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Lesados do BES querem Carlos Costa e membros do Governo arguidos no caso GES

Terça-feira, Setembro 21st, 2021

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Eco

Lesados do BES querem Carlos Costa e membros do Governo arguidos no caso GES

Quase 200 lesados do BES são agora assistentes no caso GES e pediram, na abertura de instrução, que Carlos Costa e Passos Coelho, PM à data da resolução do banco, sejam também arguidos.

Os lesados do BES — que já são assistentes no caso do Universo Espírito Santo/GES — pediram a instrução do processo em que um dos objetivos principais passa por apurar as responsabilidades criminais dos supervisores e governantes, à data da resolução do BES, em agosto de 2014. Ou seja: Carlos Costa e o titular do Governo, Pedro Passos Coelho, pelo menos. Para isso, fazem o pedido ao juiz de instrução — que neste caso pode vir a ser Carlos Alexandre ou Ivo Rosa — para que a investigação seja mais aprofundada, já que defendem que Ricardo Salgado não pode ser o único a ser incriminado.

O requerimento — a que o ECO/Advocatus teve acesso — revela que “a estratégia da acusação parece ser a de incriminar o Ricardo Salgado e uma dúzia de colaboradores e de ilibar as responsabilidades dos agentes políticos da resolução, dos membros da administração do BdP, dos membros dos órgão sociais das empresas onde que foram cometidas irregularidades e, muito em especial, dos contabilistas responsáveis pelas escritas que se dizem falsificadas e dos auditores que garantiram que tais escritas foram falsificadas, bem como dos membros de conselhos fiscais”, diz o documento assinado pelo advogado Miguel Reis.

Para isso, pedem que a investigação criminal no caso GES não se limite a Ricardo Salgado, já que se criou uma “falsa ideia de que Ricardo Salgado era uma espécie de ‘dono disto tudo’ apenas para branquear o assalto pelo Banco de Portugal ao principal banco português”.

Por isso, o que é que os cerca de 170 lesados do BES pedem, em concreto?

  • Uma adequada investigação criminal, no país e no estrangeiro, de forma a apurar a verdade material dos factos que conduziram à resolução do BES;
  • Que sejam constituídos arguidos o governador Carlos Costa e administradores do Banco de Portugal, investigando se os seus atos e comportamentos na fase anterior e na fase posterior à medida de resolução;
  • Que sejam constituídos arguidos todos os indivíduos que desempenharam funções nos órgãos sociais do BES e das empresas do GES que sejam devedoras, investigando-se as suas responsabilidades na criação do “buraco” financeiro;
  • Que sejam constituídos arguidos os membros dos órgãos sociais do Novo Banco para que esclareçam como chegou a esse banco o património que era do BES e quais as contrapartidas nas escritas de um e outro;
  • Que se constituam como arguidos os revisores oficiais de contas e os auditores do BES nos últimos quatro anos anteriores à resolução, para que expliquem as divergências entre o que consta dos relatórios de contas do BES e o que foi afirmado pelo BdP;
  • Que se investiguem as condições e as circunstâncias da destruição da garantia soberana do República de Angola, apreendendo-se todos os documentos existentes e apurando-se onde está a dita garantia;
  • Que se investigue o destino que tiveram os fundos que, alegadamente, foram contabilizados a débito do BESA não tendo sido, porém, enviados para Angola;
  • Que se proceda à apreensão de toda a “escrita mercantil” e dos computadores do BES de forma a evitar a sua destruição, que impedirá a descoberta da verdade material e que se proceda a exame pericial dessa escrita, de forma adequada a explicar as divergências entre as informações dos balanços e demonstrações de resultados anteriores à medida de resolução e dos que foram publicados depois dela;
  • Que se ordene a apreensão de todos os bens das pessoas acima citadas, de forma a assegurar que elas não os delapidem, reduzindo a zero a garantia das suas obrigações;
  • Que se ouçam um a um os aqui assistentes (lesados do BES) para que possam explicar ao Tribunal as circunstâncias em que forem enganados e oferecer provas dos enganos de que foram vítimas.

A figura processual de assistente, diz-nos a lei, é uma espécie de “colaborador do Ministério Público” e que passa a ter poderes que lhe permitam intervir diretamente no andamento do processo. Pode assim intervir no inquérito e na instrução, oferecendo provas e requerendo as diligências que considere necessárias, como foi o caso agora com este pedido de instrução. O assistente tem ainda outros direitos, com destaque para os relativos à fase de julgamento. Pode, nomeadamente, participar na audiência, fazer alegações no final desta através do seu advogado, pronunciar‑se sobre os meios de prova, arrolar testemunhas e questionar diretamente essas testemunhas e as arroladas pelo arguido.

O grupo de lesados em questão considera, assim, que “Ricardo Salgado não tinha sequer, sozinho, poderes fazer o que lhe é imputado”, que a generalidade dos factos que lhe são imputados são relativos à atividade de órgãos colegiais e que, nesse sentido, “a acusação constitui um excelente instrumento de trabalho, para que se questione… quem são os outros”.

O advogado do grupo de quase 200 lesados argumenta assim que “esta causa (o universo criminal conexo com a resolução do BES) tem que ir a julgamento, mas consideramos que o julgamento pode ser um fracasso se não se melhorar a investigação e se não se imputarem responsabilidade a todos os que agiram e participaram, com dolo ou mera culpa, no quadro da ação penal que antecedeu a resolução do BES”.

E que argumentação apresentam os lesados do BES?

