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Dívida do GES ao BES ficou protegida com garantia angolana

Sexta-feira, Janeiro 16th, 2015

20150116

A Escom e a sua derivada Legacy são uma peça do jogo GES-BES. Um jogo que passou pelo BESA e que estava num tabuleiro protegido pela garantia angolana.
Citando

Jornal de Negócios

O Grupo Espírito Santo usou a garantia de Angola para esconder buracos que tinha no Banco Espírito Santo. O BES era um dos grandes financiadores da Escom, que pertencia ao GES. A Escom foi dividida em duas: Escom BV e Escom Investments Group. A primeira era a que tinha activos bons; a segunda os problemáticos. A segunda acabou por ser transformada em Legacy – com um património praticamente falido – e foi vendida por três euros. Quem a comprou foi a Vaningo, sociedade de direito angolano da qual não se conhece o beneficiário. A Legacy manteve uma dívida que tinha para com o BES.

Os juros da dívida ao BES continuaram a ser pagos pela ESI, do GES, mesmo com a Legacy fora do grupo. Mas o crédito – agora na Vaningo – foi transferido do BES para o BESA. Passou a ter uma garantia do banco angolano e, posteriormente, o crédito passou a estar protegido pela garantia angolana.

A leitura que pode ser feita é a de que o Estado angolano, em último caso, estava a garantir a dívida de uma empresa do GES ao BES. A audição de Sikander Sattar, presidente da KPMG Portugal e da KPMG Angola (auditoras do BES e BESA, respectivamente), foi à porta fechada, pelo que o esclarecimento feito não é público. Os deputados têm levantado dúvidas sobre este negócio, que é falado pela auditoria feita pela KPMG às contas da ESI.

Da audição de Sattar nenhuma informação foi transmitida pelos deputados – a não ser Fernando Negrão, o presidente da comissão de inquérito, que afirmou que a mesma tinha sido útil. Sabe-se apenas que o presidente da KPMG não se quis comprometer directamente com nada.

O BESA tinha créditos de 5,7 mil milhões de dólares de cujos beneficiários se tinha perdido o rasto, conforme relatou o Expresso em Junho de 2014 – reflectindo a assembleia-geral do banco angolano de Outubro de 2013, em que Álvaro Sobrinho, presidente do BESA até 2012, ano em que entrou em ruptura com Ricardo Salgado, foi questionado pelos referidos créditos – sobre os quais se conhecem as empresas beneficiárias mas não quem está por trás delas.

Há uma matéria que continua polémica – a garantia estatal, que causou dúvidas ao Banco de Portugal, era o motivo para que o BES não tenha sido obrigado a constituir uma provisão para a linha de financiamento de 3,3 mil milhões de euros que tinha para com o BESA. A justificação tem sido a de que créditos garantidos não são provisionados. Contudo, desde 2012 que havia reservas nas contas do BESA a reflectir dúvidas sobre os financiamentos cedidos pelo BESA.

(Fim de citação)

Garantia de Angola assegurava pagamento de dívida de 183 milhões ao BES

Sexta-feira, Janeiro 16th, 2015

20150116

A maioria dos créditos abrangidos pela garantia terá sido dada durante a gestão liderada por Álvaro Sobrinho

Citando

Observador

Entre os créditos cobertos pela garantia de Angola estava uma dívida de 183 milhões de euros ao BES. A dívida era da Legacy. O GES vendeu a Legacy a uma empresa angolana, mas continuou a pagar juros.

A garantia soberana atribuída pelo presidente angolano aos créditos do BESA (Banco Espírito Santo Angola) assegurava o pagamento de uma dívida ao Banco Espírito Santo (BES) contraída por uma empresa que tinha sido vendida pelo Grupo Espírito Santo (GES).

Em causa está a concessão de uma garantia por parte do BESA ao BES em nome de uma empresa angolana, a Vaningo, no valor de 183 milhões de euros. Esta sociedade comprou em 2010 uma empresa de direito português ao Grupo Espírito Santo (GES), a Legacy, que tinha uma dívida para com o BES. Os nomes Legacy e Vaningo têm aparecido várias vezes na comissão parlamentar de inquérito aos atos de gestão do Banco Espírito Santo (BES) e do GES, tendo sido já associada ao negócio de venda da Escom à Sonangol, contratualizado em 2010, mas nunca concretizado.

A dívida da Legacy ao BES e o facto de estar coberta por uma garantia emitida pelo BESA a favor da casa-mãe, surgem na auditoria realizada pela KPMG às contas da Espírito Santo International (ESI). Segundo este relatório, a Vaningo pagou à ESI três euros para adquirir uma empresa que no ano em que foi alienada tinha um ativo de dois milhões de dólares para um passivo de 306 milhões de dólares.

