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Bruno Bobone lança repto a empresários nacionais: comprem ou criem um banco
Pode ser uma Aljubarrota dos empresários portugueses e da economia nacional. Os “patrões” do turismo, do comércio, dos serviços, da indústria, da agricultura, da construção e do imobiliário juntam-se ao Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo Portas e Francisco Louçã, no alerta contra o risco do domínio da banca portuguesa por capitais espanhóis. “A acontecer esse predomínio”, salienta Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo, “é evidente que muitas das decisões estratégicas para o financiamento da economia nacional vão ser tomadas nesse país”.
Na origem da inquietação – tem sido objeto de alarme por parte de protagonistas de todos os quadrantes políticos, da esquerda à direita – estão as contas feitas sobre a concentração do sistema bancário exigida pela União Europeia. O Banco Central Europeu (BCE) quer a consolidação da banca ibérica, com o objetivo de criar bancos mais fortes, com menos risco de falir. Como a banca nacional não tem capacidade para comprar bancos espanhóis, o inevitável é o movimento inverso.
O resultado dessas somas, que passam por várias fusões, pode ter como consequência, a breve prazo, que a banca espanhola passe a controlar cerca de 60% dos balcões em Portugal. Na equação está a entrada de Madrid, através de bancos como o Santander (já o 4.º maior em Portugal, com a compra do Banif), o LaCaixa, o CaixaBank, na estrutura acionista, em posição maioritária, nos principais privados a operar em Portugal. O BPI, o Millennium BCP e na compra do Novo Banco, para a qual o Santander já manifestou interesse.
Para Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria – que acabou de recrutar o impulsionador da diplomacia económica, Paulo Portas, para a internacionalização das empresas – a solução existe e até pode ter dois caminhos. “Ou os empresários portugueses se juntam para comprar um banco que já exista ou criam um novo”, declara. Bobone sublinha que “a diversificação da origem do capital é uma mais-valia em qualquer economia e a concentração nunca é boa em nenhuma atividade, incluindo o setor bancário.” Assinala ainda que “a não existência de um banco privado de capital português é uma fragilidade do nosso sistema bancário”. Daí o repto que lança aos empresários: “Se não apresentarem uma alternativa, não devem criticar.”
António Saraiva, o “patrão dos patrões”, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) vê com “preocupação” as “alterações que estão a acontecer na banca” e não duvida de que terá “inevitáveis reflexos na concessão de créditos, principalmente às pequenas e médias empresas (PME). Numa economia em que a banca tradicional era o pilar que alavancava estas PME, pode acontecer, não digo um tsunami, mas uma grande tempestade na economia nacional”. António Saraiva olha, com esperança, para a Caixa Geral de Depósitos (CGD), a “joia da coroa na defesa da economia portuguesa, que pode melhorar o apoio ao tecido empresarial”. Se “conjugado com o anunciado, mas não concretizado, Banco de Fomento, pode ser uma saída”. Mas frisa: “Se esta questão é uma grande preocupação de responsáveis nacionais é preciso bater o pé em Bruxelas. É a nossa economia que está em causa!”
Também da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) a “preocupação é grande”, com o futuro da competitividade do setor, sendo Espanha um concorrente direto de grande capacidade. O presidente João Machado também vê na CGD uma possibilidade de conter a ameaça espanhola, mas para isso, sublinha, o banco público “teria de fazer uma revisão completa do seu papel e ter uma atitude diferente, de apoio às PME”.
Igualmente apreensivas estão as confederações do Comércio e Serviços e da Construção e Imobiliário. João Vieira Lopes, presidente da primeira, lembra que a “concentração da banca, independentemente da origem do capital, já limita muito mais os financiamentos”. Se “o peso maior for de um banco estrangeiro não é positivo e, para contrabalançar a CGD teria de ser um verdadeiro banco das PME e do investimento”, afirma. Vieira Lopes assume, porém, algum ceticismo quanto à capacidade de impedir a invasão espanhola. “Não vejo alternativa”, diz.
Reis Campos, o “patrão” das construtoras e imobiliárias, um setor já “muito afetado pela limitação dos créditos”, avalia o cenário como “muito preocupante”. “O que se espera é que seja assegurado que a banca cumpra de forma justa e equilibrada o seu papel”, assinala.
No seu encontro com o rei de Espanha, Marcelo Rebelo de Sousa foi assertivo: “Nenhuma economia deve ter uma posição exclusiva noutra economia.”