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Quanto menos dinheiro for injetado no Novo Banco melhor será para o rating, diz Moody’s

Sábado, Fevereiro 15th, 2020

Quanto menos dinheiro for injetado no Novo Banco melhor será para o rating, diz Moody’s

Citamos

Eco

 

Sarah Carlson, analista da Moody’s, deixa nas entrelinhas que haver apenas mais uma injeção no Novo Banco trará poupanças para as contas públicas e por isso é positivo para o rating de Portugal.

Odinheiro do Fundo de Resolução para o Novo Banco pode vir a ser antecipado e injetado de uma só vez no banco este ano. É uma possibilidade que está em cima da mesa e que o primeiro-ministro, António Costa, já considerou como vantajosa porque eliminará “incerteza” em relação ao futuro. Para a Moody’s, tudo o que significar poupanças do Estado com a instituição financeira — que já recebeu 2.000 milhões de euros através do mecanismo de capital contingente e poderá receber mais 1.400 milhões — é bem-vindo e terá “implicações diretas” no rating do país.

Em entrevista ao ECO, Sarah Carlson, analista da agência rating que atribuiu a pior notação a Portugal entre as principais agências, abordou ainda o Orçamento do Estado para 2020 (OE2020). Considera que a “aprovação atempada” do documento é um sinal positivo para a estabilidade política de um Governo minoritário na legislatura.

Sobre o caso do Luanda Leaks, a responsável fez tabu do tema. Ainda assim, se teve impacto no setor financeiro, a avaliação que a Moody’s faz das instituições portuguesas é tão ampla que leva Carlson a considerar que a polémica foi apenas um “incidente”.

A Moody’s estima um excedente orçamental para este ano. Mas há sinais de que, em 2019, Portugal já tenha registado um saldo positivo. É uma surpresa positiva?

O que diria no caso de Portugal é o que digo para qualquer país: excedentes orçamentais permitem reduzir a dívida pública, por isso, são positivos para o perfil de crédito. Obviamente que quanto maior a redução da dívida pública, tendo em conta o peso da dívida em Portugal, excedentes orçamentais são positivos para o perfil de crédito.

Mário Centeno deverá deixar o cargo de ministro das Finanças para ir para o Banco de Portugal. A acontecer, esta saída poderá ter impacto naquilo que perceção de uma agência de rating em relação a Portugal?

O mais importante na nossa avaliação não é individualizar as questões, nem torná-las pessoais. Num país com instituições tão fortes como Portugal tem, mudanças de pessoas nos cargos não será algo importante em termos de qualidade creditícia do país.

Centeno é visto como o “Ronaldo” das Finanças. Poderá ter impacto na avaliação dos investidores?

Não é relevante para a nossa discussão. Olhamos para os fundamentais de crédito de médio e de longo prazo e não para mudanças de pessoal.

Qual a sua opinião sobre o OE2020 que foi recentemente aprovado pelo Parlamento?

Estimamos um pequeno excedente orçamental para 2020. Tendo em conta que estamos perante um Governo minoritário, o facto de se ter conseguido aprovar o OE2020 atempadamente é um sinal positivo para o funcionamento do Governo ao longo da legislatura. Há um desafio adicional para um Governo minoritário. Isto não é anormal acontecer, mas ver como o Governo é capaz de gerir uma situação política mais complexa é algo que pode contribuir para a previsibilidade.

É negativo para Portugal ter um Governo minoritário, uma vez que cria incerteza quanto ao futuro?

Não. O que estou a dizer é que governos minoritários criam complexidade adicional na aprovação das políticas. Mas temos visto vários países em todo o mundo, incluindo na Europa, funcionando perfeitamente bem com governos minoritários. O Orçamento do Estado foi um teste importante e o facto de ter sido aprovado atempadamente foi um sinal positivo para o funcionamento deste Governo minoritário.

Disse na conferência que a Moody’s não olha apenas para os grandes números, também analisa os detalhes: onde o Governo está a gastar o seu dinheiro…

Olhamos para a composição do Orçamento: de onde vêm as receitas e a forma como o Governo as gasta, para ver coisas como quão rígidas estão as contas públicas.

E estão a ficar mais rígidas, foi o que disse na conferência.

Sim, e é um risco. Despesas sociais, salários no setor público são mais rígidas do que outras formas de despesa.

Poderá ser um problema para Portugal?

Num cenário de stress, sim. Torna mais difícil encontrar fundos para outras áreas no caso de o governo precisar de o fazer.

Também dificulta a redução da dívida pública?

Num cenário de crescimento negativo, a redução da dívida torna-se mais desafiante. É por isso que fazemos testes de stress. No nosso pior cenário, vimos que Portugal continua a ser capaz de reduzir a dívida pública, mas de uma forma mais lenta do que poderia fazê-lo num cenário base.

