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Sr. governador, iletrado e ignorante me confesso

Sábado, Novembro 26th, 2016

Citamos

Negócios Opinião Rui Peres Jorge

O governador do Banco de Portugal resolveu transportar o debate político e técnico sobre as falhas no ajustamento do sector financeiro para o plano pessoal. As críticas não são ideias e pontos de vista… são ofensas. Os críticos não são interlocutores… são ignorantes e iletrados. A posição de Carlos Costa não é só surpreendente, é também preocupante pela falta de capacidade de auto-crítica que outras instituições já foram capazes de fazer.

O governador do Banco de Portugal resolveu transportar o debate político e técnico sobre as falhas no ajustamento do sector financeiro para o plano pessoal. As críticas não são ideias e pontos de vista… são ofensas. Os críticos não são interlocutores… são ignorantes e iletrados. A posição de Carlos Costa não é só surpreendente, é também preocupante pela falta de capacidade de auto-crítica que outras instituições já foram capazes de fazer.

A abordagem à banca nacional adoptada pela troika, pelo governo anterior e pelo Banco de Portugal foi optimista, errou ao considerar que os problemas em Portugal estavam apenas concentrados no sector público e poupou os bancos aos incómodos de intrusões mais sérias do supervisor e de intervenções públicas. É hoje evidente que isso custou muito dinheiro ao adiar resoluções e recapitalizações que entretanto ficaram mais caras, e que ainda nos está a custar um dos sistemas financeiros mais frágeis da Zona Euro, com implicações negativas por exemplo na concessão de crédito.

Nos “Os 10 erros da troika em Portugal“, que escrevi no primeiro semestre de 2014, defendi isso mesmo. Os desastres do BES e Banif que ocorreram depois vieram confirmar o diagnóstico, embora tenha pecado por optimismo quanto às consequências da abordagem liderada em boa parte por Carlos Costa – que, sublinhe-se, entrou no Banco de Portugal em 2010 para recuperar a imagem do supervisor já com o aviso das más práticas na banca nacional evidenciadas pelo BPN, BPP, e pelo caso das off-shores do BCP onde Carlos Costa de resto trabalhou entre 2000 e 2004 como director da área internacional.

Aos poucos as instituições da troika têm vindo a reconhecer isso mesmo. Numa intervenção em Abril deste ano em Lisboa, Filip Keereman, chefe de divisão da Direcção-geral Estabilidade Financeira da Comissão Europeia, admitiu que Portugal deveria ter recebido mais que os 12 mil milhões de euros para a banca – que ainda assim, convém sublinhar, o anterior governo gastou apenas pela metade –, defendeu que a avaliação da debilidade do sistema financeiro nacional foi branda, e concluiu (o que, na verdade já se sabia de eventos passados), que perante grandes crises financeiras é fundamental concentrar esforços na limpeza e recuperação da banca. Só assim se consegue acelerar a recuperação após o descalabro económico.

Ideias semelhantes surgiram num relatório publicado esta semana, no qual a Comissão Europeia avalia ao que se passou em Portugal entre 2011 e 2014, e concluiu que “apesar do programa ter identificado correctamente os assuntos chave que o sector bancário enfrentava, a escala do problema foi subestimada e resultou em implementação de políticas que deixaram nos bancos demasiadas fragilidades no final do programa”, chegando até a dizer que “uma abordagem mais determinada da supervisão poderia ter promovido ajustamentos” no BES e no Banif durante o programa, de resto como também na CGD.

O FMI, por seu lado, numa avaliação que precedeu a de Bruxelas, considera que “um escrutínio mais profundo das práticas de supervisão, seguido de medidas adicionais de fortalecimento da supervisão teriam beneficiado o programa”. Para Washington os testes de stress do Banco de Portugal foram inconsistentes nas metodologias, e optimistas nos pressupostos. E em relação ao BES, teria mesmo sido necessária “uma abordagem mais interventiva da supervisão (…) mais reconhecimento de riscos do grupo, e mais acções preventivas, incluindo na governance do grupo”.

Em vez disso, e sendo já evidente a gravidade dos problemas no BES pelo menos desde o final de 2013, Carlos Costa, com o apoio do Governo e do Presidente da República, e a dormência da troika e da CMVM, convidaram os investidores a colocar mil milhões de euros no banco em Junho de 2014, para os perderem dois meses depois na implosão de Agosto.

As avaliações do FMI e da Comissão Europeia podem ainda ser complementadas com as conclusões da análise do Departamento de Avaliação Independente do FMI, uma espécie de auditor interno do Fundo que, com ajuda de Nicolas Véron, investigador de dois dos ‘think tanks’ mais influentes do mundo (Bruegel em Bruxelas, e Peterson Institute em Washington) critica o FMI por não ter pressionado mais Carlos Costa, aceitando a perspectiva ideológica vigente em Lisboa de que os problemas em Portugal não estavam na banca, nem no sector privado, mas somente nas contas públicas.
Será justo reconhecer que não podemos ser alheios às circunstâncias em cada momento – e quanto a isso, quem está de fora, tem obrigação de dar algum benefício a decisões complexas e difíceis. Mas uma coisa é contextualizar a incerteza, outra é entrar em negação. É este o caminho que Carlos Costa parece querer seguir ao qualificar as críticas como “uma ofensa a quem fez o programa de ajustamento”, “uma ofensa ao Banco de Portugal” e reveladoras de “grande ignorância para não dizer iliteracia”.

Assim sendo, não me resta senão confessar-me ignorante e iletrado, tendo por conforto o facto de não estar sozinho.

