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Todos acusam Salgado, ninguém o defende

Sexta-feira, Dezembro 19th, 2014

20141219

Na Comissão Parlamentar de Inquérito, toda a gente fala de Ricardo Salgado. Responsabilizando-o. Isolando-o. Este é o sub-título do artigo publicado hoje pelo Expresso sobre a CPI do BES.

O centro disto tudo Ricardo Salgado é o nome de quem todos os outros nomes falam

O centro disto tudo Ricardo Salgado é o nome de quem todos os outros nomes falam

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Expresso

“Não venho cá colocar-me na posição de vítima”, Ricardo Salgado.
É bem verdade que Álvaro Sobrinho não vinha para achincalhar e que José Manuel Espírito Santo não quis ser árbitro, preferindo que fossem os deputados a fazer o julgamento – político – do caso. Mas as primeiras semanas da Comissão Parlamentar de Inquérito convergiram todas para uma espécie de “culpado disto tudo”: Ricardo Salgado. 

Ler mais na edição em papel do Expresso ou adquirindo os direitos de visualização online.

Irish Times: Hedge funds challenge BES bailout decision

Segunda-feira, Dezembro 15th, 2014

20141215

Investors have already filed a legal challenge against the Portuguese central bank, says today the Irish Times, one of the most respected newspaper from Ireland.

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Irish Times

A group of investors who lost hundreds of millions of euro in the collapse of Banco Espírito Santo has filed a lawsuit challenging the European Commission’s decision to approve Portugal’s bailout of the bank.

The lawsuit, filed on Friday at the EU’s Court of Justice in Luxembourg, could cast doubt over Portugal’s plan to sell Novo Banco, the main entity to emerge from the wreckage of BES.

The investors, including Dan Loeb’s hedge fund Third Point and Brazilian investment bank BTG Pactual, have already filed a legal challenge against the Portuguese central bank over its restructuring of the distressed lender.

The €4.9 billion rescue of BES protected taxpayers and senior creditors by leaving them in a “good bank”, now called Novo Banco, but left shareholders and subordinated creditors in a “bad bank” holding only toxic assets. In their application for annulment of the state aid approval the investors argue the EU “committed numerous manifest errors of law”. –

(c) 2014 The Financial Times Limited

Riscos de exposição do BES ao Grupo Espírito Santo foram denunciados em 2001

Sábado, Dezembro 13th, 2014

20141213

Relatório elaborado em 2001 pela auditora PwC alertava para a exposição do Banco Espírito Santo às empresas do Grupo e denunciou a existência de empréstimos a seis sociedades offshore, revela a edição do jornal eletrónico Observador.

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Observador

“Há um risco enorme na concessão e extensão de créditos inapropriados” celebrados entre o Banco Espírito Santo (BES) e o Grupo Espírito Santo (GES). A denuncia foi agora conhecida, através de uma notícia avançada pela RTP, mas foi feita em 2001 pela PwC, num documento realizado a pedido da instituição financeira que entrou em colapso e foi objeto de resolução no início de agosto passado.

Há 13 anos, a PwC já alertava para problemas graves que afetavam o banco e aholding Espírito Santo Resources, que representava “o maior risco de exposição efectiva do grupo BES”. Na época, afirmava que a exposição do banco atingia “800 milhões de euros, a 31 de dezembro de 2000″. O documento, de maio de 2001, também adiantava a existência de empréstimos realizados a “seis empresas offshore”, no valor total de 785 milhões de euros, dinheiro que terá sido utilizado para facilitar a compra de ações do próprio BES, de unidades do GES e de outras empresas portuguesas.

O relatório continha um conjunto de recomendações, de acordo com a RTP, e propunha que, perante a dimensão da exposição a empresas do Grupo, a administração do BES deveria ter “em séria e urgente consideração a necessidade de criar um comité de auditoria formal”, que atuaria na fiscalização e controlo de empresas do GES, incluindo a Espírito Santo International e as empresas da área não fnanceira do Grupo. A opacidade também não escapou à PwC. “Há uma tendência dos altos quadros executivos para restringirem o fluxo de informação aos membros da administração ao essencial”. E a auditora lamenta, igualmente, as dificuldades que diz ter enfrentado na “disponibilidade de registos contabilísticos, ficheiros e documentos necessários às equipas de auditoria independente”.