A Moody’s acompanhou as negociações no Parlamento em torno do OE2020?

Acompanhamos mas de forma mais geral. O importante para nós é o resultado político e depois ver como as decisões políticas vão sendo tomadas e o que isso significa para os números no final do ano.

Acompanhou as negociações entre os partidos para a redução do IVA da luz?

Estivemos a par disso, faz parte da nossa monitorização regular. Mas não é relevante para a avaliação do rating porque, mais uma vez, o importante é o resultado final.

Tendo em conta que estamos perante um governo minoritário, o facto de se ter conseguido aprovar o Orçamento do Estado para 2020 atempadamente é um sinal positivo para o funcionamento do Governo ao longo da legislatura.

Sarah Carlson

Analista da Moody’s

Portugal financiou-se esta quarta-feira com juros negativos. Na Grécia, o juro a dez anos está abaixo de 1%. Estamos perante uma bolha nas obrigações soberanas?

O que vemos é o resultado de um ambiente nas taxas de juros de low-for-long, estamos a assistir a uma redução dos custos de financiamento dos governos. São claramente boas notícias para as contas públicas. Mas não estou em posição de dizer se há ou não uma bolha. Contudo, uma das coisas que sabemos é que as agências de gestão da dívida pública estão a optar por bloquear as taxas de juros mais baratas de hoje nos prazos mais longos. O facto de os governos estarem a financiar-se com estes juros e a longo prazo, isto significa a redução da fatura com juros que os governos beneficiam atualmente será capaz de suportar futuras subidas das taxas.

Algumas instituições pediram mais ambição na redução da dívida tendo em conta o atual cenário dos juros baixos. A redução que Portugal teve foi suficiente, tendo em conta as circunstâncias?

Não tenho uma definição do que é “suficiente”. Um dos fatores que explicam a melhoria do outlook do rating de Portugal tem a ver com as expectativas para a descida da dívida pública e o ambiente de juros baixos foi algo tido em conta.

“De uma perspetiva orçamental, obviamente que quanto menos dinheiro o Governo tiver de gastar com o Novo Banco, as implicações no crédito soberano são muito diretas.”

Sarah Carlson

Analista da Moody’s

Luanda Leaks é um tema importante para uma agência de rating?

Não tenho comentários a fazer sobre isso.

Mas não é algo que as agências de rating tem de monitorizar?

Estamos a par do que se está a passar, de uma forma geral, nos países. Mas o tipo de problemas que o caso Luanda Leaks levanta são institucionais. As instituições são muito importantes para os ratings soberanos. A nossa definição de “força das instituições” é muito ampla. É muito, muito mais ampla do que este único incidente. Mas não tenho nada a dizer em específico sobre o Luanda Leaks.

O Luanda Leaks afetou a credibilidade dos bancos?

Não tenho mais nada a dizer sobre o Luanda Leaks.

Fala-se na possibilidade de haver apenas mais uma única injeção do Novo Banco, no valor de 1.400 milhões. É uma boa solução para Portugal?

De uma perspetiva orçamental, obviamente que quanto menos dinheiro o Governo tiver de gastar, as implicações no crédito soberano são muito diretas.

Stresse na dívida em janeiro. Subida do prémio de risco para Grécia, Portugal e Itália

Domingo, Janeiro 31st, 2016

Citamos

Expresso

Balanço do mês. Os juros das obrigações britânicas, alemãs e norte-americanas desceram significativamente no mês que finda. O risco da dívida disparou para a Grécia e Portugal. Itália sentiu efeito da incerteza sobre resgate do sector bancário

O mês de janeiro ficou marcado para Portugal por um aumento das yields no mercado secundário e um disparo no prémio de risco da dívida. O pico do stresse registou-se nos dias 20 e 21 de janeiro, quando as yields das Obrigações do Tesouro (OT), no prazo de referência a 10 anos, ultrapassaram os 3% e o prémio de risco superou os níveis registados em junho de 2015 durante a crise grega.

O agravamento poderia ter sido pior se não tivessem ocorrido três eventos que moderaram as subidas em janeiro no caso de Portugal e que aceleraram a corrida a valores considerado seguros – valores refúgio – como as Bunds (obrigações) alemãs, as US Treasuries norte-americanas e as Gilts (obrigações) britânicas, que viram as yields, no prazo a 10 anos, descer 30, 35 e 39 pontos base no mercado secundário.

Três eventos com impacto positivo

Primeiro, e diretamente importante para a zona euro, e, naturalmente, para Portugal, a expetativa de que o Banco Central Europeu (BCE) venha a reconsiderar a política monetária na reunião de 10 de março, ampliando os estímulos.

O risco para Portugal poder deixar de beneficiar do programa de compras de dívida pública no mercado secundário pelo BCE joga-se na decisão da agência de notação canadiana DBRS a 29 de abril, quando está prevista a revisão da situação, sendo uma das possibilidades o corte do rating da dívida portuguesa de longo prazo para terreno de dívida especulativa (vulgo ‘lixo financeiro’).