  • “A mera incriminação do Ricardo Salgado e de alguns dos seus compagnons de route não só não é suficiente como não passa de uma espécie de ópera bufa, com vista a reduzir ou anular as responsabilidades do Estado e do Banco de Portugal pelos prejuízos que causaram aos investidores, especialmente aos pequenos”;
  • “A medida de resolução aplicada pelo Banco de Portugal ao Banco Espírito Santo foi uma operação obscura, que suscita uma série de dúvidas e indicia, de forma muito clara, a prática de atos que são sancionados pela lei penal e que, por isso mesmo, têm que ser investigados como é próprio dos crimes”;
  • “E porque é que (Carlos Costa) mentiu ao próprio Presidente da República, que disse claramente, a 27 de julho de 2014, que as informações de que o Banco Espírito Santo era seguro lhe forma garantidas pelo Banco de Portugal. Estivemos, obviamente, perante manobras políticas, porque é, essencialmente, político tudo o que tem a ver com a resolução”;
  • “A verdade nua e crua é que enquanto o Ricardo Salgado presidiu ao Conselho de Administração do BES, sempre foram cumpridas as obrigações assumidas para com os assistentes”;
  • “É do conhecimento comum que, durante anos, o BES criou empregos dourados para políticos de todos os partidos e era uma entidade querida de todos os clubes de futebol, dos jornais e das televisões. Se o arguido Ricardo Salgado fosse o DDT não tinha permitido o que aconteceu por determinação do Banco de Portugal”;
  • “Os diretores do Banco de Portugal dedicados à supervisão foram empregar-se na PWC e que esta é a “entidade independente” contratada pelo BdP para proceder à avaliação. É legítimo questionar se esses funcionários não influenciaram a medida de resolução, com a intenção de obterem benefícios pessoais, com um novo emprego, projetado pelo facto de terem sido responsáveis pela área de supervisão no Banco de Portugal”;
  • “Os assistentes foram, enganados porque, em ação conjunta, os responsáveis pelo Banco Espírito Santo, os responsáveis pelo Banco de Portugal e os responsáveis pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, com a cobertura do Primeiro Ministro, dos membros do Governo e do próprio Presidente da República, os enganaram e os induziram na ideia de que o Banco Espírito Santo era um banco sólido, que merecia toda a confiança”.
  • “Não pode continuar a branquear-se a realidade, ocultando-se ou omitindo-se que o Banco de Portugal é uma autoridade de polícia financeira, não havendo nenhuma razão para tolerar as omissões dos seus funcionários e, muito menos, que os seus funcionários possam aproveitar-se do exercício das funções para se venderem a entidades comerciais que só os contratam em razão da informação que têm”.
  • “Ao decidir como decidiu, no sentido de não cobrar nem tomar providências para a cobrança de quaisquer créditos sobre as demais entidades do Grupo Espírito Santo, o Banco de Portugal agiu de forma adequada a proteger essas entidades devedoras e a prejudicar os acionistas e demais investidores do Banco Espírito Santo”;
  • “A resolução do BES foi uma operação muito mais lesiva dos direitos dos cidadãos em geral e dos investidores em particular do que as nacionalizações da banca, a seguir ao 11 de março de 1975”;
  • “O património que constituía garantia geral das obrigações dos assistentes foi generosamente desviado e delapidado, em termos que carecem de investigação criminal, por serem enormes os indícios de gestão danosa”;
  • “Reitera-se que até ao dia 4 de agosto de 2014, não tiveram nenhuma razão de queixa de ninguém, porque o Banco Espírito Santo S.A. sempre cumpriu, rigorosa e pontualmente as suas obrigações de pagamento e nunca nenhum dos reguladores avisou de que havia qualquer tipo de risco relativamente aos investimentos que fizeram”.

 a 31 de dezembro de 2014, em representação de 170 lesados do BES, o advogado Miguel Reis subscreveu uma queixa criminal contra “desconhecidos, porém identificáveis” no Tribunal Central de Investigação Criminal requerendo a abertura do devido inquérito para a investigação de indícios de crime que, do nosso ponto de vista, justificavam o procedimento criminal. “Mas o juiz Carlos Alexandre chutou-nos para canto”. O Tribunal Central de Instrução Criminal “nem sequer nos respondeu, não autuando o processo e chutando com o mesmo para o DIAP, onde está parado desde 13 de janeiro de 2015”, explica o mesmo advogado.

Em 2017 foi encontrada uma solução (entre a associação de lesados, Governo, CMVM e BdP) para os clientes que, aos balcões do BES, investiram 434 milhões de euros em papel comercial das empresas Espírito Santo Financial e Rio Forte, e cujo investimento perderam com o colapso do Grupo Espírito Santo (no verão de 2014).

A solução implicou que os lesados que aderiram ao Fundo de Recuperação de Créditos recuperam 75% do valor investido, num máximo de 250 mil euros, isto se tiverem aplicações até 500 mil euros. Já acima desse valor, o valor recuperado é de 50% do investimento.

Caso BES. Ricardo Salgado indica Pedro Passos Coelho como testemunha

Quinta-feira, Setembro 9th, 2021

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SIC com som

Em 2014 Pedro Passos Coelho recusou apoiar uma reestruturação do banco através de empréstimos da Caixa-Geral de Depósitos.

O antigo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, é uma das 82 testemunhas chamadas por Ricardo Salgado para a fase de instrução do processo universo Espírito Santo.

Pedro Passos Coelho assistiu ao colapso do Banco Espírito Santo e agora é chamado a testemunhar sobre o que sabe enquanto estava no poder.