Carlos Costa: Problemas na banca surgiram nos anos de Constâncio na supervisão

Quarta-feira, Novembro 23rd, 2016

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Negócios

Os erros que se acumularam nos bancos foram cometidos entre 2000 e 2010, diz o governador, que chegou ao cargo no último ano. Sobre as críticas que lhe são feitas no âmbito do ajustamento, Carlos Costa sente-se ofendido.

Carlos Costa defende que foi antes de assumir o cargo de governador do Banco de Portugal que foram cometidos os erros que, hoje em dia, pesam no balanço dos bancos através da constituição de imparidades.

No Fórum Banca, que se realizou esta quarta-feira, 23 de Novembro, em Lisboa, o líder do regulador defendeu que é importante perceber porque é que se acumularam tantas dificuldades no balanço dos bancos e quando é que os erros foram cometidos. E Carlos Costa tem uma resposta:

“[Foi] entre 2000 e 2010. Não se acumularam depois de 2011”, declarou o governador. E é aqui que faz a distinção de mandatos sem o mencionar explicitamente: Vítor Constâncio foi o governador entre 2000 e 2010, Carlos Costa só nesse ano chegou.

“Estamos a enxaguar todos os problemas que gerámos no período de 2000 a 2010. Os reguladores são hoje os bombeiros dos pirómanos de outra época. Os gestores são os reparadores”, declarou.

Fragilidades vindas da época passada

Na sua intervenção, Carlos Costa elencou seis factores de fragilidade do sistema financeiro português, todas atiradas para o mandato do seu antecessor.

O líder do regulador começou por falar, em primeiro lugar, na “estrutura accionista dos bancos que potenciou fenómenos” como a concessão de crédito para financiar a compra de acções (que aconteceu no BCP).

Depois, apontou com mais elementos: o financiamento para a aquisição de participações noutras empresas; a subestimação do risco (“isto não foi depois de 2011, foi antes de 2011”); o financiamento à construção e obras públicas; a “bondade” na concessão de crédito sem real avaliação; e a exposição a empresas expostas ao ciclo económico.

Críticas à troika na banca “revelam ignorância” e são “ofensa”

Atirando para o passado as responsabilidades pela actual situação na banca, em que a constituição de imparidades para cobrir créditos em incumprimento ou em risco de ficar em incumprimento está a anular os resultados das instituições financeiras, Carlos Costa defende que tudo está melhor agora.

“O sistema está muito mais robusto. A banca foi muito mais resiliente do que normalmente se diz”, afirmou o governador.

Aliás, Carlos Costa quis responder a quem critica a actuação da troika (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu) entre 2011 e 2014, nomeadamente por não ter impedido o resgate de dois bancos (BES e Banif): “Os que dizem que [a política da troika para a banca] foi um fracasso não sabem seguramente do que falam”.

“É uma ofensa a quem fez o programa de ajustamento e uma ofensa ao Banco de Portugal”, frisou o responsável da autoridade, acrescentando ainda que tais críticas revelam “grande ignorância, para não dizer iliteracia”.

Bruxelas ataca Banco de Portugal: supervisor foi pouco exigente durante a troika

Terça-feira, Novembro 22nd, 2016

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Eco

Relatório de um grupo de economistas da Comissão Europeia sobre o programa da troika em Portugal defende que o problema da banca foi bem identificado, mas reconhece que foi subestimado.

Banco de Portugal foi pouco exigente durante a aplicação do programa de ajustamento da troika e daí resultaram insuficiências que continuam a travar a recuperação da economia portuguesa. A conclusão é de um grupo de economistas da Comissão Europeia e consta de um relatório de avaliação ao programa português, publicado esta segunda-feira.

Tal como já aconteceu com o FMI, também Bruxelas realizou uma avaliação ao programa de resgate português aplicado entre 2011 e 2014. O estudo foi liderado pelo economista Daniel Daco e beneficiou do apoio de um grupo de trabalho conduzido por Matthias Mors, da direção-geral dos Assuntos Económicos e Financeiros (DG ECFIN). O objetivo foi verificar o que correu bem e o que poderia ter corrido melhor, tendo em conta os resultados alcançados e daí retirar conclusões que sejam úteis para futuros programas de ajustamento.

As ações de supervisão da banca também deveriam ter sido mais exigentes no que diz respeito ao provisionamento das imparidades, nomeadamente quando os problemas relacionados com o abrandamento da atividade económica se tornaram mais evidentes.

Ex Post Evaluation of the Economic Adjustment Programme

Grupo de economistas da Comissão Europeia

No documento, são reconhecidas algumas falhas e retiradas lições, mas a crítica mais dura vai direta para a instituição liderada por Carlos Costa: “Com o Banco de Portugal responsável pelo desenho e implementação da recapitalização dos bancos, o programa poderia ter enfatizado melhor a importância das diferentes estratégias, promovendo orientações mais detalhadas e colocando mais pressão na sua implementação”, lê-se no relatório.

Mas não é tudo. “A autoridade de superv

Privatização da Caixa podia ter evitado custos para o Estado

Especificamente sobre o dossiê da Caixa, o relatório dos economistas da Comissão nota que uma reestruturação mais profunda do banco, “provavelmente acompanhada de passos concretos para a sua privatização completa, poderia ter ajudado a reduzir os riscos contingentes para o Estado, bem como a promover a concorrência entre os bancos”.

Neste momento, o Governo prepara-se para injetar até 2,7 mil milhões de euros na CGD, no âmbito de uma recapitalização. Esta operação, que chegou a estar planeada para 2016, mas que entretanto foi adiada para o próximo ano, apresenta riscos para o défice orçamental que só poderão ser dissipados depois de uma análise do Eurostat.

Governo relativiza críticas ao banco central

Na resposta à avaliação dos economistas de Bruxelas, as autoridades portuguesas relativizam as críticas. Lembram que não é justo que a avaliação seja feita à luz do que já se sabe hoje, nomeadamente tendo em conta que a crise de dívidas soberanas atingiu níveis inesperados.

