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Mário Centeno: atraso a lidar com o problema do Novo Banco tornou “processo penoso”

Sábado, Julho 17th, 2021

Citamos

Público

O governador do Banco de Portugal, em entrevista ao PÚBLICO, continua a defender a solução encontrada para a venda do Novo Banco. Mas lamenta “a duração e carácter tardio com que foi tratado” o problema provocada pela queda do BES.

A sequência de episódios a que se tem vindo a assistir no Novo Banco é classificada por Mário Centeno como um processo “penoso”, mas que ocorre, não por falhas na solução encontrada para o banco, mas pelo atraso com que o problema começou a ser resolvido, defende o governador do Banco de Portugal.

Sem querer referir-se a casos concretos, Mário Centeno, numa entrevista ao PÚBLICO sobre a revisão estratégica do BCE a publicar esta segunda-feira, defende que aquilo que é necessário é “celeridade, clareza e efectividade na forma como todos lidamos com estes casos”.

“No sector financeiro não há azar, há procrastinação. Estes casos revelam tudo isso. Situações bancárias que se prolongam sem viabilidade ao longo de muito tempo, geram comportamentos negativos, quer do lado do sistema bancário, que fica de mãos atadas a alimentar no seu balanço créditos que não têm destino previsivelmente bem-sucedido, quer do lado dos mutuários que insistem em encontrar soluções”, afirma.

Questionado se a sequência de episódios a que se tem vindo a assistir no Novo Banco não revelam também as fragilidades da solução encontrada para a instituição financeira no momento da sua venda, o ex-ministro das Finanças responde que “não, porque isto acontece em todos os bancos e em todo o lado”.

“Temos de ter noção que estes fenómenos decorrem da inacção que os sistemas têm e da complacência que demonstram com determinado tipo de comportamentos. Temos noutros países – na Alemanha, que é sempre um exemplo que gostamos de dar – fenómenos de corrupção e malversação da gestão bancária semelhantes a estes que estamos a observar em Portugal, e esses fenómenos são devidamente identificados e corrigidos, com as consequências para quem os pratica. Nós provavelmente atrasamo-nos a tratar deles no sistema bancário e a tratar deles no sistema judicial. Começámos a fazê-lo há alguns anos no sistema bancário”, diz.

Mário Centeno repete a sua defesa da solução adoptada no Novo Banco. Permitiu que o Novo Banco melhorasse todos os indicadores financeiros num banco que é o terceiro maior do país e que precisa dessa estabilidade para que haja estabilidade financeira em Portugal. Isso tem de ser avaliado como um sucesso, argumenta. “Outra coisa é que este processo pela sua duração e pelo carácter tardio com que foi tratado se tenha tornado um processo penoso. Isso é que não existe nos outros países: este atraso e esta duração no tratamento destas situações”, insiste.

O Novo Banco foi criado em Agosto de 2014, na sequência da resolução do BES, que colapsou perante o peso dos desequilíbrios financeiros gerados durante a gestão de Ricardo Salgado. Em 2015, o Banco de Portugal fez uma primeira tentativa de venda da instituição, que demorou seis meses e culminou com a suspensão do processo em Setembro, quando estavam apenas duas entidades na corrida: Apollo e Fosun. Em 2016, reacende-se o processo de venda, que é concluído apenas em Outubro de 2017, com a entrega do banco aos norte-americanos da Lone Star. Já este ano, de 2021, chegou ao fim o processo de reestruturação do banco negociado com o BCE no âmbito da venda do Novo Banco.

Este é um excerto da entrevista do governador do Banco de Portugal sobre a revisão da estratégia do BCE, a primeira desde 2003, que será publicada esta segunda-feira na íntegra

 

Novo Banco. Componente do pedido de capital em avaliação externa, diz Centeno

Segunda-feira, Junho 21st, 2021

Citamos

RTP

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, afirmou hoje que está a ser feita uma avaliação externa sobre uma componente do pedido de capital formulado pelo Novo Banco.

“À situação concreta que coloca está a ser, do ponto de vista do Fundo de Resolução, a ser dada resposta. Foi pedida uma avaliação externa em relação a uma determinada componente do pedido de capital do Novo Banco”, referiu Mário Centeno, em resposta a uma questão sobre o facto de o Novo Banco ter anunciado a obtenção de uma providência cautelar para receber 112 milhões de euros do Fundo de Resolução, depois de esta entidade ter transferido 317 milhões de euros.

Falando na conferência de imprensa de apresentação do Boletim Económico de junho, em Lisboa, Mário Centeno disse ainda que se está “a proceder a essa avaliação”. “E estamos em crer que ela resolverá, de uma forma ou de outra, o que vier a ser a opinião externa sobre essa injeção”, acrescentou.

Em 04 de junho, o Fundo de Resolução anunciou que pagou 317 milhões de euros ao Novo Banco, ao abrigo do Acordo de Capitalização Contingente (CCA), abaixo dos 598 milhões de euros que a instituição liderada por António Ramalho tinha pedido.

A estrutura liderada por Luís Máximo dos Santos considerou ser devido “um ajustamento no montante agregado de 169.298.939,00 euros” ao pedido do Novo Banco, devido a divergências acerca da venda da sucursal em Espanha (147,4 milhões de euros), à valorização de ativos (18 milhões) e aos prémios de gestão de 2019 e 2020 (quase quatro milhões de euros).