Se estes números são já um sinal de alerta sobre o racional de negócio, há outra pista que alimenta a desconfiança dos deputados quanto à credibilidade da transação. Mesmo depois de ter vendido a Legacy, a ESI continuou a pagar os juros da dívida desta empresa, conforme é descrito na auditoria às contas daholding do GES. Entre 2010 e 2013, o montante pago ao BES ascendeu a cerca de 40 milhões de euros. Em 2013, o valor em dívida ao BES era de 183 milhões de euros e, segundo a auditoria da KPMG, esta dívida estava colaterizada pelo BESA ao BES no mesmo montante.

A análise realizada pela KPMG Angola aos créditos cobertos pelo aval do Estado angolano ao BESA verificou que este incluía no seu anexo a garantia concedida pelo BESA ao BES, em nome da Vaningo. Nada indicia, conclui a auditoria feita pela KMPG, que o BESA, com o suporte do Estado angolano, não irá assumir as responsabilidades assumidas pela Vaningo para com o BES. 

A garantia de Luanda visava salvaguardar créditos a empresas angolanas que correspondiam a operações importantes para o plano nacional de desenvolvimento do país. O BESA só podia conceder uma garantia de crédito a uma empresa angolana como era o caso da Vaningo. Mas, na prática, a participada angolana do BES passou a ser responsável pelo pagamento da dívida da Legacy, empresa portuguesa detida pela sua cliente Vaningo, à sua casa-mãe, o Banco Espírito Santo.

Em caso de incumprimento por parte da Legacy, a Vaningo acionava a garantia do BESA. E como esta operação estava na lista dos créditos protegidos pelo Estado angolano, quando a sua garantia fosse executada, Luanda estaria a pagar uma dívida ao BES. O cenário de incumprimento do crédito seria inevitável dado o colapso financeiro da ESI, a empresa que estava a pagar os juros do empréstimo da Legacy, a partir de meados de 2014.

A garantia do BESA ao pagamento desta dívida terá sido concedida logo em 2010, quando Álvaro Sobrinho liderava a instituição, mas só aparece nas contas do banco angolano em 2013, ano em que foram identificados os créditos em risco que iriam beneficiar da garantia irrevogável do Estado angolano.

A história por trás destas operações tem vindo a ser reconstituída ao longo de várias audições na comissão de inquérito, tendo o depoimento do presidente da KPMG Angola, realizado esta quarta-feira, dado mais um contributo para atar pontas soltas. Sikander Sattar falou à porta fechada para proteção do sigilo bancário angolano. E, apesar de não ter feito revelações bombásticas, tanto quanto o Observador conseguiu confirmar, o seu testemunho foi importante para confirmar notícias já publicadas e compreender informação já na posse dos deputados.

É o caso do relatório e contas do BESA de 2011. Neste documento, que é público, a auditora KPMG colocou várias reservas às contas do banco angolano que, no entender dos deputados, deveriam ter suscitado mais cedo uma intervenção do acionista BES e do próprio Banco de Portugal.

Reservas indiciavam bomba relógio nas contas do BESA 

O auditor alerta que o BESA não possui à data do relatório “desenvolvimentos informáticos que permitam a identificação efetiva das operações de crédito que foram objeto de reestruturações, do grupo económico em que cada cliente se insere,pelo que não nos é possível concluir acerca da adequação do montante registado na rubrica provisão para créditos de liquidação duvidosa, face aos requisitos” da lei angolana.

A opinião da KPMG Angola tem a data de outubro de 2012, um mês antes de Álvaro Sobrinho deixar a presidência executiva do banco, mas só um ano mais tarde, na assembleia geral do BESA, os acionistas terão tido informação sobre a dimensão do buraco no crédito, da ordem dos 5,7 mil milhões de euros, e que justificou a concessão da garantia do Estado angolano. O BES nunca fez qualquer provisão em relação à sua participada, não obstante a garantia de Luanda só ter sido concedida no final de 2013.

Só quando esta situação foi noticiada pelo Expresso, a 7 de julho de 2014, é que o Banco de Portugal terá feito perguntas sobre o tema. Até então, a intervenção do supervisor estava centrada na discussão da garantia de Angola que acabou por aceitar como válida. A garantia “firme, definitiva e irrevogável” servia de almofada de proteção ao BES em relação ao empréstimo de 3,3 mil milhões de euros, concedido à filial angolana, mas acabou por ser revogada, dias depois da resolução do Banco Espírito Santo, em agosto de 2014. Ainda antes, o Banco Nacional de Angola já tinha comunicado ao Banco de Portugal que iria intervir no BESA.

