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Ruinosa operação financeira BES/Rioforte empurra PT Portugal para soluções estrangeiras e em brutal perda de valor. Silêncio misterioso do acionista Novo Banco

Domingo, Janeiro 18th, 2015

20150118

Multiplicam-se e crescem quase diariamente os argumentos a favor e contra a venda do controlo acionista da telefónica portuguesa, atualmente na dependência da estratégia de consolidação do sector das telecomunicações no Brasil. Interessados na compra do Novo Banco, como o banco BPI, consideram a presente situação um “escândalo”, uma “irresponsabilidade” e uma “inadmissível perda de valor” da ex-jóia da coroa económico-financeira de Portugal.

Refira-se que a Oi quer usar a PT para vender a sua actual posição dominante, com o objetivo de “limpar” a sua dívida com a TIM, a interessados estrangeiros – o BTG Pactual, um banco de investimento do Brasil, o grupo francês Altice, aliado à Cabovisão e à Ongoing e ávido por uma possível e posterior integração da TIM/ OI/PT Portugal num grande conglomerado global e pluricontinental.

Nestas movimentações estão também envolvidos os fundos Bain (EUA) e Apax (Reino Unido). Todos sob o olhar atento e interessado da Telefónica espanhola e a multinacional britânica Vodafone.

Citando

Observador

Os acionistas da Portugal Telecom vão ser chamados a votar naquela que será a maior decisão na história da empresa, que foi criada em 1994 a partir da fusão dos TLP, Marconi e Telecom Portugal. A assembleia geral de quinta-feira, 22 de janeiro, pode decidir mais do que a venda da PT Portugal, cuja discussão é o único ponto em agenda. Toda a estratégia de fusão com a Oi vai estar em causa, em caso de chumbo à proposta de alienação da operação portuguesa à Altice. Serão inevitáveis os impactos na combinação de negócios entre as operadoras portuguesa e brasileira. Em cima da mesa estão, para já, três cenários:

A venda da PT Portugal à Altice por 7400 milhões de euros tal como é proposto pela Oi, prosseguindo a estratégia de consolidação no Brasil:

A venda da PT Portugal é chumbada em assembleia geral e tudo fica na mesma. A Oi terá de procurar alternativas para financiar aquisições no Brasil, insistir mais tarde ou desistir. A incerteza terá impacto na valorização da empresa brasileira, o maior ativo da PT SGPS

A venda da PT Portugal cai em resultado da reversão dos contratos de combinação de negócios entre as duas empresas. O aumento de capital da Oi que consumou a fusão com a PT pode ficar sem efeito. As duas empresas tentam regressar ao passado. A PT Portugal, Angola, Timor, e o buraco da Rioforte, voltam para a PT SGPS. Mas o divórcio terá consequências jurídicas, económicas e financeiras difíceis de calcular.

Depois de um longo braço-de-ferro com a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, e alguns membros dos seus próprios órgãos sociais (como o presidente da assembleia geral), a gestão da PT SGPS divulgou na semana passada toda a informação disponível sobre as hipóteses em cima da mesa e as consequências que é possível estimar nesta fase. Agora todos os investidores estarão à partida na posse dos mesmos dados que já eram do conhecimento da administração da empresa e dos grandes acionistas.

A documentação inclui pareceres e opiniões jurídicas contrários quanto à possibilidade legal e contratual de romper o acordo de parceria entre as duas empresas e desfazer o aumento de capital que transferiu para a Oi o principal ativo da PT SGPS, que é a PT Portugal. Os pareceres que admitem esta possibilidade são de novembro de 2014, e foram pedidos pela PT SGPS com o objetivo de perceber se deveria ou não consultar os acionistas antes de avaliar a oferta de venda da PT Portugal e eventualmente exercer o direito de veto.