Ao longo de 800 páginas do requerimento de abertura de instrução a que a SIC teve acesso, a defesa de Ricardo Salgado cita declarações públicas de Pedro Passos Coelho.

Em 2014, ano em que o BES colapsou, Pedro Passos Coeho recusou apoiar uma reestruturação do banco através de empréstimos da Caixa-Geral de Depósitos.

Além de Passos Coelho, são também chamados o antigo ministro das Finanças, Eduardo Catroga e Vitor Bento, agora presidente da Associação Portuguesa de Bancos. Vitor Bento chegou a ser o primeiro líder do Novo Banco, logo após a queda do BES.

A fase de instrução pedida por Ricardo Salgado serve para que o juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal decida se o caso tem prova suficiente para chegar a julgamento.

O antigo banqueiro está acusado de 65 crimes de associação criminosa, corrupção, falsificação de documentos, infedilidade, manipulação de mercado, branqueamente de capitais e burla qualificada.

Tribunal de Contas sem dúvidas: financiamento do Novo Banco pelo Fundo de Resolução é “dinheiro público”

Quarta-feira, Maio 19th, 2021

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Expresso

José Tavares foi ao Parlamento para repetir que qualquer despesa do Fundo de Resolução é despesa pública, voltando a contrariar argumentação de governos de António Costa e Passos Coelho

“Isto tem impacto no défice orçamental, na dívida pública, nos critérios de convergência. Estamos a tratar de dinheiros públicos”. A afirmação é do juiz conselheiro José Manuel Quelhas do Tribunal de Contas. “Este contrato que foi celebrado e tudo o que se passou desde 2014 teve impacto nas finanças públicas. Ninguém pode negar este facto”. A afirmação é do presidente daquele órgão de soberania, José Tavares. Apesar das críticas, o Tribunal de Contas mantém a sua opinião deixada na auditoria sobre o Novo Banco: o dinheiro que recebeu do Fundo foi financiamento “público” e que “contra factos não há argumentos”.

A cúpula do Tribunal de Contas foi chamada por requerimento do PS para a comissão de Orçamento e Finanças, audição que acabou por ser integrada também na comissão de inquérito ao Novo Banco. A auditoria, que foi entregue no início da semana passada, foi solicitada pelo Parlamento para averiguar vários aspetos, entre os quais se as operações feitas pelo banco – e que obrigaram à capitalização pelo Fundo de Resolução – salvaguardaram o interesse público.

As respostas vindas da auditoria (com críticas e farpas atiradas não só ao Novo Banco e ao Fundo de Resolução mas também aos governos de Passos Coelho e António Costa) desagradaram a todos os visados. Na sua intervenção inicial, José Tavares quis logo defender que tentou que a auditoria fosse “a mais construtiva e pedagógica possível”.

Para José Tavares, não há dúvidas que o Novo Banco tem uma natureza pública porque “25% do capital social é público” (a parcela que é do Fundo de Resolução). As receitas do Fundo “são públicas”, já que integra o perímetro orçamental. “Tudo serve para clarificar que o Novo Banco tem especiais responsabilidades perante o Estado e os contribuintes”, declarou, incluindo aqui nos contribuintes os bancos que pagam contribuições para o Fundo todos os anos. “Sempre que um cêntimo entre numa entidade pública transforma-se em dinheiro público, seja proveniente do que seja. Sobre isto não pode haver dúvidas nenhumas”.

PORQUE TUDO É PÚBLICO

O Fundo de Resolução colocou 4,9 mil milhões de euros na criação do Novo Banco, em 2014: 3,9 mil milhões foram emprestados pelo Estado; 700 milhões emprestados pelos bancos; 300 milhões resultaram de contribuições (contribuição extraordinária sobre sector bancário e periódica). Em 2017, foi ditada a venda de 75% do banco à Lone Star e assinado o acordo de proteção com o Fundo de Resolução, em que ficou salvaguardado que o Novo Banco poderia receber até 3,89 mil milhões de euros – já recebeu 3 mil milhões, dos quais 2,1 mil milhões emprestados pelo Tesouro, o restante pelas suas contribuições. Este ano, deverá receber mais 430 milhões, todo emprestado pelos bancos.

Para o juiz conselheiro José Quelhas, não há dúvida que a contribuição extraordinária, criada por José Sócrates em 2011, é de “natureza pública”; as contribuições periódicas também são “receitas públicas”; os empréstimos do Estado e da banca recebidos também têm impacto, porque o reembolso só tem de acontecer em 30 anos. “Na melhor das perspetivas, apontam para [devolução] talvez daqui a 30 anos, embora o contrato admita uma prorrogação”, diz.

A auditoria do Tribunal de Contas contraria as argumentações públicas não só do governo de António Costa como de Passos Coelho, defendendo que foram pouco transparentes na comunicação.

Passos garante que o seu Governo atuou responsavelmente em relação ao BES

Terça-feira, Maio 4th, 2021

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JN

O antigo primeiro-ministro Passos Coelho considera que o seu Governo atuou responsavelmente em relação ao BES, afirmando que, em julho de 2014, não tinha nenhuma razão “para evitar passar uma mensagem de segurança e tranquilidade” sobre o banco.

“O governo nunca se furtou às suas responsabilidades em matéria de estabilidade financeira, tendo sempre procurado junto dos reguladores e supervisores, em particular o Banco de Portugal (BdP), acompanhar a situação que pudesse envolver o Banco Espírito Santo (BES) e diligenciar, dentro das suas competências e de acordo com a informação de que dispunha, para ajudar à preservação da estabilidade financeira”, pode ler-se no depoimento por escrito enviado à comissão de inquérito, a que a agência Lusa teve acesso.

