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Supervisor soube em março de 2014 da grave situação financeira da Rioforte, através de um relatório da PwC, mas só em julho fez soar os alertas, revela a revista “Visão”. E pelo meio permitiu um aumento de capital de mil milhões de euros no BES
O Banco de Portugal desvalorizou em 2014, durante quatro meses, que a Rioforte, do Grupo Espírito Santo (GES), apresentava uma situação patrimonial negativa de 945 milhões de euros. Segundo revela esta quinta-feira a revista “Visão”, o supervisor recebeu em março de 2014 um relatório da auditora PwC que apontava aquele buraco na Rioforte, mas ao mesmo tempo uma outra versão do relatório dirigida a outros bancos dizia que as instituições financeiras não precisavam de constituir imparidades sobre a Rioforte.
Só no final de julho de 2014, pouco antes da resolução do Banco Espírito Santo (BES) e da sua passagem a Novo Banco, é que o país ficou a conhecer os problemas na Rioforte. Os bancos em Portugal só foram avisados de que deveriam constituir imparidades sobre os créditos dados ao GES a 23 de julho de 2014, segundo a “Visão”.
O Banco de Portugal justificou à Visão a não revelação dos problemas da Rioforte logo em março com o facto de no seu relatório a PwC ter admitido também que a Rioforte e as suas subsidiárias (como a rede hoteleira Tivoli e a Herdade da Comporta) tinham capacidade para gerar ‘cash flow’ suficiente para fazer face ao serviço da dívida, pelo que não tinha sido então “apurado qualquer desvio de imparidade”.
Segundo o Banco de Portugal, esse cenário (capacidade de pagar dívida) só mudou no decurso do primeiro semestre de 2014, quando falhou o plano de desalavancagem da Espírito Santo International (ESI), empresa do GES que tinha uma dívida oculta e que era a principal acionista da Rioforte.
Um dos relatórios feitos pela PwC referia que os problemas da Rioforte se agravaram com a compra da Espírito Santo Financial Group (ESFG) à ESI. “De notar que em 2014 o equity [capital] da Rioforte é negativo, fundamentalmente devido à compra da ESFG à ESI”, refere o documento citado pela “Visão”.
Mas nos relatórios da PwC entregues aos outros bancos não havia referências à insolvência da Rioforte nem riscos de crédito associados a esta empresa do GES.
Uma omissão que se estendeu ao aumento de capital de mais de mil milhões de euros que foi levado a cabo no BES em junho de 2014. A operação foi autorizada pelo Banco de Portugal, apesar de a instituição liderada por Carlos Costa já então saber da gravidade da situação financeira da Rioforte, cuja dívida continuava a ser vendida aos balcões do BES a clientes particulares que acabariam por ser lesados em largos milhões de euros. E a Rioforte, na altura, por ser acionista da ESFG, tinha já uma posição acionista no banco.