Os pareceres contra a operação, que tinham sido já revelados na comunicação social, só são tornados públicos, quando acompanhados de outras opiniões jurídicas, com data da primeira semana de janeiro, que apontam no sentido contrário, concluindo pela irreversibilidade do aumento de capital da Oi, logo da devolução da PT Portugal à operadora portuguesa. Um parecer assinado por um escritório de advogados brasileiro foi entregue a pedido de Rafael Mora, conselheiro da Oi e administrador da PT SGSP, representando a Ongoing. O outro documento de um jurista português é feito a pedido dos advogados da Oi em Portugal. Confira aqui os principais argumentos:

A favor da venda da PT Portugal

A venda da PT Portugal é, segundo a Oi, a melhor alternativa para obter as receitas que lhe permitem entrar no processo de consolidação do mercado brasileiro. O seu chumbo terá por isso consequências adversas para a Oi e a acionista PT SGPS. A gestão da empresa portuguesa destaca os seguintes riscos…

A não aprovação da proposta de venda da PT Portugal em 22 de Janeiro (esta quinta-feira) pode comprometer a realização das assembleias gerais de debenturistas (detentores de dívida) da Oi, convocadas para 26 de Janeiro de 2015, acima referidas, que têm por pressuposta a aprovação da venda da PT Portugal

Segundo a Oi, nos termos das cláusulas em contratos de compra e venda, até à verificação (ou não) da condição suspensiva, a gestão da PT Portugal está limitada à gestão corrente o que, obviamente, se traduz numa perda de capacidade de atuação num mercado altamente concorrencial, como é o das telecomunicações. Esta limitação, tendo impacto na geração de resultados da empresa, pode diminuir o encaixe da Oi na venda contratada.

Atendendo à condição suspensiva da aprovação da venda pela PT SGPS, não é possível submeter os pedidos para as autorizações regulatórias, prolongando o já referido período transitório e acentuando a situação de incertezarelativamente ao desfecho da venda e consequente desvalorização do ativo, realça ainda a Oi.

“A não aprovação da proposta de venda da PT PORTUGAL em 22 de Janeiro 2015, não invalida que ela possa vir a ser vendida no futuro, e nessa medida, consubstancia a manutenção da incerteza relativamente ao destino da PT PORTUGAL o que, por limitar as opções estratégicas da empresa impacta negativamente no seu valor pelas razões explicitadas, terá um consequente impacto patrimonial negativo na Oi e, indiretamente, na sua acionista PT SGPS.” 

Contra a venda da PT Portugal

O grande objetivo da combinação de negócios entre a Oi e a PT SGPS era criar um operador de telecomunicações líder nos países lusófonos com 100 milhões de clientes. Foi para salvaguardar esse objetivo que os acionistas da PT aceitaram mudar o contrato da fusão e uma estrutura alternativa que reduziu a sua posição no novo grupo.

Com a venda da PT Portugal, o melhor ativo da PT, a atividade concentrar-se-á no mercado brasileiro, em vez de ocupar espaço relevante na indústria mundial das telecomunicações, deixando de atuar a partir da sua base no Brasil, Portugal e África.

Se a Oi alienar a PT Portugal, o grande objetivo de criação de um operador de telecomunicações deixa de ser possível, “verifica-se por conseguinte uma grave violação do segundo memorando”, sublinha o parecer de novembro de 2014 do jurista João Calvão da Silva.

O jurista Eduardo Paz Ferreira também sustenta que a alienação da PT Portugal contraria o memorando acordado entre as duas empresas, na medida em que este tinha como pressuposto fundamental o desenvolvimento da combinação de negócios que é frustrada pela operação proposta pela Oi. O parecer de 21 de novembro, assinado também por Ana Perestrelo de Oliveira, não considera que o investimento na Rioforte sirva de argumento para a desvinculação da Oi do memorando porque as duas partes reafirmaram o desejo de prosseguir o objetivo já depois de ser conhecida esta operação.

Mas Paz Ferreira vai mais longe ao defender que a Oi ao declarar a alienação da PT Portugal – a brasileira fechou um acordo com a Altice – está já a violar o contrato de fusão aprovado pelas duas empresas e seus acionistas, dando já fundamentos à PT SGPS para agir contra esta operação.

A decisão do conselho de administração da Oi no sentido de alienar a PT Portugal é suscetível de ser configurada como uma declaração antecipada de não cumprimento do contrato de combinação de negócios, equiparada desde logo ao incumprimento definitivo, permitindo assim imediatamente desencadear as consequências correspondentes, sem necessidade de aguardar a concretização da venda.”

