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Compras da Fidelidade exigem mais capital. Chineses injetam 500 milhões

Terça-feira, Agosto 4th, 2015

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Observador

Fidelidade vai aumentar o capital para acomodar as aquisições recentes, com destaque para a Luz Saúde, e cumprir as novas regras dos seguros. Fosun vai injetar 500 milhões. Caixa deve reduzir.

A Fidelidade vai realizar um aumento de capital de 607 milhões de euros, dos quais 500 milhões pela entrada de dinheiro fresco. A operação tem como finalidade preparar a seguradora para as novas regras de solvência, mas também acomodar a expansão promovida pelo novo acionista, a Fosun, através de compras em Portugal e no mercado internacional.

De acordo com a fonte oficial da Fidelidade, um dos negócios que justifica este aumento de capital foi a compra da Luz Saúde, a antiga Espírito Santo Saúde, adquirida há um ano através de uma oferta pública de aquisição (OPA) num investimento de 460 milhões de euros. A Luz Saúde (dona do Hospital da Luz), que também está a investir para crescer, vai absorver muito capital, no quadro das novas regras de solvência que entram em vigor a 2016. Este foi apenas uma das várias aquisições realizadas pelo grupo Chinês, através da Fidelidade. O último negócio, anunciado na semana passada, foi a compra do Palácio Broggi em Milão por 345 milhões de euros.

 O aumento de capital “destina-se justamente a fortalecer a companhia na preparação para o solvência II e do processo de rating iniciado (tendo em vista sermos mais ativos nos mercados internacionais), dando-lhe condições para continuar a crescer e acomodar o investimento estratégico realizado na Luz Saúde (ativo que em solvência II consome muitos capitais)”. Fonte oficial da seguradora reconhece que esta estratégia contrasta com a de outras seguradoras internacionais, que estão a desinvestir.

A operação prevê um reforço total do capital de 607 milhões de euros, através da entrada de dinheiro fresco, no montante de 500 milhões de euros que será um investimento assumido sobretudo pela Fosun, mas também de entradas em espécie, que neste caso são ações de empresas Multicare e Care. Estas empresas autónomas que passarão a estar debaixo da Fidelidade. A Caixa Geral de Depósitos irá participar, através das participações que detém nestas sociedades, mas deverá reduzir a sua posição acionista na Fidelidade, de acordo com informação recolhida pelo Observador -tendo hoje 15% do capital da empresa, face aos mais de 80% da Fosun. A dimensão e contornos da participação do banco público nesta operação ainda estão em aberto. Fonte oficial da CGD não comenta para já.

A entrada em dinheiro será realizada através da emissão de novas ações no valor de 123 milhões de euros, mas que têm um prémio de emissão (ágio), o que permite um encaixe de cerca de 500,2 milhões de euros para a seguradora. As ações serão reservadas aos acionistas, na proporção de 323 novos títulos por cada 1000 detidos, refere a convocatória da assembleia geral.

Os riscos de uma grande seguradora num mercado pequeno

O aumento de capital, que será votado em assembleia geral a 3 de setembro, insere-se num processo iniciado em novembro de 2014 que visa preparar a empresa para o novo regime de Solvência II, e que inclui também a não distribuição de dividendos, acrescenta fonte da Fidelidade. Desde que passou para a Fosun, em 2013, a Fidelidade não remunera o acionista. Antes de ser vendida, a seguradora distribuiu 600 milhões de euros pelo acionista público, a Caixa, através de redução de capital e de distribuição de reservas.

Por outro lado, fonte oficial da Fidelidade admite que a seguradora foipenalizada nos testes de stress realizados no final do ano passado pelo regulador europeu para testar a solidez financeira, face às regras prudenciais que vão vigorar a partir de 2016. Em causa estava o risco de concentração em ativos de uma grande seguradora (a Fidelidade é a maior empresa do setor) num mercado pequeno como Portugal que dificulta a diversificação do investimento. O teste teve por base os resultados de 2013. No caso da Fidelidade, o risco de concentração passava pela exposição à Caixa Geral de Depósitos, então a maior acionista, em depósitos e outras aplicações, obrigando a consumir mais capital.

Fonte oficial adianta que a seguradora mantém uma margem de solvência de cerca de 170% pelo regime de solvência I, que está em vigor, e sublinha que a Fidelidade tem vindo diversificar os investimentos, em linha aliás com a expansão e estratégia da acionista chinesa. Diversificar também em nome da rentabilidade, não obstante as aplicações na Caixa apresentarem um risco mais baixo do que outros investimentos internacionais.

Para além da compra de ativos imobiliários e participações em empresas, a Fidelidade também aplicou mil milhões de euros em títulos de dívida da Fosun.

Fidelidade investiu mil milhões em dívida do acionista chinês

Sexta-feira, Junho 5th, 2015

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Observador

O investimento na acionista chinesa foi realizado “em condições normais de mercado”, diz a seguradora. A Fosun está na corrida ao Novo Banco e tem vindo a reforçar o seu financiamento.

