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Depois de o Governo ter vetado nomes para o BdP e de o líder do PS ter recuperado o fantasma da demissão do governador, António Costa veio pôr água na fervura. Fiscalização do BCE e FMI à independência do governador foram rede de protecção.
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Depois de o Governo ter vetado nomes para o BdP e de o líder do PS ter recuperado o fantasma da demissão do governador, António Costa veio pôr água na fervura. Fiscalização do BCE e FMI à independência do governador foram rede de protecção.
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A banca “continua condicionada pela falta de capital para absorver as perdas com imparidades”, conclui o FMI, na declaração após a quinta missão de monitorização pós-troika.
A venda do Novo Banco, bem como os aumentos de capital a decorrerem na banca nacional, vão contribuir para o reforço da estabilidade financeira, antecipa o Fundo Monetário Internacional (FMI), na declaração feita pelos seus peritos após a quinta missão de monitorização pós-programa da troika, divulgada esta quinta-feira.
Nos dois pontos do relatório em que faz considerações sobre a situação da banca portuguesa, o FMI começa por destacar que “o sistema bancário português continua a fazer a desalavancagem, num ambiente operacional difícil”. Contudo, e apesar de os bancos “continuarem com elevada liquidez“, as “medidas de cortes de custos não foram suficientes para compensar a redução da rentabilidade, resultante das baixas margens com as taxas de juro e da baixa qualidade dos ativos”.
Feitas as contas, a desalavancagem ajudou os bancos a “reduzir os ativos ponderados pelo risco e as necessidades de capital associadas, mas a limpeza do balanço continua incompleta“. Isto porque, continua o FMI, “a herança dos ativos continua a pesar sobre os bancos”, com as provisões constituídas a revelarem-se “insuficientes para cobrir na totalidade os non-performing loans“.
Ao mesmo tempo, e apesar da estratégia das autoridades nacionais para consolidar o sistema financeiro — assente em supervisão e medidas legais e judiciais –, a banca “continua condicionada pela falta de capital para absorver as perdas com imparidades“, nota o FMI. Assim sendo, é necessária uma “abordagem proativa”, por parte dos bancos, “para acelerar o processo de se libertarem” da herança dos ativos de má qualidade, apoiada num “foco na rentabilidade, com medidas de redução que aumentem a eficiência”.
O FMI termina apontando um bom exemplo no sistema bancário nacional: “o alargamento da maturidade do empréstimo do Governo ao Fundo de Resolução retirou uma importante incerteza que os bancos enfrentavam”. Ainda sobre este assunto, o FMI conclui: “finalizar o processo de venda do Novo Banco e os aumentos de capital a decorrerem nos bancos público e privados reforçariam a estabilidade financeira e melhorariam o ambiente operacional para todos os bancos“.
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Estatuto social” dos banqueiros, pruridos ideológicos e desejo de disfarçar necessidade de mais um resgate levaram a ignorar problemas
Uma análise mais rigorosa à banca portuguesa na etapa final do resgate teria exposto necessidades financeiras bem além “dos recursos finitos” do programa de ajustamento, necessidades que exigiriam “potencialmente” o avanço de um segundo resgate em 2014.
A conclusão é de Nicolas Véron, do think tank Bruegel, um dos peritos a que o Gabinete Independente de Avaliação do FMI recorreu para avaliar a atuação do próprio Fundo no resgate a Portugal. A “perceção” dos técnicos era a de que as necessidades da banca iriam exigir um novo resgate à economia, “matando” a saída limpa. Este buraco no financiamento já vinha do início do programa: em 2011, “e dada a vontade de fechar o resgate e com o menor financiamento possível”, as necessidades da banca foram parcialmente ignoradas, diz Nicolas Véron. Em 2011, a troika emprestou 78 mil milhões a Portugal, dos quais 12 mil milhões para a banca.
Uma das razões para a menor atenção dada às necessidades da banca foi a oposição do Banco de Portugal ao recurso a um avaliador externo, como o FMI queria. O Banco de Portugal não quis que essa função saísse “das mãos das autoridades portuguesas”. Se os técnicos “tivessem insistido em avaliações independentes aos balanços dos grandes bancos, e se tivessem colocado mais ênfase aos problemas do setor, as quedas tardias do BES e do Banif talvez pudessem ter sido mitigadas ou até evitadas”. E se estes problemas tivessem sido atacados, a economia teria crescido mais.