Além disso, notam que a supervisão e a regulação evoluíram muito nos últimos anos e que “a ação de supervisão durante o programa refletiu corretamente estes desenvolvimentos a nível global, tornando-se mais intrusiva, proativa e antecipando melhor tendo em conta o perfil de risco dos bancos”, lê-se na resposta portuguesa.

Até ao momento ainda não foi possível obter uma reação do Banco de Portugal.

isão não exigiu uma recapitalização/reestruturação dos bancos mais robusta“, frisa o relatório. “As ações de supervisão da banca também deveriam ter sido mais exigentes no que diz respeito ao provisionamento das imparidades, nomeadamente quando os problemas relacionados com o abrandamento da atividade económica se tornaram mais evidentes”, continuam os peritos. “Teria ajudado” a implementar políticas mais efetivas se tivesse sido feita uma análise pública sobre as diferentes abordagens possíveis ao problema do malparado, acrescentam.

Os economistas da Comissão Europeia avaliam ainda o que aconteceu com o Banif, com BES e a necessidade de recapitalizar a Caixa Geral de Depósitos para concluir que uma “supervisão mais robusta” poderia ter ajudado, sobretudo no caso do Banif. Quanto ao BES, reconhecem que os sinais de dificuldades emergiram apenas lentamente. E sobre a Caixa a crítica pode ser entendida como dirigida também ao Governo, já que se não foram dados os passos necessários para a sua privatização. Seja como for, havia margem para uma supervisão mais robusta ou para a resolução (também no caso da CGD) porque o envelope financeiro para apoiar a banca não foi todo utilizado – sobraram 6,4 mil milhões de euros, lembram.

Esta não é a primeira vez que a atuação do Banco de Portugal durante os anos mais duros do ajustamento é colocada em causa. Num exercício semelhante a este, feito por um grupo de economistas para o FMI, a avaliação resultou também em duras críticas à atuação de Carlos Costa.

Passos: Carlos Costa estimou necessidades da banca “em 40 a 50 mil milhões de euros”

Sexta-feira, Abril 8th, 2016

Citamos

Negócios

O líder social-democrata mostrou-se descrente que alguém tivesse emprestado, na altura do resgate, o valor considerado necessário pelo Banco de Portugal para reforçar a liquidez dos bancos.

O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho revelou esta quinta-feira, 7 de Abril, que as estimativas do Banco de Portugal para as necessidades de capitalização do sector financeiro eram três a quatro vezes superiores ao valor previsto para a banca no resgate da troika.
“Recordo-me bastante bem, na altura, de ouvir o governador do Banco de Portugal dizer que uma capitalização mais adequada para todo o sistema financeiro podia exigir recursos bastante avultados, entre 40 e 50 mil milhões de euros”, afirmou o presidente social-democrata numa entrevista à Antena 1.
Para Passos, uma vez que o programa tinha um valor total de 78 mil milhões de euros e destinava 12 mil milhões à banca, esta “era uma questão insuperável, a menos que o programa ele próprio tivesse um envelope financeiro muito maior e por isso teríamos de ficar a dever muito mais do que 78 mil milhões de euros”, admitiu.
O antigo governante considerou que a dificuldade em resolver o problema do sector financeiro “não é tanto um erro do programa, mas tem mais relação com os meios que estavam à nossa disposição do ponto de vista financeiro” para a capitalização das instituições.
“Se precisássemos de ter ainda mais 30 ou 35 mil milhões para acudir à banca, acreditaria alguém que teríamos condições para pagar, ele ter-nos-ia sido emprestado?”, questionou, afirmando que a dotação para a banca tinha ficado resolvida na negociação do governo anterior, do PS.

Em Dezembro de 2014, o próprio governador referiu que a troika pretendia que a linha de apoio à banca tivesse sido duas vezes superior ao que foi atribuído, elevando esse montante para os 24 mil milhões de euros, segundo o Jornal de Notícias.

E que se tivessem sido usados dinheiros públicos logo na ocasião para fazer face às imparidades de 31 mil milhões de euros registadas, as instituições acabariam por ir parar às mãos do Estado.

“Não diria que se estava perante uma nacionalização, mas de protonacionalização, tal o nível de capital público que seria injectado nos bancos”, disse na altura o governador.

Os 12 mil milhões de euros não chegaram a ser totalmente aplicados no sector financeiro, tendo cerca de metade do valor – seis mil milhões de euros – sido conduzida para a designada “almofada financeira” do Governo Passos.

O lobo de Wall Street no Novo Banco

Sexta-feira, Janeiro 22nd, 2016

Citamos

Negócios Opinião Helena Garrido

Quando a troika chegou a Portugal, em 2011, a mensagem dita e redita foi: os bancos portugueses estão muito saudáveis. Mas o FMI, o BCE e a Comissão Europeia insistiram em cativar 12 mil milhões de euros para a banca.

Daqui a poucos meses já terão passado cinco anos da intervenção e continuamos a resolver os problemas dos bancos. Agora estamos na fase de acalmar os lobos financeiros. Numa guerra implícita entre o mundo financeiro …

FMI não tinha mandato nem autoridade para supervisionar bancos, afirmou Subir Lall

Terça-feira, Março 17th, 2015

Citamos

O Observador

Chefe da missão do FMI para Portugal afirmou que o Fundo “não tinha mandato nem autoridade” para supervisionar os bancos. O objetivo do programa era assegurar a estabilidade financeira.

