu nome que possam responder pela dívida.

Este será o caso do empresário José Guilherme que mantinha uma relação profissional e pessoal com Ricardo Salgado. Relação essa que o levou a oferecer €14 milhões ao então líder do BES através do Banco Espírito Santo Angola (BESA). O Expresso tentou saber os contornos da reestruturação da dívida mas o Novo Banco não prestou qualquer esclarecimento alegando sigilo bancário.

Contactado pelo Expresso, fonte próxima de José Guilherme confirma que foi concluído o acordo de reestruturação de dívida, sem que tenha havido qualquer perdão dessa mesma dívida e acrescenta que está tudo regularizado entre o construtor e o banco. Contudo, fonte do Novo Banco diz que o processo ainda não está fechado já que a totalidade da dívida está distribuída por várias sociedades sendo que alguns dos créditos ainda estão ainda a ser negociados. A reestruturação não deve comportar qualquer corte no valor dos empréstimos concedidos, disse fonte do banco, mas a redução dos juros a pagar e o prolongamento do prazo de pagamento acaba por configurar um perdão ao empresário. Um procedimento normal em casos de incumprimento.

Dívidas pessoais de €83 milhões

A lista de dívidas de José Guilherme ao antigo BES é longa e avultada. Através da análise que foi feita pelo Banco de Portugal aos 50 maiores clientes de cada banco sabe-se que o empresário devia ao banco no final de 2012, €223,5 milhões. As dívidas eram distribuídas por 25 pessoas ou empresas distintas que estavam ligadas a José Guilherme. Alguns diretamente, outros através de avais pessoais. A maior dívida estava no entanto em nome do próprio que tinha empréstimos em seu nome no valor de €83 milhões.
Herança demasiado pesada

Nos corredores do último andar do prédio da avenida Alexandre Herculano em Lisboa “legacy” [leagado] é uma das palavras mais usadas. O termo é utilizado para se referir aos problemas com o crédito concedido que a gestão de Ricardo Salgado deixou no banco. O caso de José Guilherme é apenas um dos muitos que a administração do Novo Banco tem para resolver. Tudo de empresas e empresários que tinham uma relação estreita com a anterior gestão. Alguns deles eram inclusive acionistas das holdings de controlo da família Espírito Santo.

A resolução destes problemas é uma prioridade para a atual gestão de modo a facilitar o processo de venda do Novo Banco. Em cima da mesa está ainda, apurou o Expresso, a hipótese de separação de alguns ativos imobiliários que acabaram na lista de ativos do banco depois dos projetos imobiliários apoiados pelo banco terem falido. A estratégia é retirar do balanço estes ativos, deixando-os em repouso à procura de melhores dias para poderem ser vendidos, de modo a aumentar o preço de venda do Novo Banco.
João Vieira Pereira

Uns filhos, outros enteados na dívida do BES

Quinta-feira, Janeiro 7th, 2016

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Observador

Dívida que voltou para o BES foi emitida junto de investidores institucionais. Mas alguns títulos já estão em investidores particulares que, agora, se dizem indignados. Falámos com um deles.

Há vários investidores particulares entre os donos dos títulos de dívida que eram do BES, passaram para o Novo Banco e, na última semana de 2015, voltaram para o BES. É certo que, como o Banco de Portugal afirmou, estes títulos foram emitidos junto de investidores institucionais (fundos de investimento e fundos de pensões, entre outros) mas alguns já foram revendidos e passaram para as mãos de particulares. O Observador conversou com um desses investidores, que agora não irão recuperar o investimento, e este defendeu que é inconcebívelque se tenha selecionado algumas obrigações – e não outras, da mesma classe – para recapitalizar o Novo Banco.

Nos mercados financeiros, diferentes tipos de instrumentos têm diferentesgarantias de reembolso e proteção do capital. Desde as ações às obrigações sénior, passando pela dívida subordinada e pelos depósitos (acima de 100 mil euros), há regras que regem a prioridade de cada uma das várias classes de instrumentos – regras essas que estão a mudar. Essas mudanças, porém, apenas alteram as regras para a hierarquização vertical dos ativos financeiros. O que não deve acontecer é uma discriminação horizontal, em que o mesmo tipo de ativos é tratado de forma diferente.

Quando se trata instrumentos iguais de forma diferente está-se a violar oprincípio de pari passu, um conceito crucial nos mercados financeiros e que, agora, deverá originar processos de litigância contra o Banco de Portugal. O grosso da litigância, contudo, deverá prender-se com o facto de o Banco de Portugal ter, numa primeira fase, decidido proteger a dívida sénior – um tipo de dívida com fortes garantias de reembolso e que é pedra basilar do financiamento de bancos e de empresas.