O mistério dos clientes de alto risco em Angola

Outra dúvida que persiste é a identidade dos destinatários dos créditos do BESA que beneficiavam da proteção de Luanda. A lista dos empréstimos de alto risco, porque concedidos sem garantias e em alguns casos sem destinatário final conhecido, consta de um anexo ao documento assinado a favor do BESA e que foi negociado diretamente por Ricardo Salgado, então presidente do BES, e as autoridades angolanas, designadamente José Eduardo dos Santos. Até agora, quase todas as pessoas ouvidas na comissão de inquérito afirmaram desconhecer a lista. Sikander Sattar terá sido uma exceção já que era presidente da KPMG Angola, empresa que certificou os créditos a incluir na garantia.

A informação e testemunhos já ouvidos permitiram, entretanto, concluir que não estão identificados os grupos económicos a que estavam ligados os clientes referidos na garantia, pelo que não será fácil chegar aos beneficiários finais e apurar se, entre eles, há acionistas ou administradores do BESA, para além de figuras relevantes do regime angolano.

Sabe-se, no entanto, que uma parte dos créditos cobertos por Luanda diz respeito a empresas do universo Espírito Santo, designadamente a Escom. O administrador Luís Horta e Costa confirmou, esta semana, que a empresa tinha uma dívida superior a 300 milhões de euros ao BESA, tendo contudo assinalado que teria sido dos poucos clientes a apresentar garantias reais, neste caso ativos imobiliários em Angola.

(Fim de citação)

Carlos Costa: O plano que a troika trazia levava o Banco de Portugal a nacionalizar a banca

Sexta-feira, Janeiro 16th, 2015

 

20150116

Citando

Observador

Carlos Costa diz que evitou que a troika fizesse explodir a dívida pública e a nacionalização da banca. E antecipa uma concentração bancária na Europa.

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa

O governador do Banco de Portugal afirmou que a troika defendeu um modelo de recapitalização da banca diferente, que teria implicado a nacionalização do setor e um aumento de 20 a 30 pontos do rácio da dívida.

Quando o resgate de Portugal foi negociado, em 2011, o envelope financeiro emprestado pelos parceiros europeus e pelo Fundo Monetário Internacional incluía um valor consignado à recapitalização dos bancos portugueses que revelassem essa necessidade, de 12 mil milhões de euros.

“A história dos bancos portugueses é uma história de convalescença longa que resulta do facto de se ter poupado o agente público ao impacto de um endividamento súbito que teria necessariamente uma dimensão dos 20 a 30 pontos percentuais”, afirmou hoje Carlos Costa num jantar-debate em Lisboa organizado pelo think-tank Portugal XXI.

De acordo com o governador do Banco de Portugal, “quando a troika cá chegou, tinha um número na cabeça para o fundo de recapitalização [da banca] que não era 12 [mil milhões de euros]” e chegar a esse valor só foi possível “depois de se ajustar o modelo de escrutínio do sistema àquilo que eram as necessidades de capital” dos bancos.

“Tínhamos dois modelos alternativos: termos em 2012 o sistema financeiro todo nacionalizado por insuficiência de capital e tínhamos hoje um grande programa de privatizações em curso e mais dívida pública; ou termos seguido o processo que seguimos com os riscos que obviamente comporta e segui-lo de forma metódica”, revelou Carlos Costa.

“Feito o balanço, acho que fizemos a escolha certa (…) Não imaginam hoje a dívida pública portuguesa ser de 150 ou 155% do PIB [Produto Interno Bruto]. Não imaginam o que isto significaria em termos de posicionamento no mercado e de pressão sobre a República”, disse ainda o governador, acrescentando que “a República respira hoje com muito mais tranquilidade”.

Durante a sua intervenção, Carlos Costa referiu-se aos casos irlandês, grego e espanhol, que “fizeram uma operação muito clara de recapitalização à cabeça” dos seus bancos, “transferindo os ativos problemáticos para veículos e registando perdas de capital significativas”, o que teve como consequência “um aumento da dívida pública da mesma dimensão” desses ativos. Se a mesma solução tivesse sido aplicada a Portugal, Carlos Costa acredita que, “em vez dos 40 mil milhões [de euros] de imparidades [que a banca portuguesa registava desde 2008] de forma gradual, numa situação de venda forçada seria um número superior”.

Ainda assim, o governador do banco central fez um exercício para calcular o impacto de uma recapitalização dos bancos portugueses semelhantes à que se realizou noutros países europeus. “Vamos imaginar que eram [imparidades de] 40 mil milhões. [Nesse caso] seriam 25 pontos percentuais de dívida adicional para o país e teríamos hoje uma dívida muito superior ao que temos”, afirmou.