O chefe da missão do FMI para Portugal, Subir Lall, afirmou nesta terça-feira que o Fundo “não tinha mandato nem autoridade” para supervisionar os bancos, reiterando que o objetivo do programa era assegurar a estabilidade financeira sistémica e que “isso foi garantido”. “Não exigimos nada às autoridades porque não desempenhamos o papel de supervisores. Não tínhamos o mandato ou a autoridade para supervisionar os bancos”, afirmou Subir Lall numa conferência hoje em Lisboa quando questionado sobre se o Fundo teve conhecimento dos problemas detetados no Banco Espírito Santo (BES) durante o programa de resgate.

“Se trabalhámos com os bancos? Sim. A questão é que temos de olhar para que servia o programa? Era para garantir a estabilidade financeira sistémica e isso foi garantido”, disse ainda o responsável durante uma conferência promovida pela Ordem dos Economistas.

O presidente do Conselho de Administração do BPI, Fernando Ulrich, criticou hoje a atuação da ‘troika’ no que refere ao BES, lamentando em concreto a atuação do Banco Central Europeu (BCE). “O banco que não precisava de capital público estoirou e a ‘troika’ não percebeu (…) Causa-me alguma perplexidade por que é que o BCE terá sido tão violento com o BES e anda com os bancos gregos ao colo. Por que é que foi tão duro e exigente com o BES?”, questionou Ulrich na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES).

Inside Goldman Sachs’s Loan to Banco Espírito Santo

Segunda-feira, Janeiro 19th, 2015

201501

Deal Resulted From Effort by Senior Goldman Officials to Win Business With Portuguese Company

Citando

The Wall Street Journal

When Goldman Sachs Group Inc. arranged an $835 million loan to Banco Espírito Santo SA last summer, it was the result of a concerted, monthslong effort by senior Goldman officials to win business with the large Portuguese company, according to people familiar with the matter.

Today, Goldman’s embrace of Espírito Santo has come back to haunt the Wall Street giant. Weeks after Goldman arranged the loan, Banco Espírito Santo collapsed amid allegations of fraud. Goldman now is in an unusual public fight with Portugal’s central bank, which bailed out Espírito Santo, over whether the loan should be fully repaid. Anticipated losses linked to the loan took a bite out of Goldman’salready weak fourth-quarter results, the firm’s executives said last week.

And the Goldman loan is under review by Portuguese regulators, which are trying to untangle the web of financial arrangements surrounding Banco Espírito Santo at the time of its implosion, a person familiar with the inquiry said.

The situation highlights a series of missteps by the Wall Street bank.

The loan was approved by at least three Goldman committees, which are composed of senior bank executives and are designed to rigorously assess transactions for their credit risk and their potential to harm the bank’s reputation, according to people familiar with the matter. And the Bank of Portugal moved the loan toward the back of the line for repayment because Goldman last summer briefly amassed more than 2% of Banco Espírito Santo shares.

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Goldman’s involvement in the Espírito Santo saga, which The Wall Street Journal first reported in September, got under way last spring—just as the wheels were starting to come off the family-controlled business empire.

Banco Espírito Santo was looking for help in paying for a loan it had promised to Venezuela’s state oil company.

Jose Luis Arnaut, a former Portuguese government minister who Goldman had just appointed to its prestigious international-advisory board, contacted Banco Espírito Santo Chief Executive Ricardo Salgado, according to a person familiar with the approach. Mr. Arnaut offered Goldman’s help in raising money, this person said.

A Goldman partner in London, Antonio Esteves, helped pull together a team in Goldman’s securities and financing divisions to create a complicated structure to arrange the loan, say people familiar with the deal. Mr. Esteves, a Portuguese native, was known inside Goldman as the salesman with the strongest connections to Iberian banks and state-owned companies, they said.

Officials at Goldman Sachs hoped the Espírito Santo deal would pave the way for future business with the Portuguese group, people familiar with the relationship said.ASSOCIATED PRESS

Goldman and Espírito Santo eventually settled on the creation of a company, Oak Finance Luxembourg SA, to raise $835 million for Espírito Santo from Goldman and outside investors. Goldman Sachs International co-heads in London, Michael Sherwoodand Richard Gnodde, were briefed on the large transaction, according to a person familiar with it.

Oak Finance’s purpose—providing vital funding for a project aimed at increasing Venezuela’s refined-oil output—also checked off a box for Goldman as it tried to expand its relationship with the Venezuelan government, people familiar with the matter said.

Before the money was raised, Espírito Santo’s problems started intensifying. Its parent company was struggling to repay billions of euros to its creditors, including the bank and its clients. Facing potential losses, the bank was having trouble raising money from traditional market sources.

But Goldman remained enthusiastic about both the deal and Espírito Santo’s prospects. In late June, barely a month before the bank’s collapse, Mr. Arnaut told a Portuguese radio station that “BES is a profoundly stable bank.” He added that Mr. Salgado, who had announced plans to resign, “was leaving a robust bank with capital and credibility.”

Messrs. Arnaut and Esteves didn’t respond to requests for comment.

Funds from the $835 million loan were released on July 3, providing the bank with vital financial help.

Goldman officials hoped the Oak Finance deal would pave the way for future business with Espírito Santo, people familiar with the relationship said. Following Mr. Salgado’s departure, Mr. Esteves and other Goldman’s bankers unsuccessfully sought work advising Espírito Santo on ways to stay afloat, these said.

Goldman, meanwhile, was buying Banco Espírito Santo shares. Regulatory filings show Goldman amassed 2.27% of the bank’s shares as of July 15. It looked like a vote of confidence in the Portuguese bank, whose shares rallied 20% on July 23, the day the holdings were disclosed.