Entre as razões que levaram a troika a optar por não aprofundar ou forçar análises independentes à solidez do sistema financeiro, também concorreram os pruridos ideológicos, o desejo de não hostilizar o Banco de Portugal, apesar de este já acumular “lapsos de supervisão” nos casos BPP e BPN, e até o “elevado status social” de alguns banqueiros – “vários dos entrevistados salientaram que os principais banqueiros tinham um elevado status social em Portugal, pelo que o FMI não teria grande apoio caso questionasse a solidez das instituições”. E foi por culpa de toda esta “parcimónia” que os problemas do BES e do Banif, apesar de “conhecidos desde 2011”, acabaram por não ser atacados em tempo útil.
A avaliação ao FMI foi feita pelos peritos tendo por base entrevistas a técnicos do Fundo e da CE envolvidos no resgate mas também a portugueses. Das entrevistas e da análise às decisões tomadas, saiu uma vasta lista de erros de atuação do FMI e também das restantes autoridades e supervisores.
Para os avaliadores, o FMI errou logo no diagnóstico ao problema português, excessivamente focado nas contas públicas e pouco na banca. “A falta de assertividade do FMI na análise ao setor financeiro pode ter resultado de uma combinação de fatores ideológicos, políticos e práticos”, combinação essa que, por exemplo, “criou relutância em considerar a nacionalização parcial ou total da banca comercial do país”, apesar de então já serem evidentes algumas más práticas.
Voltando aos bancos que colapsaram depois da “saída limpa”, os avaliadores apontam que foram vários os entrevistados – do FMI, Comissão Europeia e do governo português – que apontaram ter dúvidas em relação à solidez do BES já em 2011 mas que “as repetidas garantias dadas pelo Banco de Portugal” levaram a troika a não “ir atrás” dessas dúvidas .
Já no caso do Banif, a avaliação dos peritos contratados pelo FMI aponta que “as várias fragilidades do banco baseado na Madeira já estavam identificadas ” em 2011, na altura do desenho do programa, mas que, mesmo assim, “apenas em 2013 avançou um plano de reestruturação”. E o desfecho deste plano é hoje o conhecido.
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Se Carlos Costa não gostou da avaliação encomendada pelo FMI a Nicolas Véron, o investigador do Bruegel também não ficou contente com a resposta dada em carta pelo governador do Banco de Portugal. Véron diz que entrevistou funcionários seniores do BdP antes de publicar o relatório.
Ontem, o Independente Evaluation Office (IEO) do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um relatório de avaliação da actuação do FMI durante o programa de ajustamento português. Um dos papers incluídos é assinado por Nicolas Véron e apresenta várias críticas ao comportamento do Banco de Portugal, entre as quais ter recusado uma avaliação independente dos balanços dos bancos e ter descansado as autoridades europeias e o próprio Governo sobre a saúde do BES. Essas críticas foram refutadas por Carlos Costa, numa carta que é anexada no relatório, onde acusa Véron de parcialidade e falta de rigor.
Em entrevista ao Negócios, Nicolas Véron defende a avaliação que faz no seu paper e desmente Carlos Costa quando este diz que o Banco de Portugal não foi contactado para dar opinião. Se é verdade que não foi solicitada uma resposta oficial, o relatório inclui mais do que uma entrevista com funcionários do BdP, alguns deles bastante seniores, revela Véron.
(A entrevista completa a Nicolas Véron - que inclui a opinião deste sobre porque não ficaram resolvidos os problemas da banca no programa de ajustamento – será publicada na edição em papel do Jornal de Negócios de segunda-feira.)
O governador do banco de Portugal diz que o seu relatório tem erros factuais graves e inclui alegações parciais. Como responde a esses comentários?
Obviamente que defendo os factos e avaliação que fiz no relatório. Se há algum problema [do governador] com um facto ou uma avaliação, então tem de referir do que está a falar especificamente.
Diria que é normal este tipo de interacção entre os autores dos estudos para o Independente Evaluation Office (IEO) e as autoridades nacionais?