Essa proteção (inicial) foi feita através da passagem destes títulos para o Novo Banco – até o próprio nome dos títulos foi alterado –, mediante garantias de que os investimentos seriam reembolsados, no vencimento, pelo Novo Banco. Eis, por exemplo, o que dizia uma deliberação do Banco de Portugal de 14 de agosto de 2014.

As obrigações não subordinadas [sénior] que tenham sido emitidas pelo Banco Espírito Santo serão reembolsadas pelo Novo Banco na data do seu vencimento, visto que os direitos de crédito dos clientes relativos a essas obrigações foram transferidos para o Novo Banco.

O Banco de Portugal protege-se dizendo que sempre avisou, desde a resolução, que se reservava o direito de vir a alterar “o perímetro” dos ativos e passivos envolvidos na resolução do Banco Espírito Santo (BES). Mas isso não deverá impedir umabatalha judicial nos próximos tempos em torno desta questão.

Outra questão, todavia, e voltando ao princípio de pari passu, é que a partir do momento em que o Banco de Portugal decidiu alterar as condições para os donos da dívida sénior alterou as circunstâncias para uns e não para outros – ou seja, tratando de forma diferente títulos que são semelhantes.

Porquê salvar uns e castigar outros?

“A seleção das obrigações sénior parece ter sido arbitrária e não respeita o principio de igualdade entre investidores da mesma classe”, diz ao Observador oinvestidor particular que comprou uma obrigação do Novo Banco no início de 2015, já depois da resolução do BES. O investidor, que prefere não ver publicado o seu nome, já contactou o Banco de Portugal em busca de um esclarecimento. “Por telefone não esclarecem, por e-mail não respondem“, diz o investidor.

O Observador contactou o Banco de Portugal, entidade responsável pela decisão, mas fonte oficial não faz comentários sobre esta matéria na manhã de terça-feira. Mais tarde, contudo, foi divulgada por fonte oficial uma carta de resposta do Banco de Portugal a esclarecer que todos os obrigacionistas donos destes títulos irão passar para o BES, “independentemente da titularidade dos títulos à data de 29 de dezembro de 2015”.

A análise de alguns especialistas ao critério usado para escolher as obrigações, segundo avançou a Bloomberg, é que foram selecionados títulos que foram emitidos ao abrigo da legislação portuguesa. O enquadramento legal definido na emissões de outros títulos foi a legislação do Reino Unido, um dos benchmarks mais comuns para a emissão de títulos de dívida junto de grandes investidores institucionais. A dedução é que o Banco de Portugal poderá ter visto mais meios de defesa na legislação portuguesa do que na legislação internacional.

Ainda assim, “na lei portuguesa, neste momento, não vejo nada que dê poderes ao Banco de Portugal para fazer esta passagem. Alguém pode vir argumentar, judicialmente, que a decisão não é válida à luz de conceitos como o pari passu“, esclareceu, ao Observador, João Espanha, advogado da Espanha & Associados.

Note-se que, nos termos da resolução e da decisão mais recente, o Banco de Portugal esclarece que qualquer indemnização decidida em tribunal contra o Novo Banco terá de ser compensada pelo Fundo de Resolução – ou seja, pelos outros bancos do sistema.

A clarificação de que compete ao Fundo de Resolução neutralizar, por via compensatória junto do Novo Banco, os eventuais efeitos negativos de decisões futuras, decorrentes do processo de resolução, de que resultem responsabilidades ou contingências.

Novos “lesados”, agora do Novo Banco?

Têm sido várias as notícias em torno do potencial de litigância sobre esta questão, e o Jornal de Negócios há alguns dias contactou alguns investidores particulares que, tal como aquele que falou com o Observador, também têm destes títulos apesar de o Banco de Portugal ter declarado a intenção de apenas penalizar investidoresinstitucionais. Estaremos perante uma repetição do caso dos chamados “lesados do BES”? Ou seja, pessoas que adquiriram papel comercial (dívida de curto prazo) de empresas do Grupo Espírito Santo (GES) aos balcões do BES – e, agora, alegam que não sabiam o que subscreveram ou foram enganados?

Neste caso, “não acho que a ignorância seja uma desculpa aceitável. Ao contrário dos detentores de papel comercial do GES, eu não alego que não estava ciente dos riscos envolvidos. Eu queixo-me de ter sidotratado desfavoravelmente por duas instituições que me deveriam defender enquanto cidadão (o Banco de Portugal e o Governo Português). Era impensável que obrigações que foram renomeadas de BES para Novo Banco passarem novamente para o perímetro do BES”, diz o investidor particular.