O ex-chefe do executivo PSD/CDS-PP, entre 2011 e 2015, respondeu às perguntas feitas pelo PS no âmbito da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.

“Afasto, assim, qualquer eventual intenção evidenciada na pergunta de procurar construir uma ideia, falsa, de que o governo não atuou responsavelmente nesta matéria”, enfatiza, perante a premissa da pergunta do PS, que refere que “o Governo não se podia demitir de discutir a situação do GES/BES, mais concretamente a ameaça para a estabilidade financeira”.

Confrontado pelo PS com declarações suas, de 5 de julho de 2014, quando afirmou que o BES vinha a ser supervisionado pelo BdP e não merecia, naquela altura, “nenhuma apreensão” do seu executivo, Passos Coelho foi perentório: “Eu não tinha nenhuma razão para evitar passar uma mensagem de segurança e de tranquilidade quanto à situação do Banco Espírito Santo”.

“De resto, sendo questionado publicamente sobre a situação do banco como fui, e a menos de informação relevante em sentido contrário àquela de que dispunha, qualquer hesitação em respaldar a comunicação pública do supervisor seria, além de irresponsável, absolutamente atentatória da estabilidade financeira”, justifica.

Tendo em conta que os problemas que afetavam a reputação da área não financeira do grupo se tinham começado a intensificar entre os finais de junho e os começos de julho, para o antigo governante social-democrata era “ainda mais importante procurar dissociar quanto possível a questão GES da questão BES”.

“Até porque começava a existir algum nervosismo no espaço público a respeito da marca ‘Espírito Santo’, tanto em razão do desastre iminente da área não financeira como por notícias envolvendo outras sociedades financeiras do grupo no estrangeiro fora da jurisdição do supervisor português”, recorda.

Sobre o telefonema que o ex-presidente do BES Ricardo Salgado fez a Carlos Moedas em 2014, a propósito da abertura, por parte da procuradoria do Luxemburgo, de um inquérito a três empresas do GES, Passos Coelho respondeu apenas: “Não, não guardo qualquer memória de que o senhor engenheiro Carlos Moedas, então meu Secretário de Estado Adjunto, me tivesse dado conhecimento desse telefonema específico”.

Passos Coelho referiu que a ministra das Finanças lhe reportou que “os rácios de capital do banco, completado que seria o aumento de capital na semana seguinte [junho de 2014], eram robustos, sendo que todos os fatores de risco envolvidos na operação tinham sido devidamente explicitados no prospeto de aumento de capital por parte da CMVM”.

“Em cima de tudo isto, a ex-ministra de Estado e das Finanças recordava que, na eventualidade improvável de a operação de aumento de capital não decorrer de acordo com o desejado e caso existisse por parte dos acionistas do banco incapacidade para suprir as necessidades de aumento de capital requerido, haveria ainda a segurança de estes poderem recorrer à linha de recapitalização pública que se mantinha disponível”, agora ao abrigo das novas regras de auxílios de Estado.

Maria Luís Albuquerque também deu conta a Passos Coelho de que “na interpretação do Banco de Portugal” as mensagens vindas do Grupo Espírito Santo “sobre eventuais riscos para o banco que poderiam resultar dos problemas na área não financeira poderiam ser vistos como uma forma de pressão sobre as autoridades para que estas se envolvessem na questão e participassem na solução do problema grave que tinha sido criado na área não financeira”.

#Episódio 2. A carta que Passos Coelho devolveu a Ricardo Salgado

Sexta-feira, Julho 24th, 2020

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Eco

#Episódio 2. A carta que Passos Coelho devolveu a Ricardo Salgado

Salgado queria “alimentar” a ESI colocando a dívida da Rioforte nos clientes de retalho do Grupo BES. Mas o BdP não deixou. Teve de recorrer a Passos, mas o então primeiro-ministro rejeitou o pedido.

Corria o ano de 2014 e Ricardo Salgado, Amílcar Pires e José Manuel Espírito Santo tinham (mais um) problema em mãos. Antecipando a falta de dinheiro para reembolsar a dívida da Espírito Santo International (ESI), de acordo com a acusação do caso BES, os três arguidos tinham um plano: suprir as necessidades de capital da ESI colocando a dívida da Rioforte junto dos clientes de retalho do Grupo BES. Mas o cenário complicou-se quando, da parte do Banco de Portugal (BdP), ouviram sucessivos e redondos “nãos”.

Às cartas de 17 de março do BES e da ESFG, a 25 de março, o BdP respondeu, reafirmando a “proibição de comercialização junto de clientes de retalho do BES de papel comercial emitido por qualquer entidade do ramo não financeiro do GES”, segundo o despacho da acusação do DCIAP explica.

Mas, não obstante o teor inequívoco da resposta do BdP, os arguidos não desistiram dos seus propósitos de continuar a colocar dívida da Rioforte em clientes de retalho do BES, e, novamente, por carta de 2 de abril de 2014, assinada por Amílcar Pires, pediram autorização para renovarem o papel comercial emitido pela Rioforte e colocado junto dos clientes de retalho do Grupo BES até ao final do primeiro semestre de 2014. E continuaram. Confrontados com a posição do BdP de proibir a colocação de papel comercial da Rioforte junto dos clientes de retalho do BES, voltaram a enviar uma carta para o supervisor, desta vez assinada pelo próprio Salgado.

