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Nem o BCP nem o BPI apresentaram propostas firmes para a compra do Novo Banco, o que deixa o ex-BES mais próximo de outros interessados
O BPI e o BCP, únicas entidades bancárias presentes em Portugal que se apresentaram à corrida pelo Novo Banco, não avançaram com propostas firmes para a aquisição da instituição, encontrando-se por isso na cauda da lista dos interessados. Este facto abre a porta à entrega do Novo Banco aos fundos presentes na corrida ou ao grupo chinês Minsheng, que corre pela dispersão em bolsa.
Se no caso do BCP já era conhecida a falta de substância da proposta apresentada pelo banco, algo que a própria administração assumiu publicamente, agora, e segundo o Dinheiro Vivo apurou, também a oferta que o BPI efetivamente apresentou deve ser colocada no mesmo cesto. As ofertas nacionais estão, assim, e na melhor das hipóteses, degraus abaixo daquelas que chegaram por parte dos fundos e do grupo chinês igualmente interessado no Novo Banco.
A ausência de propostas firmes por parte de BCP e BPI pelo capital do Novo Banco deverá provavelmente deixá-los de fora da corrida por este banco. A segunda tentativa de venda do ex-BES está a cargo de Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado dos Transportes, contratado pelo Banco de Portugal (BdP) para liderar o processo. Será também à conta da falta de substância das propostas apresentadas que nem BCP nem BPI avançaram entretanto com qualquer esclarecimento ao mercado sobre a participação neste processo de venda.
De facto, e quando decorrem negociações de compra ou similares envolvendo empresas cotadas em bolsa, e na existência de uma proposta sólida, o mercado deve ser informado das mesmas. As empresas até podem pedir uma exceção a esta obrigação porém, assim que o seu nome chega aos jornais – como ocorreu com BCP e BPI, cuja participação nesta segunda tentativa de venda do Novo Banco foi amplamente noticiada -, tal exceção já não é possível. Ou seja, e do ponto de vista formal, caso BPI e BCP tivessem apresentado propostas firmes, estas já deveriam ter sido comunicadas. Ainda quanto ao caso específico do BPI, também não é demais relembrar que, estando este banco a ser alvo de uma oferta pública de aquisição (OPA), a sua administração está com os poderes de gestão limitados.
Desta forma, e para que Fernando Ulrich e a sua equipa avançassem com uma proposta firme pelo Novo Banco, a mesma teria que ser primeiro sufragada por acionistas – o que não ocorreu. O Banco de Portugal comunicou a 4 de novembro ter recebido cinco propostas no âmbito dos dois procedimentos de venda do Novo Banco que tem em curso. Sem avançar com nomes dos concorrentes, tanto o DN/DV, como outros meios, confirmaram no próprio dia que na corrida estavam o BCP e o BPI, além do fundo Lone Star e o consórcio entre os fundos Apollo/Centerbridge. Este conjunto de interessados apresentou-se para a compra de 100% do banco de transição. Já o grupo Minsheng é o quinto interessado, ainda que correndo pela venda de parte do banco através do mercado.
Sobre a participação no processo de venda, Nuno Amado, CEO do BCP, assumiu desde logo que o banco se tinha limitado a apresentar “uma carta de interesse”, sem avançar sequer com valores. Já o BPI remeteu-se ao silêncio. Venda: fase de esclarecimento Apesar das propostas de BCP e do BPI não serem firmes, os cinco interessados no Novo Banco continuam a ser ouvidos pelos responsáveis pela venda da instituição, soube o Dinheiro Vivo. O objetivo desta fase é obter mais esclarecimentos sobre as propostas mas também apurar a “firmeza” das propostas de BPI e BCP, ou se todos cumprem os requisitos. Mas apesar de todos estarem a ser ouvidos, do lado vendedor também já é assumido que os bancos portugueses estão abaixo das propostas dos fundos e do grupo Minsheng.
Sérgio Monteiro e a equipa responsável pelo segundo processo de venda do Novo Banco, além dos diálogos com os os cinco interessados para esclarecer aspetos das ofertas, encontra-se igualmente em contactos constantes com a Comissão Europeia e o governo português, de forma a manter estas autoridades a par dos avanços . O BdP mantém a esperança de fechar o processo até ao final do ano, sendo certo que a venda de ativos do Novo Banco aos bocados está riscada. O segundo processo de venda do Novo Banco foi aberto em janeiro deste ano depois da primeira tentativa ter sido suspensa em setembro do ano passado, por falta de “qualidade” das propostas.