Não tenho ideia de que haja precedente de uma carta desta natureza ser anexado a um paper de contexto numa avaliação do IEO. Mas o IEO é uma instituição relativamente recente [foi criado em 2001] e acho que é totalmente legítimo para as autoridades portuguesas insistirem em publicar um documento em conjunto com a avaliação. A carta [do governador], pelo que sei, foi incluída no meu paper a pedido das autoridades portuguesas. E não acho que isso seja problemático. O documento é suposto ser discutido publicamente.
O governador argumenta que o Banco de Portugal não foi contactado por si antes de publicar o estudo.
A frase [do governador] diz “a visão institucional do Banco de Portugal não foi solicitada antes”. Eu acho esta frase problemática e, para ser franco, questionável. Porque eu contactei pessoas do Banco de Portugal, em diferentes posições de senioridade, incluindo algumas com posições muito seniores, embora não o sr. Costa. Portanto, não sei o que ele quer dizer quando diz que a perspectiva institucional do Banco de Portugal não foi solicitada, porque eu acho que fiz exactamente isso. Dito isto, pelos princípios do IEO, não posso dizer os nomes de pessoas que entrevistei.
Incomodou-o a linguagem forte utilizada pelo governador? Carlos Costa refere que tem erros factuais, é altamente especulativo e é parcial.
Obviamente, não concordo com a avaliação feita na carta. Mas não quero comentar a escolha de palavras.
Quantas pessoas entrevistou para fazer este relatório?
Posso dizer que tentei ser o mais abrangente possível. Entrevistei não só pessoas do Banco de Portugal, como do Governo português… Já agora, importa dizer que todas as entrevistas que fiz em Portugal foram realizadas antes da mudança de Governo. Entrevistei antigos funcionários do Governo, antigos funcionários do Banco de Portugal, empresários, observadores externos, como académicos… Portanto, tentei obter vários pontos de vista. Acho importante sublinhar que tudo o que está no meu relatório está lá para avaliar o FMI. Não é uma avaliação do Banco de Portugal. Se comento a actuação do Banco de Portugal é porque acho que isso é necessário para avaliar correctamente o desempenho do FMI.
Talvez fosse importante dizer mesmo quantas entrevistas fez.
Não posso dizer quantas fiz em específico sobre Portugal, porque algumas entrevistas cobriram vários países. Posso dizer que, no total, foram mais de 130 pessoas entrevistadas, algumas delas mais do que uma vez. E isto são apenas as que fiz para o meu paper, não incluem aquelas que outros membros da equipa da avaliação fizeram para outras partes do relatório. De referir, que as entrevistas foram feitas entre o início de 2015 e o momento actual.
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A carta do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, foi incluída num dos relatórios que analisa o sector financeiro, assinado pelo francês Nicolas Véron, investigador do grupo Bruegel, considerado um dos nomes mais influentes da finança internacional.
No relatório publicado quinta-feira pelo FMI, Véron não poupa críticas ao banco central e as críticas são diversas em relação à forma como se respondeu às fragilidades do sector bancário português.
No que diz respeito, por exemplo, ao Banco Espírito Santo (BES), o relatório refere que o Banco de Portugal deu garantias sólidas sobre aquela instituição bancária aos técnicos do FMI, quando foi confrontado com dúvidas surgidas 2011.
“Técnicos do Departamento Europeu do FMI, antigos funcionários da Comissão Europeia e do Governo português argumentaram em entrevistas que começaram a ter dúvidas sobre a saúde financeira do BES logo em 2011, mas receberam repetidas garantias do Banco de Portugal e portanto não investigaram mais o assunto”, pode ler-se nodocumento assinado por Véron.
O investigador refere ainda que, em dezembro de 2013, já havia muitas notícias na comunicação social que apontavam para uma situação problemática no BES.
FMI deveria ter insistido no caso BES
Nicolas Véron alertou ainda que a troika deu mais atenção aos problemas orçamentais do que aos problemas financeiros e que o exame aos bancos deveria ter sido independente do BdP.
De acordo com este investigador, as consequências foram graves e o custo público da resolução poderia ter sido mais baixo. “Se o FMI tivesse insistido para que o problema do BES fosse abordado de forma mais assertiva no final de 2013 ou início de 2014, o custo público da resolução seria certamente inferior e, pelo menos, algumas das controvérsias teriam sido evitadas”.
