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Ex-CEO do BPI diz que por mais dinheiro inicialmente no Novo Banco poderia causar crise sistémica. De manhã, Byron Haynes defendeu a política de remunerações do banco. Siga aqui.
Ulrich lamenta que supervisão obrigue bancos a vender crédito malparado a fundos
Ulrich não recorda, mas defendeu nacionalização (e também a liquidação). Hoje diz que resolução defendeu interesse público
Duarte Pacheco confronta Fernando Ulrich com uma entrevista sua de 2017 em que este defende que a nacionalização do BES teria sido a melhor opção.
“Custa-me a acreditar que tenha defendido a nacionalização do BES [em 2014]. Uma liquidação sim. Na defesa dos interesses do BPI, estava convencido que o BPI ia ganhar com isso. Não contribuía para o fundo e poderia poderia ganhar muitos clientes com o fim do BES. O trabalho da Deloitte apontou para perdas de 20 mil milhões de euros dos credores com a liquidação. Ulrich reconhece que era uma opinião relativamente minoritária. Os bancos e o BdP não gostavam de me ouvir a dizer isto.
Mas Duarte Pacheco cita entrevista em que Ulrich aparece a defender a solução do PCP — a nacionalização. O que o banqueiro não recorda.
Sobre a decisão que foi tomada, reafirma: “Foi uma decisão que defendeu o interesse público e se há uma falha que lhe aponto hoje é que deveria ter havido uma contribuição maior dos credores do banco”.
Duarte Pacheco (PSD) pergunta a Ulrich que melhorias há a fazer na regulação e supervisão devido ao que aconteceu no BES e no Novo Banco.
“A melhoria possível é não deixarem gastar a totalidade dos 3,9 mil milhões de euros [do mecanismo de capitalização contingente]. Em tudo o resto o trabalho de casa foi feito”, diz Fernando Ulrich.
Já antes, o ex-CEO do BPI tinha dito que a regulação e a supervisão bancárias em Portugal e na Zona Euro “são fortes, intrusivas e competentes”. “Se houve atuações menos boas no passado, são coisas do passado e foram resolvidas”, completou.
“Nunca percebi por que razão o BES nunca recorreu às linhas de apoio à banca da troika”
“Nunca percebi por que razão o BES nunca recorreu às ajudas europeias destinadas aos bancos. E durante muito tempo fizeram disso grande motivo de orgulho não terem aderido
às linhas de apoio da troika”, diz Fernando Ulrich, em resposta a João Paulo Correia (PS).
O ex-CEO do BPI diz ainda que nunca lhe passou pela cabeça “que a dimensão dos problemas do banco fosse tão grande”.
“É muito difícil reconhecer que se falhou, que se tem problemas e que se é responsável por esses problemas. Há pessoas que têm muitos problemas em reconhecer isso”, concluiu.
João Paulo Correia insiste. “Se o BES tivesse aderido às linhas de apoio à banca seria sujeitado a um escrutínio mais apertado…” Na resposta, Fernando Ulrich sugere que há coisas que não pode dizer por ainda ser chairman (não executivo) do BPI e ter um cargo de administração no Caixabank.
Fernando Ulrich aproveita a intervenção para apresentar as suas conclusões antecipadas dos vários pontos que fazem parte do objeto desta comissão de inquérito, ainda que refira não ter informação sobre o que se passou após a venda à Lone Star.
Defende que depois da “tragédia causada pela gestão do BES, seguiu-se uma história de sucesso”, apesar do esforço de capitalização do Novo Banco ter sido mal e injustamente distribuído.
Depois de terminar a sua intervenção, os deputados do PCP, Duarte Alves, e do CDS, Cecília Meireles, comunicaram não ter perguntas a colocar ao banqueiro que foi chamado por ser um grande conhecedor do setor e não por estar envolvido em decisões do Novo Banco.
Ter imposto mais dinheiro poderia causar crise sistémica. “Foi melhor ter resolvido o problema do Novo Banco por fases”
“Não quero pensar nas consequências e no choque se tivéssemos acordado com a noticia de que eram 10 mil milhões. Ter imposto ao Fundo de Resolução meter mais dinheiro poderia provocar uma crise sistémica. Exigir mais aos credores poderia ser delicado dada a dependência de Portugal dos mercados de dívida. Impostos era muito difícil”.