O valor totaliza 429 milhões de euros, e o pagamento dos 112 milhões de euros remanescentes fica “dependente da conclusão de uma averiguação suplementar” sobre a não aplicação da “política de contabilidade de cobertura aos instrumentos financeiros derivados contratados para cobrir risco de taxa de juro resultante da exposição a obrigações de dívida soberana de longo prazo”.

Em 07 de junho, o Novo Banco anunciou que irá tomar “todas as medidas”, incluindo “a obtenção de uma providência cautelar”, para receber 112 milhões de euros do Fundo de Resolução, depois de a entidade ter transferido 317 milhões de euros.

O Novo Banco foi criado em agosto de 2014 na resolução do Banco Espírito Santo (BES).

Em 2017, aquando da venda de 75% do banco à Lone Star, foi criado um mecanismo de capitalização contingente, pelo qual o Fundo de Resolução se comprometeu a, até 2026, cobrir perdas com ativos `tóxicos` com que o Novo Banco ficou do BES até 3.890 milhões de euros.

Até 2020, o Novo Banco já tinha consumido 2.976 milhões de euros de dinheiro público ao abrigo do mecanismo de capitalização, a que se somaram, entretanto, 317 milhões de euros.

Já no ano passado foi negociado um empréstimo dos bancos ao Fundo de Resolução, mas acabou por não avançar, tendo o dinheiro saído de um empréstimo do Tesouro.

 

Marcelo vai falar com Mário Centeno sobre lesados de Banif e BES

Quarta-feira, Junho 9th, 2021

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RTP

O Presidente da República afirmou hoje que vai falar com o governador do Banco de Portugal sobre os lesados de Banif e BES e adiantou que está a ser ponderada a criação de um grupo de trabalho.

Em resposta a questões dos jornalistas, no Funchal, a propósito de reuniões que teve na segunda-feira com representantes de lesados daqueles dois bancos, Marcelo Rebelo de Sousa relatou: “Falaram-me sobretudo numa ideia concreta que é a constituição de um grupo de trabalho”. No seu entender, “pode ser uma plataforma interessante para ambos os casos, que não são exatamente iguais, mas têm pontos comuns”.

“Ficaram de me enviar, e já recebi, ainda não li, um relatório de uma comissão de peritos independentes terminado no final de 2019, princípios de 2020, e que é importante ler. Disseram-me que aguardam um parecer do Banco de Portugal. Vou ter oportunidade de falar disso com o senhor governador do Banco de Portugal [Mário Centeno] oportunamente”, declarou, por outro lado.

O chefe de Estado, que prestava declarações aos jornalistas após um almoço com membros da Assembleia Legislativa Regional da Madeira, no Palácio de São Lourenço, referiu que “já conhecia” a situação dos lesados do Banif e do Banco Espírito Santo (BES).

“Eu já tive encontros com lesados do BES talvez uma dezena ou uma dúzia. E mesmo emigrantes da Madeira e emigrantes em geral já tinha tido outras reuniões e, portanto, conheço os casos. Vamos ver se a hipótese do grupo de trabalho é possível”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa realçou que “há recomendações da Assembleia da República e das assembleias legislativas da Madeira, no caso dos lesados Banif, e dos Açores, nos dois casos, de haver realmente talvez essa hipótese a ponderar de um grupo de trabalho que cubra as duas realidades, que têm pontos em comum e outros diferentes”.

Centeno: “Só há injeção de capital no Novo Banco se houver perdas dos ativos” abrangidos pelo mecanismo

Domingo, Maio 23rd, 2021

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Económico

Mário Centeno invoca o custo da nacionalização do BPN para comparar com o mecanismo de capitalização contingente que tem um tecto para as perdas a assumir. Já antes Luís Máximo dos Santos tinha dito que a nacionalização do BPN e a resolução do Banif, foram muito mais caras do que a resolução do BES.

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno está a ser ouvido na comissão de inquérito ao Novo Banco.  Recorde-se que Centeno era ministro das Finanças à data da venda do banco em 2017, em 75% à Lone Star.

Na sua intervenção inicial frisou que “esta CPI incide sobre uma instituição bancária que tem as portas abertas ao público. Que se está a financiar no mercado para robustecer os seus fundos próprios, que protegem os seus depositantes. Que saiu de um processo particularmente complexo, e que é o terceiro maior banco a operar em Portugal”.

“O Novo Banco não era um banco bom, mas foi-se tornando um bom banco”, disse Mário Centeno acrescentando que “foi preciso fazer dele um bom banco. E a sua reestruturação termina este ano. Atestada pela Comissão Europeia. Assim as instituições portuguesas o permitam”.

A esmagadora maioria das questões levantadas nesta CPI dizem respeito ao BES, lembrou o Governador e ex-Ministro das Finanças. “Esta resolução resultou apenas e só das ações e omissões dos sucessivos conselhos de administração do BES”, lembrou. À semelhança do que já tinha dito de manhã o presidente do Fundo de Resolução, Luís Máximo dos Santos, também Centeno relembrou os deputados que a origem dos problemas remonta ao BES. “Tiveram a sua origem no BES e não no Novo Banco. Devemos ter isso sempre presente”. Centeno, tal como Máximo dos Santos, remeteu para os processos judiciais que “deixem-me recordar-vos que neste momento há centenas de processos judiciais tramitando, em diferentes fases, nos tribunais portugueses”.