Manifestação convocada por sindicatos contra a venda da PT Portugal

A favor do fim da fusão com a Oi

Ninguém defende de forma mais assumida o fim da fusão do que o presidente da mesa da assembleia geral da Portugal Telecom. Eis os argumentos invocados por António Menezes Cordeiro, em carta enviada à administração da empresa a 6 de janeiro, onde pede a convocação de uma nova assembleia para discutir a resolução do contrato com a Oi:

O incumprimento pela Oi permite à PT SGPS pela lei portuguesa e brasileira, resolver o contrato. A resolução é retroativa e coloca a PT na precisa posição em que estava antes da conclusão do contrato: recupera a totalidade da PT Portugal e devolve as ações (da Oi) que recebeu em troca.

A resolução é extrajudicial, potestativa e imediatamente exequível. A resolução não é detida pelo aumento de capital da Oi que se mantém, só que integrado pela restituição dos valores recebidos pela PT SGPS (ações da empresa brasileira).

Quaisquer danos colaterais são suportados pela Oi, segundo as leis portuguesa e brasileira.

A PT SGPS é neste momento um ativo em contínua erosão (em bolsa). Caso recupere a PT Portugal, ficaria fortemente valorizada.

Os acionistas da PT SGPS têm tudo a ganhar com a resolução do contrato: apenas por falta de informação poderão pensar diversamente”. Logo, conclui Menezes Cordeiro, a alternativa é clara e fácil de explicar e não será difícil de sustentar com pareceres de juristas portugueses e até brasileiros. O presidente da mesa da assembleia geral propõe a convocação de uma nova assembleia com dois pontos em discussão:

1. A resolução do contrato com a Oi por incumprimento desta.

2. Se o primeiro ponto for chumbado, será colocada à discussão a proposta de venda da PT Portugal à Altice.

Contra o fim da fusão com a Oi

Rafael Mora, da Ongoing, e João Mello Franco, presidente da PT SGPS, na assembleia que foi suspensa

Os pareceres jurídicos que sustentam a continuação da combinação de negócios entre a PT e a Oi, apoiam-se, antes de mais, na irreversibilidade do aumento de capital da empresa brasileira. Foi esta operação realizada em maio de 2014 que consumou o casamento entre as duas empresas, ao integrar na Oi, o maior ativo da PT, a PT Portugal, que foi usada para subscrever o aumento de capital.

No parecer com data de 7 de janeiro, feito a pedido de Rafael Mora, a jurista Maria Cristina Cescon, defende que, tendo o aumento de capital da Oi sido homologado a 5 de maio, é válido e eficaz, pelo que a empresa brasileira pode dispor livremente dos ativos cuja propriedade foi transferida pela PT SGPS.

Só em caso de vício – se o aumento de capital tivesse excedido o valor autorizado ou ferido direitos irrevogáveis dos acionistas – poderia ser declarado nulo. Não se constatando qualquer vício referido, “entendemos que que o aumento de capital é irreversível”.

Acrescenta ainda que, uma vez homologada a operação, em hipótese de erro ou vício na avaliação do valor do bem conferido no aumento de capital, a lei brasileira prevê que o subscritor e avaliador possam ser responsabilizados por danos causados à empresa. Ora os ativos entregues pela PT, designadamente a PT Portugal, no quadro do aumento de capital, não refletiam no seu valor o efeito da perda do investimento de 900 milhões de euros na Rioforte.

Entre a documentação jurídica está também um parecer de Pedro Maia, o professor de direito que foi notícia quando contestou o entendimento do governador do Banco de Portugal a um parecer seu sobre a idoneidade de Ricardo Salgado para continuar a ser presidente do Banco Espírito Santo. Aqui o jurista responde a um pedido de Luís Cortes Martins, advogado da Oi.

análise das consequências de uma eventual resolução por parte da PT SGPS do acordo de parceria estratégica, no que toca aos efeitos sobre o aumento de capital e à subscrição de ações pela PT SGPS, deverá fazer-se à luz do direito brasileiro.