When Banco Espírito Santo was bailed out and broken up in early August, Goldman wrote to the Bank of Portugal to confirm that the Oak Finance debts would be transferred to the surviving part of the bank, known as Novo Banco, where the loan stood a good chance of repayment. A Goldman spokeswoman said the central bank provided those assurances. A Bank of Portugal spokesman denied that.

Goldman said it had managed to sell some of its exposure to the Oak Finance loan to investors, including pension funds.

On Dec. 23, Novo Banco made a surprise announcement: The Bank of Portugal had informed it that Oak Finance would remain in the “bad bank” that the central bank is winding down, virtually guaranteeing the loan won’t be fully repaid. The reason: A Portuguese law passed in August said that anyone owning more than 2% of a bailed-out bank’s shares must go to the back of the line for any debt repayments. Goldman’s 2.27% shareholding in July triggered that provision retroactively, the Bank of Portugal concluded.

The decision stunned Goldman executives, who learned of it only when they read it in the Portuguese media on Christmas Eve, according to a person familiar with the matter. Goldman disputed the Bank of Portugal’s legal interpretation, noting that it was buying the shares for clients, not for the bank’s own account. In a statement, Goldman accused the Bank of Portugal of breaking its word and warned that the decision would hurt the pension funds that bought Oak Finance debt.

In any case, the decision meant Goldman was likely to absorb sizable losses and prompted the bank to lower the size of some employees’ bonuses.

Last week, discussing Goldman’s fourth-quarter results, Chief Financial Officer Harvey Schwartz said a loss from the Oak Finance securities made a small dent in its trading division’s results. He said Goldman remains in “active dialogue” with the Bank of Portugal.

—Justin Baer contributed to this article.

Write to Margot Patrick at margot.patrick@wsj.com and Patricia Kowsmann at patricia.kowsmann@wsj.com

(Fim de citação)

Ruinosa operação financeira BES/Rioforte empurra PT Portugal para soluções estrangeiras e em brutal perda de valor. Silêncio misterioso do acionista Novo Banco

Domingo, Janeiro 18th, 2015

20150118

Multiplicam-se e crescem quase diariamente os argumentos a favor e contra a venda do controlo acionista da telefónica portuguesa, atualmente na dependência da estratégia de consolidação do sector das telecomunicações no Brasil. Interessados na compra do Novo Banco, como o banco BPI, consideram a presente situação um “escândalo”, uma “irresponsabilidade” e uma “inadmissível perda de valor” da ex-jóia da coroa económico-financeira de Portugal.

Refira-se que a Oi quer usar a PT para vender a sua actual posição dominante, com o objetivo de “limpar” a sua dívida com a TIM, a interessados estrangeiros – o BTG Pactual, um banco de investimento do Brasil, o grupo francês Altice, aliado à Cabovisão e à Ongoing e ávido por uma possível e posterior integração da TIM/ OI/PT Portugal num grande conglomerado global e pluricontinental.

Nestas movimentações estão também envolvidos os fundos Bain (EUA) e Apax (Reino Unido). Todos sob o olhar atento e interessado da Telefónica espanhola e a multinacional britânica Vodafone.

Citando

Observador

Os acionistas da Portugal Telecom vão ser chamados a votar naquela que será a maior decisão na história da empresa, que foi criada em 1994 a partir da fusão dos TLP, Marconi e Telecom Portugal. A assembleia geral de quinta-feira, 22 de janeiro, pode decidir mais do que a venda da PT Portugal, cuja discussão é o único ponto em agenda. Toda a estratégia de fusão com a Oi vai estar em causa, em caso de chumbo à proposta de alienação da operação portuguesa à Altice. Serão inevitáveis os impactos na combinação de negócios entre as operadoras portuguesa e brasileira. Em cima da mesa estão, para já, três cenários:

A venda da PT Portugal à Altice por 7400 milhões de euros tal como é proposto pela Oi, prosseguindo a estratégia de consolidação no Brasil:

A venda da PT Portugal é chumbada em assembleia geral e tudo fica na mesma. A Oi terá de procurar alternativas para financiar aquisições no Brasil, insistir mais tarde ou desistir. A incerteza terá impacto na valorização da empresa brasileira, o maior ativo da PT SGPS

A venda da PT Portugal cai em resultado da reversão dos contratos de combinação de negócios entre as duas empresas. O aumento de capital da Oi que consumou a fusão com a PT pode ficar sem efeito. As duas empresas tentam regressar ao passado. A PT Portugal, Angola, Timor, e o buraco da Rioforte, voltam para a PT SGPS. Mas o divórcio terá consequências jurídicas, económicas e financeiras difíceis de calcular.

Depois de um longo braço-de-ferro com a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, e alguns membros dos seus próprios órgãos sociais (como o presidente da assembleia geral), a gestão da PT SGPS divulgou na semana passada toda a informação disponível sobre as hipóteses em cima da mesa e as consequências que é possível estimar nesta fase. Agora todos os investidores estarão à partida na posse dos mesmos dados que já eram do conhecimento da administração da empresa e dos grandes acionistas.

A documentação inclui pareceres e opiniões jurídicas contrários quanto à possibilidade legal e contratual de romper o acordo de parceria entre as duas empresas e desfazer o aumento de capital que transferiu para a Oi o principal ativo da PT SGPS, que é a PT Portugal. Os pareceres que admitem esta possibilidade são de novembro de 2014, e foram pedidos pela PT SGPS com o objetivo de perceber se deveria ou não consultar os acionistas antes de avaliar a oferta de venda da PT Portugal e eventualmente exercer o direito de veto.