Insatisfeitos com as determinações do BdP, os arguidos decidiram lançar uma série de iniciativas junto de decisores políticos no sentido de obter uma mudança da posição do BdP.

Para tanto, entre a última semana do mês de março e a primeira de abril de 2014, e após lhes solicitar audiências, Salgado reuniu-se com vário titulares de cargos políticos: Paulo Portas, Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho; e, no dia seguinte, com a Ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque. A todos eles, o ex-líder do BES, agora acusado por 65 crimes, manifestou o seu desagrado com as posições assumidas pelo BdP. Tendo entregue ao Presidente da República Cavaco Silva e ao Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho a mesma carta que havia remetido ao Governador do BdP, carta que Pedro Passos Coelho, após a sua leitura, lhe devolveu.

“Insatisfeitos com as determinações do BdP, os arguidos decidiram lançar uma série de iniciativas junto de decisores políticos no sentido de obter uma mudança de posição do BdP de proibir a colocação de papel comercial da Rioforte em clientes de retalho do BES.”

Acusação do Ministério Público

Apesar da posição do BdP, que proibia a “comercialização, quer de forma direta quer indireta, de dívida de entidades do ramo não financeiro do GES junto de clientes de retalho” do BES, os arguidos não deixaram de fazer com que que os Fundos ES Investements Liquidity e Caravela Short Term continuassem a investir em títulos de dívida emitidos por sociedades do ramo não financeiro do GES, assim possibilitando a violação daquela determinação.

A acusação refere que, entre 14 de fevereiro e 23 de junho de 2014, e em violação da determinação do BdP, aqueles fundos investiram 729,7 milhões de euros em títulos de dívida de sociedades do ramo não financeiro do GES, como a Rioforte. Cujas unidades de participação eram, em parte, detidas por clientes de retalho do Grupo BES, designadamente clientes do BES, do BEST e do BAC.

Ricardo Salgado foi acusado pelo Ministério Público de 65 crimes, que vão desde associação criminosa, burla qualificada, infidelidade, branqueamento de capitais, entre outros. Na passada semana, o Ministério Público acusou 18 pessoas e sete empresas por vários crimes económico-financeiros e algumas das quais por associação criminosa, no processo BES/Universo Espírito Santo, em que o principal arguido é o ex-banqueiro Ricardo Salgado.

Este artigo faz parte de uma série de episódios da “Novela BES” e que contam os bastidores, os negócios, as intrigas, as alianças e as traições que marcaram a queda do Grupo Espírito Santo. As histórias e os relatos têm por base a informação do despacho de acusação anunciado pelo Ministério Público no dia 14 de julho de 2020, no âmbito da investigação ao “Universo Espírito Santo”.

“Só nos faltava a santificação de Passos no descalabro BES

Sexta-feira, Julho 17th, 2020

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DN

Pagar a conta sem fim da péssima resolução do BES e ainda levarmos com os arautos de Passos Coelho e o branqueamento da história? Há limites.

Comecemos então por uma frase que enquadra o que vem a seguir: o ex-primeiro ministro não tem quaisquer responsabilidades nos atos corruptos de Ricardo Salgado. Todavia, dito isto, Passos tem uma gigantesca responsabilidade na conta que colocou em cima de todos os portugueses pelos danos sociais e económicos da falência do BES. É que Passos Coelho preferiu eliminar a sangue frio o principal financiador do seu adversário político (onde também estava Sócrates e a entourage gestora dos centros de decisão nacional) do que aprovar uma solução que eliminasse Salgado sem rebentar com a solidez do sistema financeiro nacional.

Se há momento mistificadamente conotado com o Passismo liberal inspirado em “Milton Friedman” – ou seja, a tal governação de “mercado” – é este: fechar o BES “sem custos para os contribuintes”, disse o ex-PM no areal da (profética) Manta Rota.

Só que não foi nada disto que aconteceu.

Há um texto factual da Cristina Ferreira, no Público, com o título “Governo de Passos recusou todas as alternativas à queda do BES”. Sim, os crimes são de Salgado e da sua pandilha, mas são também de quem tinha a missão de evitar danos na economia e não o fez de forma minimamente diligente – Governo e Banco de Portugal.

Factos: em Julho de 2014, os banqueiros concorrentes de Salgado, fartos de avisar o Banco de Portugal sobre as falcatruas no Espírito Santo, perceberam que vinha aí um colapso sistémico que ia atirar o custo também para cima deles via Fundo de Resolução – tal como aconteceu.

Entretanto, o Banco de Portugal já não sabia mais o que fazer porque, no Governo, aparentemente, ninguém queria saber do furacão que se avizinhava. Carlos Costa, o Governador, também conhecido pelo “Mr. Magoo da supervisão”, vislumbrou finalmente em 2014 o descalabro. E, poucas semanas antes do apocalipse BES, lá afastou Salgado e colocou no BES um conselheiro do Presidente da República da altura: Vítor Bento.

O que fez Vítor Bento a duas semanas da falência do BES? Foi implorar à ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que fosse finalmente acionada a linha de recapitalização pública dada pela Troika para que os bancos se reestruturassem. BPI e BCP, por exemplo, já a tinham usado mas Ricardo Salgado recusava – não precisava!, dizia.

Maria Luís e Passos mandaram dizer a Vítor Bento: “Receptividade nula” em ajudar o BES.

O tempo escoava-se. O GES engolira as obrigações BES, o papel comercial “BES”, o aumento de capital BES, as promessas de que tudo estava controlado – feitas pelo feitas Governador de Banco de Portugal e depois pelo Presidente da República. E havia ainda a evaporação de três mil milhões em Angola, fora os desvios para os esquemas dos offshores.