Mesmo sem conhecer a fundo a legislação brasileira, e partindo do pressuposto que não diferirá muito da portuguesa, Pedro Maia considera que a eventual resolução por incumprimento de um contrato que previa o aumento de capital, não determina por si só a resolução da operação.

É discutível que o aumento de capital possa ser resolvido (anulado). Em causa está a proteção de terceiros que participaram e do mercado em geral, considerando que a Oi é uma empresa cotada, e que não podem ficar expostos à destruição do aumento de capital por fatores externos à própria operação.

A lei portuguesa diz que em caso de invalidade de aumento de capital em sociedades cotadas na bolsa, o acionista não recebe o valor que prestou à sociedade, mas o valor real das ações, que só poderá ser entregue se não houver risco de incumprimento perante credores.

Com ressalva de alguma previsão contratual ou legal que desconheça, Pedro Maia, conclui: “Não vislumbro de modo nenhum, independentemente de poder existir resolução de contrato – nos termos gerais, por incumprimento da contraparte (a Oi) – de que forma tal resolução poderia implicar por si, a destruição do aumento de capital da Oi na parte subscrita pela PT SGPS”.

Assinalando que a entrega de bens pela PT SGPS – a PT Portugal – decorre do aumento de capital e não do contrato – mantendo-se válido o aumento, não haverá lugar, sequer em abstrato ou por princípio, à repetição da entrega desses bens, “e por conseguinte, mesmo a ocorrer uma resolução por incumprimento, a PT SGPS não iria reaver os ativos entregues no âmbito do aumento de capital. ”

(Fim de citação)

 

 

Um leopardo ferido

Terça-feira, Dezembro 16th, 2014

20141216

Ricardo Salgado não quer ir ao fundo sozinho. Tentou arrastar consigo o regulador, o Governo e outros membros do clã Espírito Santo. O Banco ?de Portugal e o seu primo José Maria Ricciardi reagiram de pronto aos argumentos de dois dos alvos do ataque do ex-CEO do banco centenário.

 

Citação

Visão 

O patriarca do clã Espírito Santo foi ao Parlamento prestar depoimentos sobre a sua responsabilidade no desmoronar do império que dirigiu ao longo de 22 anos.

Questionado, durante dez horas, pelos deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES, Ricardo Salgado atacou para se defender daquilo que afirmou ter sido meio ano de julgamento sumário: “A minha família e eu próprio fomos julgados na praça pública, acusados de ter desviado centenas de milhões de euros, casas em Miami e castelos na Escócia. Tudo inverdades.”

E porque ali também se tratou da defesa da honra, atirou com um provérbio chinês para a assistência: “Quando morre, o leopardo deixa a sua pele. Um homem quando morre deixa a reputação.”

O homem que vimos esta terça-feira, 9, no Parlamento é um homem agastado. Esforçou-se por manter uma postura ereta na cadeira, mas encarou os interlocutores de frente, com os óculos a meio do nariz. Só baixou os olhos para consultar um ou outro documento que os seus advogados, Francisco Proença de Carvalho e Adriano Squilaccie lhe colocavam à frente.

Tem de haver também um provérbio a falar de homens acossados a defenderem-se como feras encurraladas. Se não o houver, é preciso inventá-lo para Ricardo Salgado. É que, contando a sua versão, este homem atacou para todos os lados, procurando desresponsabilizar-se, sobretudo quando surgiram as perguntas sobre as áreas não financeiras do grupo, como a Espírito Santo Internacional (ESI) ou a polémica ESCOM. “Tinha uma vida 100% dedicada à área financeira. Não tinha responsabilidades na ESI”, afirmou. Uma argumentação idêntica à que terá usado junto das autoridades judiciais que o constituíram arguido no âmbito do processo Monte Branco.

As culpas

Numa intervenção inicial de 58 páginas, admitiu poder ter cometido erros, mas respaldou-se também na crise, iniciada em 2007, primeiro financeira, depois da dívida pública; queixou-se do “massacre das agências de rating” e do seu impacto na banca; e numa troika insensível aos alertas dos bancos sobre os impactos da austeridade.