Mário Centeno realçou que “a nacionalização de uma instituição financeira não é o mesmo que a nacionalização de uma empresa industrial. Já nos esquecemos da nacionalização do BPN? Já nos esquecemos de quanto ela custou e ainda hoje custa?”, questionou. Na audição anterior, Luís Máximo dos Santos disse que se forem feitas as contas pela ponderação da dimensão dos ativos, a nacionalização do BPN e a resolução do Banif foram muito mais caras do que a resolução do BES.

“Todos os anos, ainda hoje, a Direção Geral do Tesouro cobre perdas do BPN determinadas em tribunal, sem qualquer cap, sem limite, é o que for”, lembrou Centeno que comparou com o Mecanismo de Capitalização Contingente (CCA) do Novo Banco que tem um tecto de 3,89 mil milhões.

Já antes, na audição anterior, Máximo dos Santos tinha explicado que “no cenário mais adverso” a administração do Fundo de Resolução estimava usar 3,3 mil milhões de euros do mecanismo de capital contingente, mas a DG Comp europeia estimava 3,9 mil milhões.

Mário Centeno frisou, na resposta aos deputados, “só há injeção de capital se houver perdas do CCA”, assegurando que o Fundo de Resolução “não pagou um único cêntimo que não fosse por via do mecanismo contingente” — que é acionado quando o rácio de capital do banco desce abaixo do acordado.

O governador lembra que “a resolução bancária é o mecanismo que permite garantir que os custos com a intervenção no sistema bancário seguem o principio da neutralidade orçamental e protegem os contribuintes”.

“Este ano, os 27 países da União Europeia ratificaram uma alteração ao Tratado do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) que garante a neutralidade orçamental (a médio/longo prazo) sempre que o MEE tenha que financiar a resolução de bancos na União Europeia, e garante-o da mesma forma como o FdR assegurou o financiamento da resolução do BES, com empréstimos dos bancos e do Tesouro”, lembrou Mário Centeno.

Recorde-se que ontem, o ex-Governador do BdP, Carlos Costa, revelou que a 3 de agosto de 2014 o Fundo de Resolução não estava no perímetro das administrações públicas. Esse perímetro é definido depois.

Em 2014, foi resolvido o terceiro maior banco nacional, lembrou hoje Centeno.

Mário Centeno diz que em 2017 a venda do Novo Banco resultou de um imperativo legal, “foi a forma encontrada, difícil, com riscos para o FdR, no quadro do funcionamento de um mecanismo contingente de capital”. Mecanismo este que “evitou que o seu limite de atuação, 3.890 milhões de euros, fossem registados imediatamente nas contas públicas em 2017. Porque não se trata de uma garantia”, frisou Centeno.

Centeno lembrou ainda que a proposta inicial da Lone Star — “a melhor proposta” entre as que estavam disponíveis, feita em janeiro de 2017 — tinha em janeiro desse ano previsto um mecanismo de proteção no valor de 7.800 milhões de euros (equivalente ao valor dos ativos problemáticos).

Mário Centeno diz que recusou essa possibilidade, lembrando ainda que a negociação estava a ser feita pelo Banco de Portugal, então liderado por Carlos Costa.

Na criação no Novo Banco, foi “manifestamente insuficiente” o capital com que foi criado disse Centeno que falou da tentativa falhada de venda em 2015: “que grande surpresa de facto! Que surpresa ninguém querer comprar um banco subcapitalizado e cheio de ativos problemáticos, por um valor superior ao que foi injetado no momento da resolução”, ironiza o ex-ministro das Finanças do Governo socialista.

A venda de um banco de transição, como o Novo Banco “não foi uma venda de uma qualquer propriedade, que se não se vende hoje vende-se amanhã”, disse.

O governador do Banco de Portugal lembrou que “todos os Governos foram chamados a intervir nos seus sistemas bancários. Em nome da estabilidade financeira e do interesse público. Fizeram-no protegendo os depositantes bancários. Capitalizando os bancos. Protegendo os contribuintes, quando chamados a intervir através do Estado. Criando mecanismos de mitigação do risco inerente à atividade bancária e financeira. Adotando regras europeias uniformes para todos os bancos sistémicos. Criando uma verdadeira União Bancária para preservar a União Europeia. A atividade bancária na Europa não voltou, com efeito, a ser a mesma após a criação e o subsequente aprofundamento destes pilares”.

Mas, defendeu Centeno, “Portugal chegou tarde ao processo de reforma e de saneamento do sistema bancário”, ao mesmo tempo que lembrou que “não há nenhuma economia moderna compatível com um sistema bancário nestas condições, incapaz de financiar o investimento, a inovação e a criação de emprego”.

Mário Centeno lembrou que “desde 2008, desapareceram do sistema bancário português o BPN; o BPP; o Banif; e o BES. Nacionalizados, liquidados ou resolvidos”.

