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Audição na íntegra Maria Luís: dizer que o Novo Banco correu mal “porque faltaram 600 milhões no início é uma fantasia” – como aconteceu

Sexta-feira, Abril 2nd, 2021

Citamos

Observador

Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças quando o BES caiu, admite que achou demais os 5,5 mil milhões para o Novo Banco, mas diz não que limitou o valor que foi definido pelo Banco de Portugal.

 

Histórico de atualizações

Ficam aqui os pontos essenciais da audição à ex-ministra das Finanças. Obrigada por nos ter acompanhado na cobertura.

E terminou a audição à antiga ministra das Finanças do PSD/CDS que demorou pouco mais de cinco horas.
Mais esclarecimentos sobre as interpretações de Vítor Bento (presidente do BES na altura da resolução).
A ex-ministra reafirma que explicou ao gestor que já não era possível uma recapitalização pública como foi feita em outros bancos com o dinheiro da troika. “Não é falta de vontade política, é a lei”. Maria Luís admite que havia um contraste muito grande entre as expectativas que a gestão do BES tinha e o que lhes foi dito.
Ainda que fosse possível, e já não havia tempo, a recapitalização pública pelas novas regras europeias de resgate de bancos implicaria a perda total para os acionistas e credores seniores do banco. “Admito que possa ter sido uma desilusão. Mas não foi falta de vontade política. Não houve uma recusa”
Esta solução teria sempre de ser autorizada pelos acionistas do BES, que iam perder tudo, para além de exigir um parecer fundamentado do Banco de Portugal a dizer que era mais favorável do que a resolução.
Outra vez o valor da recapitalização inicial. Para Maria Luís Albuquerque,
dizer que isto correu mal “porque faltaram 600 milhões de euros no início é uma fantasia”.
E reafirma que os 5.500 milhões de euros não foram o valor que que o Banco de Portugal determinou como sendo o valor mínimo necessário.

Ricardo Salgado “nunca me disse: o Banco está em risco de ter um problema grave”

O contraponto à narrativa (linha do tempo) de João Paulo Correia. A ex-ministra das Finanças conteste interpretação. Os riscos foram identificados, mas foram acompanhados de medidas que acautelavam os riscos.

“Ricardo Salgado nunca me falou do banco, mas sim de riscos reputacionais, dos problemas no grupo e de que queria o apoio do Estado. Nunca me disse: o Banco está em risco de ter um problema grave. Isso nunca aconteceu”.

Maria Luís diz ainda que não pode permitir que fique a afirmação de que o aumento de capital aconteceu, apesar de todos saberem que havia um problema no banco.

“Eu sabia é que havia um problema no grupo e tinham sido tomadas medidas para evitar contágio do grupo ao banco. Havia garantias do supervisor que tinham sido tomadas medidas. Se houvesse perspetiva que o BES tivesse o desfecho que teve, nunca teria sido autorizado aumento de capital. Muita pouca gente sabia que estavam a ser praticados atos contra as ordens do Banco de Portugal” e deixou a garantia: “Atuou-se de boa fé.”

As últimas respostas. Sobre os 5,5 mil milhões defendidos pelo Banco de Portugal para as necessidades do Novo Banco, Maria Luís insiste nas notas que tirou dessa reunião e que apontam para um intervalo entre 5 mil milhões e 5,5 mil milhões. Acabou por ser 4,9 mil milhões. Era ainda uma estimativa, um intervalo que repetiu achou que era muito. Indica ainda que não houve reuniões com a DG Comp no Ministério das Finanças, pelo menos não no seu gabinete. Terão sido no Banco de Portugal.

As conclusões antecipadas (que PSD acusa o PS de ter) e os reparos ao relator sobre a diferença entre factos e comentários

Terceira ronda arranca com perguntas finais de vários deputados e algumas conclusões/comentários que suscitam um alerta de Hugo Carneiro do PSD ao relator no sentido de que estes comentários não são necessariamente factos. O socialista Fernando Anastácio sugere ao deputado do PSD que guarde o comentário para a altura da elaboração do relatório.

O aparte surgiu depois de várias considerações feitas por João Paulo Correia. Duarte Pacheco do PSD acusa o socialista de já ter tirado as suas conclusões e pergunta à ex-ministra se a narrativa tem adesão à realidade.

O deputado socialista defendeu que se perdeu a oportunidade de intervir mais cedo no BES na assembleia geral de maio, um dia antes da saída limpa. Salgado pressionou e conseguiu adiar a mudança de administração. Para o deputado do PS, a intervenção foi adiada pelo governador e pelo Governo já depois de terem sido transmitidas ameaças de riscos sistémicos sabendo-se o buraco no grupo e o impacto no banco.

Carlos Moedas não tinha qualquer competência nestas matérias. Nem acompanhava o tema. As suas competências eram de monitorizar a execução do programa da troika, mas essencialmente as reformas estruturais. As matérias financeiras eram da competência do Banco de Portugal e do Ministério das Finanças, esclarece Maria Luís Albuquerque.

Agora o PSD, com Hugo Carneiro, nesta segunda ronda. O deputado do PSD diz que há uma “memória seletiva” de alguns deputados sobre a cronologia dos factos para “construir uma narrativa que não tem adesão à verdade dos factos e que deve suscitar a indignação desta comissão”.

Era uma competência do Ministério das Finanças fazer o balanço do banco, calcular valor de ativos, definir perímetros? E era uma competência de Carlos Moedas?

Mais uma vez surge o nome do candidato à Câmara Municipal de Lisboa, que vai ser ouvido na próxima semana.

Governo tranquilo sobre o BES? Para segurar os depósitos, não para as pessoas irem comprar ações

Jamila Madeira, deputada do PS que também está a participar nesta audição, pergunta, afinal, quando é que Maria Luís Albuquerque soube das dificuldades do BES. Foi antes ou depois do aumento da capital? A deputada acaba por responder à própria pergunta quando diz que o Governo assegurou que o BES era sólido (no aumento de capital) quando, afirma, já sabia que não era.

Por outro lado, Jamila Madeira refere que Costa Pinto disse que houve uma oposição “de muita gente” a que o BES fosse ajudado pela linha de recapitalização da troika (onde sobravam 6,4 mil milhões).

Maria Luís Albuquerque diz que começa a achar que há “confusão deliberada” em dizer que as reuniões do início de 2014 foram sobre o BES – foram sobre o GES. “Se dr. Ricardo Salgado sabia que se pedisse ajuda para o banco, esse pedido seria enquadrado nas regras e receberia esse apoio segundo as regras que tiveram outros bancos”. “Ricardo Salgado nunca falou do banco“. E Maria Luís, quanto a si, falou com Passos Coelho e com Paulo Portas mas não com Carlos Moedas.

Maria Luís lamentou também, que Ricardo Salgado não tivesse saído mais cedo do banco – a propósito da carta que Salgado enviou ao Banco de Portugal a dizer que não devia sair porque isso poderia desestabilizar o banco.

Sobre o que disse Costa Pinto, Maria Luís diz que “não faz ideia de que tipo de pressões pudesse ter havido” para que o BES não recorresse à linha de recapitalização pública. “Não alimento conversas que não tenham factos objetivos”. Aliás, considerando a ex-ministra das Finanças que isso foi uma das coisas “extraordinárias” que Costa Pinto disse na sua audição.

E quando soube dos problemas? Mais uma vez, a distinção entre GES e BES. O Governo sabia que havia problemas no grupo e acompanhava o que estava a ser feito pelo regulador para proteger o banco. “Neste enquadramento, o reforço de capital tornaria a materialização dos riscos ainda menos provável – um aumento de capital não passa por algum tipo de autorização do Governo, há um prospeto da operação e devo dizer que o prospeto do BES tinha uma secção de Riscos particularmente extensa e detalhada”.