Mas também atirou culpas contra alvos concretos e havia de repeti-las ao longo da manhã e depois do almoço tardio, que lhe seria levado até à sala 4 do corredor das comissões, cuja entrada era guardada por um robusto membro da sua segurança pessoal.

O contabilista Francisco Machado da Cruz seria um desses alvos. Mas o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa foi um dos que mais danos sofreram. “Ouvi com surpresa o senhor governador do Banco de Portugal dizer [na comissão de inquérito] que tomou várias iniciativas para que eu deixasse a governação do BES. Nunca me disse que me tirava a idoneidade. Bastaria ter feito um sinal para eu sair e eu sairia na hora…”

Se houve um braço de ferro com o regulador, Salgado não deu por ele. Mas, pelo sim pelo não, muniu-se, como lhe lembrou o deputado comunista Miguel Tiago, dos pareceres de juristas que teve o cuidado de remeter ao Banco de Portugal.

Ao final da tarde de terça-feira, Carlos Costa enviou uma carta com dois anexos à comissão, contrariando Salgado. Segundo Costa, em outubro de 2013, o banco central terá iniciado uma investigação a alguns administradores do Grupo Espírito Santo, incluindo Ricardo Salgado. Na troca de correspondência o desejo de o Banco de Portugal afastar o homem-forte do BES nunca é explícita, mas subentende-se. A idoneidade do ex-banqueiro é posta em causa, por exemplo, quando lhe fazem perguntas sobre aquilo que ele próprio designou de uma “liberalidade” oferecida por um amigo: os 14 milhões recebidos do construtor civil da Amadora José Guilherme, de quem será amigo desde os anos 70.

Contas truncadas

Os problemas no BES começaram a vir a público no outono de 2013, curiosamente, numa altura em que no seio do grupo se desenrola uma luta pelo poder entre Salgado e o seu primo José Maria Ricciardi.

As contas da Espírito Santo International (ESI), a holding instrumental do Grupo Espírito Santo, através da qual o universo Espírito Santo controlava as empresas das várias áreas de negócios, apresentavam indícios de ocultação de dívida. Os primeiros sinais de alarme já tinham soado através das auditorias independentes relativas a 2011 e 2012. Mas, no final de 2013, uma investigação do Banco de Portugal encontrou na contabilidade da ESI, detentora de todo o capital da Rioforte, “irregularidades materialmente relevantes”, entre as quais dívida não contabilizada: 7 300 milhões de euros, desses cerca de 6 040 milhões, foram financiados, através de papel comercial colocado em clientes de retalho e institucionais dos bancos detidos do grupo, incluindo o BES.

Mas a culpa do desastre da ESI não terá sido dele, reiterou, uma vez que se dedicava apenas à área financeira.

A 13 de dezembro, de 2013, o banco de Portugal exigiu a Ricardo Salgado o reembolso integral do papel comercial da ESI aos clientes de retalho do banco. Segundo ele, o regulador deu-lhe 18 dias úteis para resolver  a questão, um período “inexequível” na ótica do ex-banqueiro. A falta de tempo foi uma constante nas suas intervenções. “O problema do BES tinha sido resolvido se nos tivessem dado mais tempo”, afirmou.

E contou que pediu 2 500 milhões de euros emprestados ao Estado. Não seria uma entrada de capital público no grupo, mas um “apoio intercalar para a área não financeira” – uma espécie de balão de oxigénio a médio prazo, com o fito de dar tempo ao grupo para vender ativos. Seriam cinco anos, segundo afirmou.

A 31 de março deste ano, enviou uma carta a Carlos Costa apontando para o risco sistémico que derivaria de uma rutura desordenada do banco, em vez de uma transição controlada, que salvaguardasse a confiança do mercado.

E terá mostrado ao Presidente da República, à ministra das Finanças e ao primeiro–ministro, que a devolveu, e ainda a Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia (e antigo consultor do BES), e ao então secretário de Estado Carlos Moedas.

Nesses encontros, ocorridos em maio e que culminaram com a entrega em mão de um memo a esses responsáveis, Salgado terá chamado à atenção para os riscos sistémicos da situação que se vivia no BES. “Não tinha nenhuma finalidade em obter vantagens estranhas com o Governo. Fui comunicar a probabilidade de um risco sistémico no BES.”