A PwC foi substituída como auditora do BES em 2002, após a elaboração do documento em causa, mas a instituição financeira que foi liderada por Ricardo Salgado desde 1991 contratou dois dos quadros que o fizeram: João Martins Pereira e Nelson Pita. Os deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES querem chamar ambos para audição.

 

BE chama Durão ao inquérito parlamentar sobre o caso BES

Sábado, Dezembro 13th, 2014

20141213

Salgado envolveu Barroso no caso BES. Bloco de Esquerda quer saber mais sobre o papel de José Manuel Durão Barroso, e quer questionar o ex-presidente da Comissão Europeia no decurso de uma das próximas sessões da comissão parlamentar de inquérito (CPI), sobre os temas BES e GES, revela hoje a versão online do Expresso.

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Expresso

O Bloco de Esquerda vai chamar Durão Barroso à comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao caso BES/GES. O nome do ex-presidente da Comissão Europeia (CE) foi lançado por Ricardo Salgado, durante a audição de terça-feira passada, e os bloquistas querem saber mais sobre o envolvimento de Barroso no caso. Até tendo em conta que o ex-primeiro-ministro e presidente da CE trabalhou no Banco Espírito Santo.

“Vamos chamar Durão Barroso, porque foi mencionado que teve reuniões com Ricardo Salgado na fase crucial do BES”, explica ao Expresso a deputada bloquista Mariana Mortágua. Perante os deputados, o ex-CEO do banco contou uma série de contactos desencadeados em maio, para tentar salvar as empresas do ramo não-financeiro do grupo Espírito Santo, numa tentativa final de garantir o seu financiamento e evitar uma maior contaminação do banco pelos problemas do GES. “Eventualmente demos uma palavra ao dr. Durão Barroso”, num encontro em Lisboa, admitiu Salgado, que também referiu reuniões com Carlos Moedas, Maria Luís Albuquerque e Passos Coelho. Segundo o banqueiro, tanto Moedas como Durão, “ouviram e compreenderam”, mas “disseram que era preciso falar com o Governo, e foi isso que fizemos” – mas Passos e Maria Luís mostraram menos compreensão.

Moedas por escrito

“Ao contrário dos contactos com o Governo, não percebemos o porquê desse contacto” com Durão, diz Mortágua – “Queremos saber o objetivo e quais as consequências”.

O interesse da CPI em ouvir portugueses ligados a organismos internacionais não tem sido correspondido. Moedas (o homem que Salgado quis “pôr a funcionar”, segundo as gravações do conselho superior do GES) pediu para não ir à comissão e depor por escrito. Vítor Gaspar, agora no FMI, e Vítor Constâncio, vice-governador do BCE, pediram o mesmo.

 

 

O intermediário suíço dos Espírito Santo

Sábado, Dezembro 13th, 2014

20141213

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Visão

Enquanto um juiz, 14 procuradores do Ministério Público e mais de 200 inspetores iniciavam um mega raide que envolveu buscas a 34 domicílios e vários escritórios de pessoas ligadas ao Grupo Espírito Santo, na quinta-feira, 27 de novembro, no seu luxuoso escritório em Lausanne, Suíça, Etienne Alexandre Cadosch geria os seus negócios como habitualmente.

Por cá, os inspetores reuniram mais de cinco milhões de ficheiros relacionados com movimentos bancários, nomeadamente aqueles que foram feitos no período em que Ricardo Salgado já tinha sido proibido pelo Banco de Portugal de tomar decisões de gestão, antes de ser substituído na presidência do banco por Vítor Bento.

Ao que foi apurado pelo Banco de Portugal, nesses quinze dias o BES terá perdido mais 1,245 mil milhões de euros. Através de operações “fraudulentas” que, segundo o banco central, tiveram a empresa suíça Eurofin como intermediária em muitos dos casos. Mas a dois mil quilómetros de distância, Alexandre Cadosch, presidente da Eurofin, alega nada ter a ver com estas operações que acabaram por arruinar o BES e muitos milhares de famílias portuguesas que tinham as suas poupanças aplicadas em ações do banco.

A contrariá-lo estão as investigações feitas até agora. Todas elas apontam a Eurofin como intermediária dos negócios ruinosos do BES. E não são só as das autoridades judiciais e de supervisão. Também as do jornal económico norte-americano Wall Street Journal acabaram nesta empresa financeira suíça, comandada pelo homem que tem relações de longa data com a família Espírito Santo.