Carlos Costa disse ainda que este “era o modelo preconizado pela troika”, o que lhe valeu “nas salas do Banco de Portugal um braço de ferro” para que Portugal seguisse “uma via diferente”. “Para mim, foi um grande risco, mas para o país estou convencido que o futuro dirá que foi um grande alívio, porque evitámos um aumento do stock da dívida que teria criado junto dos mercados internacionais uma noção de insustentabilidade, o que teria para um país como um nosso um resultado muito grave”, disse ainda Carlos Costa.

(Fim de citação)

 

Machado da Cruz: “No BES não havia rei nem roque!”

Quinta-feira, Janeiro 15th, 2015

20150115

Citação

A SÁBADO divulga na revista de 15 de Janeiro as declarações do contabilista na comissão de inquérito ao BES, onde, em clima de grande secretismo, denunciou os “luxos” que destruíram o grupo.

No Banco Espírito Santo (BES) não havia rei nem roque; às vezes dizíamos que aquilo não era um grupo – era um ajuntamento.” Esta foi a frase que marcou uma das audições mais aguardadas na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES. Depois de ter sido directamente responsabilizado por Ricardo Salgado pela ocultação das contas da Espírito Santo Internacional (ESI), Francisco Machado da Cruz, numa inquirição que decorreu em grande secretismo, à porta fechada, garantiu que se limitou a cumprir ordens. A SÁBADO apurou que o ex-comissaire aux comptes foi inequívoco em relação ao papel do líder histórico do BES, ao afirmar que “havia um dono disto tudo, que mandava nisto tudo”.

Confessando-se “arrependido” e “angustiado”, Machado da Cruz reconheceu perante os deputados que ocultou os prejuízos da ESI para mascarar as contas do Grupo Espírito Santo (GES). “O passivo foi ocultado porque o GES estava a ter perdas significativas. Era suposto ter sido só neste ano, mas continuou, infelizmente, em 2009, 2010, 2011 até 2013”, afirmou.

Em 2008, foram “escondidos” 180 milhões de euros de prejuízo. Um valor que nos anos que se seguiram quase multiplicou por dez: no final de 2013 fixou-se em 1,3 mil milhões de euros. Nessa altura, Machado da Cruz já antevia uma calamidade. Quando soube que, em Dezembro de 2013, a auditora KPMG se preparava para verificar as contas da ESI, disse a José Castella, o controller financeiro do GES: “Esta visita pode ser o início de uma arma financeira de destruição massiva” – e foi mesmo.

O descalabro era, garantiu Machado da Cruz, do conhecimento de Salgado, a quem apresentava sempre dois documentos: um com as contas falsas; outro com as verdadeiras – e, entre assumir o caos ou optar pela ficção contabilística, o líder do BES terá escolhido sempre a segunda opção. “Não fui eu que tive a ideia de ocultação, foi Ricardo Salgado”, acrescentou.

Embora nunca tenha descartado as suas responsabilidades, o ex-funcionário do GES disse aos deputados que aceitou cumprir as orientações do presidente do BES por uma questão de “lealdade” ao chefe, que lhe terá garantido que tudo se iria resolver. E ele acreditou porque quem lho dizia era “o homem mais poderoso do País”.

Apesar de o tema forte da audição ter sido a ocultação das contas da ESI – que foi determinante na falência do grupo –, Machado da Cruz, cuja actuação está a ser investigada judicialmente em Portugal e no Luxemburgo, aproveitou ainda para fazer uma revelação que surpreendeu a assistência: Ricardo Salgado tê-lo-á aconselhado a esconder-se num país que não tivesse acordo de extradição para Portugal, de modo a proteger-se no caso de a justiça portuguesa querer ouvi-lo. A verdade é que a comissão parlamentar de inquérito teve dificuldades em localizá-lo, mas acabou por ser o próprio Machado da Cruz quem, depois de Ricardo Salgado – que já se disponibilizou para responder ao seu ex-funcionário no parlamento –, o ter responsabilizado pelo “descontrolo” das contas, solicitou formalmente a marcação de uma audição. “Nunca estive desaparecido”, revelou. “Tenho família na Suíça, tenho lá a minha filha, vivi lá muito tempo.”