Em poucos anos, uma vetusta casa centenária transformara-se numa organização de pilhagem, capaz de sacar dinheiro aos clientes BES de todas as formas possíveis. Prospetos de contas forjadas. Cartilhas de argumentos falaciosos ao balcão. Ausência de separação entre o património GES e o BES. Valeu tudo.

Portanto, retornemos à questão essencial: Salgado caiu por causa de Passos? Não. Caiu porque já estava brutalmente falido. Era irreversível. Tal como no caso Madoff. Porque chega sempre o dia em que o dinheiro pára de entrar. E quando assim é, já não se paga aos que aparecem no prazo para receber e tudo se descobre.

Passos foi vencido pela ansiedade, ou não soube perceber o que significava o colapso do BES na economia real. E, em vez de Salgado cair falido e sozinho, deu-lhe a oportunidade de ser a vítima de uma vingança política, um herói escorraçado antes de salvar o banco de novo, como sempre na história da família.

Ao transformar o “”coma” do BES num “cadáver-avatar” chamado Novo Banco – Passos e Maria Luís gizaram a pior solução, como foi dito logo na altura por muita gente. E isto conduziu-nos à trágica e infinita nacionalização dos prejuízos.

E não, não foi o Banco Central Europeu que obrigou à falência do BES no dia 1 de Agosto (concretizada dois dias depois). Quem gerou o cenário de colapso para aquele desfecho fatal foi igualmente o Governo português da altura, ao impedir a capitalização e o plano Vítor Bento/José Honório de recuperar o novo BES público em três anos. Assim tivemos de o oferecer a um fundo abutre norte-americano.

A História acaba aqui? Longe disso. Falta-nos saber muito mais. A conjugação dos julgamentos “Operação Marquês” e “Caso BES” vai-nos fazer descobrir quanto mal foi realmente feito a Portugal na última década, a mais trágica da nossa democracia, indiscutivelmente.

Costa Pinto: “Ainda hoje não sabemos o preço a que vendemos o Novo Banco”

Sábado, Agosto 3rd, 2019

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Negócios

João da Costa Pinto, antigo presidente do conselho de auditoria do BdP, admite que as dificuldades do BES “eram conhecidas”, mas não diz desde quando. Mas reconhece também que a resolução não era a única alternativa.

João Costa Pinto critica o Governo anterior, que diz ter passado “todo o ónus” dos problemas do Banco Espírito Santo (BES) para o supervisor. No fim, ficámos com uma “situação impossível de gerir”, resultado da venda rápida do Novo Banco, imposta por Bruxelas.

Como recebeu a notícia de que o BES ia ser resolvido?
As dificuldades do grupo BES eram conhecidas. Sabia-se que o BES enfrentava dificuldades decorrentes dos problemas do grupo. O que não era do conhecimento público era a amplitude das dificuldades. Aqui, tenho de estabelecer os parâmetros desta conversa. Como presidente do conselho de auditoria do BdP, tive conhecimento de informações que são submetidas a sigilo e que não posso referir. E passaram cinco anos desde a resolução. Há questões que se apresentam com uma clareza que não existia.

Quando diz que se sabia que o BES enfrentava dificuldades e que teve informações sob sigilo, o que quer dizer é que o BdP conhecia a situação do BES. Conhecia desde quando? E atuou atempadamente?
Tudo o que seja o comportamento do BdP e a avaliação desse comportamento está para lá da linha vermelha que eu tracei.Havia alternativas?
As dificuldades que o BES atravessava podiam ter sido respondidas de mais do que uma maneira, não há dúvida. Havia uma questão central, que era a preservação da estabilidade do sistema financeiro. Para além disso, a economia estava num processo muito complexo de resposta a dificuldades financeiras, que tinham trazido a troika e o programa de ajustamento. Por outro lado, a união bancária implicou o estabelecimento da resolução, que foi testada connosco, com uma particularidade: foi aplicada sobre uma instituição de importância sistémica. A primeira observação é que a resolução é de aplicação extraordinariamente difícil.

E, portanto, não deveria ser testada num banco sistémico?
Já lá vamos. A resolução parte de uma ideia. Um banco está em dificuldades que ameaçam a sua sobrevivência e, de acordo com uma doutrina que se desenvolveu na Europa, há dois caminhos: ou é liquidado ou é resolvido. A ideia central é que é possível ir ao balanço de uma instituição e separar a parte boa da má. Quem tem experiência de banca sabe que, se olharmos para o balanço de um banco, não é possível traçar uma linha como se uma parte fosse branca e outra preta. No meio há uma vasta zona cinzenta constituída por ativos em dificuldades, mas em que uma gestão adequada permite uma recuperação integral ou substancial. Só que, para isso, é necessário tempo. No caso do BES surgiram duas dificuldades. A primeira foi uma decisão do Governo de se pôr de lado.

Não se afastou totalmente, a resolução também é uma decisão política.
Acaba por ser, mas a verdade é que, por virtude de uma decisão política, todo o ónus e a responsabilidade recaiu sobre o supervisor. Um problema da dimensão do BES não podia deixar de ter uma avaliação de natureza política.

Atribui então culpas ao governo anterior?
Acho, pessoalmente, que não foi a melhor decisão. Não estou a fazer nenhum julgamento. O governo terá muitos argumentos para explicar a decisão que tomou.

“As dificuldades que o BES atravessava podiam ter sido respondidas de mais do que uma maneira.”

“Por virtude de uma decisão política, todo o ónus recaiu sobre o supervisor.”