Do BES para o GES

Segundo foi noticiado na altura, os gestores do GES engendraram um esquema complicado que passava pela emissão de obrigações a longo prazo, geralmente de 40 anos, com uma taxa de juro de 7% a 9%. Esses títulos eram colocados em outras entidades, que criavam novo “veículos” financeiros. Posteriormente, os clientes compravam ações desses “veículos”, geralmente com um rendimento que rondava os 4%. A diferença entre os juros ficava nas chamadas contrapartes. E, desta forma, permitiam liquidar dívidas das empresas do GES, ou “desviar” o dinheiro para outras entidades.

Aliás, Carlos Tavares, presidente da CMVM, entidade que regula a bolsa, reconheceu na sessão da comissão parlamentar de inquérito ao BES que alguns dos destinatários finais destas verbas… “não se sabe quem são”. Sabe-se, porém, que a Eurofin era, de acordo com várias investigações feitas até agora, um dos intermediários destes negócios. E segundo a auditoria forense às contas do BES, ordenada pelo Banco de Portugal, foram identificados um conjunto de transações, efetuadas apenas através da Eurofin, que permitiram desviar 780 milhões de euros do BES para pagar dívidas de empresas do GES.

Segundo o Público noticiou nesta semana, o Banco de Portugal já enviou uma equipa à Suíça para investigar as relações entre o GES e a Eurofin. Supostamente, esta sociedade e os seus líderes nada têm a ver, do ponto de vista formal, com o GES. Mas olhando ao longo historial, de décadas, da ligação profissional de Alexandre Cadosch ao GES, existe uma proximidade indesmentível.

Em declarações à revista suíça Les Temps, Alexandre Cadosch demarca-se do escândalo Espírito Santo, afirmando ser mentira que alguma subsidiária do Grupo Eurofin “tenha colocado ou promovido produtos de investimento do GES ou de clientes do BES”. Além disso, reafirma, na mesma entrevista, que apenas mantém “uma relação profissional com os líderes do Grupo Espírito Santo”. Mas uma relação bem forte…

Primeiro, a Eurofin foi criada em 1999 e tinha o GES como principal acionista. Além disso Alexandre Cadosch pertenceu aos quadros da Gestar, uma empresa do universo Espírito Santo, entre 1990 e 1999, altura em que sai para fundar e liderar a Eurofin. A empresa começou por chamar-se Eurogestion & Partners… e tinha o GES como maior acionista. Só em 2010 é que alterou a designação para Eurofin, pouco depois do GES ter largado as suas participações na empresa. E antes, em 2008, Alexandre Cadosch tinha também estado envolvido em várias transações de fundos de investimento imobiliário do Grupo Espírito Santo, realizadas no estrangeiro.

Negócios em Portugal

Também em 2008, o grupo liderado por Ricardo Salgado decide vender as participações que tinha em várias empresas em Portugal, nomeadamente as Termas de Monfortinho, as Águas do Vimeiro e a Herdade da Poupa. Na altura da transação, a 30 de dezembro, o GES informou que a venda foi feita à “AA-Iberian Natural Resources & Tourism, um grupo de investidores institucionais internacionais”. Tal como a VISÃO noticiou em agosto, uma empresa que está ligada a… Alexandre Cadosch, através da EBD – Euro Biodiversidade e Desenvolvimento (uma sociedade que anteriormente se chamava Espírito Santo Health & SPA), e à qual o próprio Cadosch preside.

Além disso, a EBD tinha, pelo menos, um administrador em comum com o GES. Trata-se de Miguel Silveira Moreno. Na EBD, era vogal do conselho de administração, bem como das administrações das suas filiais Vimeiro e Monfortinho. Do lado do GES, era administrador da seguradora Tranquilidade, da Tranquilidade Vida e da Seguros Logo. E pertencia ainda à administração da Espírito Santo Contact Center.

Alexandre Cadosch tem ainda outros interesses em Portugal. É administrador da Templo, Gestão de Investimentos. Esta empresa tem como presidente do conselho de administração Francisco Murteira Nabo, antigo líder da PT na altura em que o maior acionista privado português da empresa de telecomunicações era o GES.