“O que aconteceu em Portugal não foi aparentemente muito diferente do que aconteceu em outros países europeus, exceto por tardio e pela dimensão sistémica do BES, um caso raro e até único na Europa, face ao peso que tinha no sistema bancário”.

Centeno recorda, também, que “34 dias depois de ter terminado o Programa de Assistência. O BES espalhou sobre o sistema bancário e sobre a economia e a sociedade portuguesas um manto de perdas e incerteza”.

“A criação do Novo Banco no dia 4 de agosto de 2014 foi acompanhada das regras, acordadas com a Comissão Europeia, de como a vida, curta, do banco de transição se iria processar.  Tinha dois anos de vida, no máximo, e o produto da venda deveria pagar o empréstimo do Estado e dos bancos ao FdR. Um banco que teria que viver um período conturbado, sem mais capital, manifestamente insuficiente, com que tinha nascido (o FdR estava impedido de o capitalizar)”, disse o Governador na sua intervenção inicial.

Mário Centeno deixou a pergunta “quanto custaria a liquidação?” Dizendo que é uma estimativa difícil, num banco desta dimensão” acrescentando que “14 mil milhões de euros seria o custo imediato e direto, a que acresceriam os custos diretos para o sistema de garantia de depósitos e os custos indiretos para o resto do sistema bancário”.

“Sem a venda do ativo subjacente ao empréstimo feito ao FdR, este era mais um NPL na economia portuguesa. Mas não apenas mais um NPL, seria o gerador de todos os incumprimentos, que arrastaria toda a banca com ele”, avisa o governador.

O prolongamento do período de venda foi, naturalmente, negociado com a autoridade de concorrência europeia, “implicando um reforço dos compromissos, perante os sinais de dificuldade que o sistema financeiro apresentava e a falta de credibilidade existente”, lembrou.

“Foi assim que, entre finais de 2015 e outubro de 2017, foi feita a resolução do Banif. A CGD foi capitalizada, pelo seu único acionista, o Estado Português. O FdR se tornou solvente. E dois dos maiores bancos privados portugueses encontraram capital para estabilizar a respetiva estrutura acionista. E foi também assim que se promoveu a venda do Novo Banco em 2017 e o crédito malparado e em risco de incumprimento começou a descer em 2016, atingindo hoje um valor inferior a 5%, quase 4 vezes inferior aos valores de então”, acrescentou.

“Apenas estas ações concertadas e coordenadas entre as autoridades europeias e nacionais permitiu dar um futuro à banca nacional”, defendeu Centeno.

“Só assim foi possível melhorar a classificação da dívida soberana portuguesa. Só assim foi possível que Portugal saísse do Procedimento por Défices Excessivos em que se encontrava há quase 10 anos”, relembra o ex-ministro das Finanças.

Mário Centeno deixou aos deputados o recado “o Novo Banco é uma instituição de referência no espaço bancário nacional. Que é o banco preferido por milhões de famílias e empresas para depositar as suas poupanças e para obter financiamento, para investir, inovar e criar emprego de qualidade”.

 

Prémios à gestão do NB “vão ser deduzidos da injeção do Fundo de Resolução”, diz Centeno

Terça-feira, Maio 18th, 2021

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Observador

Prémios à gestão do NB “vão ser deduzidos da injeção do Fundo de Resolução”, diz Centeno

O governador do Banco de Portugal disse que os prémios para a gestão do Novo Banco vão ser deduzidos da injeção do Fundo de Resolução, tal como no ano passado.

Mário Centeno disse esta quarta-feira que “o valor destinado a prémios no Novo Banco este ano vai ser deduzido ao valor da chamada de capital” a ser realizada pelo Fundo de Resolução, tal como ano passado. Em causa estão os 1,86 milhões de euros de prémios diferidos que o banco pagará à administração liderada por António Ramalho em 2022. “Não é uma boa ideia“, disse o governador do Banco de Portugal na conferência de imprensa de apresentação do boletim económico de maio.

“Nesse sentido, o Fundo de Resolução e o Banco de Portugal, que não são a mesma coisa, são contrários à determinação deste pagamento num momento em que o Novo Banco deve preservar o seu capital para o apoio à economia“, afirmou o ex-ministro das Finanças, referindo que essa “deveria ser a atitude” do banco detido pela Lone Star.

Contudo, Centeno ressalvou que a “a política de remunerações é da exclusiva competência de cada banco” e que “à escala nacional e internacional houve bancos com atitudes semelhantes e outros bancos com atitudes em sentido contrário”. Além disso, o governador do Banco de Portugal disse ser “desejável” o sistema bancário consiga captar os “melhores quadros profissionais” e, por isso, “deve manter políticas de reremuneração que sejam compatíveis com esse desejo”.

“O Fundo de Resolução e o Banco de Portugal, que não são a mesma coisa, são contrários à determinação deste pagamento [de bónus à gestão] num momento em que o Novo Banco deve preservar o seu capital para o apoio à economia.”