Disse que uma das prioridades era preservar o sistema. Conseguiu-se?
No essencial, a estabilidade do sistema bancário português foi preservada. Foi abalada pela convergência de um conjunto de fatores, um dos quais foi a aplicação do programa da troika. Uma das coisas que hoje é óbvia é que subavaliámos claramente o impacto do programa de ajustamento sobre a situação dos bancos. Durante muito tempo, mantivemos a ficção de que os nossos bancos estavam suficientemente capitalizados para absorver o impacto da crise.

Foi só uma subavaliação do impacto da crise que levou a que o BES não recorresse à linha de financiamento?
Aí houve claramente erros. É absurdo que o montante que a troika destinou para a recapitalização dos bancos nunca tenha sido utilizado na totalidade. Mas o grande problema foi que, numa imposição absurda, as autoridades comunitárias forçam uma venda do banco bom, num curto período, e criam uma situação impossível de gerir.

Podia ter sido feita uma venda melhor do Novo Banco?
É difícil, porque estamos a falar de uma autêntica “fire sale”. Foi uma venda em situação de emergência, num período muito curto, em que havia no balanço do BES a tal zona cinzenta, que precisava de tempo para que fosse preservado e recuperado valor.

Qual era a alternativa?
Era fazer o que fizeram os ingleses com o Royal Bank of Scotland e com o Lloyd’s.

E uma solução dessas teria um peso diferente para os contribuintes?
Não vejo que não tivesse. Ainda hoje não sabemos o preço a que vendemos o Novo Banco, só no final é que se vai poder fazer as contas. Esta é a perversidade do exercício.

Era possível recuperar o BES?
Essa é uma resposta muito difícil. A separação dos ativos sem valor era indispensável. Podemos olhar para Espanha, onde os bancos enfrentavam problemas não menos complexos, foram negociados com a Europa fundos de 100 mil milhões e criados veículos para onde os bancos passaram os ativos que tinham perdido valor. Os bancos foram mantidos em toda a sua plenitude. Nós atuámos tarde e numa dimensão que não foi a suficiente.

Salgado culpa Passos Coelho por declarações que tiveram “consequências negativas para o BES”

Domingo, Fevereiro 24th, 2019

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Observador

Salgado culpa Passos Coelho por declarações que tiveram “consequências negativas para o BES”

O ex-líder do BES e do grupo GES acusa Pedro Passos Coelho de ter ajudado ao colapso do grupo financeiro com declarações em junho de 2014. Banqueiro apresentou petição em tribunal.

O banqueiro e ex-líder do BES e do grupo GES, Ricardo Salgado, acusou o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho de ter ajudado a causar o colapso daquele grupo financeiro, em 2014.

De acordo com o Correio da Manhã, Ricardo Salgado apresentou uma petição no Tribunal do Comércio de Lisboa, onde contesta a falência culposa do do BES e aponta o dedo ao ex-primeiro-ministro. “Em 24 de Junho de 2014, o senhor primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, proferiu declarações públicas no sentido de que a questão da capitalização do GES era um problema, exclusivamente, deste Grupo (porque constituíam ‘problemas da área não financeira’) e, ainda, que não teria informação que o levasse a ‘temer instabilidade no setor financeiro”, lê-se na petição, citada por aquele jornal.

Em causa estão as declarações do primeiro-ministro a 24 de junho de 2014, pouco antes do colapso do BES e da criação do Novo Banco, em agosto do mesmo anos.

“As questões que respeitam a problemas de capitalização de grupos que também têm uma área financeira, como é o Grupo Espírito Santo, mas que têm muitas outras atividades não respeitam especificamente nem ao Governo nem ao supervisor da área financeira, porque são problemas de natureza não financeira”, disse o primeiro-ministro à altura. “O Grupo Espírito Santo terá com certeza, como outros grupos, os seus problemas para resolver, e o Estado não é chamado a resolver esses problemas. É apenas aquilo que eu posso dizer.”

De acordo com o banqueiro, estas declarações tiveram “consequências negativas sobre o BES”, explicitando que, entre 19 de junho (data em que o Governo recusou viabilizar empréstimos da Caixa Geral de Depósitos ao BES)  e 24 de junho (quando Pedro Passos Coelho fez aquelas declarações), as ações do BES “caíram 16%” e deu-se uma “fuga de depósitos”.

Embora diga que “do ponto de vista jurídico, não se discute o mérito da opção política” de Pedro Passos Coelho, o banqueiro sublinha ainda assim que “o que se discute, por ter um impacto com relevância jurídica, são as consequências de tais declarações públicas do senhor primeiro-ministro então em funções”.

Passos Coelho rodeia-se de vozes contra a nacionalização do Novo Banco

Sexta-feira, Janeiro 13th, 2017

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Público

Posição dos sociais-democratas na reunião da bancada contrastou com as declarações de Rui Rio que se manifestou a favor da operação.

A resposta do líder do PSD, Pedro Passos Coelho, à hipótese de nacionalizar o Novo Banco – admitida por Rui Rio – ouviu-se forte e esteve acompanhada de figuras do partido. A questão foi debatida logo pela manhã na reunião da bancada parlamentar no dia em que o PÚBLICO noticiou que o ex-autarca do Porto, assim como outros sociais-democratas, eram a favor da nacionalização.

Foi o próprio Marco António Costa que deu a cara pela posição do partido, horas mais tarde, durante o debate de actualidade em plenário agendado pelo BE, mas que foi acompanhado pelo PCP e pelo PSD.