Mais arguidos

Após as buscas da semana passada, o Ministério Público decidiu constituir mais dois arguidos à já vasta lista de suspeitos no caso GES. Trata-se de Isabel Almeida, antiga diretora financeira do BES e de empresas da Rioforte, e de António Soares, administrador do BES Vida. Os dois gestores mantiveram-se em funções após a queda de Ricardo Salgado e passaram para os quadros do Novo Banco. A Procuradoria Geral da República fez questão de explicar, em comunicado, que a constituição dos dois arguidos não está relacionada com a sua atividade no Novo Banco.

Isabel Almeida foi também administradora da Aroundimpact, uma empresa constituída em 2011 pelo GES e que serviu para “tapar” um buraco resultante do negócio de venda da Escom. No final de 2010, a Rioforte Luxemburgo vendeu a Escom à Espírito Santo Resources, com sede nas Bahamas, negócio que foi apresentado como uma reestruturação interna. No dia seguinte, a Espírito Santo Resources vende a Escom à Newbrook International, empresa sediada no Panamá que, alegadamente, pertencia a empresários angolanos. Após o negócio, o GES ficou por receber cerca de 390 milhões de euros. A Rioforte fica sem o ativo e sem o dinheiro. Cria a Aroundimpact, uma empresa que apenas serviu para ficar com os créditos desse negócio. Assim, em vez de ter no balanço uma dívida incobrável passou a ter uma participação numa empresa que tinha ativos de cerca de 400 milhões de euros. Desta forma, os auditores não conseguiram detetar esse buraco no balanço. Na altura, Isabel Almeida ficou como gestora única da Aroundimpact.

António Soares, por sua vez, já tinha sido forçado a pedir a demissão de administrador da seguradora BES Vida pelo Instituto de Seguros de Portugal (ISP). Segundo esta instituição, o gestor tentou realizar uma operação de colocação de obrigações do BES no BES Vida, após o ISP ter proibido a exposição das seguradoras a ativos do banco do grupo, em julho deste ano.

“A ação acabou por não ser consumada. No mesmo dia em que pediu a autorização, [António Soares] realizou-a, mas como não obteve a autorização do ISP, a operação acabou por ser anulada, ou seja, não aconteceu”, disse José Almaça, presidente do ISP, na comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao BES. Almaça garantiu que foi o próprio António Soares a pedir a demissão após ter conhecido a decisão do ISP.

O número de arguidos deste caso GES poderá não ficar por aqui, até porque ainda faltam os resultados finais da auditoria forense que a consultora Deloitte está a fazer às contas do BES. Os resultados deverão ser conhecidos no final deste ano.

O intermediário suíço dos Espírito Sant1 PDF

O ficheiro com o depoimento do contabilista que desmente Salgado revelado pelo Expresso

Sábado, Dezembro 13th, 2014

20141213

O Expresso revela os documentos que relatam a entrevista que Machado da Cruz deu aos advogados contratados como conselheiros legais da Espírito Santo Control. O contabilista diz que Ricardo Salgado, José Manuel e Manuel Fernando Espírito Santo sabiam. O semanário de Lisboa que pela primeira vez, em 12 de junho, publicou a documentação com o memorando da tradução da reunião de Machado da Cruz com a empresa de advogados luxemburguesa contratada pelo ESFG e vários quadros de auditoria do GES/BES e de auditores de nacionalidade portuguesa. Esta reunião teve lugar em 28 de março, no Luxemburgo. O Expresso fez a republicação da entrevista hoje, no final da sessão da CPI que inquiriu destacadas figuras do BES, do BESI, do BdP, da CMVM, dos auditores, designadamente da KPMG.

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Expresso

A reunião decorreu no dia 28 de março, entre as 10h00 e as 16h00. Os advogados contratados pela holding da família Espírito Santo, a Espírito Santo Control, confrontaram Francisco Machado da Cruz sobre os erros nas contas da Espírito Santo International (ESI). João Martins Pereira, ex-administrador de empresas do Grupo Espírito Santo, também esteve presente. Martins Pereira era um profundo conhecedor das contas do GES e do BES, já que também liderou a compliance do banco por mais de 10 anos depois de deixar em 2002 a PwC, onde era sócio. Curiosidade: a PwC deixou por opção própria de auditar o BES nesse mesmo ano.

Três dias depois da reunião, a equipa de advogados da Arendt & Modernach enviou um relatório completo e uma transcrição da reunião [ver o documento no fim deste texto] com os dois responsáveis do GES ao próprio Martins Pereira e a Domingos Espírito Santo Pereira Coutinho, administrador da ESI.