O governador do BdP argumenta numa carta datada de 14 de julho de 2016 que o relatório tem “graves erros factuais” e usa artigos de jornais como ponto de partida para fazer análises, o que considera ser “inaceitável”, por resultar de “alegações graves e tendenciosas, sem rigor e altamente especulativo”.
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Peritos que avaliaram FMI dizem que exame a bancos deveria ter sido independente do Banco de Portugal. Programa português falhou na banca. Carlos Costa contesta relatório e denuncia “erros graves”.
A resposta do Fundo Monetário Internacional (FMI) aos problemas de Portugal desvalorizou a situação na banca, apesar de existirem já sinais da fragilidade dos bancos e da supervisão.
Os peritos que avaliaram a atuação do FMI no programa de ajuda a Portugal concluem que a principal falha do Fundo foi não ter insistido na necessidade de uma avaliação externa e independente feita por um organismo que não o Banco de Portugal à situação dos bancos portugueses. A reestruturação da banca ficou por fazer e isso resultou nos problemas que o setor agora vive, e contribuiu para os colapsos do Banco Espírito Santo e do Banif, já depois de concluído o programa da troika. No caso do BES, o relatório assinado por Nicolas Véron, do grupo de investigação Bruegel, diz mesmo que o Banco de Portugal deu garantias de solidez da instituição aos técnicos do FMI quando confrontado com as dúvidas suscitadas desde 2011.
Esta avaliação, que ataca a eficácia das medidas adotadas pelo Banco de Portugal para fiscalizar e dar solidez à banca, é fortemente contestada pelo governador, em carta de 14 de julho, publicada junto do relatório sobre o setor financeiro que analisa a atuação do FMI nos programas de ajuda na zona euro. Carlos Costa denuncia o que considera ser “falta de rigor” e um avaliação “altamente especulativa” que não é compatível com um exame independente. O governador assinala que a opinião do Banco de Portugal não foi considerada nas conclusões deste suplemento, que contém “graves erros factuais” que foram devidamente assinalados e denuncia a utilização de artigos de jornal usados como background, o que qualifica de “inaceitável”.
Carlos Costa contesta ainda a tese de que o modelo de inspeções à qualidade dos ativos da banca tenha sido imposto pelo Banco de Portugal, acrescenta que foi objeto de acordo com a troika, e considera que este programa foi um sucesso que permitiu o reconhecimento das perdas que estavam nos balanços das instituições bancárias.
O governador contraria também a afirmação feita por pessoas ouvidas pelos autores do relatório independente, de que terá dado garantias sobre a solidez do Banco Espírito Santo a quem levantou dúvidas sobre o banco desde 2011, qualificando estas alegações de uma “acusação grave” à ação de supervisão que é feita “sem sustentação”.
As conclusões sobre a execução do programa de ajuda a Portugal no setor bancárionão constam da avaliação independente ao sucesso e erros do programa português, mas sim de um anexo, o X, sobre os aspetos financeiros que pode consultar aqui. A carta de resposta do governador está na página 54 do relatório.
Na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, o governador voltou a responder a esta avaliação independente que “critica o FMI por se ter deixado convencer pelo Banco de Portugal e critica o Banco de Portugal por ter convencido o FMI” a não recorrer a uma avaliação independente à situação dos bancos nacionais no início do programa de assistência em 2011.
“A história mostrará que a nossa posição era correta”. A posição do autor do estudo de fazer um exercício à irlandesa implicaria, segundo Carlos Costa, um montante adicional do empréstimo e uma dívida pública mais elevada. “Não era possível, porque os 78 mil milhões foram sacados a ferros. Com um programa desta natureza, a restrição financeira pública seria mais dura e duvido que houvesse condições politicas para desenvolver o programa, o que nos levaria para o terreno de outro pais” (a Grécia) em que houve uma reestruturação da dívida.
Carlos Costa argumenta distinguiu a situação da banca irlandesa, que já tinha caído, da banca portuguesa, onde foi possível registar gradualmente imparidades de 38 mil milhões com pouco capital. “Se tivéssemos feito este exercício de intrusão, tínhamos transferido toda a banca para o setor público” e a dívida seria muito mais alta. E acrescentou que “fica para a história” a conclusão de que o Banco de Portugal convenceu o FMI.