Quanto ao Governo, transmitiu-se uma mensagem de tranquilidade mas com “a preocupação de que as pessoas não tirassem os depósitos do banco, não era para as incentivar a ir comprar ações num aumento de capital”. Maria Luís ironiza com o que aconteceria se dissesse “hmmmm desconfio que aquilo não ‘tá muito bom…”.

O banco ficava sem depósitos em poucas horas — nem havia razão factual para suspeitar de problemas no banco, de acordo com a informação que existia e que era transmitido pelo Banco de Portugal.

Maria Luís diz perceber quem comprou ações e se achou enganado mas “quem enganou as pessoas não foi o Governo, foi a gestão do BES”. “Espero que a Justiça condene aquilo que for dado como provado”, atira a ex-ministra das Finanças.

Na segunda ronda, o PCP repete que, na sua análise, foi errado o Governo [da altura] retratar a resolução como uma solução sem custos para os contribuintes e critica Maria Luís Albuquerque, mais uma vez, por “não querer saber” quais eram os contornos das propostas de investidores que existiam em 2015 (e que levariam à venda falhada), quanto ofereciam e se exigiam garantias públicas a determinados ativos. Além disso, o deputado Duarte Alves pergunta que estudos é que foram feitos sobre o custo da nacionalização, que Maria Luís disse anteriormente que teria um custo “várias vezes” superior (ao da resolução).

“É verdade que a solução não tinha custos para os contribuintes”, começa por dizer Maria Luís Albuquerque, “porque o dinheiro que lá é colocado (pelo Fundo de Resolução) é para ser reembolsado pelo sistema financeiro. “Essa afirmação é válida. Não houve uma injeção de capital público no banco, houve um empréstimo que terá de ser ressarcido pelo sistema financeiro”.

Sobre o valor dos ativos na resolução, repetindo que não faria sentido o Governo estar a “contratar uma auditora, por exemplo, para se sentar ao lado do Banco de Portugal naquele fim de semana para calcular o valor do ativos, isso não faz qualquer sentido”.

Acerca das manifestações de interesse de investidores, Maria Luís Albuquerque confirma que os concorrentes terão tido acesso a informação confidencial sobre a instituição pela qual poderiam fazer uma proposta, assinando para isso um termo de confidencialidade. O Ministério das Finanças não teve, nem poderia ter, acesso a essa informação – não seria legal tê-la nem é o papel do Ministério das Finanças, portanto não quer dizer que não se interesse. “Não faria sentido o Ministério andar a meter o nariz” nas propostas, pelo menos naquela fase.

Sobre o custo da nacionalização, não foi feita “nenhuma avaliação do custo da nacionalização, porque não tive em qualquer momento qualquer intenção de ir por aí, é uma convicção pessoal e o sr. deputado (do PCP) tem outra, que eu respeito”.

A deputada do Bloco também questiona a tese do “romantismo” sobre a vantagem de esperar mais tempo para vender o Novo Banco. Aceitar os prazos impostos ao banco de transição e uma venda acelerada de ativos, isso sim, foi uma loucura porque põe em causa o valor do banco. E até o Banco de Portugal o reconhece”.

A deputada até admite que possa acontecer, mas não pode ser imposta. E qualifica de “fraude política” e “ficção” a ideia de que a venda do Novo Banco e a banca pagariam o empréstimo feito pelo Estado para garantir a resolução.

A ex-ministra rejeita a ideia de que a avaliação feita na altura era uma fraude. “Não houve intenção de enganar ninguém. Correspondia à convicção da informação que existia na altura. Sempre defendi que um empréstimo do Estado e uma injeção direta não era mesma coisa. Na altura não era, era um empréstimo de que o Estado seria ressarcido”.

Maria Luís Albuquerque também questiona a tese de que seria necessário mais capital logo na origem, lembrando que foi possível resolver os desequilíbrios nos rácios com a transferência de mais ativos para o banco. Foi pior do que ter colocado mais capital público no Novo Banco?

Como é que gestão de Vítor Bento acreditou numa recapitalização pública? “É um mistério que ninguém consegue desvendar”

Outra vez os 5,5 mil milhões. Mariana Mortágua insiste que este valor foi afirmado por responsáveis do Banco de Portugal. A ex-ministra reafirma que não o limitou.

A deputada questiona ainda porque é que Vítor Bento não sabia que a recapitalização pública não podia acontecer. E que aparentemente nunca foi equacionada, nem tinha enquadramento legal. É um “mistério que ninguém consegue desvendar”. Governo diz que nunca aconteceu o pedido de recapitalização.

Maria Luís Albuquerque admite que também não percebe porque a gestão de Bento acreditava que a recapitalização com a linha da troika era possível. Expliquei que o enquadramento mudou, achei o que o equívoco tinha sido desfeito. E volta a realçar que alertou para a falta de tempo.

Venda de 2015. O concorrente chinês “desapareceu”. Não respondeu à ultima solicitação do Banco de Portugal

A venda falhada de 2015 é mais um tema recorrente nesta audição. A ex-ministra das Finanças refere que teve conhecimento das negociações com o candidato que chegou à fase mais avançada, a chinesa Anbang. Mas nunca chegou a ter informação sobre valores e condições. Isso teria de acontecer se o processo tivesse tido desenvolvimentos, até porque deveria envolver ajuda de Estado. Mas não chegamos infelizmente a essa fase.

“O concorrente desapareceu, não respondeu à ultima solicitação do BdP”.

Já vários intervenientes recordaram a crise que atingiu a bolsa chinesa no verão de 2015 quando estas negociações decorriam. Mas não têm sido referidas as medidas musculadas que as autoridades chinesas adotaram em relação a alguns investidores da China, e que visaram também grupos que estavam a crescer de forma descontrolada com aquisições internacionais, muitas na Europa.

Em 2018, foi conhecida uma intervenção pública de ajuda à seguradora Anbang.

É “ideia romântica” colocar dinheiro no BES/NB e deixar lá ficar muitos anos para ganhar valor

Maria Luís Albuquerque sublinha que a hipótese da “nacionalização não esteve em cima da mesa” e “teria multiplicado os custos não sei quantas vezes”.

Por outro lado, a “recapitalização pública teria de estar sujeita às regras de auxílios de Estado, que implica muitas limitações à gestão”. “A ideia de que era possível pôr-se dinheiro público para que ficasse lá muitos anos à espera que ganhasse valor era uma ideia romântica, não era possível”.

A ex-ministra das Finanças acrescenta que a entrada de dinheiro público naquele banco significaria os problemas não só aqueles que estão em discussão nesta comissão mas também responsabilizar-se por todas as perdas, incluindo naqueles ativos que ficaram no BES mau (e que, portanto, não penalizam o Novo Banco).

4.900 milhões para o Novo Banco. “Achei muito, mas disseram-me que era o mínimo”

As perguntas repetem-se e as respostas também. E não apenas em relação às dadas em 2015. Maria Luís Albuquerque volta a confirmar que considerou que o valor inicialmente referido de 5.500 milhões de euros “era muito. E acho. E 4900 milhões também acho, mas disseram-me que era o mínimo. Não coloquei limite ao valor nem podia”, mas a ex-ministra acho normal ter perguntado se era mesmo preciso o valor apontado pelo Banco de Portugal.
Garantia de Angola. Ministra não fez contactos com Governo de Luanda
A garantia de Angola. Maria Luís diz que nunca lhe foi referido que um contacto entre ministros de Finanças fosse necessário ou pudesse ajudar. “Foi-me dito que o tema estava a ser tratado pelos governadores” de Portugal e Angola. Sobre os contactos diplomáticos que foram referidos nas respostas de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas dadas em 2015 ao Parlamento. Acompanhou o tema através do governador e “só nos últimos dias começamos a acreditar que teria um desfecho negativo”.