Expresso noticiou a 12 de junho essas declarações de Machado da Cruz, e esta semana, depois de  Ricardo Salgado ter afirmado na comissão parlamentar de inquérito que o contabilista teria depois assumido toda a responsabilidade , o Expresso publica um excerto da conversa, composto por 40 perguntas e as respetivas respostas (o documento, que pode consultar no fim deste artigo, está em inglês e francês). Todas refletem, tal como diz o documento dos advogados, o que disse Machado da Cruz na ocasião, mesmo que não seja uma citação em discurso direto. As afirmações de Martins Pereira estão devidamente assinaladas. Os documentos originais podem ser consultados em expresso.sapo.pt.

Machado da Cruz assume toda a responsabilidade sobre as contas, mas para ilibar de qualquer culpa os seus subordinados.  E diz que Ricardo Salgado sabia. E não só. Que pelo menos mais dois membros do conselho superior sabiam que as contas não eram verdadeiras: Manuel Fernando Moniz Galvão Espírito Santo Silva e José Manuel Pinheiro Espírito Santo Silva.

Os advogados concluem que as contas foram alteradas não por negligência, mas com o objetivo de esconder as perdas da ESI desde 2008.

Documentos que relatam entrevista de Machado da Cruz com advogados da ES Control do grupo GES/BES para fiscalização das más práticas contabilísticas do banco BESI (PDF)

 

Afinal, de quem é a culpa do colapso do BES?

Sexta-feira, Dezembro 12th, 2014

20141212

As principais figuras do Governo, do Banco de Portugal e do GES já foram ouvidas na comissão de inquérito. O resultado é um novelo de passagem de culpas e de responsabilidades difícil de desatar, conclui esta sexta-feira a TVI24.

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TVI24

Tudo o que se sabe, com toda a certeza, até agora, é que o BES colapsou e que uma medida de resolução criou o Novo Banco. Isto, tão pouco, é o que todos os envolvidos que já foram chamados à comissão de inquérito parlamentar constatam em uníssono. Isto, na verdade, era o que já se sabia antes de tantas audições.

Portanto, o que é novo? Agora que já foram ouvidas as principais figuras do Governo, do Banco de Portugal e do Grupo Espírito Santo, a quem pode atribuir-se a responsabilidade pelo colapso de um dos maiores bancos nacionais e consequente injeção de 4,9 mil milhões de euros num banco criado do zero e que será vendido brevemente?

Numa coisa, estão todos de acordo: houve desvio nas contas do GES e o BES levou por tabela com isso. Falta saber se a responsabilidade recairá só sobre o contabilista Machado da Cruz, como acusa Salgado, ou se ele terá agido sobre as ordens deste ou de algum outro superior no grupo. E, também, quando é que, efetivamente, os todo-poderosos tiveram conhecimento do problema.

Outro dado adquirido é que os cerca de três mil milhões de euros emprestados ao BES Angola, como desapareceram, resultaram num buraco que aumentou as necessidades de capital do Novo Banco que, de outra forma, precisaria de menos dinheiro. Importa saber quem é que autorizou esses créditos e porque é que a garantia dada pelo presidente angolano, para os cobrir em caso de incumprimento, afinal não serviu de nada. O problema veio para Lisboa e é o fundo de resolução que o está a pagar.

Pela amostra das audições da ministra das Finanças, do governador do Banco de Portugal, de Ricardo Salgado e do seu braço-direito e ainda de José Maria Ricciardi, a conclusão até parece fácil: todos «empurram» as culpas de uns para os outros e descartam as suas responsabilidades.


CARLOS COSTA CULPA SALGADO E O CONTABILISTA

O governador do Banco de Portugal garantiu que foi surpreendido com os prejuízos do BES no fim de julho, sobretudo com os 1.500 milhões ocultados. Nesta altura, já seria impossível recapitalizar o banco, alega que já não podia fazer nada.

Carlos Costa admitiu «esquemas fraudulentos» na área não financeira do GES, que foram revelados com as «confissões» de Ricardo Salgado e do contabilista, em entrevistas, em maio. Até aí, insistiu que só tinha «indícios de omissão».