Mário Centeno

Governador do Banco de Portugal

Esta posição está em linha com o que defende o Ministério das Finanças: “O Ministério das Finanças continua a considerar que não é adequada a prática de atribuição de prémios de gestão do Novo Banco. Assim, o Ministério das Finanças acredita que o Fundo de Resolução atuará em conformidade com as decisões tomadas no ano anterior no contexto da verificação dos pressupostos inerentes ao cumprimento dos compromissos contratuais existentes”, respondeu o ministério liderado por João Leão ao ECO.

O Fundo de Resolução, entidade responsável por fazer as injeções, confirmou também que o valor do bónus será descontado, tal como teve oportunidade de informar o banco na assembleia geral de 6 de abril. “O Fundo de Resolução atuará em coerência com os critérios e os fundamentos das decisões que a este respeito tomou no ano anterior. Consequentemente, os montantes em causa serão deduzidos ao valor solicitado pelo Novo Banco nos termos do acordo de capitalização contingente, conforme, aliás, declarado pelo Fundo de Resolução na assembleia geral do Novo Banco realizada em 6 de abril do corrente ano“.

A gestão do Novo Banco está impedida, devido aos compromissos assumidos com Bruxelas, de receber prémios e bónus até 2021, mas pode atribuir estes bónus. É isso que acontece com base nas contas de 2020, mas também já se registou em 2019.

Já no ano passado Mário Centeno tinha dito no Parlamento que, enquanto governador do Banco de Portugal, não via com bons olhos a decisão do Novo Banco de fazer este pagamento. “Atendendo a que em 2020 se registou uma muito significativa injeção de capital no Novo Banco, não vemos como adequada esta prática em 2020”, disse em 2020.

De acordo com o relatório e contas do Novo Banco, “para o ano de 2020, a remuneração variável foi atribuída condicionalmente, sujeita à verificação de condições diversas, de 1,860 milhões de euros aos membros do conselho de administração executivo“.

Estes prémios só vão ser pagos após o fim do período de reestruturação do banco, que termina em 31 de dezembro de 2021. O banco diz que “esta atribuição não deu origem a direitos adquiridos e nenhum pagamento foi realizado a estes membros”. Ou seja, os bónus podem ser mais baixos ou poderá nem haver lugar a eles.

Em todo o caso, o Novo Banco já teve de criar a provisão de 1,86 milhões de euros por conta desta responsabilidade futura, o que teve impacto nas contas da instituição e no pedido que fez ao Fundo de Resolução. Razão pela qual o fundo vai cortar este valor no cheque que deverá seguir dentro de dias.

(Notícia atualizada às 15h13 com resposta do Fundo de Resolução)

Centeno contraria Tribunal de Contas. Não se podia minimizar mais impacto do Novo Banco nas contas públicas

Terça-feira, Maio 4th, 2021

Citam

Centeno contraria Tribunal de Contas. Não se podia minimizar mais impacto do Novo Banco nas contas públicas

Governador contesta conclusão, não sustentada, da auditoria do Tribunal de Contas ao Novo Banco. Não se podia ter minimizado mais o impacto nas contas públicas sem afetar depositantes.

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, contraria a conclusão da auditoria do Tribunal de Contas de que a solução encontrada para vender o Novo Banco não minimizou o impacto nas contas públicas. Em conferência de imprensa, Mário Centeno (que enquanto ministro das Finanças autorizou o processo de venda de 2017 e os compromissos assumidos por Portugal junto das entidades europeias, destacou como a conclusão mais importante: “O financiamento público do Novo Banco concorreu para a estabilidade do sistema financeiro, sobretudo por ter sido evitada a liquidação do banco e reduzido risco sistémico”.

No entanto, e ao contrário do que concluiu o Tribunal, “é manifesto que o impacto nas Finanças Públicas foi mesmo minimizado, ao evitar-se o impacto da liquidação e uma imputação máxima a credores e obrigacionistas”. O governador foi direto na contestação ao impacto da operação nas contas do Estado e referiu até a posição discordante assumida num voto por um dos juízes que esteve envolvido na auditoria do Tribunal de Contas.

Podia ter-se minimizado mais o impacto? “A resposta simples é não. Ir mais longe implicava os depositantes e minava a confiança nos depositantes. Não seria este certamente o plano alternativo do Tribunal de Contas, mas ficamos sem saber” porque a auditoria “faz uma afirmação, mas não a sustenta com cenários alternativos”. E sem essa discrição, “não é possível saber como se poderia ter reforçado ainda mais minimizado os impactos. Infelizmente a auditoria não nos ensina mais sobre isto.”

Para Mário Centeno, não basta constatar que há despesa pública como fez o Tribunal de Contas. Para além de que, sublinha, é “absolutamente factual o efeito positivo” que a solução encontrada para o Novo Banco nos custos de financiamento da República. “Não é necessário recorrer a contrafactual, é notório nos custos de financiamento de todos os portugueses”.

O governador qualifica ainda de incorreta a conclusão da auditoria segundo a qual as chamadas de capital ao Fundo de Resolução têm financiado não só as perdas sofridas nos ativos do mecanismo de capital contingente, mas também o défice da atividade do Novo Banco. Para o ex-ministro das Finanças, o Tribunal tira uma conclusão que está “incorreta”.