Maria Luís Albuquerque não quer especular sobre quais seriam as consequências de a Caixa ajudar o GES, como queria Salgado, mas “havia uma grande probabilidade de gerar um buraco na Caixa”.

Mas não foi um cenário “equacionado” e a Caixa também não teria interesse (comercial) naquela operação portanto “também não seria o Governo” a dizer-lhe [à Caixa] para fazer diferente.

“Esmagadora maioria dos banqueiros respeitam a lei”

Concluindo o argumento: “A esmagadora maioria dos banqueiros respeitam a lei e cumprem as determinações dos reguladores”. E este é o cenário que temos de assumir, diz.
Ainda em resposta a Duarte Pacheco, Maria Luís Albuquerque acha estranha a crítica de que o recurso a apoios públicos fosse obrigatória. Lembra que no caso dos bancos portugueses, as necessidades de capital surgiram quando o regulador exigiu uma almofada adicional para o risco da dívida portuguesa. O BES fez um aumento de capital, mas ao contrário de outros bancos, conseguiu investimento privado e por isso não recorreu à linha da troika.
BES não tinha de cair. Caiu porque houve uma “desobediência explícita” de Ricardo Salgado (e outros administradores) ao BdP

“Naturalmente não fiquei indiferente aos problemas do GES”, que foram comunicados naquelas reuniões do início de 2014, diz Maria Luís Albuquerque. “Haver problemas graves num grupo grande nunca deixa um governante indiferente”, mas “outra coisa é a ponderação sobre o que pode e deve ser feito em relação a essa tomada de conhecimento”.

E, para a ministra das Finanças, coloca-se a questão de saber se problemas na área não-financeira podem transmitir-se à àrea financeira. “Aquilo que o BdP me garantiu sempre é que havia um ring fencing“, ou seja, uma separação hermética que estava a ser implementada pelo Banco de Portugal. Por outro lado, havia a “almofada de capital” de 2,1 mil milhões de euros, dizia o Banco de Portugal.

Maria Luís diz ter tomado conhecimento dos prejuízos no dia 29 de julho, o Banco de Portugal terá sido alertado pelos auditores alguns dias antes. Mas isso revelou um incumprimento das medidas de separação, e nem todos os membros da administração do grupo tinham conhecimento. “Se a proibição tivesse sido cumprida, a materialização dos riscos teria sido suportada pela almofada”, o banco poderia ter sido mantivo vivo, vendido a investidores. “O que levou a isto foi um montante de 1.500 milhões que ninguém conhecia até meados de julho e que resultaram de uma desobediência expressa às instruções do Banco de Portugal”, sublinha Maria Luís.

“A menos que se amarre totalmente as mãos… A polícia consegue evitar alguns crimes… Estes comportamentos, de facto, determinaram a queda do banco naquele momento porque foram assumidos riscos que não eram aceitáveis”, diz Maria Luís Albuquerque, lembrando que não há muitos casos em que um banqueiro desobedece explicitamente àquilo que o “polícia” pede.

 

Ofertas pelo Novo Banco na venda falhada de 2015 continuam secretas. Ministra das Finanças nem as conhecia

Sexta-feira, Abril 2nd, 2021

Citamos

Expresso

Banco de Portugal esteve a negociar com interessados no Novo Banco em 2015, mas Maria Luís Albuquerque refere que as condições das propostas nunca foram do seu conhecimento. O desfecho do processo, em que não houve venda, foi de lamentar, diz a ex-ministra

Maria Luís Albuquerque era a ministra das Finanças quando o Banco Espírito Santo foi alvo de intervenção e deu lugar ao Novo Banco em 2014, mas não soube – e defende que só teria de saber no final – pormenores sobre as ofertas de compra do Novo Banco que estiveram em cima da mesa um ano depois, num processo que acabou abortado pelo Banco de Portugal.

“O que está determinado na legislação é que a responsabilidade pela venda é do Banco de Portugal. O Banco de Portugal conduziu o processo de venda”, frisou na sua audição desta quinta-feira, 1 de abril, na comissão parlamentar de inquérito às perdas do Novo Banco.

O Fundo de Resolução, onde o Ministério das Finanças tinha uma representante (Elsa Roncon Santos, hoje administradora não executiva do BPI), também não teve nenhuma informação. “O que o Fundo de Resolução fez foi aprovar procedimentos, os cadernos de encargos, definir como as fases se sucediam, os prazos”, explicou a ex-ministra. Sobre as propostas de venda em si, nada sabia, garantiu.

“Ao Fundo de Resolução, onde eu tinha uma representante, não foram entregues nem eu tive conhecimento de propostas, de valores e de condições associadas. A venda não chegou ao final. Acho natural que o Banco de Portugal, quando estivesse a chegar a fase de negociação com um comprador, que as condições tivessem sido discutidas com o Ministério das Finanças, até porque podia ter implicações com os auxílios do Estado”, declarou Maria Luís Albuquerque, governante entre o verão de 2013 e novembro de 2015.

A intervenção do BES aconteceu em agosto de 2014, e no final desse ano iniciaram-se os procedimentos do concurso de venda. “Não fui chamada a tomar nenhuma decisão”, repetiu.

PROCESSO CANCELADO “LAMENTAVELMENTE”

No verão de 2015, um ano depois da criação do Novo Banco, chegou-se à fase de negociações exclusivas com três finalistas para a aquisição (as chinesas Anbang e Fosun e a americana Apollo). Eram propostas vinculativas, mas mesmo assim não chegaram ao conhecimento do Ministério das Finanças. Após as negociações com cada uma das finalistas, o supervisor então liderado por Carlos Costa considerou as propostas insatisfatórias. O processo acabou cancelado. “Lamentavelmente”. A agora candidata a presidente do regulador europeu do mercado de capitais (ESMA) repetiu várias vezes que era de lamentar esse processo de venda não ter sido bem-sucedido.

Não se conhecem os pormenores destas ofertas, nem os preços, nem quais as condições que impunham para a compra do banco – e José Berberan Ramalho, à data vice-governador do Banco de Portugal e presidente do Fundo de Resolução, mencionou as incertezas externas que no verão de 2015 existiam (como crise de mercados asiáticos) para cancelar o negócio, mas os detalhes das propostas foram ditos em segredo aos deputados, com os microfones desligados. Nas perguntas dos deputados, percebe-se, contudo, que os compradores exigiam uma garantia ilimitada ao Estado português para cobrir os ativos tóxicos.

RELANÇAR VENDA “RAPIDAMENTE”

“Lamentei que não tivesse sido possível [vender o banco] e esperava que fosse possível fazê-lo rapidamente”, admitiu a administradora não executiva da empresa que adquire e gere ativos tóxicos Arrow Global. “O interesse nacional era dar um dono aquele banco”, disse. “Deixei de ser ministra em novembro de 2015 e já tinha havido uma tentativa de venda. Não vejo que a prorrogação do prazo gerasse algum valor, pelo contrário”, confirmou. “Aquilo que o Banco de Portugal me comunicou é que entendia que, face ao grande interesse que o processo tinha suscitado, e uma vez ultrapassadas incertezas, que haveria condições de lançar o processo de forma bem-sucedida”, relatou Maria Luís Albuquerque.

Em 2016, já com o novo Governo de António Costa, iniciou-se o segundo processo de venda do Novo Banco. Em 2017, foi o ministro das Finanças, Mário Centeno, ao lado de António Costa que anunciaram ao país a chegada a um acordo com a Lone Star para a venda da participação do Fundo de Resolução no Novo Banco. O banco foi vendido por zero euros, com o compromisso de capitalização de mil milhões do lado da compradora e de uma potencial capitalização de até 3,89 mil milhões do lado do vendedor. Como se compara este facto com as ofertas existentes dois anos antes continua a ser uma incógnita.