Os pareceres contra a operação, que tinham sido já revelados na comunicação social, só são tornados públicos, quando acompanhados de outras opiniões jurídicas, com data da primeira semana de janeiro, que apontam no sentido contrário, concluindo pela irreversibilidade do aumento de capital da Oi, logo da devolução da PT Portugal à operadora portuguesa. Um parecer assinado por um escritório de advogados brasileiro foi entregue a pedido de Rafael Mora, conselheiro da Oi e administrador da PT SGSP, representando a Ongoing. O outro documento de um jurista português é feito a pedido dos advogados da Oi em Portugal. Confira aqui os principais argumentos:

A favor da venda da PT Portugal

A venda da PT Portugal é, segundo a Oi, a melhor alternativa para obter as receitas que lhe permitem entrar no processo de consolidação do mercado brasileiro. O seu chumbo terá por isso consequências adversas para a Oi e a acionista PT SGPS. A gestão da empresa portuguesa destaca os seguintes riscos…

A não aprovação da proposta de venda da PT Portugal em 22 de Janeiro (esta quinta-feira) pode comprometer a realização das assembleias gerais de debenturistas (detentores de dívida) da Oi, convocadas para 26 de Janeiro de 2015, acima referidas, que têm por pressuposta a aprovação da venda da PT Portugal

Segundo a Oi, nos termos das cláusulas em contratos de compra e venda, até à verificação (ou não) da condição suspensiva, a gestão da PT Portugal está limitada à gestão corrente o que, obviamente, se traduz numa perda de capacidade de atuação num mercado altamente concorrencial, como é o das telecomunicações. Esta limitação, tendo impacto na geração de resultados da empresa, pode diminuir o encaixe da Oi na venda contratada.

Atendendo à condição suspensiva da aprovação da venda pela PT SGPS, não é possível submeter os pedidos para as autorizações regulatórias, prolongando o já referido período transitório e acentuando a situação de incertezarelativamente ao desfecho da venda e consequente desvalorização do ativo, realça ainda a Oi.

“A não aprovação da proposta de venda da PT PORTUGAL em 22 de Janeiro 2015, não invalida que ela possa vir a ser vendida no futuro, e nessa medida, consubstancia a manutenção da incerteza relativamente ao destino da PT PORTUGAL o que, por limitar as opções estratégicas da empresa impacta negativamente no seu valor pelas razões explicitadas, terá um consequente impacto patrimonial negativo na Oi e, indiretamente, na sua acionista PT SGPS.” 

Contra a venda da PT Portugal

O grande objetivo da combinação de negócios entre a Oi e a PT SGPS era criar um operador de telecomunicações líder nos países lusófonos com 100 milhões de clientes. Foi para salvaguardar esse objetivo que os acionistas da PT aceitaram mudar o contrato da fusão e uma estrutura alternativa que reduziu a sua posição no novo grupo.

Com a venda da PT Portugal, o melhor ativo da PT, a atividade concentrar-se-á no mercado brasileiro, em vez de ocupar espaço relevante na indústria mundial das telecomunicações, deixando de atuar a partir da sua base no Brasil, Portugal e África.

Se a Oi alienar a PT Portugal, o grande objetivo de criação de um operador de telecomunicações deixa de ser possível, “verifica-se por conseguinte uma grave violação do segundo memorando”, sublinha o parecer de novembro de 2014 do jurista João Calvão da Silva.

O jurista Eduardo Paz Ferreira também sustenta que a alienação da PT Portugal contraria o memorando acordado entre as duas empresas, na medida em que este tinha como pressuposto fundamental o desenvolvimento da combinação de negócios que é frustrada pela operação proposta pela Oi. O parecer de 21 de novembro, assinado também por Ana Perestrelo de Oliveira, não considera que o investimento na Rioforte sirva de argumento para a desvinculação da Oi do memorando porque as duas partes reafirmaram o desejo de prosseguir o objetivo já depois de ser conhecida esta operação.

Mas Paz Ferreira vai mais longe ao defender que a Oi ao declarar a alienação da PT Portugal – a brasileira fechou um acordo com a Altice – está já a violar o contrato de fusão aprovado pelas duas empresas e seus acionistas, dando já fundamentos à PT SGPS para agir contra esta operação.

A decisão do conselho de administração da Oi no sentido de alienar a PT Portugal é suscetível de ser configurada como uma declaração antecipada de não cumprimento do contrato de combinação de negócios, equiparada desde logo ao incumprimento definitivo, permitindo assim imediatamente desencadear as consequências correspondentes, sem necessidade de aguardar a concretização da venda.”

Manifestação convocada por sindicatos contra a venda da PT Portugal

A favor do fim da fusão com a Oi

Ninguém defende de forma mais assumida o fim da fusão do que o presidente da mesa da assembleia geral da Portugal Telecom. Eis os argumentos invocados por António Menezes Cordeiro, em carta enviada à administração da empresa a 6 de janeiro, onde pede a convocação de uma nova assembleia para discutir a resolução do contrato com a Oi:

O incumprimento pela Oi permite à PT SGPS pela lei portuguesa e brasileira, resolver o contrato. A resolução é retroativa e coloca a PT na precisa posição em que estava antes da conclusão do contrato: recupera a totalidade da PT Portugal e devolve as ações (da Oi) que recebeu em troca.

A resolução é extrajudicial, potestativa e imediatamente exequível. A resolução não é detida pelo aumento de capital da Oi que se mantém, só que integrado pela restituição dos valores recebidos pela PT SGPS (ações da empresa brasileira).

Quaisquer danos colaterais são suportados pela Oi, segundo as leis portuguesa e brasileira.

A PT SGPS é neste momento um ativo em contínua erosão (em bolsa). Caso recupere a PT Portugal, ficaria fortemente valorizada.