Quanto aos últimos tempos do BES, assegurou que fez um «cerco» a Salgado para que este deixasse a administração do banco, mas não conseguiu retirar-lhe a idoneidade. No entanto, destacou que foi a sua «pressão» que afastou a família do banco. Sobre o aumento de capital do BES antes do colapso, chutou para a CMVM a responsabilidade de suspender as emissões de capital. Para poder ter feito mais, pediu mais poderes para os supervisores.

MINISTRA DAS FINANÇAS CULPA SALGADO


Maria Luís Albuquerque afirmou que «houve uma desobediência clara dentro do BES às determinações do Banco de Portugal», acrescentando que sempre lhe foi garantido pela administração de Salgado que não havia problemas no banco.

A ministra acusou os administradores do BES e o grupo de «práticas de gestão em claro incumprimento» e apontou o dedo a Ricardo Salgado, por lhe ter apresentado um plano, «algures em maio ou junho», de financiamento da CGD «para salvar o GES, ou seja, o ramo não financeiro». Pelo discurso de Maria Luís, pressupõe-se que Salgado escondeu a exposição do BES ao grupo que já existia nessa altura. Certo é que «estava completamente fora de questão» injetar dinheiro no GES.

No decurso da situação que levou ao colapso do banco, a ministra das Finanças disse que foi o Banco de Portugal que reagiu e definiu tudo e que só foi sabendo das suas decisões. Mas concorda com elas.

RICARDO SALGADO CULPA O BANCO DE PORTUGAL E O CONTABILISTA

«O BES não faliu. O BES foi forçado a desaparecer».  Para o ex-presidente do banco, o colapso seria evitável com a sua estratégia de recapitalizar a Rio Forte e se o Banco de Portugal não tivesse optado pela medida de resolução.

Alega que o Banco de Portugal fez uma espécie de ultimato, dando apenas «48 horas» para um aumento de capital, já nos últimos dias do banco. Ou seja, seria «um milagre» que isso funcionasse e esta foi só uma forma de Carlos Costa «se desresponsabilizar» quando já estava «tudo mais ou menos orientado» para a medida de resolução.

Sobre a questão da idoneidade e da sua saída da liderança, Ricardo Salgado diz que ficou «surpreendido» com o «braço-de-ferro» que Carlos Costa contou no Parlamento, garantindo que o governador não lhe deu qualquer «sinal» de o querer afastar do banco mais cedo.

Quanto ao problema das contas do GES, que começou em 2008 e se refletiu no banco, nega ter dado «instruções» para a ocultação de passivos, até porque «nem tinha como missão estar a acompanhar as contas do grupo». Aponta o dedo apenas e só a uma pessoa: o ex-contabilista do Grupo Espírito Santo, Francisco Machado da Cruz, que entretanto se mostrou disponível para ir à comissão de inquérito. Citando a entrevista, em maio, sublinhou várias vezes que Machado da Cruz «assumiu totalmente a responsabilidade dos seus atos».

RICCIARDI CULPA O PRIMO SALGADO


O ainda presidente do BESI, o banco de investimento do BES, diz que viveu «dois anos de inferno total» e que foi «traído» pelo ex-presidente do banco e pelos restantes administradores.

Garante que foi «a única pessoa» que tentou «mudar o curso das coisas» e tentou afastar o primo Ricardo Salgado em dezembro de 2013. Também alega que quis chamar o contabilista Machado da Cruz às reuniões do conselho superior do GES e Salgado nunca acedeu ao pedido.

Apareceu como o grande aliado do Banco de Portugal até agora. «Sou testemunha que  fez tudo o que era possível. A liderança do grupo adiava, dissimulava e empurrava os problemas como uma bola de neve».

MORAIS PIRES CULPA RICCIARDI

O ex-administrador financeiro (CFO) do BES primeiro a ter como alvo o primo de Ricardo Salgado, José Maria Ricciardi, a quem atribuiu responsabilidades pelo que se passou. Isto porque o presidente do BESI era o responsável pelo departamento de risco global. «Era uma pessoa importante e não só no papel». Para além disso, era o BESI que «definia e aprovava tudo» o que tinha a ver com o papel comercial.

Tido como braço direito de Ricardo Salgado, Morais Pires quis descolar esse rótulo e chegou a admitir que «já todos concluímos» que o ex-patrão do BES devia «ter saído mais cedo».

Mas, e ele, que era o responsável pelas contas? Diz que não sabia de nada. Culpas, então, não as assumiu. Apenas «coletivamente». «Eu pertencia um exército, que tinha um general, e esse exército perdeu».