Maria Luís Albuquerque era a ministra das Finanças quando o Banco Espírito Santo foi alvo de intervenção e deu lugar ao Novo Banco em 2014, mas não soube – e defende que só teria de saber no final – pormenores sobre as ofertas de compra do Novo Banco que estiveram em cima da mesa um ano depois, num processo que acabou abortado pelo Banco de Portugal.

“O que está determinado na legislação é que a responsabilidade pela venda é do Banco de Portugal. O Banco de Portugal conduziu o processo de venda”, frisou na sua audição desta quinta-feira, 1 de abril, na comissão parlamentar de inquérito às perdas do Novo Banco.

O Fundo de Resolução, onde o Ministério das Finanças tinha uma representante (Elsa Roncon Santos, hoje administradora não executiva do BPI), também não teve nenhuma informação. “O que o Fundo de Resolução fez foi aprovar procedimentos, os cadernos de encargos, definir como as fases se sucediam, os prazos”, explicou a ex-ministra. Sobre as propostas de venda em si, nada sabia, garantiu.

“Ao Fundo de Resolução, onde eu tinha uma representante, não foram entregues nem eu tive conhecimento de propostas, de valores e de condições associadas. A venda não chegou ao final. Acho natural que o Banco de Portugal, quando estivesse a chegar a fase de negociação com um comprador, que as condições tivessem sido discutidas com o Ministério das Finanças, até porque podia ter implicações com os auxílios do Estado”, declarou Maria Luís Albuquerque, governante entre o verão de 2013 e novembro de 2015.

A intervenção do BES aconteceu em agosto de 2014, e no final desse ano iniciaram-se os procedimentos do concurso de venda. “Não fui chamada a tomar nenhuma decisão”, repetiu.

PROCESSO CANCELADO “LAMENTAVELMENTE”

No verão de 2015, um ano depois da criação do Novo Banco, chegou-se à fase de negociações exclusivas com três finalistas para a aquisição (as chinesas Anbang e Fosun e a americana Apollo). Eram propostas vinculativas, mas mesmo assim não chegaram ao conhecimento do Ministério das Finanças. Após as negociações com cada uma das finalistas, o supervisor então liderado por Carlos Costa considerou as propostas insatisfatórias. O processo acabou cancelado. “Lamentavelmente”. A agora candidata a presidente do regulador europeu do mercado de capitais (ESMA) repetiu várias vezes que era de lamentar esse processo de venda não ter sido bem-sucedido.

Não se conhecem os pormenores destas ofertas, nem os preços, nem quais as condições que impunham para a compra do banco – e José Berberan Ramalho, à data vice-governador do Banco de Portugal e presidente do Fundo de Resolução, mencionou as incertezas externas que no verão de 2015 existiam (como crise de mercados asiáticos) para cancelar o negócio, mas os detalhes das propostas foram ditos em segredo aos deputados, com os microfones desligados. Nas perguntas dos deputados, percebe-se, contudo, que os compradores exigiam uma garantia ilimitada ao Estado português para cobrir os ativos tóxicos.

“Lamentei que não tivesse sido possível [vender o banco] e esperava que fosse possível fazê-lo rapidamente”, admitiu a administradora não executiva da empresa que adquire e gere ativos tóxicos Arrow Global. “O interesse nacional era dar um dono aquele banco”, disse. “Deixei de ser ministra em novembro de 2015 e já tinha havido uma tentativa de venda. Não vejo que a prorrogação do prazo gerasse algum valor, pelo contrário”, confirmou. “Aquilo que o Banco de Portugal me comunicou é que entendia que, face ao grande interesse que o processo tinha suscitado, e uma vez ultrapassadas incertezas, que haveria condições de lançar o processo de forma bem-sucedida”, relatou Maria Luís Albuquerque.

Em 2016, já com o novo Governo de António Costa, iniciou-se o segundo processo de venda do Novo Banco. Em 2017, foi o ministro das Finanças, Mário Centeno, ao lado de António Costa que anunciaram ao país a chegada a um acordo com a Lone Star para a venda da participação do Fundo de Resolução no Novo Banco. O banco foi vendido por zero euros, com o compromisso de capitalização de mil milhões do lado da compradora e de uma potencial capitalização de até 3,89 mil milhões do lado do vendedor. Como se compara este facto com as ofertas existentes dois anos antes continua a ser uma incógnita.

Maria Luís Albuquerque frisou, nas respostas aos deputados, que não tinha qualquer conhecimento das propostas pelo Novo Banco, como também não teve qualquer papel na resolução do BES nem na separação entre ativos. “Quem tem competência para executar a medidas de resolução é a autoridade de resolução, o Banco de Portugal”, continuou.

Aliás, também declarou que o valor da capitalização do Novo Banco, a 3 de agosto de 2014, foi ditado pelo Banco de Portugal, e que não colocara nenhum teto.

E havia margem de pôr mais dinheiro no Novo Banco com a recapitalização pública? “Honestamente, não vejo que pudesse ter sido mais favorável, nem para os contribuintes, nem para a estabilidade do sistema financeiro, e essa foi garantida. Não estou a dizer que não houve muita gente penalizada. A ideia de que era possível pôr-se dinheiro público para que ficasse lá à espera que ganhasse valor era uma ideia romântica, não era possível, nem desejável”.

Maria Luís de Albuquerque: “O ministério das Finanças não participa na capitalização do Novo Banco”

Sexta-feira, Abril 2nd, 2021

Citamos

Económico

Maria Luís Albuquerque referiu que o Ministério das Finanças nunca disse ao Banco de Portugal que o capital inicial do Novo Banco não podia ser 5 ou 5,5 mil milhões de euros (valor inicialmente apontado como necessário), confirmando o que disseram quer Luís Costa Ferreira, quer o ex-vice Governador do BdP, Pedro Duarte Neves. O valor de 4,9 mil milhões foi fixado depois da reunião com o ministério das Finanças.

Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças à data da descoberta do problema financeiro do Grupo Espírito Santo que levaram à resolução do Banco Espírito Santo, está a ser ouvida esta quinta-feira na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução e acaba de dizer que nunca estabeleceu “qualquer valor sobre o capital inicial do Novo Banco”, na sequência da questão levantada pela deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua.

Mariana Mortágua partiu de um relato de Luís Costa Ferreira e de Pedro Duarte Neves, ambos do Banco de Portugal à data, sobre uma reunião no Ministério das Finanças na manhã de dia 3 de agosto de 2014 (a resolução do BES foi nesse dia à noite), na qual o Banco de Portugal defendeu que o capital inicial do Novo Banco devia ser entre 5 mil a 5,5 mil milhões de euros, incluindo assim uma almofada de capital.

Tendo depois vingado a versão dos 4,9 mil milhões de euros. Valor este que foi confirmado pela PwC.

Maria Luís confirmou que “achou os 5 a 5,5 mil milhões de euros um valor muito alto, mas frisou também que achou muito alto o valor que foi apurado de 4,9 mil milhões de euros”. No entanto explicou que nunca disse ao Banco de Portugal que o capital inicial do Novo Banco não podia ser de 5 ou de 5,5 mil milhões de euros. O que aliás coincide com o que disseram quer Luís Costa Ferreira, quer o ex-vice Governador do BdP, Pedro Duarte Neves, uma vez que ambos relataram a reunião mas nunca atribuíram a decisão do capital de 4,9 mil milhões ao Governo.