E assegura que “não há cobertura de quaisquer outras perdas” para além das registadas nesses ativos. Máximo dos Santos assinala a propósito do tema a “abordagem diferente” da Deloitte que na sua auditoria à gestão dos ativos do Novo Banco concluiu que as injeções financeiras no banco foram inferiores às perdas imputadas aos ativos protegidos.

Quando questionado sobre a competência do tribunal para este tipo de auditoria (que se focou nos procedimentos e impactos financeiros para o Estado excluindo as operações e decisões de gestão geradoras de perdas), Mário Centeno não respondeu de forma direta. Mas sinalizou que o Banco de Portugal até disponibilizou técnicos para ajudar os juízes a calcular um rácio de capital, no entanto, esta sessão de formação acabou por não se realizar por falta de interesse do Tribunal. O Tribunal de Contas é um órgão de fiscalização e controlo externo da despesa pública.

O governador e vice-governador do Banco de Portugal (e presidente do Fundo de Resolução) asseguram ainda que as recomendações da auditoria já estão a ser seguidas (e algumas até já foram implementadas). São para ser levadas a sério e cumpridas”, sublinhou Mário Centeno. O Governador, e ex-ministro que conduziu o processo, contestou ainda a crítica do Tribunal sobre a falta de transparência na comunicação dos impactos para as contas públicas e dos custos para o Estado.

Estado deixa de estar obrigado a meter mais capital (1.600 milhões) no Novo Banco se tudo correr mal

“Não há falta de transparência, mas falta de memória”, afirmou Mário Centeno quando questionado sobre o facto de só com esta auditoria se ter conhecido qual foi a estimativa feita em 2017 da injeção financeira que o Estado teria de fazer, ao abrigo da cláusula de backstop” exigida pela Comissão Europeia e que foi revelada no Parlamento, assinala, em 2017 (quando era ministro).

E apesar de Centeno admitir que Bruxelas tinha razão em desconfiar das previsões então apresentadas pela parte portuguesa, porque os ativos sob proteção geraram mais perdas do que o previsto (elevando as chamadas de capital), o Novo Banco tem cumprido os compromissos deste plano, que termina no final deste ano, Por isso, a “melhor estimativa para a chamada backstop” é zero. O compromisso do Estado português foi sempre de um Novo Banco seria viável.”

Fundo de Resolução negoceia com sindicato bancário, mas não avança prazos

O presidente do Fundo de Resolução, Luís Máximo dos Santos confirmou que o Fundo não tem recursos suficientes para assegurar a injeção no Novo Banco, cujo processo de verificação ainda está a decorrer. E que está ser negociado um empréstimo com um sindicato bancário, mas são “negociações complexas” e neste momento ainda “não há uma situação totalmente definida”.

Sobre o prazo — em regra o pagamento é feito na primeira semana de maio — Máximo dos Santos diz que o prazo de 30 dias parte do pressuposto que o Fundo tem todos os elementos e documentos necessários (sem esclarecer se os tem). Se houver alguma derrapagem nesse prazo, isso não significa um incumprimento.

Sobre o pedido de 598 milhões de euros feito pelo Novo Banco ao Fundo de Resolução, Máximo dos Santos diz que ainda está a ser ponderado. O presidente do Fundo de Resolução sublinhou ainda que os litígios com o Novo Banco que se encontram em Tribunal Arbitral de 331 milhões de euros representam quase 10% do limite máximo dos pagamentos previstos no mecanismo de capital contingente.

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Governo envia ao Parlamento carta de compromissos sobre Novo Banco junto de Bruxelas

Quarta-feira, Março 24th, 2021

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Eco

Governo envia ao Parlamento carta de compromissos sobre Novo Banco junto de Bruxelas

Finanças enviaram à comissão de inquérito ao Novo Banco a carta assinada por Centeno com os compromissos assumidos por Portugal para Bruxelas autorizar acordo de capital contingente de 3.890 milhões.

“Épouco, mas relevante”. Fonte parlamentar avançou ao ECO que o Governo já começou a enviar documentos pedidos pela comissão de inquérito ao Novo Banco, após as reclamações dos deputados. Um dos documentos enviados é particularmente sensível: a carta assinada pelo então ministro das Finanças, Mário Centeno, em 2017, juntamente com a lista dos compromissos assumidos pelo Estado português para a Comissão Europeia dar “luz verde” ao acordo de capital contingente de 3.890 milhões de euros.

É este acordo que está no centro de toda a discussão da comissão de inquérito que visa apurar as perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução e que realiza esta terça-feira nova audição: a Vítor Bento, o último presidente do BES e o primeiro do Novo Banco.

Em 2017, para concluir a venda de 75% do capital do Novo Banco ao fundo americano Lone Star, o Estado português teve de assumir compromissos junto da Comissão Europeia para aprovar um auxílio público. Além de um plano de reestruturação, incluindo a redução de pessoal, a venda de operações internacionais e a redução do malparado, o Novo Banco ficou obrigado a cumprir várias exigências do ponto de vista do desempenho operacional. Há, aliás, um documento que é público, mas muita informação sobre esses compromissos foi rasurada. O documento que chegou ao Parlamento é o mesmo, mas sem as rasuras.