‘Vítima disto tudo’

As explicações de Salgado suscitaram um comentário irónico à deputada bloquista Mariana Mortágua: “É incrível que o ‘dono disto tudo’ apareça hoje como a ‘vítima disto tudo’. Quer fazer-nos acreditar que o seu império ruiu sem que soubesse o que se passava?”

“Embora fosse o primeiro responsável, foi sempre o último a saber”, ironizou, por seu lado, o acutilante Carlos Abreu Amorim. A uma pergunta deste social-democrata, que o acusava de estar a tentar descartar-se de responsabilidades, Salgado respondeu que “não era responsável pelo GES como um todo”. A delegação de poderes”, disse, “era a única forma de funcionar. É que num mundo como o BES é impossível saber-se tudo. Todos os ramos da família tinham responsabilidades paritárias e ninguém tinha a supremacia de voto nas reuniões do Conselho Superior.

“Eu era responsável pela área financeira, era o primeiro a chegar e o último a sair” e “trabalhava em casa muitos fins de semana”.

Quem não quer saber de responsabilidades partilhadas é José Maria Ricciardi, também ele ouvido esta terça-feira, na comissão parlamentar, ocupando a mesma cadeira em que Salgado se sentara momentos antes. Menos extensa, a audição em que Ricciardi foi duríssimo para com o primo, prolongou–se pelo serão adentro.

“Faço parte da família Espírito Santo e não aceito que se proceda a um julgamento coletivo de natureza sanguínea, incapaz de estabelecer a diferença entre a seriedade e a culpa.”

Recusando responsabilidades coletivas, o presidente do Banco Espírito Santo Investimento (BESI) declarou que “a cada um caberá a responsabilidade do que fez”. De manhã, o Diário de Notícias tornara pública uma carta enviada por Ricciardi ao Banco de Portugal em maio, responsabilizando o primo pela queda do império familiar com 145 anos de existência.

Durante a inquirição, Ricciardi, falando na liderança completamente centralizadora de Ricardo Salgado, regressou ao teor da carta, em que explicou que as contas e os movimentos financeiros da ESI foram tratados por um “núcleo restrito” e afirmou nunca ter sido chamado a intervir. Voltou a falar na sua iniciativa de pedir um inquérito (em novembro de 2013) para apurar responsabilidades.

Aos deputados falou da sua oposição à gestão de Ricardo Salgado e disse ter apresentado alternativas para mudar o modelo de governança e administração do grupo. Mas referiu ter sido traído pela maioria dos membros do Conselho Superior do banco, que apoiou Ricardo Salgado.

É sabido, há muito tempo, que Ricciardi chegou a ser apontado como sucessor de Salgado, que era seu rival. Ele nunca o escondeu nem ocultou que procurava afastar o primo do lugar cimeiro do grupo. E ele reiterou-o na comissão parlamentar: “Não pretendia que saísse a mal. Queria uma solução civilizada.”

Logo no início da sua audição, assumiu ter denunciado as situações duvidosas assim que teve conhecimento delas.

Mas, antes de se despedir dos deputados, Salgado minara-lhe o terreno, ao comentar essas diligências: “O dr. Ricciardi teve um comportamento, no mínimo, muito curioso. Certamente, se fez alguma denúncia ao regulador deve ter tido alguma contrapartida por isso.”

O presidente do BESI irritou-se e disse tratar-se de uma “verdadeira infâmia”. ?”O Banco de Portugal não negoceia com gestores bancários”, disse.

Não foi sua a última palavra nesta longa maratona. Mas Salgado conseguiu condicionar pelo menos o início da intervenção do primo. A fera ferida atacou em profundidade, mas, gostando de provérbios com felinos, devia lembra-se que no Gana se diz que a chuva molha a pele do leopardo mas não lava as manchas.

 

Fusão da Oi com PT Portugal parece definitivamente condenada por causa do GES/BES

Quarta-feira, Outubro 8th, 2014

Extractos principais das notícias de hoje (08-10-2014) na imprensa brasileira.