Maria Luís Albuquerque confirmou que o valor inicialmente estimado pelo Banco de Portugal era de 5 a 5,5 mil milhões para a capitalização do banco que saísse da resolução do BES, porque incluía uma almofada, mas que também foi dito pelo supervisor bancário que esse valor era ainda uma estimativa.

“O auxílio de Estado tem de ser dado sempre pelo mínimo. É o que dizem as regras europeias de auxílio do Estado”, sublinha Maria Luís Albuquerque, o que aliás já tinha sido explicado por Pedro Duarte Neves.

O valor da capitalização do Novo Banco dependeu da separação de ativos e passivos do BES e “essa separação de ativos e passivos é feita exclusivamente pelo Banco de Portugal. O ministério das Finanças não participa na determinação do valor de capitalização de um banco”, reforçou a ex-ministra das Finanças do Governo de Pedro Passos Coelho.

O Banco de Portugal, no fim de semana da Resolução do BES, numa reunião com o Ministério das Finanças levou um valor estimado entre os 5 e os 5,5 mil milhões. Numa audição aos responsáveis  do BdP ficou a saber-se que o valor dos 4,9 mil milhões teve o acordo da Comissão Europeia, que defende que a capitalização de um banco em resolução deve ser feita estritamente pelos mínimos.

Também Pedro Duarte Neves já tinha explicado que o cálculo da necessidade de capitalização de 4,9 mil milhões resultou da avaliação dos ativos e passivos que foram transferidos para o Novo Banco, para que este cumprisse os requisitos regulamentares de rácios de capital.

“O Ministério das Finanças não recusa nem aceita valores, não tem capacidade técnica nem competência material para isso – a única decisão do Ministério é aprovar os fundos necessários para emprestar ao Fundo de Resolução”, disse, notando que o empréstimo para cobrir o que o Fundo não tinha era inicialmente de 4,4 mil milhões, mas como houve bancos do sistema a avançarem com empréstimos ao Fundo de Resolução, a injeção pública acabou por ser de 3,9 mil milhões.

“O balanço de abertura do Novo Banco só foi fechado em dezembro desse ano (2014)”, lembrou ainda a ex-ministra do governo do PSD/CDS.

Já na sequência das perguntas do deputado do PCP, Duarte Alves, refere que a linha da troika para os bancos que ainda estava disponível era de 6,4 mil milhões de euros.

Antes tinha explicado a Mariana Mortágua que “não foi discutida a recapitalização pública do BES com o Banco de Portugal”.

“Quem tem competência para aplicar uma medida de resolução é o Banco de Portugal que é a autoridade de resolução em Portugal, segundo uma lei aprovada aqui no Parlamento”, disse a ex-ministra das Finanças.

Na resposta a Duarte Alves, Maria Luís Albuquerque explicou que a opção de recapitalização pública não poupava os acionistas do BES e o custo de capitalização “não saía do Fundo de Resolução, saía do Orçamento do Estado”.

O Estado só seria ressarcido pelo produto de uma eventual venda do banco e as perdas dessa venda seriam pagas pelos contribuintes, frisou.

Recapitalização pública “não foi” equacionada pelo Governo

Mariana Mortágua, do BE, foi a primeira a inquirir Maria Luís Albuquerque e perguntou em que moldes a recapitalização pública foi discutida. “Não foi” discutida, diz Maria Luís Albuquerque. Era algo previsto na lei mas não foi discutido pelo Governo, garante.

“A linha de recapitalização pública estava disponível, isso foi comunicado por mim própria, como esteve disponível até outubro de 2014 quando terminou o comprehensive assessment“, referiu.

A deputada do Bloco insiste no tema citando Vítor Bento que depois de uma reunião com a então ministra das Finanças ficou com a ideia de que não havia vontade política para usar a linha de recapitalização.

Maria Luís Albuquerque clarifica dizendo que foi explicado que os moldes de uma recapitalização “tipo Banif, BCP, BPI” (na altura com CoCo’s) não era possível porque esse enquadramento legal já não estava em vigor. Nessa altura “a capitalização teria consequências para acionistas credores subordinados. Foi explicado que esse enquadramento significava um plano de reestruturação previamente acordado com a DG Comp. Parecia-me difícil que houvesse tempo”, disse.

“Nunca disse se o Estado faria ou não porque nunca me foi perguntado. A  interpretação da vontade política a mim não me responsabiliza”, disse Maria Luís Albuquerque.

A inquirida lamentou ainda a venda falhada do Novo Banco em 2015, “em setembro de 2015 foi lamentável”.

A responsabilidade pela venda era do Banco de Portugal, o Fundo de Resolução só aprovou o procedimento da venda, explicou Maria Luís que disse que na altura lhe foi explicado que havia sete bancos na corrida. “Nada fazia prever que a venda não pudesse ser feita, mas ocorreram factos fora de Portugal – com a Grécia e nos mercados asiáticos”, lembrou.

Mas “aquilo que o Banco de Portugal me disse é que entendia que face ao grande interesse que o processo tinha suscitado, uma vez ultrapassadas estas questões”, o processo poderia avançar ainda dentro do prazo do empréstimo, que era agosto de 2016.

Nem o ministério das Finanças, nem o Fundo de Resolução chegaram a ter acesso às propostas apresentadas em 2015, nem seu conteúdo, para comprar o Novo Banco, porque o processo não chegou ao fim.

Aquilo que decorre das regras é que o banco de transição tem de ser vendido em até dois anos, “mas até é desejável que seja em menos, em três ou seis meses. É um banco sem dono, sem orientação estratégica”, disse a ex-ministra.

Maria Luís Albuquerque referiu ainda que “quando é feita uma resolução, há duas modalidades, ou a atividade do banco é entregue a um banco já existente no sistema (deixa de existir e fica apenas o banco mau), outra hipótese é criar-se uma instituição de transição. “Uma instituição de transição deve existir o mínimo de tempo possível”, frisou.

Sobre o périplo por vários governantes para salvar o grupo que tinha uma dívida de 7,6 mil milhões de euros, relatado por José Honório – que esteve a apoiar o GES, como consultor, antes da Resolução – e em resposta à deputada do CDS, Cecília Meireles, a ex-ministra disse que “aquilo que foi o conteúdo dessa reunião foi uma expressão de uma preocupação com a área não-financeira do Grupo Espírito Santo, cujas dificuldades até estavam a ser prejudicadas pelo ring-fencing [separação do banco], que ia ser preciso fazer um plano de reestruturação e que esse plano teria de ter um apoio institucional do Estado, designadamente com um empréstimo da Caixa Geral de Depósitos que, presumivelmente, a Caixa não teria interesse comercial em fazer”.

Cecília Meireles recorda que segundo José Honório foi pedido a intervenção do Estado para que a CGD e o BCP financiassem eventuais investidores que comprassem o GES.  Era “habitual” Governo pedir à CGD para investir aqui ou ali? perguntou a deputada.

“No Governo de que eu fiz parte não”, respondeu Maria Luís Albuquerque.

A ex-ministra mais tarde, em resposta ao deputado do PAN, estranhou que José Honório tenha considerado que o problema financeiro do GES punha em risco o BES, e tenha depois aceite ser vice-presidente do banco.

A questão do BES nunca condicionou a saída limpa do programa da troika

A ex-ministra das Finanças rejeitou a ligação entre a chamada saída limpa do programa de assistência financeira, que ocorreu em maio de 2014, e um eventual adiamento de uma intervenção no BES.

“A questão do BES nunca se colocou como condicionando, ou manchando a saída de limpa. Não era possível a ninguém ter essa perceção” à data, disse.

Em maio de 2014 quando essa saída aconteceu, havia “notas de preocupação com o universo do GES”. Mas a “situação do banco estava defendida pelas medidas postas em prática, havia uma almofada de mais de dois mil milhões. O que mudou e fez a diferença na fase final, foram as surpresas feitas à revelia do Banco de Portugal, descobertas pelos auditores”, disse a ex-ministra.

