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Patrões alarmados com espanholização da banca portuguesa

Sábado, Março 19th, 2016

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Diário de Notícias

Bruno Bobone lança repto a empresários nacionais: comprem ou criem um banco

Pode ser uma Aljubarrota dos empresários portugueses e da economia nacional. Os “patrões” do turismo, do comércio, dos serviços, da indústria, da agricultura, da construção e do imobiliário juntam-se ao Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo Portas e Francisco Louçã, no alerta contra o risco do domínio da banca portuguesa por capitais espanhóis. “A acontecer esse predomínio”, salienta Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo, “é evidente que muitas das decisões estratégicas para o financiamento da economia nacional vão ser tomadas nesse país”.

Na origem da inquietação – tem sido objeto de alarme por parte de protagonistas de todos os quadrantes políticos, da esquerda à direita – estão as contas feitas sobre a concentração do sistema bancário exigida pela União Europeia. O Banco Central Europeu (BCE) quer a consolidação da banca ibérica, com o objetivo de criar bancos mais fortes, com menos risco de falir. Como a banca nacional não tem capacidade para comprar bancos espanhóis, o inevitável é o movimento inverso.

O resultado dessas somas, que passam por várias fusões, pode ter como consequência, a breve prazo, que a banca espanhola passe a controlar cerca de 60% dos balcões em Portugal. Na equação está a entrada de Madrid, através de bancos como o Santander (já o 4.º maior em Portugal, com a compra do Banif), o LaCaixa, o CaixaBank, na estrutura acionista, em posição maioritária, nos principais privados a operar em Portugal. O BPI, o Millennium BCP e na compra do Novo Banco, para a qual o Santander já manifestou interesse.

Para Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria – que acabou de recrutar o impulsionador da diplomacia económica, Paulo Portas, para a internacionalização das empresas – a solução existe e até pode ter dois caminhos. “Ou os empresários portugueses se juntam para comprar um banco que já exista ou criam um novo”, declara. Bobone sublinha que “a diversificação da origem do capital é uma mais-valia em qualquer economia e a concentração nunca é boa em nenhuma atividade, incluindo o setor bancário.” Assinala ainda que “a não existência de um banco privado de capital português é uma fragilidade do nosso sistema bancário”. Daí o repto que lança aos empresários: “Se não apresentarem uma alternativa, não devem criticar.”

António Saraiva, o “patrão dos patrões”, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) vê com “preocupação” as “alterações que estão a acontecer na banca” e não duvida de que terá “inevitáveis reflexos na concessão de créditos, principalmente às pequenas e médias empresas (PME). Numa economia em que a banca tradicional era o pilar que alavancava estas PME, pode acontecer, não digo um tsunami, mas uma grande tempestade na economia nacional”. António Saraiva olha, com esperança, para a Caixa Geral de Depósitos (CGD), a “joia da coroa na defesa da economia portuguesa, que pode melhorar o apoio ao tecido empresarial”. Se “conjugado com o anunciado, mas não concretizado, Banco de Fomento, pode ser uma saída”. Mas frisa: “Se esta questão é uma grande preocupação de responsáveis nacionais é preciso bater o pé em Bruxelas. É a nossa economia que está em causa!”

Também da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) a “preocupação é grande”, com o futuro da competitividade do setor, sendo Espanha um concorrente direto de grande capacidade. O presidente João Machado também vê na CGD uma possibilidade de conter a ameaça espanhola, mas para isso, sublinha, o banco público “teria de fazer uma revisão completa do seu papel e ter uma atitude diferente, de apoio às PME”.

Igualmente apreensivas estão as confederações do Comércio e Serviços e da Construção e Imobiliário. João Vieira Lopes, presidente da primeira, lembra que a “concentração da banca, independentemente da origem do capital, já limita muito mais os financiamentos”. Se “o peso maior for de um banco estrangeiro não é positivo e, para contrabalançar a CGD teria de ser um verdadeiro banco das PME e do investimento”, afirma. Vieira Lopes assume, porém, algum ceticismo quanto à capacidade de impedir a invasão espanhola. “Não vejo alternativa”, diz.

Reis Campos, o “patrão” das construtoras e imobiliárias, um setor já “muito afetado pela limitação dos créditos”, avalia o cenário como “muito preocupante”. “O que se espera é que seja assegurado que a banca cumpra de forma justa e equilibrada o seu papel”, assinala.

No seu encontro com o rei de Espanha, Marcelo Rebelo de Sousa foi assertivo: “Nenhuma economia deve ter uma posição exclusiva noutra economia.”

Novo Banco: venda direta ou ida para a Bolsa em aberto

Terça-feira, Março 8th, 2016

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Expresso

Banco de Portugal espera que a segunda tentativa de venda aconteça até junho. Em cima da mesa está a hipótese de o banco ser alienado em parcelas

O segundo concurso para a venda do Novo Banco vai ser mais flexível do que a primeira tentativa de venda que fracassou em toda a linha. Segundo apurou o Expresso, o processo de venda, anunciado em janeiro, deverá estar concluído até junho e poderá ser concretizado através da colocação em bolsa e/ou através de venda direta, com a entrada de um acionista do sector financeiro.

O objetivo é tornar o banco mais apetecível num processo mais competitivo e otimizar a receita daí decorrente. A favor da venda este ano está o facto de o Novo Banco ter sido recapitalizado através da transferência de cinco emissões de dívida sénior para o BES ‘mau’, no valor de 1985 milhões de euros, o que permitiu à instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha reduzir as necessidades de capital no curto e médio prazo. O rácio de capital ficou nos 13,6%.