Há duas semanas, em entrevista ao ECO, a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua criticou o Executivo porque ainda não tinha enviado qualquer informação pedida pelo Parlamento no âmbito do inquérito parlamentar. “O Governo não enviou um documento, não fez nada. Não entregou absolutamente nada”, acusou a dirigente. E repetiu a crítica no arranque das audições nesse mesmo dia: “O Governo está em falta para com a comissão de inquérito. (…) Nem correspondência, nem os compromissos com a União Europeia”, lamentou.

Entretanto, o Governo emendou a mão e já começou a enviar dados. Também chegou ao Parlamento o documento confidencial de autorização da Comissão Europeia para o auxílio de estado. Ainda assim, continua a faltar documentação pedida pelos deputados, como a correspondência trocada com Bruxelas, o Banco de Portugal e o próprio Novo Banco. O ECO questionou o Ministério das Finanças sobre o atraso no envio de informação, mas não obteve uma resposta.

O ex-ministro e atual governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, é um dos nomes que irá à comissão de inquérito ao Novo Banco, mas só deverá ser chamado numa fase posterior, quando os deputados discutirem a venda da instituição.

Para já, e nas próximas semanas, o inquérito irá debruçar-se sobre a fase da resolução do BES e do Novo Banco, em agosto de 2014. Depois de Vítor Bento, serão chamados o antigo vice-presidente do banco José Honório (quinta-feira) e ex-diretor de supervisão do Banco de Portugal Carlos Albuquerque (sexta-feira). As audições com os ex-governadores Carlos Costa e Vítor Constâncio foram adiadas para depois da Páscoa.

Esta segunda-feira, depois da audição do ex-administrador financeiro do Novo Banco João Moreira Rato na quinta, o PSD deu entrada com um requerimento para solicitar mais dois documentos: ao Banco de Portugal, o relatório do ETRICC 2 que se refere à avaliação da Tranquilidade em 2014; e à Tranquilidade, as projeções económicas da companhia elaboradas em 2014 no momento prévio à venda da empresa ao fundo Apollo e, ainda, cópia dos relatórios e contas de 2014 a 2019.

 

Centeno avisa que decisão sobre o Novo Banco terá “preço elevado”

Domingo, Janeiro 3rd, 2021

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Sic Notícias com som

Mário Centeno avisa que a decisão sobre o Novo Banco pode comprometer os próximos anos, dizendo mesmo que terá um “preço elevado”.

Num artigo que escreveu para revista especial do Expresso, Turning Points, o governador do Banco de Portugal refere que 2021 é um ano decisivo para a recuperação pós-pandemia e defende que Portugal não pode repetir “o erro” de não reforçar o sistema financeiro.

Para Centeno, os sinais de 2020, com a decisão do Parlamento sobre o Novo Banco demonstra que “a lição não está totalmente aprendida”.

Palavras de Mário Centeno, que destaca esta como uma das principais preocupações do governador do banco de Portugal no próximo ano.

 

 

Centeno contraria Ramalho: tensão entre Banco de Portugal e Novo Banco aumenta

Segunda-feira, Novembro 2nd, 2020

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Expresso

Além da decisão de €200 milhões em tribunal arbitral, há nova fonte de tensão entre supervisor e gestão do Novo Banco: o CEO diz que há ativos sobre os quais só pode reconhecer imparidades até este ano, o Banco de Portugal contraria e diz que esse pressuposto não é nenhuma obrigação

Ofosso que separa o Novo Banco e o Banco de Portugal/Fundo de Resolução está a crescer. O presidente executivo do banco, António Ramalho, disse esta semana que estava proibido de reconhecer perdas sobre alguns créditos problemáticos a partir do próximo ano, por conta dos compromissos existentes entre Portugal e a Comissão Europeia, fazendo temer encargos adicionais nas contas de 2020. Só que o supervisor, contactado pelo Expresso, diz que não há quaisquer obrigações nesse sentido.

“O Banco de Portugal desconhece qualquer impedimento à constituição de imparidades por parte do Novo Banco a partir de 2021. Não existe nos contratos relativos à venda do Novo Banco, nem nos compromissos assumidos pelo Estado junto da Comissão Europeia, nenhuma cláusula ou compromisso dessa natureza”, aponta uma resposta da autoridade comandada por Mário Centeno.

Da parte do banco, o que está em causa é um artigo da decisão de Bruxelas, dada em 2017 aquando da venda, que refere que as imparidades no crédito (antecipação de perdas em empréstimos concedidos) da carteira pré-definida de ativos problemáticos tinham de ser reconhecidas até 2020. Este é, no entender da instituição da Lone Star, um pressuposto do plano de reestruturação aprovado por Bruxelas, que tem de ser cumprido.

“As perdas por imparidades nos créditos incluídos no mecanismo de capital contingente devem ser registadas pelo banco nos primeiros […] anos do plano de reestruturação, e, a partir de […] não devem ser registadas mais imparidades dos ativos sob o mecanismo”, indica o ponto 94 da decisão da Comissão Europeia, na sua versão não confidencial, que validou a venda de 75% do capital do banco à Lone Star.

Segundo as declarações de Ramalho na conferência Banca do Futuro, organizada esta semana pelo Jornal de Negócios, esse registo deve ocorrer nos primeiros três anos do plano, até 2020, não podendo haver as tais imparidades adicionais a partir do próximo ano.