O ex-contabilista era um inimigo indesejado. Conhecia todos os segredos do GES. Sobre a Rioforte, a empresa de topo do ramo não financeiro, revelou que um dia disse a Ricardo Salgado que esta “vivia de luxos”. Proposta do patrão: que fosse para lá e que acabasse com eles. “Quando cheguei, o dr. Manuel Fernando Espírito Santo, chairman, pediu-me para ter calma senão o dr. João Pena (presidente executivo da Rioforte Investments) e o dr. Gonçalo Cadete (CFO) iam-se embora. Não me deixou ir partir a loiça…”

(Fim de citação)

 

Auditoria ao investimento da PT na Rioforte. Salgado foi o único que não respondeu

Sexta-feira, Janeiro 9th, 2015

20150109

Citando

A auditora PwC ouviu Granadeiro, Bava, Mora, Morais Pires e Joaquim Goes, entre outros sobre o financiamento que a PT fez à Rioforte, a holding não financeira do grupo GES/BES. Só não conseguiu entrevistar Salgado. o ex-líder do BES omitiu informação sobre a Rioforte quando pediu à PT para investir.

Ricardo Salgado diz que a única coisa que não previu foi o efeito da queda do grupo na PT

A PricewaterhouseCoopers (PwC) entrevistou vários ex-gestores da Portugal Telecom e do Banco Espírito Santo (BES) para apurar todas as circunstâncias que rodearam os investimentos realizados em empresas detidas pelo Grupo Espírito Santo (GES), que através do BES era o maior acionista da operadora.

Entre as 15 pessoas ouvidas estão Henrique Granadeiro e Luiz Pacheco de Melo, os dois responsáveis da PT que se demitiram na sequência do investimento de 897 milhões de euros na Rioforte, mas também Zeinal Bava, João Mello Franco (atual presidente da PT SGPS e antigo membro da comissão de auditoria), Rafael Mora, administrador da PT e da Ongoing, Amílcar Morais Pires e Joaquim Goes, dois ex-administradores do BES que estavam representados no conselho de administração da operadora de telecomunicações. Só não conseguiu chegar à fala com o homem que terá dado indicação expressa à PT para investir na Rioforte, apesar de não exercer qualquer cargo na empresa.

“Não foi possível, apesar dos contactos estabelecidos, entrevistar o Dr. Ricardo Salgado”, revelam as conclusões da auditoria divulgadas pela empresa na quinta-feira à noite. O documento sugere que o ex-presidente do BES omitiu informação sobre a situação financeira da Rioforte na reunião em que apresentou a nova holding do GES ao administrador financeiro da PT no início de 2014.

Neste encontro com Luíz Pacheco de Melo, o então presidente do BES detalhou o plano de reestruturação do Grupo Espírito Santo, indicando que os investimentos realizados até então na Espírito Santo International, e que à data ascendiam a 750 milhões de euros, deveriam ser desviados para a Rioforte. A apresentação era omissa sobre a situação financeira da Rioforte, que se degradou substancialmente depois das operações concluídas uma semana antes por via da compra da participação da ESI na Espírito Santo Financial Group (ESFG). De acordo com a PwC, o preço desta transação foi fixado muito acima do valor de mercado, representando 4,34 vezes a capitalização bolsista da ESFG, tendo a Rioforte passado de credora da ESI para devedora de 1,4 mil milhões de euros.

O nome de Ricardo Salgado é ainda invocado numa reunião realizada no BES a 26 de março entre o chief finance officer da PT, o diretor financeiro Carlos Cruz, e Amílcar Morais Pires, administrador financeiro do BES que serviu para analisar a continuação do investimento da PT na Rioforte. Neste encontro, Morais Pires diz que o presidente do BES lhe terá transmitido que a renovação da aplicação já teria sido combinada com Granadeiro e Zeinal Bava, envolvendo aqui o então presidente da Oi. Pacheco de Mello invoca orientações de Henrique Granadeiro, à data presidente executivo da PT.

Na audição na comissão parlamentar de inquérito, Ricardo Salgado lamentou o que aconteceu à PT, acrescentando que foi a única consequência que não previu quando alertou o Banco de Portugal para os efeitos sistémicos da queda do grupo e do banco. “Foi uma tristeza o que aconteceu na PT. Foi o único elemento que não previ”, afirmou o antigo presidente do BES.

O investimento na Rioforte de 897 milhões de euros foi renovado a 15 e 17 de Abril por três meses, quando já tinha sido aprovado o relatório e contas de 2013 da holding não financeira em que o auditor alertava para o excesso de passivos sobre os ativos correntes na sequência da compra da ESFG, que foi financiada com dívida de curto prazo (foi uma parte desta dívida que a PT refinanciou), avisando, ainda, para a incerteza quanto ao processo em curso de extensão da maturidade dos empréstimos.

Segundo testemunhou na comissão de inquérito ao BES o ex-presidente executivo da Rioforte, este relatório estava disponível quando a PT renovou a aplicação. João Pena Rodrigues garante que a operadora nunca contactou a administração da empresa onde investiu 897 milhões de euros.