São dois caminhos – encontrar um comprador estratégico da banca ao mesmo tempo que se abre a porta ao mercado de capitais – que serão trilhados em simultâneo. Este modelo passa pela divulgação de um caderno de encargos que apenas será público no final de maio. Antes disso a equipa de assessores farão uma ronda por vários países e investidores internacionais, nomeadamente fundos britânicos e norte-americanos. Estas apresentações servem para contactar informalmente o mercado, informando os investidores sobre os impactos da reestruturação que está a ser feita, e com isso atrair o maior número de potenciais interessados possível. Entre eles, além de fundos, estão os bancos espanhóis Santander Totta (que acabou de comprar o Banif em dezembro por 150 milhões de euros) e La Caixa (o maior acionista do BPI), que são vistos com bons olhos pelo Banco Central Europeu (BCE), que tem apelado a uma concentração do mercado bancário, e pela Direção Geral da Concorrência da Comissão Europeia (DGCom). Estes dois bancos já foram sondados pelo Banco de Portugal como noticiou o Expresso.

Existe a possbilidade de vender apenas o negócio bancário doméstico (à semelhança do que aconteceu com o Banif) e desinvestir em outros ativos não estratégicos e créditos em incumprimento. Está também em aberto a venda em separado da seguradora do grupo, a GNB Seguros. Para isso será criado um novo veículo (side bank) para acomodar estes ativos a vender. Mas este cenário irá depender da prospeção de mercado que será feita antes de ser tomada uma decisão final. Uma coisa é certa, sem tempo para finalizar a reestruturação do banco já aprovada pela DGCom, quaisquer que sejam os pressupostos da venda assentarão sempre em cenários de crescimento e execução conservadores.

Recorde-se que o Novo Banco pode ser vendido até agosto de 2017, mas nesse caso, se nada for feito entretanto, o banco liderado por Eduardo Stock da Cunha terá de ser vendido na sua totalidade e não por áreas de negócios. É uma corrida contra o tempo, numa altura em que o desconto que o mercado está a fazer à banca é elevado.

ENCAIXE DA VENDA SERÁ PARA REDUZIR A DÍVIDA PÚBLICA

A receita da venda do Novo Banco como um todo, em partes ou através da sua colocação em bolsa será consignada para reduzir a dívida pública. Descontado o valor que está a penalizar a banca europeia e atendendo a que o Novo banco tem custos de reestruturação pela frente e não deu ainda provas do seu resultado, as contas dos potenciais compradores não cobrem nem de perto nem de longe os 4,9 mil milhões já injetados no Banco.

Santander e La Caixa sondados para Novo Banco

Sábado, Fevereiro 27th, 2016

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Expresso

Novo Banco é para vender

O PCP veio falar em nacionalização. O PS ainda admitiu, mas o Governo garante que é mesmo para “recolocar no mercado”

O Governo garante que há de encontrar a melhor solução para o Novo Banco. Com calma e sem se deixar afetar por quaisquer pressões, venham de onde vierem. Na semana em que o primeiro administrador do Novo Banco (Vítor Bento) admitiu a nacionalização, e o PCP aproveitou o debate do Orçamento do Estado para pôr a hipótese em cima da mesa, fonte oficial do Governo assegura ao Expresso: “Tratámos de obter a prorrogação do prazo de venda até agosto de 2017 para não estarmos pressionados a decidir.

Há várias soluções, escolheremos a que melhor sirva os contribuintes e o financiamento das empresas portuguesas.”

O ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, corrobora esta informação: “A estratégia de venda apressada é errada, mas é preciso encontrar melhores condições de mercado, no que pode ajudar o caminho de estabilização da economia. O Novo Banco é um banco público, com natureza de transição e a tarefa é recolocá-lo no mercado”, afirma ao Expresso.

Já o deputado socialista Eurico Brilhante Dias introduz outra perspetiva: “Não sei qual seria a solução jurídica para fazer uma nacionalização”, adverte. “O Novo Banco está sob supervisão do BCE, ao abrigo do mecanismo de resolução, se tiver que ter capitalização, esta será pública e em bail in”, acrescenta. O facto de João Galamba ter admitido a hipótese de nacionalização (em último recurso) até é, na sua opinião, um bom argumento para impedir propostas de compra ao desbarato. Um banco não pode ser vendido a qualquer preço, acrescenta, no que é a posição prevalecente no PS.

O sector financeiro, por sua vez, não vê como seria possível a nacionalização. Isto porque a medida de resolução aplicada ao BES dividiu o banco em dois, e o Novo Banco é um banco de transição cujo fim é a sua venda total ou por áreas de negócio. “A nacionalização do Novo Banco teria de ser muito bem negociada e só seria eventualmente aceite pelas instâncias europeias se a segunda tentativa de venda fracassasse”, afirmou ao Expresso fonte do sector financeiro. Além disso, adverte outra fonte: “A haver uma nacionalização, a questão que se coloca é se os €3,9 mil milhões injetados no antigo BES, em agosto de 2014, através de um empréstimo garantido pelo Tesouro ao Fundo de Resolução, teriam de ser pagos aos bancos que contribuem para o mesmo.” E se assim fosse “isso poderia ter um impacto negativo na dívida e no défice”(Economia P8).

Luísa Meireles com Isabel Vicente lmeireles@expresso.impresa.pt