A avaliação assinala que quando o programa português foi negociado em 2011 já existiam sinais de fragilidade ao nível da banca e da supervisão bancária, recordando os colapsos de pequenas instituições como o Banco Português de Negócios (BPN) e o Banco Privado Português (BPP) no final de 2008.
Destaca ainda o elevadíssimo nível de dependência dos bancos portugueses do financiamento do Banco Central Europeu, que chegou a 48 mil milhões de euros em abril de 2011, quando Portugal pediu ajuda, e que correspondia a 9% dos ativos da banca nacional.
O capítulo dedicado ao papel do FMI nos aspetos financeiros da crise na zona euro descreve o perfil de alguns dos principais bancos portugueses como tendo uma estrutura de propriedade que criou incentivos para concessão de crédito aos acionistas, casos do BCP e do BES. Ressalta ainda que as instituições se destacavam na Europa pelos acionistas fora do setor financeiro, o Grupo Espírito Santo no caso do BES e Angola (a Sonangol) no caso do BCP. O BPI também dependia muito de Angola, em termos acionistas, mas sobretudo ao nível dos lucros.
Os peritos elencam as várias medidas que o programa de assistência previa para o setor bancário, com destaque para maior exigência ao nível dos rácios e um envelope financeiro de 12.000 milhões de euros. No entanto, o programa foi insuficiente para uma abordagem sustentada ao setor financeiro. E a principal falha, segundo os avaliadores independentes, foi a não inclusão de uma avaliação externa e independente do Banco de Portugal à qualidade dos ativos dos bancos, ao contrário do que foi feito na Irlanda, onde a banca era vista como o grande problema.
Em vez disso, o FMI aceitou trabalhar com o Banco de Portugal para desenhar o programa de inspeções aos balanços e de testes de stress aos bancos que foi revisto numa base trimestral. Os peritos revelam que a possibilidade de recorrer a um mandato de avaliação externa à banca suscitou a oposição “resoluta e eficaz” do Banco de Portugal que sugeriu antes a abordagem dos programas de inspeções dentro dos bancos. Este programa permaneceu sob o “controlo firme” das autoridades portuguesas. É certo que envolveu algumas avaliações externas, as principais auditoras estiveram envolvidas nos exames aos balanços de cada banco, mas estes consultores distintos só tiveram acesso a partes dos balanços dos portefólios dos bancos e sob uma série de constrangimentos impostos pelo Banco de Portugal.
O resultado foi que o programa de inspeções à qualidade dos ativos ficou muito aquém de uma avaliação independente e abrangente. O documento cita entrevistas com responsáveis do FMI do departamento de mercados e setor financeiro, o MCM, e conclui que a avaliação externa e independente foi abandonada com base no argumento de que o “Banco de Portugal era um supervisor de confiança e que antagonizá-lo nesta matéria iria retirar o controlo do programa às autoridades nacionais”. A informação recolhida sugere que a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu não questionaram a escolha feita pelo FMI, ainda que a questão da avaliação externa tenha sido debatida dentro da troika. Os peritos assinalam ainda que os requisitos de capital impostos eram inferiores aos da Irlanda.
A falta de uma abordagem assertiva por parte do FMI ao setor financeiro português pode ter resultado de uma combinação de fatores ideológicos, práticos e políticos. Em primeiro lugar, a equipa do FMI parece ter incorporado o preconceito na perceção de que a crise portuguesa era sobretudo orçamental e não ligada à fragilidade da banca. Este preconceito apresentava o setor privado, e os bancos, como “uma vítima e não o problema”. Esta perceção terá contribuído para a relutância em considerar opções que poderiam resultar na nacionalização total ou parcial da banca, não obstante os incentivos aos bancos para emprestarem dinheiro aos seus acionistas (partes relacionadas), as complexas estruturas de governação e a sua elevada alavancagem.
Do lado português, notam os peritos, o FMI estava muito focado na privatização dos bancos do Estado, o BPN e o redimensionamento da Caixa, uma política que era considerada excessiva do lado português. Esta posição acabou por ser invertida quando se realizou a intervenção que nacionalizou o Banif.