“Globalmente acho que foi bem vendido à Lone Star”. O BPI não teria comprado naquelas condições, era mais exigente
Em 2016, o BPI estudou o assunto, tendo em vista a compra do Novo Banco, afirmou Fernando Ulrich. “Não chegámos a apresentar uma proposta. O nosso desenho não era igual ao da Lone Star, por isso não é diretamente comparável”.
“Mas globalmente, a ideia com que fiquei é que o BPI era mais exigente do que a Lone Star. Ou seja, nós não teríamos comprado o Novo Banco naquela altura com aquelas condições”, revelou.
Assim, e comparando a proposta da Lone Star com “a hipótese de proposta” do BPI “acho que foi bem vendido” nas condições em que foi. “Coisa diferente é saber se deveria ter sido vendido na altura em que foi”, ressalvou Ulrich.
Sobre o controlo que é exercido sobre a atividade bancária, Ulrich diz que a regulação e a supervisão bancárias em portugal e na Zona Euro “são intrusivas e competentes”.
“Se houve atuações menos boas no passado, são coisas do passado e foram resolvidas”, completa.
Fernando Ulrich diz que até hoje o Novo Banco gastou 16,4 mil milhões de euros em capital, entre os capitais próprios que existiam no BES, o empréstimo inicial de 4.900 milhões, uma injeção de 1.000 milhões da Lone Star, os 2,5 mil milhões dos credores e os 3,9 mil milhões que o Fundo de Resolução tem vindo a injetar.
“A questão é a de saber se todas as estas perdas se deveram a decisões tomadas até agosto de 2014 ou se foram já tomadas com o Novo Banco”, afirmou.
“E a minha opinião é que uma parte muito significativa destes 16,4 mil milhões devem-se a decisões tomadas antes”.
Arranca a audição de Fernando Ulrich, ex-CEO do BPI e que atualmente é presidente do conselho de administração do banco. Ulrich faz uma declaração inicial.
A cobertura do Observador dos trabalhos da Comissão Parlamentar de inquérito às perdas do Novo Banco será retomada perto das 15h30, com a audição de Fernando Ulrich, antigo CEO do BPI. Até já.
Participação indireta na Nani Holdings “são ações de classe B”, mas “não sei exatamente qual é a ligação”
Byron Haynes é forçado a dar explicações adicionais sobre a posição indireta que detém na Nani Holdings (através da qual a Lone Star controla 75% do Novo Banco). “Afinal são ações ou não”, pergunta Duarte Alves (PCP), que continua a referir que se trata de uma forma de remuneração acertada com vários responsáveis do banco, incluindo o CEO António Ramalho.
“São ações de classe B de uma entidade que está controlada pela LSF Nani Investments”. A luxemburguesa LSF Nani Investments é detida por fundos que pertencem ao grupo Lone Star e também é a holding financeira da Nani Holdings, a entidade da Lone Star que é a acionista de 75% do Novo Banco.
Mas a partir daqui, Byron Haynes alegou desconhecimento. “Não sei como está ligada indiretamente, mas não está ligada directamente à Nani Holdings. Não sei exatamente como essa entidade jurídica está ligada indiretamente”.
Foi mais claro a dizer que não se trata de uma remuneração, como disse Duarte Alves, insistindo que foi um “investimento indireto”, que fez com o seu dinheiro e com risco, mas porque “acredita no Novo Banco”.
“É um investimento indireto de longo prazo”, acrescentou Byron Haynes, salientando que não se trata de dinheiro que saia do bolso de alguém.
A resposta de Byron Haynes: estes CPP, poupança programada, são um produto que foi criado antes de 2017 e a maioria vence antes de 2023. “O que fizemos é evitar que os depositantes continuassem a fazer depósitos todos os anos e temos direito legal de o fazer – têm uma taxa de juro extremamente elevada e era isso precisamente que queríamos dizer aos depositantes: nós honramos o depósito mas não vamos permitir depositar mais dinheiro para terem taxas de 5% ou 6% à custa do Novo Banco e à custa do CCA”.
“Essa foi a abordagem que seguimos, observando todos os processos jurídicos, os clientes compreenderam a abordagem do banco”.
O PSD sublinha que Byron Haynes não respondeu à pergunta, porque não foi só impedir novas subscrições mas, também, antecipar reembolsos.