Maria Luís Albuquerque acredita que Estado terá mais perdas com Novo Banco

Quinta-feira, Maio 18th, 2017

Citamos

Negócios

A deputada social-democrata exige “esclarecimentos cabais” sobre a alienação do Novo Banco. Maria Luís Albuquerque, que critica o atraso no envolvimento “voluntário” dos obrigacionistas, está contra a manutenção de 25% do capital do banco no Estado.

A ministra das Finanças entre 2013 e 2015 está contra o modelo de venda do Novo Banco à Lone Star. De acordo com Maria Luís Albuquerque, os 25% que o Fundo de Resolução mantém na instituição financeira poderão representar “perdas futuras”.

“É muito negativa a decisão de manter a posição de capital. Serve apenas para responsabilizar o Estado para problemas futuros”, defendeu Maria Luís Albuquerque na comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa. A antiga governante não acredita em ganhos futuros com aqueles 25% que não foram alienados aos americanos da Lone Star. “Se calhar, permitirão é perdas futuras”, frisou.

“Manter capital no Novo Banco é um passivo para os contribuintes”, afiançou Maria Luís Albuquerque, recusando a ideia do socialista João Galamba de que aquela posição é um activo. Para o deputado do PS, a venda de 75% foi a custo zero, pelo que se fossem vendidos 100% também seria por zero.

Ex-ministra aposta que governo PS injectará dinheiro no Novo Banco

Nas respostas dadas aos deputados, a também deputada do PSD declarou que, se houver um aumento de capital futuro na instituição financeira para além dos acordados com a Lone Star, o Estado irá injectar dinheiro se o Governo que estiver em funções for do Partido Socialista. “Se for um Governo liderado pelo PS, posso fazer uma aposta que acompanham e arranjarão argumentos para acompanhar”.

Sobre o modelo de venda à Lone Star, apresentado no final de Março pelo Banco de Portugal e pelo Governo, Maria Luís Albuquerque criticou o mecanismo de capitalização contingente que poderá obrigar o Fundo de Resolução a cobrir responsabilidades que ascendem a 3,8 mil milhões de euros. Além disso, deixou farpas, também, à troca de dívida que permitirá libertar o Novo Banco de responsabilidades de 500 milhões de euros, essencial para a concretização da operação.

Maria Luís Albuquerque não percebe por que motivo é que “uma cláusula tão fundamental como o envolvimento voluntário dos objectivos esteja ainda tão atrasada, atendendo que é tão determinante para a conclusão do processo”.

Num dia em que Ricardo Santos Silva, presidente da sociedade britânica Aethel, voltou a dizer que tem uma proposta para o Novo Banco com melhores condições do que a da Lone Star, Maria Luís Albuquerque argumentou que “se há potenciais interessados” alternativos, o Governo tem de dizer “porque é que escolheram esta proposta” e “porque é que é a melhor para a salvaguarda da estabilidade do sistema financeiro”.

A tal borla aos bancos

Terça-feira, Abril 11th, 2017

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Expresso Opinião João Galamba

Era uma vez um fundo que Maria Luís Albuquerque jurava ser dos bancos. Esse fundo, chamado Fundo de Resolução, era uma entidade pública, estava no perímetro das administrações públicas, mas isso é apenas estatístico, garantiu vezes sem conta Maria Luís Albuquerque, porque as contribuições para o fundo seriam integral e exclusivamente pagas pelos bancos, não pelos contribuintes. O empréstimo que o Estado teve de conceder ao Fundo tem um prazo curto e será inteiramente suportado pelo fundo, isto é, pelos bancos. O enorme detalhe que Maria Luís Albuquerque nunca explicou foi como é que era suposto contribuições inferiores a 200 milhões de euros por ano, que pagavam pouco mais do que os juros devidos ao Estado, reembolsarem uma dívida superior a 4 mil milhões até agosto de 2016.

Ao contrário do que a mitologia da Imaculada Resolução sustentava, o Novo Banco não foi vendido por um valor que permitisse amortizar a dívida do fundo de resolução. Não havendo qualquer amortização da dívida que decorra do processo de venda do Novo Banco, a única receita anual do fundo que poderia reeembolsar o Estado seria a contribuição anual dos bancos. Como é evidente, os bancos, com a Caixa Geral de Depósitos à cabeça, não tinham capacidade de pagar 4 mil milhões de euros sem incumprir os seus rácios de capital regulatório. No caso da Caixa estamos a falar de mais de mil milhões de euros.

Para se perceber o que podem ou não os bancos pagar, recuemos ao debate e votação do Orçamento do Estado para 2016, quando o governo propôs aumentar a contribuição sobre o sector bancário. Este agravamento permitia que as contribuições anuais para o fundo aumentassem cerca de 50 milhões de euros anuais. PS, BE, PCP e PEV votaram a favor; o PSD votou contra.

É o mesmo PSD que votou contra o aumento das contribuições da banca que vem hoje falar de alegadas borlas dadas aos bancos no empréstimo concedido pelo Estado. Como o reembolso do empréstimo depende exclusivamente das contribuições dos bancos, o PSD acaba por defender uma coisa e o seu contrário: defende que os bancos paguem menos e mais; potencialmente muito mais, não sabemos, até porque o PSD não explica.

Como é fácil de entender, a estrutura do empréstimo (prazo, juros) tem de ser adaptado à realidade das contribuições feitas pelos bancos. Só assim, depois de ajustado o empréstimo à realidade, é podemos dizer que a dívida será efectivamente paga pelos bancos, através das ditas contribuições, as únicas existentes para tal efeito. Até 2046, é certo; com um juro baixo, é verdade. Mas, nesses novos termos, serão mesmo as contribuições anuais dos bancos, e só estas, a pagar a dívida do fundo ao Estado. So depois do actual governo ter feito o que fez é que aquilo que o anterior governo afirmava sobre a responsabilidade dos bancos em relação ao fundo passou a ser verdade: são os bancos que pagam a dívida do fundo.

Podemos debater se o juro ou o prazo devia ser este ou aquele, mas todos esses debates seriam sempre, afinal, sobre o mesmo e único tema relevante: qual deve ser o valor da contribuição anual dos bancos para o fundo de resolução? Em 2016, contra a vontade do PSD, que votou contra, aumentou 50 milhões de euros. Se queremos um empréstimo mais rentável para o Estado, então temos de saber se isso é sustentável para o sector financeiro, porque implicaria um novo aumento das contribuições do sector bancário para o fundo de resolução. É um debate que podemos ter, mas, como se tem visto, não me parece que o PSD tenha qualquer intenção de participar nele de forma séria.

Carlos Costa, Maria Luís e Vítor Gaspar chamados ao Parlamento

Quarta-feira, Março 8th, 2017

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Diário de Notícias 

Em causa tanto está a questão do BES (no caso do governador) como a dos offshores, para as audições dos ex-ministros das Finanças.

No caso da audição dos ex-ministros, o PSD propôs que as audições só se fizessem depois de uma audição ao inspetor-geral das Finanças, cujo organismo está investigar porque razão transferências bancárias para offshores avaliadas em dez mil milhões de euros ficaram sem escrutínio do Fisco.

O PS, apoiado à esquerda, objetou a que assim fosse: as audições aos ministros das Finanças Vítor Gaspar (ministro das Finanças entre 2011 e 2013) e Maria Luís Albuquerque (2013-2015) serão antes da audição com o inspetor-geral das Finanças.

Por consenso, foi também deliberado convocar o governador do Banco de Portugal, respondendo a um pedido do próprio Carlos Costa e a um requerimento que já tinha sido apresentado há semanas pelo PCP.