A Fidelidade investiu no ano passado cerca de mil milhões de euros de títulos de dívida emitidos pela Xingatao Assets Limited, um veículo detido pela sua maior acionista, a Fosun, que tem como finalidade captar financiamento. A emissão de dívida de longo prazo por parte desta sociedade controlada pela empresa chinesa faz parte do reforço das fontes de financiamento para poder sustentar uma política de aquisições agressiva.

Este investimento em senior notes due da Xingtao Assets, tem validade até 2022, e representa cerca de 7,7% do ativo total da Fidelidade no final de 2014 e mais de 10% do ativo classificado para a venda. A seguradora portuguesa terá adquirido a totalidade desta emissão de obrigações que paga um cupão anual de 3,3%. Segundo a Bloomberg, o objectivo desta emissão realizada em outubro do ano passado foi o de refinanciar dívida.

Questionada pelo Observador sobre o investimento tão elevado no acionista, fonte oficial da seguradora adianta que este ativo “foi emitido e adquirido em condições normais de mercado e está admitido à negociação em mercado regulamentado europeu (Irlanda). Dado o montante envolvido, a Fidelidade tem opções de liquidez e garantias adicionais.”

Portugal é apenas um dos mercados alvo da Fosun que, depois de comprar a Fidelidade em 2014, pela qual pagou mais de mil milhões de euros, utilizou a seguradora para adquirir, através da oferta pública de aquisição, a Espírito Santo Saúde, hoje Luz Saúde. A Fosun é ainda uma das mais fortes candidatas ao Novo Banco, mas Portugal é apenas um dos vários destinos da política expansionista do empresário chinês Guo Guanchang, que gosta de se comparar com Warren Buffet.

O conglomerado chinês tem vindo a financiar uma onda de aquisições internacionais com base sobretudo em dívida cujo valor atingiu 16,7 mil milhões de dólares (15 mil milhões de euros) no final de 2014. Esta política tem acendido luzes de alerta nas agências de rating que seguem a Fosun. Desde 1992, o grupo terá investido cerca de 31 mil milhões de dólares em aquisições e fusões, de acordo com dados da Thomson Reuters. Na calha estão novos investimentos da ordem dos sete mil milhões de dólares (6,2 mil milhões de euros), onde se incluem o Novo Banco e a sociedade imobiliária da Morgan Stanley na Austrália.

A disputa pelo Novo Banco

A Fosun foi apontada pelo Financial Times como estando entre os candidatos mais fotes à compra do Novo Banco, ao lado da sociedade financeira Anbang, também chinesa. Estes dois grupos terão feito as ofertas mais altas, na casa dos 4.000 milhões de euros. Os outros concorrentes são dois fundos americanos e o Santander.

Para sustentar a expansão internacional, a Fosun está também a realizar um aumento de capital na bolsa de Hong-Kong com uma oferta de ações que permitirá um encaixe de 1,2 mil milhões de dólares. A Fidelidade não adquiriu ações da sua acionista nesta operação, segundo fonte oficial, porque estaria impedida por a Fosun ser uma parte relacionada.

Para além de investir em dívida da Fosun, a Fidelidade tem participado como investidora direta em aquisições do seu acionista. O Club Med, uma distribuidora chinesa de filmes, uma empresa de moda alemã (Tom Tailor), estão entre os negócios que envolveram a seguradora portuguesa e que constam do balanço (o Club Med, cuja OPA se concretizou este ano, não aparece ainda em 2014). A Fidelidade lançou ainda uma sociedade de investimento imobiliário, a Fidelity Property International, que desenvolve projetos no Reino Unido e Austrália.

Caixa aprovou investimento em dívida da Fosun

Segundo fonte oficial da seguradora, a Fidelidade não tinha de comunicar especificamente o investimento de mil milhões de euros em dívida do seu acionista ao regulador, para além do reporte periódico sobre a carteira de títulos. A mesma fonte sublinha que a aplicação está descrita no relatório e contas de 2014, no capítulo de transações com partes relacionadas. E como tal, a aquisição “obedeceu a um mecanismo de aprovação específico, usual nestas situações, tendo de ser aprovada por uma maioria qualificada de administradores indicados pelos dois acionistas de referência”, ou seja a Fosun e a Caixa Geral de Depósitos que ainda controla 15% do capital. Tal mecanismo, acrescenta, aplica-se também à aquisição de valores emitidos pela Caixa.

De acordo com esta informação, a Fidelidade tinha aplicado, no ano passado, 1.816 milhões de euros em ativos classificados como para a venda de partes relacionadas. A maior fatia destas aplicações estava no veículo da Fosun, cujo valor de mercado era de 977,5 milhões de euros, abaixo do valor nominal de mil milhões de euros. Na Caixa estavam aplicados 742 milhões de euros.

Em 2013, a Fidelidade tinha mais investimento realizado em ativos e títulos detidos ou comercializados pela Caixa Geral de Depósitos, então a sua única acionista.