CMVM CULPA BANCO DE PORTUGAL

Pelo menos indiretamente. Diz que o colapso do banco é do foro da supervisão bancária. Carlos Tavares admitiu que, no dia a seguir à apresentação de resultados, a 31 de julho de 2014, houve logo grandes investidores que se desfizeram «massivamente» das ações do BES e, com isso, ganharam dinheiro antes do descalabro. Outros, mais pequenos, compraram a baixo preço a pensar que era um bom negócio e, no fim de contas, perderam tudo. Mas o presidente da CMVM diz que o Banco de Portugal só o alertou para uma eventual «fuga de informação» no dia seguinte. Tarde demais.

Ou seja, alega que não atuou mais cedo, porque a CMVM não tinha razão para «supor falta de informação». A negociação de títulos, «embora anormalmente elevada», era natural que resultasse na desvalorização das ações. Isto porque os resultados evidenciavam elevados prejuízos. Não tinha noção que o problema era maior, de ocultação de contas. E essa parte, frisou, é supervisionada pelo Banco de Portugal .

Apesar de o governador do BdP ter recomendado a suspensão das ações no dia 1 de agosto, sexta-feira, às 15:12, estava munido apenas de uma suspeita. Não de uma certeza. «Não fazia sentido suspender as ações só porque estavam a descer», a uma hora do fecho de mercado.

Certo é que, nesses dois dias, muita gente perdeu dinheiro. Meteu-se o fim-de-semana e a resolução. Na segunda-feira de manhã, o BES já era tóxico e nunca mais voltou a transacionar em bolsa. 

 

Eurofin defende-se: “Nunca tivemos fotografia global do que se estava a passar”

Quinta-feira, Dezembro 4th, 2014

2o0141204

O presidente da companhia suíça Eurofin diz que a empresa não é mais do que um “pequeno” intermediário cuja dimensão não se compara ao BES nem ao GES. Nem ao Crédit Suisse, atira Alexandre Cadosch em entrevista citada hoje pelo jornal eletrónico Observador.

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Observador

Os dirigentes do BES e do GES “não nos comunicam o que fazem, quais os seus objetivos e quais os seus parceiros. Nunca tivemos a fotografia completa quer das operações em estivemos envolvidos, quer do que se passava no GES e no BES“. É esta a defesa de Alexandre Cadosch, presidente da suíça Eurofin, uma sociedade financeira que intermediou operações financeiras do Grupo Espírito Santo que se revelaram ruinosas para o Banco Espírito Santo”.

O jornal Público entrevistou Alexandre Cadosch em Lausana, na Suíça, numa conversa de quatro horas que o jornal diz ter sido marcada por “muita tensão”. “Para quem está fora dos órgãos de gestão do grupo Espírito Santo, um conglomerado com muitos interesses, extensões a muitos países e posições em empresas, torna-se muito difícil ter a compreensão completa do que se passa”, afirmou Alexandre Cadosch na entrevista publicada esta quinta-feira. “A situação”, diz o presidente da Eurofin, é “complexa”.

O antigo quadro do GES chamou também a atenção para a “diferença de dimensão entre as instituições envolvidas nas operações em causa”. “O BES, o GES ou o Crédit Suisse têm uma enorme importância, enquanto o Eurofin é uma pequena instituição prestadora de serviços que nunca colocou os produtos diretamente junto dos clientes sejam particulares ou institucionais”, atirou Alexandre Cadosch.

O Crédit Suisse viu-se envolvido nos problemas do GES depois de o “The Wall Street Journal” noticiar que o banco suíço tinha constituído um conjunto de veículos financeiros sedeados em “offshores” e que acolheram dívidas do GES. Estes títulos viriam depois a ser empacotados e vendidos aos clientes do Banco Espírito Santo.

Alexandre Cadosch, que reconhece ter sido “visitado” pelo Banco de Portugal, garante que questionou algumas operações solicitadas por entidades da esfera de Ricardo Salgado, nomeadamente a relacionada com um suposto “saco azul” de 300 milhões que pode ter servido para pagar despesas não documentadas. Só Ricardo Salgado e os líderes do grupo podem explicar questões como esta, afirma Alexandre Cadosch, ao Público.