BANCO DE PORTUGAL NÃO VÊ OBRIGATORIEDADE

Ora, a leitura do Banco de Portugal, junto do qual funciona o Fundo de Resolução (responsável por cobrir perdas nesse conjunto de ativos tóxicos e que é presidido pelo vice-governador, Luís Máximo dos Santos), é precisamente de que é um pressuposto, não uma obrigação.

“Essa estimativa, como aliás tantos outros pressupostos do plano, não constitui mais do que uma mera previsão, não tendo portanto qualquer caráter vinculativo, nem faz parte dos compromissos assumidos perante a Comissão”, indica o Banco de Portugal.

Para a autoridade da banca, a referência da decisão de 2017 da Comissão Europeia a que Ramalho se agarra consta do capítulo referente ao plano de reestruturação, onde há projeções e onde são sublinhados vários cenários. Um desses pressupostos é a previsibilidade de constituição das imparidades necessárias sobre aqueles ativos – de forma a aproximar o valor registado no balanço ou valor de mercado e de eventual venda – até 2020. Mas um cenário, não uma obrigação. Os compromissos assumidos perante Bruxelas são outros, e constam do anexo da decisão (confidencial), refere o Banco de Portugal, contrariando Ramalho, que falou em “compromissos técnicos, acordos assinados ao mais alto nivel, que põem limitações do ponto de vista temporal”.

PRESSÃO PARA NÃO CARREGAR NOS PREJUÍZOS

Esta questão tem relevância quando o Novo Banco foi um dos pontos de discórdia entre o Governo e o Bloco de Esquerda, e em que há uma pressão do Fundo de Resolução e do Executivo para que não haja imparidades expressivas em 2020, que agravem os prejuízos e a fatura a pedir ao Fundo de Resolução no próximo ano, como o Expresso já escreveu. Ramalho avisou, então, esta semana que entende que há essa limitação de constituição de imparidades a partir de 2021, dizendo quem, a adequar o preço dos ativos, teria de fazê-lo este ano.

A proposta de Orçamento do Estado para 2021 prevê que o Fundo de Resolução (através de um empréstimo dos bancos, e não do Estado, como em anos anteriores) tenha de colocar 476 milhões de euros no Novo Banco à luz do mecanismo de capital contingente criado aquando da venda à Lone Star. Do total de 3,89 mil milhões de euros que poderiam ser solicitados, o banco já precisou de 3 mil milhões nos últimos anos, fatura que subirá para perto de 3,5 mil milhões se se confirmar o valor projetado atualmente.

Contudo, até ao momento, Ramalho nunca confirmou que este montante será suficiente.

MAIS POLÉMICAS

Esta diferença de entendimento entre o Banco de Portugal/Fundo de Resolução e do Novo Banco é mais um passo numa tensão que ficou patente no início deste ano em dois momentos.

Primeiro, o Fundo de Resolução foi contra a promessa de pagamento de prémios aos gestores do Novo Banco a partir de 2022, tendo descontado o valor de 2 milhões de euros dos 1037 milhões que foi chamado a colocar no ano passado.

Depois, o Novo Banco fez uma alteração contabilística de que o Fundo discordou e as duas partes estão a dirimir a questão num tribunal arbitral: estão em causa 200 milhões de euros que o banco quer imputar ao seu acionista minoritário.

Novo Banco: Centeno apela a que Estado cumpra obrigações que assumiu

Quarta-feira, Outubro 7th, 2020

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Público

“Todas as decisões que coloquem em causa a estabilidade do sistema financeiro são de evitar”, afirmou o governador do Banco de Portugal no momento em que se discute se as injecções de capital no Novo Banco devem continuar.

Agora como governador, tal como antes como ministro das Finanças, Mário Centeno apresentou a necessidade de manter a estabilidade do sistema financeiro como o argumento fundamental para que o Estado, relativamente ao Novo Banco, cumpra os compromissos assumidos.

Na conferência de imprensa do boletim económico de Outubro do Banco de Portugal realizada esta terça-feira, quando questionado sobre a discussão, nas negociações do OE, das injecções a realizar no Novo Banco, Mário Centeno afirmou que “todas as decisões que coloquem em causa a estabilidade do sistema financeiro são de evitar”, defendendo que, por isso, deve ser acautelado “o cumprimento das obrigações que o Estado português assumiu em nome da estabilidade financeira”.

“Quando o Estado português assume compromissos, assume com diversas partes”, disse, nomeando, para além do Novo Banco, as autoridades europeias. Centeno, que como ministro das Finanças desempenhou um papel crucial no desenrolar do processo que conduziu às sucessivas injecções de capital no Novo Banco ao longo dos últimos anos, assinalou que este foi um “processo complexo iniciado em 2014” e defendeu que “colocá-lo agora em causa traria um retrocesso muito significativo que devemos evitar”.

Nas negociações para a aprovação do OE 2021, os partidos à esquerda do Governo têm posto como condição para um voto favorável do documento não haver mais injecções de capital no Novo Banco. O Governo, por seu lado, assumiu apenas que não irá realizar mais empréstimos ao Fundo de Resolução para que este injecte dinheiro no Novo Banco.