Os acionistas da PT SGPS têm tudo a ganhar com a resolução do contrato: apenas por falta de informação poderão pensar diversamente”. Logo, conclui Menezes Cordeiro, a alternativa é clara e fácil de explicar e não será difícil de sustentar com pareceres de juristas portugueses e até brasileiros. O presidente da mesa da assembleia geral propõe a convocação de uma nova assembleia com dois pontos em discussão:

1. A resolução do contrato com a Oi por incumprimento desta.

2. Se o primeiro ponto for chumbado, será colocada à discussão a proposta de venda da PT Portugal à Altice.

Contra o fim da fusão com a Oi

Rafael Mora, da Ongoing, e João Mello Franco, presidente da PT SGPS, na assembleia que foi suspensa

Os pareceres jurídicos que sustentam a continuação da combinação de negócios entre a PT e a Oi, apoiam-se, antes de mais, na irreversibilidade do aumento de capital da empresa brasileira. Foi esta operação realizada em maio de 2014 que consumou o casamento entre as duas empresas, ao integrar na Oi, o maior ativo da PT, a PT Portugal, que foi usada para subscrever o aumento de capital.

No parecer com data de 7 de janeiro, feito a pedido de Rafael Mora, a jurista Maria Cristina Cescon, defende que, tendo o aumento de capital da Oi sido homologado a 5 de maio, é válido e eficaz, pelo que a empresa brasileira pode dispor livremente dos ativos cuja propriedade foi transferida pela PT SGPS.

Só em caso de vício – se o aumento de capital tivesse excedido o valor autorizado ou ferido direitos irrevogáveis dos acionistas – poderia ser declarado nulo. Não se constatando qualquer vício referido, “entendemos que que o aumento de capital é irreversível”.

Acrescenta ainda que, uma vez homologada a operação, em hipótese de erro ou vício na avaliação do valor do bem conferido no aumento de capital, a lei brasileira prevê que o subscritor e avaliador possam ser responsabilizados por danos causados à empresa. Ora os ativos entregues pela PT, designadamente a PT Portugal, no quadro do aumento de capital, não refletiam no seu valor o efeito da perda do investimento de 900 milhões de euros na Rioforte.

Entre a documentação jurídica está também um parecer de Pedro Maia, o professor de direito que foi notícia quando contestou o entendimento do governador do Banco de Portugal a um parecer seu sobre a idoneidade de Ricardo Salgado para continuar a ser presidente do Banco Espírito Santo. Aqui o jurista responde a um pedido de Luís Cortes Martins, advogado da Oi.

análise das consequências de uma eventual resolução por parte da PT SGPS do acordo de parceria estratégica, no que toca aos efeitos sobre o aumento de capital e à subscrição de ações pela PT SGPS, deverá fazer-se à luz do direito brasileiro.

Mesmo sem conhecer a fundo a legislação brasileira, e partindo do pressuposto que não diferirá muito da portuguesa, Pedro Maia considera que a eventual resolução por incumprimento de um contrato que previa o aumento de capital, não determina por si só a resolução da operação.

É discutível que o aumento de capital possa ser resolvido (anulado). Em causa está a proteção de terceiros que participaram e do mercado em geral, considerando que a Oi é uma empresa cotada, e que não podem ficar expostos à destruição do aumento de capital por fatores externos à própria operação.

A lei portuguesa diz que em caso de invalidade de aumento de capital em sociedades cotadas na bolsa, o acionista não recebe o valor que prestou à sociedade, mas o valor real das ações, que só poderá ser entregue se não houver risco de incumprimento perante credores.

Com ressalva de alguma previsão contratual ou legal que desconheça, Pedro Maia, conclui: “Não vislumbro de modo nenhum, independentemente de poder existir resolução de contrato – nos termos gerais, por incumprimento da contraparte (a Oi) – de que forma tal resolução poderia implicar por si, a destruição do aumento de capital da Oi na parte subscrita pela PT SGPS”.

Assinalando que a entrega de bens pela PT SGPS – a PT Portugal – decorre do aumento de capital e não do contrato – mantendo-se válido o aumento, não haverá lugar, sequer em abstrato ou por princípio, à repetição da entrega desses bens, “e por conseguinte, mesmo a ocorrer uma resolução por incumprimento, a PT SGPS não iria reaver os ativos entregues no âmbito do aumento de capital. ”

(Fim de citação)

 

 

A busca à sede do Espírito Santo (revisitada pela Sábado)

Sábado, Janeiro 17th, 2015

20150117

Citando

Sábado

Os investigadores passaram nove horas na sede do Grupo. Na cave, encontraram oito caixas com a indicação “documentação para destruir”.

Eram 9h45 do dia 27 de Novembro quando o procurador Rosário Teixeira entrou na sede do Grupo Espírito Santo, na Rua de São Bernardo, 62, em Lisboa. Chegou acompanhado por cinco inspectores da PJ e dois da Autoridade Tributária e, segundo o auto de busca a que a SÁBADO teve acesso, foi recebido por Caetano Beirão da Veiga, o elemento eleito para liderar o grupo depois do escândalo.

Numa primeira ronda pelo edifício, os investigadores verificaram a distribuição dos gabinetes – no piso de cima, estavam o comandante António Ricciardi, presidente do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES); Manuel Fernando Espírito Santo, que liderava os negócios da área não financeira (filho de Maria do Carmo Moniz Galvão, que chegou a ser a mulher mais rica do País); e o próprio Caetano Beirão da Veiga. No piso de entrada e na cave, encontravam-se mais seis quadros dos serviços financeiros e contabilísticos do grupo e duas advogadas, com as respectivas secretárias.

Os investigadores começaram pela sala de reuniões/arquivo, na cave, onde encontraram oito caixas de cartão brancas, etiquetadas e fechadas, com a referência “Documentação para destruir”. José Castella, o controller financeiro do grupo, informou que se tratava do espólio da Comissão de Auditoria da Espírito Santo Financial Group, holding que controlava o BES e a Tranquilidade. Mas nessas caixas estava documentação bastante recente, relacionada com o BES Angola, o Novo Banco, a KPMG, o Banco de Portugal e várias sucursais do banco noutros países.