O exame assinala ainda uma “perceção inquestionável de que evitar um conflito com o BdP seria positivo para o controlo do programa por parte das autoridades nacionais”, que de facto aconteceu e facilitou a sua implementação, bem como o consenso com as instâncias europeias. Alguns técnicos do FMI salientaram o reconhecimento de que os banqueiros privados gozavam de um elevado estatuto social em Portugal — as entrevistas televisivas dadas pelos presidentes dos principais bancos portugueses foram vistas como um dos detonadores para o pedido de ajuda — e que se o FMI questionasse a solidez das suas instituições não iria atrair o apoio doméstico.
Até personalidades portuguesas independentes, que o FMI considerou confiáveis, descreveram uma situação desses bancos que os peritos consideram agora demasiado otimista.
Outro fator assinalado passa pelos crescentes problemas financeiros de Portugal em 2011, com risco de falhar pagamento de salários e pensões, que pressionaram no sentido de negociações rápidas para fechar o programa de assistência e minimizaram as necessidades de financiamento do país que poderiam ter sido ampliadas com a revelação de perdas latentes no sistema bancário.
A avaliação conclui por isso que a reestruturação do setor bancário foi limitada e que várias das maiores vulnerabilidades não foram atacadas. A venda do BPN, alienação dos ativos da Caixa e recapitalização pública do Banif, foram as principais medidas adotadas. É ainda criticada a opção de utilizar obrigações convertíveis em capital para recapitalizar os bancos privados, mas mantendo a estrutrura acionista, com o argumento de que a manutenção da gestão iria contribuir para a estabilidade.
Por outro lado, a manutenção dos limites ao controlo e direitos de voto, bem como a estrutura de gestão, desincentivaram investimentos privados de partes terceiras no capital dos bancos. O programa para resolver as perdas nos ativos também foi insuficiente e a práticas duvidosas de contabilidade e consolidação de alguns bancos não foram alteradas e os riscos das operações em Angola não foram analisados e avaliados.
Mais uma vez, os peritos consideram que o FMI estava relutante em enfrentar as autoridades sobre questões do setor financeiro. A única exceção foi o Banif, que levou à suspensão do fecho de uma avaliação. E a margem de manobra do Fundo “evaporou-se” em 2014 quando o programa terminou. A nível prático, concluem os técnicos, terá ficado a ideia no FMI de que uma “abordagem mais rigorosa do ponto de vista prudencial poderia ter exposto falhas de financiamento que iriam para além dos recursos do programa”, o que potencialmente exigiria um segundo programa de resgate a Portugal com as consequências a nível da partilha de custos.
Quando Portugal teve a sua “saída limpa”, o setor bancário continuava frágil. Os peritos analisam o colapso do Banco Espírito Santo, três meses depois, e apesar de muitas questões terem ficado por esclarecer, revelam que responsáveis da Comissão Europeia e do governo português realçaram em entrevistas que começaram a ter duvidas sobre a saúde financeira do BES em 2011, mas que receberam repetidas garantias do Banco de Portugal e não insistiram no tema.
Os peritos lembram as notícias do final de 2013 que qualificam de alerta vermelho e referem que o conhecimento sobre a fraqueza do BES era alargado na comunidade financeira portuguesa muito antes dessa data. Um dos portugueses entrevistados revela que contactou o FMI no final de 2013 a alertar para a situação do BES.
Se o FMI tivesse insistido de forma mais decisiva na adoção de medidas para o problema do BES no final de 2013 ou início de 2014, ou até antes, os “custos de uma resolução teriam provavelmente sido mais baixos, ou pelo menos alguma da polémica poderia ter sido evitada”, admitem os peritos que examinaram a atuação do Fundo.
Em resumo, o FMI não prestou atenção suficiente à necessidade de restaurar a solidez da banca que não foi reestruturada de forma adequada. “Se a equipa tivesse insistido numa reavaliação externa dos balanços dos bancos portugueses, e tivesse colocado mais ênfase nos problemas bancários na execução do programa,os colapsos tardios do BES e do Banif poderiam ter sido mitigados ou talvez até evitados”. E poderiam ter evitado que a economia de Portugal sofresse o impacto da fragilidade prolongada no setor bancário.
Atualizado com link para o relatório onde consta a carta de resposta do governador do Banco de Portugal.
