Citamos
Na Conversa Capital, um espaço de entrevista conjunto entre o Negócios e a Antena 1, o economista João Salgueiro afirma que ao serem alterados os pressupostos de venda do Novo Banco haveria a possibilidade de surgirem outros candidatos.
A CGD apresentou um prejuízo de 39 milhões. É bom ou mau?
Não conheço esse número. Não é muito. Para nós, na altura, quando lá estava, o problema era outro. Tínhamos resultados fortemente positivos todos os anos. Mas o contexto agora é muito diferente. Tem uma coisa que eu não percebo como é que se aceita. Foram impostas pelas autoridades europeias condições mais gravosas à Caixa do que se está a impor a um cliente estrangeiro que vem agora cá comprar um banco e que ainda recebe dinheiro para o comprar, no fundo, é uma oferta com bónus. E a União Europeia facilita isso e dificultou a vida à Caixa.
Está a falar da venda do Novo Banco à Lone Star?
Claro, toda a gente fala. Não percebo como é que o Governo ainda não explicou bem o que se passa. Acham possível o que aconteceu? Foram buscar o doutor Vítor Bento e convidaram-no para viabilizar o banco. Ele disse que existia lá gente capaz, mas que gostava de levar duas pessoas, o doutor João Moreira Rato e o doutor José Honório. Foi-lhe dada essa possibilidade, fez a equipa e na semana seguinte é chamado ao Banco de Portugal para lhe dizerem que tinha de vender o Novo Banco duas semanas depois. Ele foi-se embora, claro. É possível viabilizar um banco em semanas? O doutor Horta Osório viabilizou o Lloyds em oito anos. Como é que a gente quer uma coisa que sabe que é inviável?
Acha que foi uma má decisão vender?
Acho que é uma decisão inexplicável, que precisava de ser explicada.
Ainda não está concretizada, também.Não sei. Não sei se está, se não está. Dizem-me que já estava concretizada há muito tempo. Ainda antes de o concurso estar aberto.
Inexplicável porquê?
A teoria da negociação. Se eu aprendi alguma coisa em Stanford não foi na economia, porque isso a gente cá tinha um bom ensino, nem em contabilidade, nada disso, foi nas ciências comportamentais. Porque eles davam muita importância à informação dentro da empresa, aos accionistas e à teoria da negociação.
Não é negociação.
Não é negociação. É uma imposição e deixámos chegar a esse ponto. Temos de acabar a negociação naquele dia. E só havia um concorrente. Já não é concorrente.
A verdade é que não apareceu mais nenhum candidato.
Não é verdade, mas isso tem de ser explicado. Pode ser verdade, mas até agora não foi.
Aquilo que se sabe é que se falou do Santander, do BPI, etc., foram todos caindo pelo caminho e sobraram dois fundos de investimento norte-americanos e uma empresa chinesa, o Minsheng, que se desvaneceu pelo caminho. Portanto, o caminho era muito estreito.
Nestas condições em que foi vendido… era obrigatório vender 100%. O Estado teve de lá ficar com 25%. Não haveria garantias. Quantas garantias foram dadas para ficarem com o banco? Quantos milhares de milhões de euros é que estão na garantia?
O que está a dizer é que, com as alterações entretanto introduzidas no contrato, haveria outros interessados?
Não sei se haveria, mas havia toda a probabilidade de haver. Toda a probabilidade.
Deveriam também os outros chegar à fase de negociação e ter sido possível manter essas condições?
Ou abrir uma nova rodada. Não sei quem me mandou, mas duas pessoas meteram-me na caixa do correio as regras do concurso, não sei quem foi, e não era a mesma pessoa porque eram envelopes diferentes, com intervalos de três semanas, e as regras diziam coisas que não foram cumpridas.
É um mal-estar silencioso?
Não é silencioso nada. Foi expresso publicamente nas reuniões com o Governo, tanto quanto sei.
E pela Associação Portuguesa de Bancos.
Não sei. Se foi individualmente por cada um ou se foi em conjunto. Mas não é agradável ficar 30 anos a pagar para um concorrente que parte à partida com vantagem.
Como é que a União Europeia aceita?
A União Europeia tem uma política inaceitável em matéria de união bancária. Se me explicar qual é a teoria económica que justifica que para haver mais concorrência é preciso haver menos concorrentes, e que sejam de grande dimensão, eu gostava de saber onde é que isso está explicado. Como é que a concorrência melhora com poucos concorrentes e de grande dimensão? Quando foi a crise americana, toda a gente estava de acordo que era preciso evitar o “too big to fail”, bancos muito grandes não é bom. O que a União Europeia está a fazer é criar bancos muito grandes, intencionalmente, e poucos.
Ou seja, a União Europeia também não quis ficar com este problema em mãos porque eventualmente trazia alguma novidade.
A União Europeia gostava de acabar com todos os bancos portugueses, penso eu, quanto muito ficava a Caixa. E tudo o que é aparente mostra isso. Já no Banif foi assim.