 

Espírito Santo Financial Group anuncia insolvência

Quinta-feira, Outubro 9th, 2014

A Espírito Santo Financial Group (ESFG) anunciou esta quinta-feira que vai pedir a insolvência, tal como a sua subsidiária ESFIL – Espírito Santo Financière, informou a empresa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A decisão surge depois de o Tribunal do Luxemburgo ter rejeitado na sexta-feira os pedidos de gestão controlada da ESFG e da ESFIL, empresas do Grupo Espírito Santo.

No comunicado divulgado esta quinta, a ESFG refere que “é expectável” que o Tribunal do Luxemburgo passe uma ordem de insolvência e “nomeie um ou mais recetores para as propriedades da ESFG e da ESFIL nas audiências de sexta-feira, dia 10 de outubro”.

A ESFG, o braço financeiro do Grupo Espírito Santo, recorda que os procedimentos em relação aos pedidos de gestão controlada da Espírito Santo International (ESI) e da Rioforte Investments, os maiores acionistas indiretos da ESFG, continuam em curso, refere o Expresso.

Na sexta-feira, fonte do Tribunal do Luxemburgo explicou à Lusa que os processos relativos a gestão controlada são confidenciais, pelo que as instâncias judiciárias não podem prestar qualquer informação, apontando apenas que a decisão foi tomada após terem sido analisados os relatórios dos especialistas.

A mesma fonte remeteu para o artigo 2º da legislação. Este explica que os pedidos de gestão controlada são rejeitados quando, com base nos elementos apresentados, não houver qualquer evidência de que tal gestão iria melhorar progressivamente o normal exercício das empresas ou melhorar a sua situação a nível de ativos.

Embora ambas no mesmo sentido, as decisões foram tomadas em separado, dado tratarem-se de dois requerimentos de gestão controlada, apresentados pela ESFG a 24 de julho passado e pela ESFIL a 31 do mesmo mês.

Poucos dias depois destes pedidos, a 3 de agosto, o Banco de Portugal tomou o controlo do BES, após o banco ter apresentado prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição.

No chamado banco mau (‘bad bank’), um veículo que mantém o nome Banco Espírito Santo (BES), ficaram concentrados os ativos e passivos tóxicos do BES, assim como os acionistas, enquanto no ‘banco bom’, o banco de transição que foi designado “Novo Banco”, ficaram os ativos e passivos considerados não problemáticos.

Tribunal do Luxemburgo ignora pressupostos de “banco bom” e “banco mau” em termos da falência forçada pelo Banco de Portugal

 

Tribunal do Luxemburgo recusa pedidos de gestão controlada de empresas do Grupo GES

Sexta-feira, Outubro 3rd, 2014

Tribunal do Luxemburgo rejeitou nesta sexta-feira (03-10-2014) os pedidos de gestão controlada do Espírito Santo Financial Group (ESFG) e da Espírito Santo Financière (ESFIL), empresas do Grupo Espírito Santo (GES), anunciou o tribunal.

A notícia foi avançada pela agência Lusa. A alternativa é um processo de insolvência, o que deverá implicar a venda de ativos no curto prazo com o objetivo de salvaguardar o valor possível para os credores.

“O tribunal do Luxemburgo, depois de receber os requerentes e o Ministério Público, e após a apresentação dos relatórios do juiz delegado e dos especialistas, rejeitou os pedidos de colocação sob gestão controlada, feitos pelo Espírito Santo Financial Group a 24 de julho de 2014 e pela Espírito Santo Financial (ESFIL) a 31 de julho de 2014″, disse ao Negócios porta-voz da administração judicial luxemburguesa.

A ESFG é a “holding” que agrupa os ativos financeiros do Grupo Espírito Santo (GES) e é, por sua vez, controlada pela “holding” Rio Forte. Concentra as participações da família Espírito Santo nos negócios de banca e de seguros, nomeadamente as participações no BES, na Tranquilidade e no suíço Banque Privée, entre outras, escreve o Diário Económico.

Detém 20% do BES (banco “mau”), o Banque Privée e os bancos da família no Dubai e no Panamá, entre outros ativos. Além da ESFG, o tribunal chumbou também o pedido de gestão controlada da participada Espírito Santo Financiére. Na próxima segunda-feira, a justiça luxemburguesa deverá decidir o futuro da Rio Forte, adianta o jornal.

Tribunal do Luxemburgo nega pedido de gestão controlada da ESFG e ESFIL apresentado pelo Grupo GES/BES – PDF