Em causa, na disponibilidade de Carlos Costa, uma reportagem recentemente transmitida pela SIC com dados novos sobre a informação de que o governador do Banco de Portugal disporia sobre a verdadeira situação do Grupo Espírito Santo.

Novo Banco: Parlamento chama Maria Luís, Centeno, Carlos Costa e Fundo de Resolução

Quarta-feira, Fevereiro 8th, 2017

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TVI

O Parlamento decidiu chamar para audições sobre o Novo Banco e a resolução do BES a anterior e o atual ministros das Finanças, o governador do Banco de Portugal e o presidente do Fundo de Resolução

O Parlamento decidiu chamar para audições sobre o Novo Banco e a resolução do BES a anterior e o atual ministros das Finanças, o governador do Banco de Portugal e o presidente do Fundo de Resolução.

O PCP tinha apresentado, no final de janeiro, à comissão parlamentar de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa um requerimento para a audição do governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, e da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, o que motivou uma forte oposição do PSD.

O requerimento do grupo parlamentar comunista acabou por ser votado em dois pontos, sendo aprovada a audição de Carlos Costa, com os votos favoráveis do PS, BE e PCP e os votos contra do PSD e do CDS.

No entanto, a audição de Maria Luís Albuquerque proposta pelo PCP foi chumbada, com os votos favoráveis do PCP e BE, contra do PSD e do CDS-PP e abstenção do PS, que considerou que “embora seja legítimo chamar ao parlamento membros de antigos governos, a comissão [parlamentar] ordinária não tem essa missão”.

Ainda assim, a audição da ex-ministra Maria Luís Albuquerque acabou por ser aprovada, no seguimento de uma proposta do PSD apresentada na comissão parlamentar desta tarde para promover um conjunto de audições parlamentares sobre o Novo Banco.

O requerimento do grupo social-democrata sugeria ouvir também o presidente do conselho diretivo do Fundo de Resolução, José Joaquim Berberan e Santos Ramalho, e do atual ministro das Finanças, Mário Centeno.

A audição de Maria Luís Albuquerque acabou por ser aprovada com os votos favoráveis do PSD, CDS-PP, BE e PCP e a abstenção do PS, sendo que as audições de Mário Centeno e do presidente do Fundo de Resolução também foram aprovadas, mas apenas com os votos a favor do PSD, CDS-PP e BE, uma vez que PCP e PS se abstiveram.

Sérgio Monteiro: Força nas canelas

Domingo, Janeiro 22nd, 2017

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Correio da Manhã

Faz 43 anos para o mês que vem, o gestor que se farta de pedalar. Aquele que já foi de Mangualde à Serra da Estrela, das PPP à TAP, corre agora o risco de derrapar agarrado ao Novo Banco
O amigo conterrâneo precipitou-se. O Opus Dei, afinal, não recrutou Sérgio da Silva Monteiro. Na adolescência, foi acólito, o padrinho é sacerdote, a falecida mãe, professora primária, era devota, a irmã assessorou um antigo presidente da Câmara de Mangualde, que é supranumerário.

Coincidências. Sérgio Paulo Lopes da Silva Monteiro diz pela sua própria voz que nunca pertenceu à Prelatura pessoal da Igreja Católica. Casado e com descendentes, três raparigas e um rapaz, é fácil encontrá-lo, aos fins-de-semana , a passear os herdeiros de bicicleta, no Parque das Nações, em Lisboa, onde reside. No passado, pedalou desde a sua terra natal, Mangualde, até ao infinito da Serra da Estrela. Agora, os pedais têm tempo limite: Abril próximo.

A milionária prestação de serviço ao Banco de Portugal justifica-se numa alínea: encontrar comprador para o ‘banco bom’ após o naufrágio de Ricardo Salgado. Bem posicionado para ficar com o Novo Banco é o Lone Star Funds, comandado por John Grayken, tido como um oportunista que fez fortuna a partir dos erros alheios.

Próximo de Maria Luís

O governador Carlos Costa entusiasmou-se com a biografia do homem nascido em 19 de Fevereiro de 1974, sobretudo no que respeita a processos de privatização, sucedidos em 2013, e colocou-o à frente do projecto de um negócio que já viu as águas de bacalhau. Não é a estreia de Sérgio Monteiro na ribalta.

Antes de ser secretário de Estado das Infra-estruturas e Transportes de Passos Coelho, administrou a Caixa Banco de Investimento da CGD, onde às suas costas caíam as Parcerias Público-Privadas (PPP). Dialogante, conciso e combativo. Travou batalhas. Na TAP negociou com sindicatos de pilotos. No Metro retirou aos funcionários a regalia dos óculos escuros. Privatizou a ANA, resolveu a CP Carga, vendeu os CTT em Bolsa à finança internacional.

Almas vivas do PSD não querem saber do CV de Monteiro: “Ainda para mais não é militante.” É apenas adepto do Benfica. No consulado de Passos Coelho, diz-se que o pós-graduado em Ciências Empresariais fez papel de ministro da Economia e que teve proximidade com Maria Luís Albuquerque.

Há militantes do PSD que não digerem o facto de, em Janeiro de 2011, ter integrado o Grupo de Trabalho para a reavaliação das PPP e Concessões, por indicação de Governo socrático: “Sérgio Monteiro começa com os socialistas e a seguir vai para governo de coligação PSD/PP. E depois, continua no seu melhor?!” A ironia refere-se ao salário atual – 25, 4 mil € -, que teve direito a um prolongamento. A explicação do balúrdio veio em comunicado. Monteiro, filho de um bancário da CGD, recebe uma remuneração igual à que auferia no CaixaBI. Este detalhe provoca riso a fonte adjacente. O lugar de Monteiro terá sido preenchido e é improvável que volte a reunir tantos euros num só mês.

Fact check. O PSD “destruiu” mesmo o BES, como acusou António Costa?

Quinta-feira, Dezembro 29th, 2016

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Observador

António Costa disse que o PSD não tem legitimidade para falar de bancos porque, na sua governação, “destruiu o BES”, equiparando às situações do Banif e da Caixa. Faz sentido? Leia o “fact check”.

(Fact check atualizado às 20h53 com declarações de João Galamba, do PS, à imprensa)

A frase

“O que é absolutamente irresponsável, é a postura do PSD que, enquanto Governo, procurou esconder dos portugueses a situação em que se encontrava o sistema financeiro. Por sua responsabilidade, destruiu um banco como o Banco Espírito Santo (BES), conduziu à destruição de um segundo banco, caso do Banif”.

António Costa, em entrevista à Lusa a 24 de novembro de 2016

A tese

António Costa deu uma entrevista à Lusa em que passou ao ataque e acusou a governação de Pedro Passos Coelho de ter “conduzido à destruição” o Banco Espírito Santo (BES), equiparando o que se passou com o banco liderado por Ricardo Salgado aos casos do Banif e da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Todos estes são casos complexos, todos eles sujeitos a comissões de inquérito parlamentar, mas faz sentido juntá-los no mesmo saco para dizer que foi o Governo de Passos Coelho o responsável pela queda do BES?

Os factos

Muito se escreveu sobre o adiar do problema que existia no Banif e de como o processo conturbado terminou com uma resolução ruinosa, depois de uma sucessão de acontecimentos como o regresso aos mercados, o fecho do programa da troika, as dificuldades na venda de ativos e a entrada de novos investidores no Banif e a própria resolução do BES (que causou perdas ao Banif e desvalorizou os seus ativos).