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O Governo já conta com a venda este ano. Revelou-o no Programa de Estabilidade e acrescentou que possibilitará mais pagamentos ao FMI. O IGCP diz que serão reembolsados mais quatro mil milhões.
Conservador. Este era o pressuposto subjacente às previsões do Governo de António Costa para 2016, o que levou o Tesouro a não antecipar qualquer ganho com a venda do Novo Banco ou de activos do Banif. O objectivo? A surgirem …
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“O tratamento selectivo dos detentores de obrigações seniores do Novo Banco criou a percepção de um tratamento desigual e ao aumento da incerteza que abalou a confiança”, afirma o FMI, na actualização do Global Financial Stability Report hoje publicado e citado pelo Observador.
O Fundo Monetário Internacional voltou assim a criticar as consequências da decisão do Banco de Portugal de transferir obrigações do Novo Banco para o BES no fim do ano passado, considerando que esta decisão abalou a confiança no sistema.
Recorde-se que recentemente a BlackRock e a Pimco, duas das maiores gestoras de activos do mundo, integraram um grupo de 14 investidores institucionais que decidiram avançar com um processo contra o Banco de Portugal, no âmbito da resolução aplicada ao Banco Espírito Santo. Os investidores alegam que o regulador português violou “princípios básicos” e exigem a restituição dos valores que investiram – e perderam – no BES.
O FMI alerta ainda para o impacto na rentabilidade dos bancos portugueses das baixas taxas de juro por um período muito prolongado.
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O Novo Banco vai arrumando a casa, depois da decisão das autoridades portuguesas de capitalizar a instituição por uma via alternativa.
Boa tarde.
O Novo Banco vai arrumando a casa, depois da decisão das autoridades portuguesas de capitalizar a instituição por uma via alternativa. Várias linhas de obrigações seniores transitam para o “BES mau”, aliviando os rácios da instituição liderada por Stock da Cunha, que assim fica limpa de novas necessidades de capital. O gestor mandou uma comunicação de tranquilidade aos colaboradores do grupo, lembrando que o banco tem agora uma situação bem mais robusta. Quem não terá ficado satisfeito com esta decisão das autoridades portuguesas são os investidores institucionais internacionais que perderam dinheiro com esta operação. Passando para o banco mau, as perdas são agora inevitáveis, e podem estar a caminho complexos e longos processos judiciais. No campo político, o PSD considerou positiva a solução encontrada para capitalizar o Novo Banco.
Nos mercados, o dia segue calmo a caminho do final do ano. Ainda assim, os principais índices estão pintados de vermelho, mesmo que com perdas inferiores a 1%. A principal razão prende-se com nova queda dos preços do petróleo, penalizando também outros activos de países mais dependentes do valor desta e de outras matérias-primas. Também as últimas notícias acerca do referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia, que poderá acontecer em 2016, continua a ser um factor de pressão. Em Lisboa, o PSI 20 perde 0,38%, para 5.317 pontos, com o sector financeiro a pesar. O receio de que os grandes investidores possam afastar-se do mercado nacional – na sequência da decisão do Novo Banco – penaliza o ambiente, bem como as novas necessidades de almofadas financeiras conhecidas recentemente. As maiores descidas pertencem ao BPI, que recua 2,64%, seguido pelo BCP, que desce 2%. No sentido inverso, a maior subida é responsabilidade da Semapa (0,55%).
A nível macroeconómico, o FMI deixou hoje avisos para o futuro. Segundo Christine Lagarde, “as perspectivas [de crescimento económico] a médio prazo serão sombrias, atendendo à fraca produtividade, à população envelhecida e à continuação da crise financeira mundial”.
Voltando à política nacional, aceleram os motores para as eleições presidenciais, em Janeiro. Este fim de semana teremos osprimeiros de uma longa série de debates televisivos, que vão gerar combinações curiosas, tal a disparidade de perfis dos candidatos oficiais.
E, bem na recta final de 2015, oportunidade para fazer um balanço do ano e, sobretudo, procurar pistas para o que aí vem. O Diário Económico tem hoje nas bancas uma edição especial, composta exclusivamente por artigos de opinião de mais de uma dezena de personalidades portuguesas, entre eles Pedro Passos Coelho,António Horta Osório ou Vítor Gaspar. Um bom momento para reflectir e preparar o que aí vem.