Citamos

“Todas as notícias relacionam a saída de Bava da Oi com o caso GES e falam em “relação desgastada” e “pressão” dos acionistas brasileiros. Amos Genish é referido como possível sucessor e há analistas que veem na saída de Zeinal um potencial prenúncio de fim do projeto de fusão entre a Oi e a PT. 

“Cai a máscara.” É com este título que a colunista do “Estadão” resume, no seu blogue na edição online do jornal, a saída de Zeinal Bava da liderança da Oi. O post refere uma citação atribuída a Carlos Jereissati, acionista da Oi, para justificar a renúncia de Zeinal. “Ele saiu porque os acionistas pararam de fingir que acreditavam que ele não era parte do Grupo Espírito Santo.”

As notícias têm um eixo convergente. Ou um buraco, aliás. De 900 milhões de euros.

 “A imagem de Bava foi arranhada com os principais acionistas brasileiros depois do calote tomado pela Portugal Telecom de 897 milhões de euros, em julho”, escreve, por exemplo, a edição online da revista “Veja”. “Para os analistas, desde então as relações entre os controladores das duas empresas se complicaram.”

 A “Folha da São Paulo” segue o mesmo raciocínio. Depois de recordar que Bava – o terceiro presidente da Oi em seis anos – terá sido “um dos mentores da fusão entre a operadora brasileira e a Portugal Telecom”, o jornal escreve que o gestor “vinha enfrentando a pressão dos sócios brasileiros da Oi desde meados do ano”, na sequência do polémico investimento da PT no GES.

 “Bava negou que tivesse conhecimento do negócio, mas as suas explicações não foram capazes de mudar a posição dos sócios brasileiros. A perda de confiança teria levado à renúncia”, refere a “Folha de São Paulo”. 

 Mensagem otimista ou inadequada?

A “Valor Econômico” escreve esta quarta-feira que a saída “não surpreende”. “Ele vinha negociando um pacote de benefícios, semelhante ao de Francisco Valim, seu antecessor”, escreve a publicação, que refere a este propósito um pormenor curioso associado ao processo. “Na sexta-feira, mesmo sabendo que iria deixar a empresa, Bava falou, em apresentação aos executivos da Oi, sobre o futuro da Oi para os próximos 20 anos. A fala gerou desconforto e dividiu opiniões. Para alguns, foi uma mensagem otimista de despedida. Outros a julgaram inadequada.”

Além disso, como sublinha esta quarta-feira a referida publicação, mesmo que Bava não estivesse, de facto, a par do investimento da PT no GES, “isso não o isentaria” de responsabilidade, dado que ainda assumia funções na empresa portuguesa à data dos acontecimentos. Ou seja, isso “provaria que mantivera um cargo na empresa portuguesa sem zelar por ele, com os fatos acontecendo à sua revelia. No fim das contas, não conseguira cuidar adequadamente dos interesses de nenhuma das empresas, e isso o mercado não perdoou”, escreve a “Valor Econômico”.

A revista dá mesmo um passo em frente na sucessão a Zeinal e reitera que “Amos Genish, fundador da GVT, que acaba de ser adquirida pelo grupo Telefónica, é o candidato favorito dos acionistas brasileiros do controle da Oi para conduzir a companhia” no futuro.

O fim da fusão?

A “Exame Brasil” recorda que Bava foi “eleito diversas vezes o melhor CEO do setor de telecomunicações na Europa” e também relaciona a renúncia com as “relações complicadas” entre o gestor e os acionistas brasileiros após a polémica do GES. Mas os analistas contactados pela revista vão mesmo mais longe e veem nesta saída um potencial prenúncio de fim do projeto de fusão.

 A própria revista acrescenta na sua notícia outro “sinal de marcha ré no processo de fusão entre Oi e Portugal Telecom”: a possível venda da Portugal Telecom à francesa Altice. “Para analistas, uma venda dos ativos portugueses, que são os ativos da Portugal Telecom, significaria o cancelamento da fusão entre as duas companhias. Paralelamente, há conversas relacionadas a eventual fusão entre TIM Participações e Oi no Brasil”, conclui a “Exame Brasil”.

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