Segundo, o corte surpresa, na última sessão do mês, na sexta-feira, pelo Banco do Japão da taxa de remuneração dos depósitos para terreno negativo, cujo detalhe pode ler aqui.

Terceiro, as probabilidades de um segundo aumento das taxas de juro pela Reserva Federal norte-americana (Fed) desceram significativamente durante a semana depois de se ter confirmado um abrandamento do ritmo de crescimento da maior economia do mundo no quarto trimestre de 2015. Antes da reunião da Fed de 27 de janeiro, registava-se uma probabilidade de 53% de ocorrer um novo aumento das taxas de juro na reunião de 27 de julho. No final da semana, uma probabilidade superior a 50% foi chutada para 21 de dezembro. O mercado de futuros das taxas de juro da Fed aponta para um adiamento claro de uma nova subida depois da decisão de dezembro de fixar o novo intervalo entre 0,25% e 0,50%. A Fed,na primeira reunião do novo ano, mostrou-se preocupada com o abrandamento da economia do país e com os “desenvolvimentos financeiros e económicos globais”.

Pico de stresse em janeiro

O pico do stresse para a dívida portuguesa registou-se nos dias 20 e 21 de janeiro em torno da reunião da ISDA, a Associação Internacional dos Swaps e Derivados que, ao apreciar a polémica transferência de uma parte da dívida sénior do Novo Banco para o BES, decidiu adiar para 12 de fevereiro a apreciação sobre se essa decisão do Banco de Portugal gerou um evento de crédito ou não.

As yields ultrapassaram, então, a linha dos 3% e o prémio de risco subiu para 245 pontos base, se for tomada como referência a 10 anos a linha de OT que vence em 2025 e para 264 se a base for a linha de OT que vence em 2026 (e que foi lançada a 14 de janeiro através de uma operação de sindicação em que o Tesouro pagou uma taxa de remuneração de 2,973%). Esses níveis de prémio de risco são superiores aos registados em junho do ano passado durante o pico da crise grega antes de Atenas conseguir o acordo para o terceiro resgate,

A recente chuva de críticas ao “rascunho” de Orçamento de Estado de 2016, nomeadamente por parte das quatro agências de notação de crédito que vão voltar a apreciar, de março a abril, a situação do rating da dívida portuguesa de longo prazo, acabou por, ainda, não revelar um impacto negativo no mercado secundário na evolução das yields que desceram de mais de 3% no pico a 20 e 21 de janeiro para 2,67% (na linha de OT que vence em outubro de 2025) e 2,88% (na linha de OT que vence em julho de 2026) a 29 de janeiro.

O prémio de risco fechou janeiro em 234 pontos base ou 255 pontos base, consoante a referência que se tome para obenchmark a 10 anos. Esses níveis correspondem a um diferencial de 2,34 ou 2,55 pontos percentuais acima do custo de financiamento da dívida alemã, que, ainda por cima, baixou 30 pontos base (0,3 pontos percentuais) em janeiro. Esse nível de prémios corresponde a um disparo de 44 ou 65 pontos base durante o mês de janeiro.

 

Grécia e Itália sob observação

O mais significativo disparo nas yields e no prémio de risco em janeiro registou-se para a dívida grega a 10 anos.

As yields das obrigações gregas a 10 anos subiram 134 pontos base para fecharem em 9,69% e o prémio de risco engordou 1,65 pontos percentuais para fechar em 936 pontos base ( o que significa que o custo de financiamento da dívida grega tem um prémio de mais de 9 pontos percentuais em relação à referência alemã). Apesar da agência Standard & Poor’s ter melhorado, a 22 de janeiro, o rating da dívida de longo prazo helénica – subindo a notação da zona de alto risco de bancarrota para extremamente especulativa (tecnicamente de CCC+ para B-) e com perspetiva “estável” -, mantem-se a incerteza sobre o desfecho do primeiro exame ao terceiro resgate.

Itália entrou nos radares com o prémio de risco da dívida a subir 10 pontos base em janeiro, de 97 pontos base no final de 2015 para 107 pontos base a 29 de janeiro de 2016. Contudo, asyields das obrigações italianas a 10 anos desceram 21 pontos no mercado secundário, de 1,6% para 1,4% naquele período, e o prémio de risco mantém-se inferior ao da dívida espanhola (que subiu 2 pontos para 117 pontos base). A incerteza sobre a reestruturação do sector bancário transalpino tem gerado turbulência em particular na Bolsa de Milão, cujo índice MIB perdeu quase 13% em janeiro, a terceira maior derrocada nas principais praças financeiras do mundo, depois das quedas no índice CSI 300 da China e no Tadawull da Arábia Saudita.