Muito se falou, também, sobre a acumulação de prejuízos na Caixa Geral de Depósitos e a indefinição que se vive no banco há alguns anos, mesmo antes de as atenções dos jornais se virarem para o banco público. Só em julho de 2015, vários meses antes das eleições e da queda do Banif, Passos Coelho disse publicamente que estava “preocupado” com o facto de o banco público não ter, ainda, naquela altura, reembolsado qualquer cêntimo do empréstimo estatal. Houve notícias que sugeriam a existência de planos de capitalização apresentados pela anterior administração a que não foi dado seguimento por parte do governo de Passos.

Ainda assim, 0 que parece ser um caso distinto, e muito mais complexo até, foi o colapso do Banco Espírito Santo (BES) no verão de 2014, quando Maria Luís Albuquerque contava com um ano como ministra das Finanças. A agora deputada do PSD já veio repudiar as declarações do primeiro-ministro, considerando que quando Costa diz que o PSD “destruiu” o BES está a revelar “grande ignorância” e teria dado “milhares de milhões” a Ricardo Salgado.

António Costa não esclareceu sobre o que se referia. Mas é um facto que Ricardo Salgado pediu a Pedro Passos Coelho para intervir no sentido de obter um empréstimo milionário (cerca de 2,5 mil milhões de euros) para o Grupo Espírito Santo (GES) — e não para o BES. Seria um empréstimo da Caixa Geral de Depósitos ao grupo da família, mas com a intenção — segundo Salgado — de proteger o banco, que viria a ser contaminado pelas dificuldades do grupo, e facilitar a reestruturação de ativos da parte não financeira.

A partir das declarações de António Costa não é possível depreender que o líder do PS defenderia — se estivesse no lugar de Passos Coelho — o empréstimo ao Grupo Espírito Santo. E é impossível provar que esse empréstimo da Caixa ao GES poderia ter sido a solução para os problemas de Ricardo Salgado e que, com esse empréstimo, tanto o BES como o GES estariam, hoje, de boa saúde.

Aquilo que é verificável é que houve uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o colapso do BES que chegou a várias conclusões e nenhuma delas apontou culpas ao governo de Passos Coelho. Existe, nas conclusões da Comissão, uma crítica de que a troika poderia ter feito mais para descobrir os problemas (recorde-se que o BES não pediu ajuda estatal), mas não existem críticas diretas ao Governo PSD-CDS.

A comissão de inquérito fez algumas críticas ao Banco de Portugal, sobretudo por ter tido uma intervenção “porventura tardia”, mas atribuiu a Ricardo Salgado a “centralização de responsabilidades” pelo colapso do grupo e do banco e escreveu que “todos os administradores e dirigentes de topo do GES são solidariamente responsáveis”.

 O porta-voz do PS, João Galamba, respondeu ao final da tarde aos comentários de Maria Luís Albuquerque sobre esta controvérsia, dizendo que “a posição do PS foi sempre a mesma ao longo de toda a comissão de inquérito do BES”. “Quando o PSD diz agora que António Costa teria entregado milhares de milhões de euros a Ricardo Salgado, está a distorcer a posição do PS porque a nossa posição sempre foi, ao longo de toda a comissão de inquérito e ainda é hoje, que no momento em que se descobriu que Ricardo Salgado tinha falsificado as contas da Espírito Santo International, no final de 2013, esse era o momento para substituir-se Ricardo Salgado”, vincou João Galamba.

À Lusa, João Galamba acrescentou que “a substituição da administração (…), esta era a tese do PS e mantemos ainda hoje, só não foi feito no final de 2013, porque não dava jeito ao Governo da altura, ao Banco de Portugal e à troika, um escândalo financeiro em plena saída limpa de Portugal do programa [de ajustamento]”, declarou o deputado socialista.

Errado. Comparar as situações do Banif e da Caixa com o BES parece fazer pouco sentido, a menos que António Costa tenha dados novos que (nesta entrevista) não foram revelados. A recusa de Passos Coelho do empréstimo da Caixa ao GES, sustentada com a indisponibilidade do Estado para “resgatar grupos privados”, terá sido relevante para o decurso do processo. Mas é impossível saber o que aconteceria se a resposta tivesse sido outra — o Estado poderia ter ficado a pagar uma fatura elevada se se tivesse associado aos problemas do GES. De qualquer forma, o ponto é: a Comissão de Inquérito não apontou as culpas pelo colapso do BES ao Governo de Passos, e o PS (já então liderado por António Costa) votou favoravelmente as conclusões da CPI.

PSD sugere que PS teria entregue “milhares de milhões” ao BES se fosse Governo em 2014

Terça-feira, Novembro 29th, 2016

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Negócios

O PSD repudiou as acusações do primeiro-ministro de que o anterior Governo destruiu o BES e o Banif, lembrando que o governador do Banco de Portugal já considerou ser “ignorância” considerar o programa de ajustamento um fracasso.

Num comentário esta sexta-feira aos excertos da entrevista do primeiro-ministro à Agência Lusa divulgados na quinta-feira, a vice-presidente do PSD Maria Luís Albuquerque considerou que as acusações proferidas relativamente aos sociais-democratas são “de uma tal gravidade e falsidade” que não podem deixar de merecer um comentário.

“O doutor António Costa, numa tentativa de justificar o injustificável comportamento do Governo relativamente à matéria da Caixa Geral de Depósitos acusou o Governo anterior de ter destruído o Banco Espírito Santo, de ter destruído o Banif e que, segundo as palavras do doutor António Costa, só a mudança do Governo impediu que houvesse mais destruição”, recordou.

Tais declarações, referiu, permitem concluir que se António Costa fosse primeiro-ministro em 2014 “teriam sido entregues milhares de milhões de euros de dinheiro dos contribuintes ao doutor Ricardo Salgado para evitar o colapso do BES”.

Maria Luís Albuquerque remeteu ainda o primeiro-ministro para as declarações proferidas pelo governador do Banco de Portugal também na quinta-feira, quando Carlos Costa “esclareceu que os problemas que ainda hoje colocam grandes desafios à banca nacional são problemas que tiveram a sua origem antes de 2011 e é ainda o legado desses tempos que pesa na banca nacional”.

“Isto são as palavras do senhor governador, que a política para o sistema financeiro para a banca durante o período dos anos de ajustamento foi um fracasso, isso é só um sinal de uma grande ignorância ou até de iliteracia”, sublinhou a ex-ministra das Finanças.

Na entrevista à Agência Lusa, o primeiro-ministro considerou que a postura do PSD é “absolutamente irresponsável” no caso da Caixa Geral de Depósitos, acusando os sociais-democratas de terem procurado, enquanto Governo, esconder dos portugueses a situação em que se encontrava o sistema financeiro”.

“Por sua responsabilidade, destruiu um banco como o Banco Espírito Santo (BES), conduziu à destruição de um segundo banco, caso do Banif, e se não tivesse mudado o Governo gostava de saber quantos mais bancos teriam sido destruídos. Há um seguramente que teria sido destruído, a CGD, ou, pelo menos, teria sido empurrado para uma privatização que privaria os portugueses de terem um instrumentos fundamental ao serviço da economia”, acusou António Costa.

Na entrevista, o primeiro-ministro disse ainda que o PSD, “não contente com o seu passado de Governo na gestão do sistema financeiro, comporta-se agora na oposição com uma irresponsabilidade total, inventando casos sobre casos, falsas polémicas sobre falsas polémicas, com um único objetivo, que é ver se evita a concretização dos programas de capitalização e de reestruturação da Caixa e a execução do novo plano de negócios”.

Também na quinta-feira, numa intervenção de abertura do Fórum Banca 2016, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, defendeu que os bancos portugueses estão hoje mais capitalizados do que em 2011, considerando que contradizer esta realidade “é uma ofensa ao programa de ajustamento e ao BdP” e que “só pode ser grande ignorância ou iliteracia”.