Este investidor, que diz conhecer pelo menos mais dois casos de particulares detentores destes títulos, defende que “não é aceitável impor perdas aos institucionais e não aos particulares, não deve haver distinção – o que era justo era aplicar perdas em todas as obrigações da mesma classe”. Contudo, “já que, por razões políticas, se faz esta distinção entre particulares e institucionais, faz sentido acautelar os particulares” que têm títulos. O que não acontecerá, a julgar pela carta do Banco de Portugal noticiada esta terça-feira pelo Jornal de Negócios e que foi enviada a investidores.

O investidor assinala, inclusive, que como particular foi penalizado face a institucionais, ou seja, outros investidores ficaram a salvo. Isto pela simples razão de que este investidor estava exposto a uma das cinco linhas visadas, ao passo que outros – mesmo institucionais – estão expostos a outras.

Como os mercados leram o que se passava com a dívida do BES/Novo Banco

O investidor particular que falou com o Observador é dono de uma obrigação, que vence em 2019. O título, que tem um valor nominal de 100 mil euros, foi comprado no início de janeiro de 2015, usando um banco de investimento português como intermediário.

O título foi comprado antes do fracasso da (primeira tentativa de) venda do Novo Banco e antes de os testes de stress do BCE terem revelado uma insuficiência de capital na ordem dos 1.400 milhões de euros. Logo aí, no último outono, o preço das obrigações sénior do Novo Banco já pareciam indicar o receio de um corte do valor destes títulos. Ainda assim, o cenário imaginado passava por uma redução do valor de todos os títulos de dívida, com conversão do valor cortado em capital, como explicou ao Observador um especialista do setor financeiro. O que aconteceu foi diferente, foi a passagem de alguns para o BES, com uma provável perda total (ou quase total).

Evolução do preço (em função de 100) de títulos de dívida do Novo Banco/BES

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O gráfico da Bloomberg mostra que os investidores começaram no início do outono a descontar o risco de perdas para os obrigacionistas, donos da tal dívida sénor. Os títulos, que são reembolsados na maturidade a 100%, passaram a negociar com preços na ordem dos 90%. Isso significa, em termos simples, que os investidores começaram a acreditar quetodas as obrigações poderiam vir a perder um valor na casa dos 10%.

Esta aritmética faria sentido se todas as obrigações fossem envolvidas na recapitalização do banco. O que não aconteceu – algumas foram protegidas e outras foram passadas para o BES, o que resultou naqueda em flecha do seu valor no mercado.

Numa nota final, note-se que o gráfico mostra, também, que apesar das garantias do Banco de Portugal de que não haverá mais mexidas, mesmo as obrigações que permaneceram no Novo Banco continuam a ser negociadas a 85% do seu valor, o que pode ser um sinal de um agravamento da perceção de risco quanto ao sistema financeiro português.

BES “mau” vai acabar

Terça-feira, Dezembro 29th, 2015

Citamos

Negócios

O Banco de Portugal ditou uma injecção de capital no Novo Banco com recursos “internos”: quem perde é quem tem a sua dívida sénior, que passa para o BES “mau”. Vão ser transferidos para uma entidade que vai entrar em liquidação.

O Banco Espírito Santo vai entrar em liquidação. Por vontade do Banco de Portugal, a entidade conhecida como BES “mau” vai perder a autorização, algo que acontece logo depois de “receber” os detentores de dívida sénior – uma medida que teve como objectivo favorecer o capital do Novo Banco.

“O Banco de Portugal irá solicitar ao Banco Central Europeu que proceda à revogação da autorização do BES, iniciando-se o processo judicial de liquidação”, assinala a instituição presidida por Carlos Costa em comunicado emitido esta terça-feira, 29 de Dezembro.

Na prática, a entidade sob o comando de Luís Máximo dos Santos (na foto) deixa de ter como grande objectivo preservar e valorizar os activos para entrar numa fase de liquidação, que visa a distribuição dos seus activos pela hierarquia de credores.

Neste momento, o BES “mau” alberga os accionistas do antigo BES como também os detentores de dívida subordinada e, agora, também os titulares de dívida sénior. A dívida sénior é uma dívida mais cara que tem privilégio em caso de incumprimento do emitente – razão pela qual tinha escapado a perdas na altura da resolução, em Agosto de 2014. Contudo, neste caso, e para capitalizar o Novo Banco, o Banco de Portugal também imputou custos a estes titulares.

A última grande decisão tomada pelo Banco de Portugal relativamente ao BES foi a “retransmissão” de 1.941 milhões de euros de obrigações que tinham sido colocadas junto de investidores qualificados, como bancos e fundos de investimento. Estes títulos estavam registados no balanço do Novo Banco a 1.985 milhões de euros, valor do impacto positivo da decisão do Banco de Portugal – que permite ao banco cumprir os rácios mínimos exigidos pelo Banco Central Europeu.