Mais do que renovar a operação, o que a auditoria revela é que a PT teve de ir ao mercado levantar dinheiro, aumentando a dívida, para poder cumprir os seus compromissos no aumento de capital da Oi, devido à aplicação feita na Rioforte. Não foi, aliás, a primeira vez. Já em maio de 2013, a empresa, então liderada por Zeinal Bava (que só assumiu a presidência da Oi no mês seguinte), emitiu obrigações no valor de mil milhões de euros, dos quais metade foi usada para subscrever títulos da Espírito Santo International (ESI).

Decisões informais sem evidência de quem as tomou

A PwC assinala as várias restrições e limitações a que foi sujeito o seu trabalho, designadamente ao nível do acesso a documentos e análises que poderão estar na posse de pessoas que já não estão na empresa. Refere informações contraditórias prestadas pelos entrevistados e decisões tomadas de forma informal e sem ser deixada evidência sobre quem tomou determinada decisão ou sobre quem aprovou determinada transação.

Levanta ainda a questão: em que medida é que os dois administradores da PT que também eram do BES, Joaquim Goes e Amílcar Morais Pires, deveriam ter alertado para o risco de solvabilidade da ESI e Rioforte, mas conclui que não foi possível apurar que tivessem conhecimento das dificuldades financeiras dessas entidades.

O que disseram os ex-gestores do BES na comissão de inquérito sobre o investimento da PT na Rioforte

Ricardo Salgado “Foi uma tristeza o que aconteceu na PT. Foi o único elemento que não previ. O BES sempre esteve ao lado da PT para financiar todas as empresas que a PT comprou.”

Amílcar Morais Pires “Nunca tomei uma iniciativa para sugerir investimentos na Rioforte ou na ESI. Do lado do banco, só podia ter sido Ricardo Salgado a dar indicação para a PT realizar o investimento.”

Joaquim Goes “Nunca tive conhecimento direto do investimento da PT no Grupo Espírito Santo. Nunca tive intervenção e o caso nunca foi discutido no conselho de administração.”

(Fim de citação)

Presidente da comissão de inquérito ao BES diz que contabilista respondeu a “todas as perguntas”

Sexta-feira, Janeiro 9th, 2015

20150109

Contabilista do GES Francisco Machado da Cruz [Lusa]

Uma sessão à porta fechada. Foi assim que Machado da Cruz foi ouvido no inquérito parlamentar ao BES. Mas houve respostas, segundo Fernando Negrão.

TVI24 (c/ Lusa)

O presidente da comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES disse hoje que o ex-contabilista da Espírito Santo International (ESI) respondeu a “todas as perguntas” na audição hoje tida à porta fechada.

“Todas as perguntas foram respondidas”, disse Fernando Negrão (PSD) aos jornalistas no final da audição de Francisco Machado da Cruz. Uma posição completamente diferente da que teve no dia anterior, depois da audição ao tesoureiro do GES, José Castella, que se recusou a falar sobre temas sob segredo de justiça.

O ex-contabilista da ESI foi ouvido pelos deputados durante cerca de nove horas, tendo começado a ser escutado cerca das 16:00 de quinta-feira e prolongado a sua presença em sede de comissão até às 01:00 de sexta-feira.

“Foi uma sessão com muitas horas, mas foi uma sessão profícua, com declarações com interesse, obviamente, para a descoberta dos factos”, declarou Fernando Negrão no final da sessão.

Sobre a importância da presença do ex-contabilista da ESI no parlamento, o presidente da comissão realçou que a audição de Machado da Cruz “foi importante como as outras”.

No que refere a uma eventual divulgação pública do conteúdo – ou de partes do mesmo – da reunião, Negrão disse que cabe ao contabilista considerar ou não essa possibilidade.

Já quando questionado sobre se num eventual regresso de nomes como Ricardo Salgado, José Maria Ricciardi ou Carlos Costa ao parlamento seriam utilizados temas hoje referidos, Fernando Negrão lembrou que já houve audições com partes abertas aos órgãos de comunicação social e outras fechadas.

Quando Sikander Sittar, presidente da KPMG Portugal, esteve na comissão parlamentar à gestão do BES e do GES, deu-se esse caso, recorde-se.

“Essa pode ser uma solução” a ser repetida num eventual cenário futuro, reconheceu o presidente da comissão.

Machado da Cruz esteve a ser ouvido numa sessão à porta fechada com o contabilista a alegar segredo de justiça em virtude de processos em curso no Luxemburgo.

De todo o modo, algumas informações sobre a audição foram saindo da sala das comissões parlamentares onde as personalidades requisitadas têm sido ouvidas.

