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Observador
Os nove bancos que participaram nos testes de ‘stress’ do Banco Central Europeu apresentaram falhas de capital acumuladas de 1.741 milhões de euros.
Os nove bancos que participaram em 2015 nos testes de ‘stress’ do Banco Central Europeu (BCE) apresentaram falhas de capital acumuladas de 1.741 milhões de euros, sendo que 80% são atribuídas ao português Novo Banco.
O ano passado decorreu o grande ‘exame’ aos bancos da zona euro, quando a entidade liderada por Mario Draghi avaliou 130 bancos de 22 países europeus antes de assumir diretamente a supervisão única das entidades consideradas significativas. Assim, este ano apenas foram feitos testes de ‘stress’ a oito bancos que entretanto foram considerados significativos e ao Novo Banco, uma vez que apenas tinha sido criado em agosto após a resolução que ditou o fim do BES.
Segundo os resultados hoje divulgados pelo BCE, todos os bancos cumpriram o rácio de capital mínimo de 8% no cenário base, o mais provável, já no cenário adverso (em que o balanço de cada banco é sujeito a choques negativos) cinco instituições ficaram abaixo do mínimo de 5,5%. No caso de Portugal, o pior cenário implica uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,8% no total de 2016 e 2017 e uma taxa de desemprego acima de 14%.
Entre os nove bancos analisados, o Novo Banco foi o que teve pior desempenho, com rácio de capital de 2,4% e insuficiências de capital de 1.398 milhões de euros.
Nos austríacos Sberbank Europe e VTB Bank foram identificadas falhas de capital 138 e 103 milhões de euros, respetivamente, no banco público francês Agence Française de Développement 96 milhões de euros e no maltês Mediterranean Bank seis milhões de euros em falta.
Entre os bancos que cumpriram as exigência dos BCE, o que apresentou melhor resultado foi o luxemburguês JP Morgan, com rácio de capital de 31,9% no pior cenário, enquanto o finlandês Kuntarahoitus Oyj teve 20,8% e o esloveno Unicredit 14,2%, bem acima do exigido.
No total, as insuficiências de fundos próprios detetadas foram de 1.741 milhões de euros, sendo 80% da responsabilidade do Novo Banco. A instituição portuguesa tem agora nove meses para suprir as falhas de capital detetadas.
Em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o Novo Banco garantiu que os testes de ‘stress’ não alteram a sua atividade, que continuará “com plena normalidade e sem perturbações” para depositantes e restantes clientes.
Para o Banco de Portugal, os resultados estão “genericamente alinhados com as expectativas e refletem a natureza específica de banco de transição”, que é o Novo Banco. Também um analista de banca ouvido pela Lusa, que preferiu não ser identificado, considerou que os resultados “não foram inesperados” e que “grave” seria se tivessem sido detetadas falhas de capital no cenário base.
Para o futuro, a administração liderada por Stock da Cunha vai apresentar um plano de reorganização, de onde irá constar a alienação de ativos, como a seguradora GNB Vida e provavelmente operações no estrangeiros, com o analista a considerar que também é provável uma redução na atividade doméstica, com fecho de balcões e saída de pessoal.
Ainda assim, essas reestruturações não deverão ser suficientes para cumprir as necessidades de capital e o Banco de Portugal anunciou hoje que vai retomar “de imediato” o processo de venda do Novo Banco.
O mesmo analista considerou que a entrada de um privado pode passar por um aumento de capital e que “não é líquido que o Fundo de Resolução saia do Novo Banco em 2016”, apesar de dever reduzir a sua participação.
O Novo Banco, que foi criado no verão do ano passado, após a medida de resolução que ditou o fim do Banco Espírito Santo (BES), é detido a 100% pelo Fundo de Resolução bancário.