Segundo o comunicado em que é avançada a intenção de liquidar o BES, que fica agora nas mãos de Frankfurt, é indicado que não entrará nem sairá mais nenhum activo ou passivo desta entidade. “Este conjunto de decisões constitui a alteração final e definitiva do perímetro de activos, passivos, elementos extrapatrimoniais e activos sob gestão transferidos para o Novo Banco, que assim se considera definitivamente fixado”.

Deixa, assim, de haver uma ponte entre o Novo Banco e o BES que permitiu, por exemplo, retirar do primeiro as responsabilidades com uma emissão da Oak Finance (que envolvia o Goldman Sachs), em Dezembro de 2014, e com as emissões obrigacionistas seniores, um ano depois.

Quanto custou afinal a resolução do BES?

Sexta-feira, Novembro 20th, 2015

Citamos

Público opinião Ricardo Cabral

O BES, no final de 2013, era um banco com activos de 80,6 mil milhões de euros, 7 mil milhões de euros de capitais próprios e dívida subordinada de cerca de mil milhões de euros. A 11 de Junho de 2014, realizou um aumento de capital de cerca de mil milhões de euros.

Depois de perdas de 3,6 mil milhões de euros no primeiro semestre de 2014, anunciadas no final de Julho, o Conselho de Administração do Banco de Portugal determina a aplicação de uma resolução bancária a 3 de Agosto de 2014.

A resolução bancária impôs perdas totais aos accionistas, a credores subordinados e a alguns outros credores do BES (e.g., depósitos de administradores do BES).[1] Em Dezembro, mas retroactivamente a 3 de Agosto de 2014, como se sabe, o Banco de Portugal passou do Novo Banco para o BES, uma dívida de 834 milhões de euros a uma sociedade da Goldman Sachs. Além disso, o Fundo de Resolução injectou 4,9 mil milhões de euros no Novo Banco que, contabilizando os itens acima descritos, foi criado com cerca de 72,3 mil milhões de euros de activos.

Note-se que cerca de 2,8 mil milhões de euros desses activos eram (e são) créditos fiscais concedidos pelo erário público, por conta dos prejuízos registados pelo BES. E que aparentemente em resultado dos prejuízos registados em 2014 pelo BES, o Novo Banco pôde contabilizar mais 1,8 mil milhões de euros de activos por impostos diferidos, quando comparado com o que o BES detinha no balanço no final de 2013.

Ou seja, num banco com 80,6 mil milhões de euros de activos a 31 de Dezembro de 2013, estima-se que a reestruturação do passivo do BES, os créditos fiscais e a injecção de capital no Novo Banco somem cerca de 17 mil milhões de euros.[2]

Não será essa a dimensão das perdas contabilísticas registadas por privados, erário público e Fundo de Resolução no processo que culminou com a resolução do BES. Mas é possível estimar as perdas a partir desse valor: se, por exemplo,  o Novo Banco tivesse sido “vendido” por 3 mil milhões de euros — como pretendia o Banco de Portugal e, note-se, não foi possível privatizar o Novo Banco a esse preço -, as perdas contabilísticas desses agentes económicos teriam sido de cerca de 14 mil milhões de euros (=17–3).

Desde Agosto de 2014, o Novo Banco tem vindo a reduzir a dimensão do seu balanço, nomeadamente vendendo activos, perdoando créditos (aceitando reestruturar a dívida de clientes) e ainda reduzindo as suas disponibilidades líquidas. Os activos do Novo Banco diminuem 10,5 mil milhões de euros entre Agosto de 2014 e Junho de 2015. Mas desse montante, cerca de 6,8 mil milhões de euros explicam-se por um perdão de dívida ao BES Angola de perto de 3 mil milhões de euros e o restante por redução do dinheiro em caixa, esta última expectável dada a normalização da situação do Novo Banco.

E agora, apenas 15 meses passados sobre a data da resolução, um teste de stress do Banco Central Europeu indica que o Novo Banco não tem capital suficiente e que têm de ser injectados mais 1,4 mil milhões de euros de capital nesse banco.

Como é que se pode compreender que após a realização, a 3 de Agosto de 2014, da resolução bancária especial no BES, que culminou numa reestruturação (redução) dos passivos do BES e em perdas globais que provavelmente estarão em torno dos 14 mil milhões de euros, seja agora necessária nova injecção de capital no Novo Banco de cerca de 1,4 mil milhões de euros?

Um erro de 10% nas contas?