(Fim de citação)

Morais Pires e Joaquim Goes visados na auditoria à PT

Sexta-feira, Janeiro 9th, 2015

20150109

Morais Pires, na primeira inquirição pela CPI sobre o BES em dezembro de 2014.

Citando 

A PwC recomenda que PT SGPS efectue uma análise jurídica ao comportamento dos antigos administradores executivos do BES, por estes se sentarem também no conselho de administração da PT.

O documento divulgado pela PT SGPS com as conclusões da auditoria da PwC às relações com o BES sugere que, por estarem sentados nos dois órgãos de administração, Morais Pires e Joaquim Goes possam ter responsabilidade nos investimentos em papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo. E recomenda que a PT SGPS faça uma análise jurídica.

A PwC começa por dizer que, embora nomeados em nome individual, é do seu entendimento que a inclusão dos seus nomes na lista de administradores aprovada em assembleia-geral resultará da posição aciconista que o BES detém na PT SGPS. E refere que “o BES desempenhou as funções de intermediário entre o Grupo PT SGPS e o GES (ESI e Rioforte) por forma a que o Grupo PT SGPS subscrevesse títulos no GES (parte relacionada do BES)”.

A auditora começa por notar que “considerando as funções desempenhadas pelos dois administradores referidos em ambos os conselhos de administração, importa aferir sobre eventuais conflitos de interesse existentes, designadamente no que diz respeito à subscrição de títulos do GES pela PT SGPS”.

Em seguida recomenda que o conselho de administração da PT SGPS efectue uma análise jurídica de modo a aferir se Morais Pires e Joaquim Goes, enquanto administradores da PT “com o conhecimento adquirido na qualidade de membros da Comissão Executiva do BES, deveriam ou não ter tido um comportamento mais proactivo no conselho de administração da PT SGPS, designadamente no sentido de tornar claro e transparente o papel do BES na subscrição de títulos”.

E ainda aferir “em que medida é que os mesmos administradores deveriam ou não ter alertado o conselho de administração e a comissão executiva da PT SGPS para o risco de solvabilidade da ESI / Rioforte, caso tivessem tomado conhecimento das dificuldades financeiras destas entidades (o  que não foi possível à PwC apurar)”.

Na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES, Morais Pires afirmou que nunca tomou a iniciativa de sugerir à PT o investimento na Rioforte ou ESI. Joaquim Goes disse que não sabia, nem teve intervenção nos empréstimos ao GES.

(Fim de citação)

PCP quer ouvir quem estava autorizado a mexer em off-shores do GES

Quinta-feira, Janeiro 8th, 2015

20150109

Há um “conjunto de pessoas que estavam a realizar transferências em off-shores” do GES que os comunistas consideram essencial ouvir, revela hoje a edição eletrónica do Jornal de Negócios.

Citando

Já há mais de 20 audições no inquérito parlamentar ao BES e ao GES mas ainda continua a aumentar o número de personalidades a serem ouvidas. Depois de PSD e CDS solicitarem a presença de nomes ligados à Eurofin, o PCP veio agora convocar pessoas ligadas a “off-shores” do universo Espírito Santo.

“[O PCP quer chamar] um conjunto de pessoas que estavam autorizadas a realizar transferências em off-shores, nomeadamente Jean-Luc Schneider”, indicou o deputado comunista Miguel Tiago, durante uma pausa na audição feita ao contabilista da Espírito Santo International, nesta quinta-feira, 8 de Janeiro.

Schneider entrou para o Espírito Santo Financial Group em 1990 e, segundo o PCP, estava próximo de movimentos relacionados com “off-shores” do GES, onde era transferido dinheiro entre o grupo. Há dúvidas sobre o funcionamento destes veículos que tiveram impacto no financiamento envolvendo todo o grupo. Aliás, José Castella e Francisco Machado da Cruz, que eram administradores de várias sociedades do género, já disseram não saber como as mesmas funcionavam.

Há mais uma audição pedida pelos comunistas: a de Inês Viegas, que pertence à KPMG, entidade que, em Portugal, auditou o BES e, em Angola, o BES Angola.

À KPMG, Miguel Tiago também irá solicitar as fontes da Espírito Santo International que forneceram dados sobre as contas daquela empresa de topo, onde foram detectadas irregularidades nas contas e que acabaram por levar à derrocada do grupo.

A ES Services também terá feito reportes trimestrais sobre a ESI – e é por isso que o PCP quer pedir às autoridades suíças estes documentos.

E Ricardo Salgado, será chamado novamente? O PCP diz que, da sua parte, “já tinham adquirido essa audição como necessária”. Mas primeiro é necessário ouvir mais pessoas para confrontar as várias opiniões.