“Não sei todos os detalhes“, diz Haynes, não fazemos uma destrinça entre ativos CCA e não CCA — e “este não é um passivo CCA”, diz Byron Haynes, garantindo que não é feita diferença entre os dois tipos de passivos.
Depósitos a prazo. PSD saca coelho da cartola e acusa Novo Banco de antecipar prejuízos
O deputado do PSD Hugo Carneiro tem, ainda, uma questão sobre “algo que nunca foi falado até hoje mas que é muito significativo e que demonstra o modo como o banco é gerido”: “em dezembro de 2018 o Novo Banco tinha 885,9 milhões em depósitos chamados Contas Poupança Programada, que garantiam aos clientes um determinado juro. Estes depósitos deveriam vencer-se entre 2023 e 2025, o Novo Banco celebrou acordos com os clientes para pagar antecipadamente compensações no montante desses juros acordados para antecipar os prejuízos relacionados com esses depósitos”.
“Eu gostava que me explicasse como é que esta gestão é sã e prudente e o objetivo não foi levar isto ao mecanismo CCA?”, pergunta Hugo Carneiro
PSD pergunta, agora, porque é que, a julgar pelo que disse José Almaça, ex-responsável da ASF na semana passada, o banco se “desinteressou” da gestão da GNB Vida, contribuindo para a perda de valor da seguradora.
“Foi uma venda complicada, mas tinha de ser feita nos termos do acordo com as autoridades europeias”, diz Byron Haynes, garantindo que o processo de venda foi transparente apesar de complexo.
Mais uma vez, o deputado diz que Byron Haynes não responde à questão. Haynes diz que só pode repetir o que disse: a GNB Vida fazia parte da família Novo Banco, continua a ser parceira [GamaLife] e os comentários dos responsáveis da supervisora dos seguros, na semana passada, apenas dizem respeito ao valor que o mercado acabou por pagar pelo ativo.
Terceira insistência do PSD, que continua a acusar Byron Haynes de não responder à questão de o Novo Banco se ter (ou não) desinteressado da GNB Vida. “Tivemos uma gestão ativa e pro-ativa da GNB Vida”, garante.
Novo Banco já cumpre rácios regulamentares mesmo sem os 112 milhões retidos
Também do PSD, Hugo Carneiro, começa por dizer que 13% do CCA está em litígio, o que indica que houve tentativas de “abuso” por parte do Novo Banco do mecanismo de capital contingente.
“O CCA contribuiu para a estabilidade financeira”, sublinha Byron Haynes.
O deputado pergunta, também, se mesmo sem os polémicos 112 milhões de euros o Novo Banco não está a cumprir os rácios de capital regulatórios tendo em conta as tolerâncias relacionadas com a pandemia. “Os 112 milhões retidos significa que os rácios de capital caem para 10,9%”, diz Byron Haynes, não respondendo se chega ou não.
Perante a insistência de Hugo Carneiro, Byron Haynes diz que o banco, assim, “está a cumprir“.
O responsável tinha voltado a relembrar “a necessidade de proteger a integridade do CCA“.
O PSD, pela deputada Filipa Roseta, questiona Byron Haynes sobre a carteira imobiliária que o Novo Banco tinha e que estava avaliada em 2,5 mil milhões. Hoje, a carteira vale menos de mil milhões, mas Byron Haynes diz que os valores não são comparáveis porque houve vendas de ativos, não se pode dizer que a carteira se tenha desvalorizado.
Números mais concretos Byron Haynes diz que não tem presente e, portanto, pede para enviar depois ao parlamento uma vez que se reunida a informação (pública) sobre a evolução dos valores das carteiras imobiliárias. A deputada diz não compreender como é que podia ter dito que não teve surpresas quando em 2017 ninguém podia prever a valorização do mercado imobiliário nos anos que viriam depois – e mesmo assim não foi possível vender aos valores que estavam registados no balanço.
“Todas as vendas excederam as expectativas do banco”
“Todas as vendas excederam as expectativas do banco”, garante Byron Haynes, referindo-se ao valor a que foram feitas as vendas de carteiras de malparado – a todas. Ainda assim, os reguladores não estão satisfeitos e querem que o rácio de malparado é muito elevado, o mais elevado do mercado português e um dos mais elevados no mercado europeu.
“Progredimos bastante mas temos de continuar” na redução dos ativos tóxicos no banco.