Se há algo que os responsáveis do grupo quiseram proteger em local seguro foi a gravação da reunião do Conselho de Administração da ESI (Espírito Santo International), realizada no Luxemburgo a 11 de Março de 2014. Encontrava-se numa pen drive, dentro de um envelope, no cofre da sala de arquivo. O mesmo cofre tinha ainda uma pasta de plástico com uma cópia de um acordo entre Hélder Bataglia e a Espírito Santo Resources, sobre a Escom, a empresa envolvida no concurso de aquisição dos submarinos.

De todos os altos quadros do grupo, nenhum tinha tanta informação no gabinete como o controller financeiro, José Castella, o homem que alegadamente – segundo o contabilista – estaria a par da ocultação dos passivos da ESI. De um total de 125 conjuntos de documentação (caixas, pastas ou dossiês), 34 estavam no escritório de José Castella na cave do edifício e referiam-se a relatórios, actas de reuniões, listagens de depósitos do GES no BCP e prints de emails. A José Castella foi ainda apreendido um processador CPU e sete pens, com referências à Escom, à Comporta (nome da herdade da família Espírito Santo) e à Ascendi (empresa do GES que gere concessões de auto-estradas).

Não haverá muitos segredos que tenham ficado por desvendar depois desta incursão. Do Departamento Jurídico foram levados 25 livros de actas das assembleias gerais e das reuniões do Conselho de Administração de 11 entidades ligadas ao Grupo. E do gabinete de Caetano Beirão da Veiga foi retirado um dossiê de argolas azul com “várias tabelas relativas a complementos salariais pagos a diversos colaboradores”.

Pelo menos três responsáveis do grupo tinham documentação relacionada com a Eurofin, a entidade suíça que alegadamente participou num esquema – detectado em Julho – que transferiu 800 milhões de euros do BES para o GES. Um deles era Jorge Penedo, ex-administrador do banco no Panamá, a quem foi também apreendido um portátil.

Ricardo Salgado já não tinha ali gabinete, mas os investigadores recolheram entre os documentos de Manuel Fernando Espírito Santo uma pasta cor de laranja com informação sobre três assuntos: o “registo de sociedades no Luxemburgo”, “bens móveis pertença de Ricardo Salgado” e a ES Resources Bahamas.

Pela lógica, a pasta mais volumosa nesta fase crítica do grupo deveria ser a que estava no gabinete do comandante António Ricciardi, com a designação “Problemas a resolver”. Mas dificilmente estaria completa: foi “feita com o verso de um envelope A4”.

(Fim de citação)

Dívida do GES ao BES ficou protegida com garantia angolana

Sexta-feira, Janeiro 16th, 2015

20150116

A Escom e a sua derivada Legacy são uma peça do jogo GES-BES. Um jogo que passou pelo BESA e que estava num tabuleiro protegido pela garantia angolana.
Citando

Jornal de Negócios

O Grupo Espírito Santo usou a garantia de Angola para esconder buracos que tinha no Banco Espírito Santo. O BES era um dos grandes financiadores da Escom, que pertencia ao GES. A Escom foi dividida em duas: Escom BV e Escom Investments Group. A primeira era a que tinha activos bons; a segunda os problemáticos. A segunda acabou por ser transformada em Legacy – com um património praticamente falido – e foi vendida por três euros. Quem a comprou foi a Vaningo, sociedade de direito angolano da qual não se conhece o beneficiário. A Legacy manteve uma dívida que tinha para com o BES.

Os juros da dívida ao BES continuaram a ser pagos pela ESI, do GES, mesmo com a Legacy fora do grupo. Mas o crédito – agora na Vaningo – foi transferido do BES para o BESA. Passou a ter uma garantia do banco angolano e, posteriormente, o crédito passou a estar protegido pela garantia angolana.

A leitura que pode ser feita é a de que o Estado angolano, em último caso, estava a garantir a dívida de uma empresa do GES ao BES. A audição de Sikander Sattar, presidente da KPMG Portugal e da KPMG Angola (auditoras do BES e BESA, respectivamente), foi à porta fechada, pelo que o esclarecimento feito não é público. Os deputados têm levantado dúvidas sobre este negócio, que é falado pela auditoria feita pela KPMG às contas da ESI.

Da audição de Sattar nenhuma informação foi transmitida pelos deputados – a não ser Fernando Negrão, o presidente da comissão de inquérito, que afirmou que a mesma tinha sido útil. Sabe-se apenas que o presidente da KPMG não se quis comprometer directamente com nada.

O BESA tinha créditos de 5,7 mil milhões de dólares de cujos beneficiários se tinha perdido o rasto, conforme relatou o Expresso em Junho de 2014 – reflectindo a assembleia-geral do banco angolano de Outubro de 2013, em que Álvaro Sobrinho, presidente do BESA até 2012, ano em que entrou em ruptura com Ricardo Salgado, foi questionado pelos referidos créditos – sobre os quais se conhecem as empresas beneficiárias mas não quem está por trás delas.

Há uma matéria que continua polémica – a garantia estatal, que causou dúvidas ao Banco de Portugal, era o motivo para que o BES não tenha sido obrigado a constituir uma provisão para a linha de financiamento de 3,3 mil milhões de euros que tinha para com o BESA. A justificação tem sido a de que créditos garantidos não são provisionados. Contudo, desde 2012 que havia reservas nas contas do BESA a reflectir dúvidas sobre os financiamentos cedidos pelo BESA.

(Fim de citação)