(Fim de citação)

 

 

PSD e CDS querem ouvir mais responsáveis da Eurofin

Quinta-feira, Janeiro 8th, 2015

20150108

Citado pelo Jornal de Negócios  online, o presidente da CPI sobre o caso BES, o deputado do PSD, Fernando Negrão, disse que a Eurofin é um veículo central nas operações que causaram perdas ao BES no primeiro semestre de 2014.

Os partidos da maioria querem chamar à comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES mais nomes ligados à Eurofin, o veículo suíço com estreita ligação ao grupo.

Michel Creton, administrador, Valérie Cholvy, directora, e Nicolo di San Germano, accionista maioritário, são os nomes ligados à Eurofin que os deputados sociais-democratas e centristas pediram para serem ouvidos, segundo um requerimento datado de 8 de Janeiro.

A Eurofin é um veículo financeiro criado por um ex-colaborador do Grupo Espírito Santo e que esteve envolvido em várias operações em torno do universo Espírito Santo. A Eurofin esteve, aliás, ligada ao esquema de financiamento que envolveu perdas ao Banco Espírito Santo, já que teve um papel de recompra de obrigações com prejuízos para o banco.

Alexandre Cadosch era o presidente da Eurofin, que deu uma entrevista ao Público defendendo que não tinha acesso a toda a arquitectura das operações, pelo que não sabia para que é que o dinheiro que por aí passava era utilizado. Este era o nome ligado à sociedade suíça que já tinha sido chamado à comissão, neste caso, pelo Partido Socialista.

Ainda não há datas para chamar nenhuma destas personalidades. Da lista inicial de mais de 100 nomes da comissão de inquérito, já foram ouvidos mais de 20 envolvidos no caso do BES/GES.

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BE quer mais esclarecimentos de encontro de Salgado com políticos, incluindo Cavaco

Quarta-feira, Janeiro 7th, 2015

20150107

Mariana Mortágua, BE, CPI sobre BES

Jornal de Negócios

Que respostas foram dadas por Cavaco Silva, Durão Barroso, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque quando contactados por Ricardo Salgado no ano passado?, questiona o Bloco de Esquerda, citado hoje pelo Jornal de Negócios.

O Bloco de Esquerda quer mais pormenores sobre as reuniões que Ricardo Salgado teve com vários políticos em 2014, onde terá transmitido informações sobre a delicada situação que o Grupo Espírito Santo passava.

“Qual o momento, forma, e teor de todas as diligências tomadas pelo presidente da Comissão Executiva do Banco Espírito Santo junto do Presidente da República, Primeiro-Ministro, ex-Presidente da Comissão Europeia e/ou outros membros do governo?”, questiona um requerimento assinado pela deputada Mariana Mortágua, a única representante bloquista na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES.

Numa carta enviada ao inquérito parlamentar, Ricardo Salgado, que já havia dado conta de encontros com representantes políticos na sua audição de 17 de Dezembro, especificou reuniões com Aníbal Cavaco Silva, Passos Coelho, Durão Barroso e Maria Luís Albuquerque.

“[Entregou] à Senhora Ministra de Estado e das Finanças e, ainda, aos Senhores Presidente da República, Primeiro-Ministro e ex-Presidente da Comissão Europeia um ‘memo’ informal sobre a situação do GES e do Banco Espirito Santo e as medidas de recuperação perspectivadas, nessa data. Este ‘memo’ informal foi, naturalmente, contextualizado e complementado por informações prestadas verbalmente em reuniões com estes destinatários”, indica a referida resposta do ex-presidente do BES.

“Qual foi a resposta – e envolvimento posterior, se disso foi o caso – dessas mesmas entidades?”, quer também saber o Bloco de Esquerda, que acredita que há a necessidade “de esclarecimentos adicionais sobre o teor destes contactos, que se desconheciam”. Ou seja, o Bloco de Esquerda lança novas questões a Salgado na sequência da carta por si enviada.

Salgado havia dito que se tinha encontrado com Maria Luís Albuquerque para que fosse cedido um empréstimo ao grupo, de forma a impedir um efeito sistémico sobre toda a economia portuguesa com a sua derrocada. O Governo rejeitou. Essa indicação de perigo sistémico foi transmitida também a Durão Barroso que, na altura, era presidente da Comissão Europeia.

Com Cavaco Silva, o ex-banqueiro confirmou, na audição, ter-se encontrado para falar sobre a garantia estatal dada ao BES Angola, mas não sobre a situação do grupo.

Maria Luís Albuquerque já esteve presente na comissão parlamentar de inquérito ao BES e GES. Confirmou ter recusado a ajuda ao GES. Durão Barroso irá responder por escrito. Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva não foram convocados para prestar esclarecimentos.

(Fim de citação)