Os socialistas mantiveram a abertura a todos os cenários, num debate marcado pela troca de acusações sobre as responsabilidades que cabe a cada um no Novo Banco e noutros casos problemáticos da banca. O porta-voz do PS, João Galamba, reiterou que o partido não tem uma posição dogmática sobre a solução que venha a ser encontrada para a instituição financeira. “Não há nenhuma posição de princípio do PS. Faremos aquilo que for melhor para o Novo Banco. Depende das propostas e do comprador. O PS não tem uma posição dogmática sobre Novo Banco”, sublinhou, apontando para a última fila da bancada do PSD onde, “como sempre nestes debates”, está sentada, “sem intervir”,a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, o que motivou protestos por parte da própria e de outros deputados.

Galamba criticou as posições do PSD e do CDS por serem uma má forma de negociar ao assumirem que nunca colocam como hipótese a nacionalização. O socialista respondia, em parte, ao deputado do CDS João Almeida que defendeu que “o sector financeiro é demasiado importante para ser deixado ao sabor dos complexos ideológicos”.

O parlamentar acusou os socialistas de fazerem “declarações avulsas” para que “a nacionalização se concretize”. A mesma ideia foi deixada pelo social-democrata Marco António Costa ao referir que PS e Governo tentaram criar na opinião pública a ideia da “inevitabilidade da nacionalização”. Mas, perante esse cenário, deixou um aviso: “Não contem connosco para aventuras financeiras, nem para cometerem os erros do passado”.

A nacionalização do BPN também não é de boa memória para o PCP. Miguel Tiago defende que essa “falsa nacionalização” não se deve repetir por ser parcial. E sustentou que a nacionalização temporária do Novo Banco “não seria mais do que assumir os prejuízos passados e evitar os futuros”. O deputado comunista alinhou pelas críticas ao anterior Governo PSD/CDS, responsabilizando-o pela “desvalorização do Novo Banco” e pelas “perturbações no sistema financeiro”. Uma ideia que foi partilhada pelo deputado do PEV, José Luís Ferreira, e pelo BE.

Sem referir se a operação era temporária ou não, a bloquista Mariana Mortágua defendeu que a “única solução” é a “nacionalização” do banco, mas assumiu as “dificuldades e exigências”. A maior dificuldade “está nas pressões da Comissão Europeia e no Banco Central Europeu que já várias vezes demonstraram que põem o seu autoritarismo dogmático acima da estabilidade do nosso sistema bancário”, afirmou, defendendo que, por isso, o Governo deve excluir a liquidação e uma “venda de favor”.

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Passos acusa Governo de fazer encenação com solução para lesados dos BES

Quinta-feira, Dezembro 22nd, 2016

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Observador

O presidente do PSD acusou o Governo de ter feito “uma encenação” ao anunciar uma solução para os lesados do BES e disse esperar que o primeiro-ministro explique no parlamento os possíveis riscos.

O presidente do PSD acusou o Governo de ter feito “uma encenação” ao anunciar uma solução para os lesados do BES e disse esperar que o primeiro-ministro explique esta quinta-feira no parlamento se a solução envolve riscos para os contribuintes.

Em declarações aos jornalistas à margem do IV Encontro Anual do Conselho da Diáspora, em Cascais, Pedro Passos Coelho lamentou ter de comentar um assunto sobre o qual nada sabe, quando questionado sobre a anunciada solução para os lesados do Banco Espírito Santo (BES).

É um vício deste Governo. Faz anúncios, faz encenações, depois dá de forma particular, mas sem assumir a paternidade, informações a órgãos de comunicação social. E depois acha que com isso as pessoas ficam informadas sobre o que se vai passar. Mas não é bem assim, o Governo tem de dizer o que a gente não sabe”, disse o ex-primeiro-ministro.

Para o líder da oposição, “o Governo não respondeu à oposição nem respondeu aos jornalistas e portanto fez uma encenação”, o que considerou “lamentável”.

“Dizem-nos apenas que tudo acabará bem, que as pessoas acabarão ressarcidas das perdas que tiveram, que isso não terá reflexo nas contas públicas, nem nos bolsos dos portugueses”, recordou.

Pedro Passos Coelho lembrou que esta quinta-feira há um debate no parlamento e afirmou: “Espero que o primeiro-ministro explique qual é a solução, que riscos é que ela pode envolver. Eu espero que ela não envolva riscos para os contribuintes, porque, se envolver, então aquilo que se está a prometer é um engano”.

Para o ex-governante, seria “muito negativo” que o custo recaísse sobre os contribuintes, porque “os portugueses não têm nenhuma culpa desse processo e portanto não têm nada que pagar por esses processos”

“Se for assim, então a encenação que foi feita é para dizer o que é simpático a uns – os que perderam – e para ocultar aos portugueses que são eles que vão pagar, o que seria uma coisa intolerável”, disse Passos Coelho, concluindo: “Alguém vai ter de pagar e isso parece-me um mau princípio”.

O Governo apresentou na segunda-feira o mecanismo que permitirá minorar as perdas de cerca de 4000 clientes do BES que compraram papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), que foi à falência, e cujo reembolso nunca receberam.

Segundo o primeiro-ministro, António Costa, compete agora a cada um dos lesados “avaliar e decidir da sua adesão a esta solução”, que no seu entender consiste num “compromisso equilibrado” que permite reforçar a confiança no sistema financeiro português.

“Não conseguimos o milagre de endireitar a sombra de uma vara torta”, considerou o primeiro-ministro, declarando a sensação de “dever cumprido”.